segunda-feira, 31 de março de 2014

UM ANTIFASCISTA (Gilberto M. Coutinho) E UM GNR (Joaquim Meneses) QUE EM ALCOBAÇA, DEPOIS DO 25 de ABRIL, SE ENCONTRAVAM PARA PETISCAR

 
UM ANTIFASCISTA (Gilberto M. Coutinho) E UM GNR (Joaquim Meneses) QUE EM ALCOBAÇA, DEPOIS DO 25 de ABRIL, SE ENCONTRAVAM PARA PETISCAR

Fleming de Oliveira


Durante o Estado-Novo, as eleições eram de importância relativa para a oposição, pois normalmente os candidatos não iam às urnas. A legislação conferia às comissões recenseadoras o poder de decidir quem podia ou não ser eleito, além de que, os candidatos não só não podiam ter acesso aos cadernos eleitorais, como apresentar delegados para fiscalizar o ato.
As eleições eram um período em que, com alguma liberdade condicionada, que o regime não enjeitava, ficava a saber aonde se encontravam os seus opositores.
Quem, por exemplo, não podia votar, era Gilberto Magalhães Coutinho, afeto ou tido por afeto ao PC. Por alturas de 1952/53, Gilberto Magalhães Coutinho encontrava-se preso a cumprir pena na Cadeia do Forte de Peniche.
Foi aí que conheceu o sold. Joaquim Marcelino Meneses, que tinha acabado de ingressar na G.N.R. e estava destacado naquela prisão. De Peniche, Meneses veio a ser colocado em Alcobaça, até se reformar, ao fim de trinta anos de serviço. A vida prisional em Peniche decorria, com monotonia, segundo Meneses, que não apreciava o lugar. Eram poucos os presos, na maioria pequeno-burgueses. A alimentação era má, mas podia ser compensada pela facilidade permitida a presos de cozinharem. Quando a origem dos detidos começou a mudar, com a vinda de trabalhadores rurais e operários membros do PC, passou a haver reclamações, quanto à qualidade da comida (como refere Meneses), que passou pelo levantamento de rancho, reivindicações de melhores condições prisionais, tanto no que diz respeito ao tempo de recreio, como a higiene e salubridade, nas celas.
Segundo Meneses, os guardas prisionais estavam proibidos de falar e de comer com os detidos, pelo que foi Gilberto M. Coutinho, no isolamento, como que para meter conversa, quem tomou a iniciativa de lhe perguntar se ou de onde se conheciam. Meneses, jogando à defesa, apenas disse que lhe não podiam falar um com o outro, pois de outro modo arriscava-se a ir fazer-lhe companhia, numa cela. De facto, não se conheciam de parte nenhuma.
Mais tarde, em Alcobaça, encontraram-se e Gilberto Coutinho, já comerciante estabelecido, reconheceu-o. O curioso desta estória é que passaram a ser amigos, almoçavam, lanchavam e até jantavam una vez por outra. Para J. Meneses, não obstante nunca ter pactuado com socialismos, o trato político de Gilberto Coutinho, em nada o interessava. Gabava-se de nunca ter dado nenhum sopapo, por razões políticas ou mesmo outras, embora isso não fosse raro na G.N.R. no tempo do Sarg. Barbosa, que parece que o fazia com algum prazer sádico. Meneses, ainda conheceu de vista o esquerdista Dr. Vasco da Gama Fernandes, mas nunca falou com ele, mesmo como advogado, por receio de isso ser mal entendido, por colegas ou superiores.
Meneses não gostava muito de falar do seu tempo de serviço, especialmente dos últimos anos antes do 25 de Abril, quando comandava o Posto o Sarg. Barbosa. Ainda há pessoas que recordam a truculência, venalidade e a parcialidade do Sarg. Barbosa, o abuso de poder (considerava-se ele e a G.N.R. uns pilares do Regime), a arrogância com os munícipes em geral (concretamente em interrogatórios), bem como com o pessoal que comandava. O Sarg. Barbosa não tinha escrúpulos em receber/cobrar uns garrafões de azeite, de vinho (quem diz branco… diz tinto), uns quilos de bacalhau ou uns coelhos, a troco de nada dizer, nada fazer ou fazer. Com o Sarg. Barbosa nos anos sessenta e setenta em Alcobaça havia patrulhas, com sol ou chuva, de dia ou de noite. Essas patrulhas eram compostas por dois homens que, nos termos do regulamento, se deslocavam a pé pela estrada, um de cada lado. Se por qualquer razão, os militares da G.N.R., chegassem ao Posto mais cedo do que o previsto (por exemplo uns dez minutos), o Sarg. Barbosa obrigava-os a voltar à rua, como  castigo para cumprir os minutos em falta. O que ocasionava que os homens, por vezes, ficassem à porta do Posto, a fazer tempo que faltava.
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO E OUTROS



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