ASDRÚBAL FORTES,
FUZILEIRO CONDECORADO, OPERACIONAL NA GUINÉ
-Fleming
de Oliveira-
Asdrúbal
Fortes Jorge, que reside em Montes-Alcobaça, foi mobilizado para a Guiné em junho
de 1964, com a especialidade de Fuzileiro
Especial (ou Naval) e o posto de
Primeiro Grumete. Esta comissão de serviço, prolongou-se até junho de 1966,
tendo participado em operações em todo o território, algumas com os Comandos
Africanos, onde pontificava o Fur. Marcelino da Mata. Com Marcelino da Mata
falou muitas vezes, o qual falava bom português, e trocou opiniões operacionais.
Sobre Marcelino da Mata, supõe que se considerava um português como nós, além de ser extremamente valente e conhecedor
da arte da guerra.
Nessa
comissão, Asdrúbal Fortes sofreu ferimentos num ombro (não muito graves é
verdade), visto a operação em que participava com outros destacamentos de
fuzileiros, na região de Cacine, junto à fronteira sul com a Guiné-Conacri, ter
sido atacada por engano por um avião português, com rockets e metralhadora.
Desse ataque, resultaram 4 mortos e cerca de 40 feridos, todos fuzileiros
portugueses.
Regressado a Portugal em junho de 1966 no termo da sua
comissão normal de serviço obrigatório, fez contrato com o Estado para passar
ao Quadro Permanente dos Fuzileiros.
Promovido a Marinheiro e tendo voltado à Guiné, em abril de 1967, fez inúmeras
operações, por vezes lançado de helicóptero. Nessa segunda comissão,
encontrou-se com Marcelino da Mata, na zona de Cacheu e Binta, em operações de
golpes de mão. Em 23 de dezembro de 1968, aliás dia do seu aniversário, no
decurso de uma operação no norte da Guiné (pela qual também recebeu um louvor),
foi ferido com gravidade por estilhaços de bazuca, depois da metralhadora se
ter encravado, o que determinou a sua imediata evacuação para o Hospital de
Bissau, aonde foi operado por três vezes aos intestinos, e depois para
Portugal, para o Hospital da Marinha, no qual esteve internado durante cerca de
dois anos. Dado como incapaz para o serviço militar, pela Junta de Saúde Naval, passou à reforma da qual recebe uma pequena
pensão. Não obstante, não repudia, a divisa da Armada A Pátria honrai que a Pátria vos contempla.
Asdrúbal Fortes foi militar condecorado e louvado por
várias vezes. Sabe o que é combater com metralhadoras MG, lança granadas espanhol
de foguetes Instalaza, G3 bem como viver e morrer no mato ou nos rios (como
aconteceu com amigos e companheiros).
Por vezes, tem pesadelos, sonha e sofre com os momentos
difíceis e de insegurança porque passou. Confrontou-se com guerrilheiros a
fazer fogo com obus de 105mm, morteiros de 82mm, foguetes de RPG7, a disparar
com uma costureirinha/calibre7.62 ou
outro armamento que nada tinha de comum com o que foi utilizado pelos
guerrilheiros no início da luta armada (armas caçadeiras, gentílicas, pistolas
metralhadoras, granadas de mão ou engenhos explosivos rudimentares).
A partir de 1966, os fuzileiros, como os militares do
exército, tinham pela frente um P.A.I.G.C. com canhões sem recuo, morteiros e
foguetes de 120mm. Sabia quanto os
portugueses estavam dependentes das vias fluviais, num território pejado por
muitos rios navegáveis e sujeitos a marés de grande amplitude, e da incidência
na vida de muitos homens, o abastecimento em géneros e material de guerra. As
lanchas e os fuzileiros eram o grande suporte logístico.
Asdrúbal Fortes, recebeu a Medalha de Cobre, pelo salvamento de um camarada que caira à àgua e
estava a ser arrastado pela corrente. Foi condecorado com a Medalha de Mérito Militar de 4ª Classe
e, antes de ser ferido e evacuado para a Metrópole.
Possui ainda uma Medalha de Cruz de
Guerra de 2ª Classe. No referente, a louvores
recebeu alguns coletivos, com o seu Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 10,
e individuais. Entre os louvores gosta de destacar o de 3 de junho de 1968,
atribuído pelo Comandante de Defesa Marítima da Guiné, Comodoro Aníbal Almeida
Graça e publicado na O.A.-11ª Série, nº 48/7-8-968: Louvo o Marinheiro FZE nº 10106-Asdrúbal Fortes Jorge, do Destacamento
nº 10 de Fuzileiros Especiais, por ao longo do tempo que em prestou serviço
nesta unidade, ter revelado possuir, em acção de combate, excepcionais
qualidades de coragem, desembaraço, sangue-frio e desprezo pelo perigo. Tendo
feito grande número de operações da Unidade, seguindo no primeiro lugar da
coluna, demonstrou sempre ter elevado senso táctico, valentia e decisão debaixo
de fogo. Nomeadamente numa operação realizada no IADOR, ao aperceber-se à
distância dum grupo inimigo que preparava uma emboscada ao seu grupo de
assalto, arrastou consigo a sua esquadra e a Esquadra da Metralhadora. Fixando
o inimigo, causando-lhe um ferido e obrigando-o a debandar, só não conseguindo
uma completa aniquilação, pelo facto de se terem esgotado as munições, ao mesmo
tempo que as da metralhadora que o acompanhava. Digno de ocupar postos de
maiores riscos, abnegado, leal, cumpridor e com espírito de sacrifício,
considero o Marinheiro FZE 10106 um militar de muito mérito.
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE
SALAZAR, CAETANO E OUTROS
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