JOGOS
FLORAIS DA E.N. 1946/ALCOBAÇA e ALBINO SERRANO, do PC.
Fleming
de Oliveira
Como
iniciativa do regime/Estado Novo, os Jogos Florais da E.N. referentes a 1946,
realizaram-se em Alcobaça, deles tendo feito parte um concorrido concerto com a
Orquestra Sinfónica Popular, dirigida por Frederico de Freitas e a declamação
das poesias premiadas. O primeiro prémio em Poesia Alusiva a Alcobaça foi
atribuído a Emídio Velasco Martins.
A
propósito destes Jogos Florais, o comunista alcobacense Albino Serrano,
recordou em A Hora da Libertação (ed. do PCP), uma situação de perigo passada no dia quatro,
ou antes, de quatro para cinco de Outubro de 1946, quando se realizaram os
Jogos Florais, no Refeitório do Mosteiro, com a presença de António Ferro, alto
dignitário do regime fascista. Eu não estava muito interessado em assistir ao
espectáculo, mas, à última hora e já com a casa cheia alguém ofereceu a mim e ao meu irmão, que estava comigo, bilhetes de
ingresso no recinto. Entrámos e acomodamo-nos como pudemos. O espectáculo ia
prossseguindo normalmente quando, precisamente à meia noite, se ouviram vários
estampidos, de tal modo fortes que até parecia que estavam e rebentar bombas
ali na praça, mesmo ao lado. Logo a seguir notámos grande movimentação de
alguns funcionários da Administração do Concelho, ligados à Secção Policial, e
ainda os habituais bufos que se
encontravam a assistir ao espectáculo e acto contínuo se dirigiram
apressadamente para a saída (…). Não
sabia exactamente o que se estava a passar lá fora (…) Entretanto os estampidos continuavam a ouvir-se e eu não sabia o que
havia de fazer: se sair rapidamente, aproveitando a confusão, ou se ficar e
aguardar os acontecimentos. A primeira hipótese parecia-me mais sensata, embora
um pouco perigosa (note-se que, segundo o depoimento de Albino Serrano,
nessa altura trazia os bolsos cheios de propaganda do PC) pois não imaginava o que poderia encontrar lá fora.
Mas
afinal o que era que estava a acontecer na rua? Viemos a saber que os estampidos, que ouvíramos lá dentro, eram o
resultado duma salva de morteiros deitados no Castelo, assinalando mais um
aniversário do Cinco de Outubro, os quais, ao rebentarem provocavam dentro do
Refeitório do Mosteiro, onde decorria a festa, um eco de tal modo intenso, que
levou a maior parte das pessoas a pensar que estava a rebentar bombas na praça (…).
O autor deste incidente foi Serafim Amaral que, munido de uma autorização do
Governo Civil de Leiria, festejava apenas
a implantação da República.
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