PICASSO,
GUERNICA E A PROPAGANDA
(republicana
e nacionalista).
Fleming
de Oliveira
Se Guernica, de Picasso foi utilizado como
elemento de propaganda por parte dos republicanos contra os nacionalistas, a
versão seguinte, a não ter fundamento, o que se admite, poderá funcionar como
contra-resposta dos nacionalistas aos republicanos.
A tela
foi solenemente apresentada ao público, com o nome Guernica, pelo próprio
Picasso e por Max Aub, Sub-Comissário da Exposição, na inauguração do Pavilhão
de Espanha, na Exposition Internationale des Arts et Techniques, em Paris, no
dia 4 de maio de 1937. Logo na inauguração, Max Aub enfatizou que muito se iria
falar daquela pintura.
As
imagens que testemunhavam a tragédia de Guernica, provocada pela aviação alemã,
A Legião Condor, aliada dos franquistas, estavam a ser divulgadas pela imprensa
internacional, que assim fornecia a única informação que não suscitava
liminares reservas. Quanto ao demais, aquilo que as agências internacionais
remetiam para as redações dos jornais nacionalistas, chegava e sobrava para
deixar desconfiadas as pessoas e a opinião pública. A máquina de propaganda dos
nacionalistas nada deixava passar no território sobre o seu controlo, que
escapasse à sua verdade. Pelo que,
imagens terríveis dessa povoação basca, foram prontamente acompanhadas de
desmentidos, do género os aviadores bolchevistas
continuam a sua tática de bombardear as cidades abertas da retaguarda e
tentaram mais uma vez bombardear Saragoça. Mas os aviões de caça nacionalistas
levantaram voo e derrubaram um avião bolchevista.
Logo a
obra converteu-se num dos símbolos publicitários do Governo Republicano, até ao
fim da Guerra Civil e mesmo no exílio. O quadro transformou-se num manifesto
contra a guerra, que ultrapassou a sua natureza estética.
Guernica acabou por ter uma grande
importância política e social, mas não devemos deixar de o ver como uma obra de
arte. Se fosse apenas um manifesto contra a guerra
não seria um grande quadro. Guernica é uma obra de maturidade (Picasso
pintou-a aos 56 anos), uma síntese do que
o pintor viu, do que aprendeu e fez até àquele momento da sua vida. Tudo o que
ele amou está lá. O quadro foi enfim entendido como a resposta de Picasso
ao brutal bombardeamento alemão a Guernica. Durante anos, as reproduções de
Guernica, substituíram as da Última Ceia,
de Leonardo da Vinci, em muitos lares, como lembra o escritor espanhol Manuel
Vicent.
A figura de Picasso transcende a própria
pintura.
Porém,
se se atentar nas datas do bombardeamento e da apresentação da obra, admite-se que pode não ser mesmo assim,
conforme os republicanos defendem.
O
bombardeamento de Guernica ocorreu na tarde de 26 de Abril de 1937, pelas
16h,40m. Há quem fale em 1.500 vítimas, há quem diga 7.000, mas isso seria a
totalidade dos habitantes…. Todavia, isso não altera o seu significado
histórico e político.
O
bombardeamento de Guernica ao longo de cerca de 4horas consecutivas, foi o
primeiro ocorrido na Europa sobre uma população civil indefesa, uma localidade
desmilitarizada. Era dia de mercado, muitas pessoas morreram, durante o ataque
ou nos dois dias seguintes, enquanto os escombros estavam ainda a arder.
Em
breve, o acontecimento começou a ser noticiado e amplamente comentado em Paris.
Mas o quadro foi apresentado cerca de uma semana depois do acontecimento.
Trata-se
de uma obra de grande envergadura, com 3,5m de altura por 7,77m de largura.
Picasso, chegou a declarar que tinha demorado 60 dias a executá-la. Pensar que
o quadro foi iniciado e completado entre 27 de Abril e 3 de Maio de 1937, não
explica a contradição com aquela informação. Uma conclusão pode-se eventual,
mas não seguramente, extrair. O trabalho de Picasso não foi inspirado, nem
representa o bombardeamento de Guernica pelos alemães. A história do quadro
terá começado em janeiro de 1937, quando Max Aub encomendou a Pablo Picasso,
por ordem do Governo Republicano, um mural para ser exposto no Pavilhão de
Espanha, mediante o pagamento de 150.000 francos. Em vez de um mural, foi
executado aquele enorme painel, em óleo sobre tela.
Se foi
Picasso, Max Aub ou outro qualquer, que anteviram o seu grande potencial e se
lembraram de batizar o quadro Guernica, nos breves dias que antecederam a
inauguração da exposição, é facto que dificilmente poderá ser esclarecido.
Desde então,
Guernica tem sido objeto de estudo, crítica, opinião e inspiração um pouco por
toda a parte. Representará mais uma impressiva visão sobre os horrores da
guerra?
Segundo
alguns, a tensão expressa no quadro lembra Los
Horrores de la Guerra, de Goya. A denominação da obra e a propaganda
republicana desencadeada a partir daí, representaram uma operação político-mediática
em que participou Picasso, como eventualmente esta versão nacionalista. Alguns
espanhóis, obviamente não afetos aos republicanos, mas não necessariamente
comprometidos com os nacionalistas, salientam que o quadro estava pronto antes,
ou em adiantada execução quando ocorreu o bombardeamento de Guernica e Picasso
previa chamar-lhe Lamento en La Muerte
del Torero Joselito, evocando a memória do toureiro Joselito, caído na
arena de Talavera de la Reina, numa tarde de 16 de maio de 1920.
Não
sabemos e o facto em si não parece verdadeiramente relevante, mas é sabido que
Picasso dedicou grande atenção aos temas taurinos, desde a juventude. Observando
a tela, podem distinguir-se touros e cavalos, num paroxismo de drama e morte. O
que não se consegue descortinar são aviões, casas, guerra ou bombardeamentos.
Mas quanto a isso lá saberá o pintor aquilo que quis representar!
Depositado
no Museum of Modern Art, de Nova Iorque, o quadro permaneceu fora de Espanha
até 1981, ano em que foi recebido no Museu do Prado. Picasso havia determinado
que o quadro só deveria vir para Espanha, quando o país vivesse em democracia.
Construído o Museu Rainha Sofia, em 1992, foi transferido para o lugar que hoje
ocupa. Guernica define a identidade do
nosso museu, disse a diretora do Rainha Sofia, Ana Martínez de Aguilar, tal como a Mona Lisa define o Louvre.
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE
SALAZAR, CAETANO E OUTROS
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