BREVE APONTAMENTO SOBRE O HOSPITAL DE ALCOBAÇA
Fleming
de Oliveira
Durante
o Séc. XIX, os hospitais continuavam vocacionados para a sua
função tradicional, de acolhimento dos doentes pobres. O liberalismo não trouxe
grandes novidades em termos de organização e funcionamento hospitalar que, no
caso português, continuará, em grande parte e até 1974, nas mãos das
Misericórdias ou de confrarias menores, neste caso com acesso reservado aos
seus membros.
A rede
hospitalar portuguesa continuou, no essencial, sob a administração de
instituições religiosas ou privadas, e em particular das Misericórdias, em
ambos os casos fora da tutela do Estado, não obstante as leis de
desamortização, entre as quais a de 1866. Em contrapartida, o triunfo do
liberalismo modificou a composição das elites locais e, por conseguinte, a dos
corpos sociais das Misericórdias.
Nas
vilas e cidades do País, sob o impulso da Regeneração, houve alguma renovação
dos equipamentos sanitários das Misericórdias, cuja extensão está, no entanto,
por documentar e avaliar, na quase ausência de estudos monográficos. Foram
construídos novos hospitais, já de acordo com novos padrões de higiene,
respeitando todavia as exigências de uma arquitetura funcional e uma construção
de baixo custo. De qualquer modo, as velhas Misericórdias, descapitalizadas e
em decadência, não demonstraram capacidade de se abalançar a investimentos de
vulto.
Tome-se
como exemplo o Hospital de Alcobaça, Bernardino Lopes de Oliveira. A sua
inauguração, em 15 de Agosto de 1890, foi pretexto para a edição de um número
extraordinário do jornal Correio de
Alcobaça, que inseriu uma detalhada informação sobre o novo hospital,
assinado por um dos seus médicos mais distintos, Francisco Baptista Zagalo, ele
próprio benemérito.
À
data, o custo do edifício, que iria substituir o velho Hospital da
Misericórdia, somava já 15 contos (15.000$000 réis), uma verba avultada. Dois
terços do custo do novo hospital de Alcobaça, foram cobertos por donativos da
Câmara Municipal e do Estado (cfr. Zagalo). O resto foi essencialmente
complementado pela subscrição pública, popular, já que a Misericórdia
alcobacense, só a muito custo poderia dispensar
a verba de 1.800$000 réis. Em 1890, cidadãos de Alcobaça liderados por
Bernardino Lopes de Oliveira edificaram o hospital. Até lá foram dias de
trabalho voluntário, cortejos de oferendas, festas e entusiasmada dedicação que
permitiram cumprir um sonho. Inaugurado o hospital, decorreram mais de 120
ininterruptos anos de atividade, muitos alcobacenses dedicaram-lhe uma vida de
trabalho (voluntário ou remunerado), doentes, famílias e amigos, por lá
passaram ou levaram para casa as angústias, dores e sofrimentos e, também, as
indescritíveis alegrias, de após períodos, curtos ou longos, se terem recuperado.
A dignidade das pessoas, que hoje e sempre têm de recorrer ao Hospital, deverá
permanecer inalterável e o respeito pela sua natureza continua a impor a sua
centralidade, na prática da rotina hospitalar, sem grandes pressupostos
economicistas por parte do Estado. O Hospital de Alcobaça é administrado pelo
Estado há 25 anos, funcionando num edifício pertença da Misericórdia de
Alcobaça, que recebe uma renda.
José
António Crespo, sobre quem já escrevi, foi durante mais de 40 anos Secretário
da Mesa da Misericórdia de Alcobaça. Exerceu essas funções desde o tempo em que
foi Provedor, o Pe. João de Sousa, do Bárrio, que sucedeu ao Prof. Bernardo
Correia de Almeida, que aliás foi seu professor durante a Instrução Primária.
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE
SALAZAR, CAETANO E OUTROS
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