UMA BOMBA PARA SALAZAR (1937)
Fleming de Oliveira
Em 3
de Julho de 1937, o Cardeal Patriarca, Manuel Gonçalves Cerejeira ofereceu um
crucifixo de marfim ao seu amigo António Salazar e convidou-o a no dia seguinte
ir à missa dominical no Patriarcado. Este preferia, por razões de segurança,
assistir à missa, celebrada pelo padre Abel Varzim, numa capela particular em
casa do musicólogo Josué Trocado, na Avenida Barbosa du Bocage, 96-Lisboa. O
prédio fora, como de costume, revistado no dia anterior por agentes da PVDE.
No
atentado a Salazar que se seguiu, foi utilizada uma bomba artesanal, uma
garrafa de ferro de uso industrial, cheia de explosivos, colocada sob o
pavimento no local onde o automóvel conduzido pelo fiel motorista Raúl deveria
parar. Apesar de grande cratera, com cerca de 24m de diâmetro, que abriu no
pavimento mal Salazar pôs os pés no chão, este saiu ileso. As pedras da calçada
voaram, mas não atingiram ninguém.
Mais
tarde, Salazar ironizou que, como fiquei
vivo terei de continuar a trabalhar. Eu tenho sempre muita sorte nestas coisas.
Esta
operação foi executada por anarquistas ligados à CGT, liderados por Emídio
Santana, tendo os seus principais autores sido levados a julgamento em Tribunal
Militar e condenados a penas pesadas, mas não vieram a ser deportados para o
Tarrafal. Durante algum tempo, a operação foi atribuída pelo regime ao Partido
Comunista.
Tanto
Hitler como Mussolini, enviaram telegramas de congratulações pois, a natureza do atentado define-lhe a origem e
a lição que dele se tira é que nenhuma trégua deve ser dada às forças
destrutivas e criminosas do bolchevismo. Por sua vez, Cerejeira mal soube
do incidente, deu graças a Deus, e encabeçou o coro dos que reforçaram a lenda
do carácter messiânico de Salazar.
Salazar,
antigo seminarista, ajudava à missa dos domingos em S. Bento. Mas nunca foi
visto a comungar. Segundo a governanta Srª Maria, tinha uma licença especial que o desobrigava da confissão e da
comunhão.
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO
E OUTROS.
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