No meu tempo de menino, tinha a ideia que a Escola era agradável e até risonha, não obstante o Senhor Professor, de vez em quando, fazer um ar muito carrancudo e dar umas palmadas, com a menina dos cinco olhos.
Não sou saudosista, nem tenho por hábito recordar o passado como os bons velhos tempos, outrossim, prefiro brindar ao futuro.
Como é evidente, mesmo os bons tempos, têm alguma carga de menos bons tempos.
Quando já se viveram alguns anos, acrescentamos ao prazer de estar por cá, o óptimo prazer de rememorar o nosso crescimento.
Somos capazes de olhar o passado, de perceber um pouco o que nos moldou e descobrir a génese da nossa forma de estar.
A Escola sempre me interessou e preocupou, não só por lhe ter dedicado muitos anos como aluno, e pelos filhos, mas também por continuar a estar todos os dias presente na minha vida familiar, através da Mulher.
Cada vez tenho mais a ideia de que a Escola não pode ser estática, tem de ser tanto ou mais didáctica no sentido de ensinar matérias curriculares, mas de preparar para a vida, educar e instruir, dialecticamente as pessoas, de forma crítica e racional.
Estamos em Democracia, em Liberdade, e logo vem aligeiradamente à mente de alguns menos preparados, infelizmente por falta de escola, que ser livre é fazer o que se quer, que a escola é um depositório de meninos, cuja missão principal é dar-lhes um dia um canudo.
Numa Escola, tem de haver regras, deveres e direitos, princípios orientadores, sem os quais nunca será possível atingir os seus objectivos.
Se a Escola se propõe educar, instruir, estes são objectivos que dizem tanto respeito aos professores, educandos, encarregados de educação, funcionários, sociedade em geral.
Numa escola, têm de ser observados códigos de conduta, sejam eles apelidados de deontológicos ou morais.
Modificáveis, é certo, de acordo com o tempo, mas sempre numa base fundamental de respeito, responsabilidade, colaboração / solidariedade.
A escola tem de ter uma entidade superior, que se poderá chamar Conselho Directivo, Reitoria ou Ministério, cuja missão é zelar pela prossecução do seu objectivo.
Quem ensina é o docente, quem aprende é o discente, o educando.
Quando a escola falha, a culpa é de todos, e assim o que era bonita escola deixa de o ser.
Os alunos não gostam de aprender, os professores não gostam de ensinar, os encarregados de educação não gostam de educar, os funcionários não gostam da escola.
A que propósito vem estas vagas considerações sobre a Escola Tradicional?
Os jovens de hoje em nada são iguais aos que o eram há cinquenta e mais anos atrás.
Mas seja em Lisboa, Porto ou Alcobaça, hoje ou ontem, continuam a ter um grande denominador comum, querem amor, sexo, carros, dinheiro, moda e sucesso/estatuto.
A sua cultura é todavia diferente, não digo que menor ou menos valiosa, mas recebem-na de forma diferente.
Até à adolescência vivi sem televisão, li mesmo à noite muitos livros uns que percebi, outros que não percebi, para os quais não estava preparado.
Mas todos eles faziam parte daquela cultura bem burguesa, que era a da minha casa, a dos meus Pais.
Esta nossa escola a USALCOA também é diferente. Aqui não entram nem os métodos antigos ou os modernos, por isso não os comparo, o mal estar ou a tristeza, esta só por causa da idade, não se pretende mais formar cidadãos, dar diplomas, mas quando muito dar-lhes algum complemento, que sirva mesmo assim para ajudar a sua cidadania e a reforma….
Falar de Escola, é falar de poesia.
Parece-me que hoje existe uma certa vergonha, será apenas pudor?, de dizer versos. Antigamente, decorávamos, para declamar, a primeira estância de OS LUSÍADAS, e essa melodia, bem ritmada, deixou-nos um espaço de reflexão aprofundado, e que mais tarde, depois dos 40 anos, fui recuperar e levar, mundo fora, com alguma emoção, no Coro dos Antigos Orfeonistas de Coimbra, na sua identificação com o Portugal de sempre, em Macau, gruta de Camões, África do Sul, Cabo da Boa Esperança ou Brasil, Real Gabinete Português de Leitura, do Rio de Janeiro. Por via da poesia, não necessariamente épica, tenho tentado alcançar um utópico-sublime, transformando esses princípios elementares de cultura e educação, em algo duradouro e invisível para muito mortal, eventualmente mais novo, que vai além do óbvio de todos os dias.
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