sexta-feira, 7 de maio de 2010

UM SUBMARINO NAZI DÁ COSTA NA NAZARÉ

UM SUBMARINO NAZI DÁ COSTA NA NAZARÉ (depois do termo da Guerra), E É AFUNDADO PELA TRIPULAÇÃO.

MAIO DE 1945.

HISTÓRIA E ALGUMA LENDA.

Na manhã do domingo 20 de Maio de 1945, quem estivesse na Nazaré, na zona da praia, testemunharia uma rara e emocionante cena.

A 30 de Abril de 1945, o governo nazi alemão, na iminência da rendição, deu ordem para se proceder ao auto-afundamento da frota de submarinos.

Mas, para grande desorientação dos respectivos comandantes, a 4 de Maio veio uma contra-ordem. O Almirantado Britânico havia lançado uma advertência, os barcos alemães deveriam navegar à superfície até aos portos para se entregarem, com uma bandeira negra hasteada. Mas os alemães tiveram receio de serem tratados como corsários. Um dos refúgios, considerado bom, era Portugal pois o governo, até certa altura, não tinha sido hostil à causa alemã.

A história dos últimos dias do submarino U963 conta-se em poucas palavras. A Alemanha, tinha capitulado. Adolfo Hitler, suicidara-se no seu bunker da Chancelaria. Para o lugar designara o Grande-Almirante Karl von Döenitz, antigo comandante da frota submarina do Reich e Comandante–Chefe da Kreigsmarine. No novo posto, este oficial pouco mais podia fazer do que assinar a capitulação.

Algures, no Atlântico, desenrolava-se um drama moral. Sabe-se que o U-963 tinha por missão largar minas no Canal da Mancha, tendo partido da sua base na Noruega, em Abril de 1945, com essa finalidade.

No início de Maio, ao emergir no mar da Irlanda, a tripulação apurou que a Alemanha se rendera, e a Guerra terminara na Europa. O Capitão-Tenente e comandante do U-963, também recebeu a ordem de rendição e de entrega voluntária (já não de auto afundamento) num porto aliado.

Mas, no seu militarismo, não conhecia o significado de palavras como rendição e entrega, pelo que se recusou a cumprir a ordem.

Regressar à base era impensável, tal como retirar-se para a América do Sul (aonde, aliás, já havia muitos alemães) e daí continuar a luta. Aproar em Inglaterra ou França, não era uma boa ideia. Ingleses, Franceses ou Norte-Americanos não seriam amigáveis ou tolerantes com os Alemães.


Outra hipótese, poderia ser a Espanha. Mas na Cantábria, guerrilheiros comunistas que haviam combatido contra Franco, não estavam ainda controlados, pelo que a tripulação corria o risco de cair nas suas mãos. Foi pois decidido aproximar-se da costa portuguesa. Portugal, país neutral, era terra honrada e pátria de marinheiros. Apesar das muitas privações e dos anos de receio perante o espectro da intervenção no país, os portugueses chegaram a 1945, incólumes na sua integridade física, pois apesar da invasão japonesa em Timor, nenhum dos territórios sob soberania nacional foi atacado ou invadido, nem se perderam cidades e populações, sob dilúvios de bombas.

Portugal conservou os canais de comunicação entre potências em conflito, não se incompatibilizou definitivamente com a Alemanha, não cedeu no que era essencial, a soberania, e condescendeu no acessório. Quando o desfecho da Guerra ainda não era totalmente seguro (1943), o governo português fez o alinhamento com os Aliados. A cedência de facilidades nos Açores, foi factor decisivo para a conclusão da Batalha do Atlântico, onde os submarinos alemães, haviam tido papel de destaque. A neutralidade colaborante portuguesa beneficiou o país, em contraste com aquilo que se passara durante a I Guerra, onde o interesse de uma minoria política ansiosa de reconhecimento internacional, precipitou Portugal no desastre económico-social e na derrota militar. Vaqgueou o submarino em pleno Oceano Atlântico. Com os tanques de combustível e a despensa a ficar vazios, teve de aceitar a ideia de se render e entregar.

O submarino iria demorar oito dias para fazer os 4.500 quilómetros até ao seu último destino. Embora nenhum tenha assistido à cena, Altino e José Tempero contam que pelas seis ou sete da manhã, do dia 20 de Maio de 1945, às primeiras horas da madrugada, um vulto esguio, comprido e escuro emergiu frente à praia da Nazaré. Do casco, saiu um bote de borracha, com 3 homens, que rumou a terra para contactar com as autoridades marítimas. Os tripulantes informaram que o submarino se encontrava com água aberta e pediram socorro para os 47 homens da tripulação, a bordo. A barca salva-vidas da Capitania do Porto, foi recolher a tripulação que iria abandonar o navio.

Este, com as válvulas de fundo, tubos de torpedos e escotilha da torre abertos, iria ser atirado para o fundo do mar. De acordo com o registo da Capitania do Porto da Nazaré, o submarino alemão U-963, afundou-se a cerca de 500m a S/SW do farol da Nazaré, a profundidade aproximada de 100 braças.

A vida marinha acabou com o decurso do tempo por tomar conta dos destroços. De acordo com pescadores e mergulhadores, são comuns os peixes, alguns de grande tamanho, que se refugiaram no casco do submarino e fazeram dele o esconderijo. São vulgares fanecas que não se afastam à passagem dos mergulhadores, bem como polvos.

Em 1998, o jornalista da SIC, Aurélio Faria tomou conhecimento da existência deste submarino no mar da Nazaré e decidiu investigar.

Entretanto, o Instituto Hidrográfico da Marinha (I.H.M.) com auxílio de um sonar de varrimento lateral, detectou destroços num local próximo do canhão submarino da Nazaré, cujas dimensões da sombra acústica correspondiam às de um submarino alemão, como o U-Boat 963. Os jornalistas Aurélio Faria e Jorge Ramalho avançaram para a realização de uma reportagem, no seguimento de um projecto desenvolvido pela Universidade Autónoma de Lisboa (U.A.L.), em parceria com a Universidade de Connecticut, a Ocean Technology Foundation e o I.H.M.. Em Junho de 2004, realizou-se uma operação de localização do U-Boat, na qual foram empregues meios invulgares em Portugal, como um mini-submarino, com capacidade para recolher e analisar vestígios arqueológicos, até 500 metros de profundidade.

Em 1939, a Alemanha tinha apenas três dezenas de submarinos, mas preparava-se para rapidamente fabricar muitos mais. As consequências foram dramáticas para os Aliados com muitos navios (cargueiros e não só) afundados, malditos submarinos alemães. Em 1944, considerava-se o serviço a bordo de um submarino alemão, como uma condenação à morte, pois mais de 80% dos que saíam para a caça, não voltavam mais.

Aquando da invasão da Normandia, os alemães pretenderam juntar os seus submarinos do Mar do Norte, bem como os que se encontravam abrigados em França. 28 submarinos alemães partiram para as praias da Normandia, mas cerca de metade não se encontrava em condições de submergir. Apenas um, chegou à zona do desembarque Aliado, tendo aliás afundado um navio britânico e outro americano, antes de ser atingido. A 7 de Junho de 1944, os alemães tinham apenas alguns submarinos no Báltico e em França, no Atlântico-Sul e no Pacífico. A grande frota de submarinos desaparecera, no dia 1 de Maio de 1945, ou seja, uma semana antes da rendição da Alemanha, esta possuía cerca de 500 submarinos mais ou menos a flutuar e cerca de mais 100, quase prontos para a entrega.

Esta última semana foi, especialmente, fatal para os submarinos alemães. A grande maioria foi bombardeada nos portos, sem sequer ter tido possibilidade de entrar em acção. Muitos outrosdos foram afundados ou destruídos pelas tripulações.

Relativamente à Nazaré a história perdurou, ainda que baseada em dúvidas e boatos. Segundo alguns nazarenos mais idosos, que se recordam do acontecimento, tudo aquilo foi proporcionado para despistar os Aliados. Seria mesmo? Outras questões são ainda levantadas. O que é que está(va) realmente dentro do navio? Há quem também defenda, que o submarino alemão trazia, além da respectiva tripulação, alguns prisioneiros, os quais foram também afundados com o barco. Coincidente com esta opinião conhecemos, pelo menos, a de Altino, embora não se afigure crível.

Depois de a tripulação alemã ter afundado o submarino, formou em frente à Capitania, fez um salva de tiros, e entregando-se às autoridades portuguesas, foi enviada em duas camionetes para o Forte de Peniche, enquanto que com os dedos fazia um V (vitória), em direcção aos populares que os viam passar.

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