sexta-feira, 7 de maio de 2010

ORQUESTRA TÍPICA E CORAL DE ALCOBAÇA (Cap. II)

RECORDANDO A ORQUESTRA TÍPICA E CORAL DE ALCOBAÇA, NOS SEUS TEMPOS DE GRANDE PUJANÇA E NOTORIEDADE.

APONTAMENTOS DA SUA VIDA ARTÍSTICA, EM QUE PERCORRE O PAÍS DE NORTE A SUL.


ANTÓNIO GAVINO, BELO MARQUES E SILVA TAVARES

MARIA DE LURDES RESENDE (as homenagens que lhe foram feitas) E A CANÇÃO DE ALCOBAÇA. AMÉRICO TOMÁS


CELESTINO GRAÇA E OS SEUS AGRUPAMENTOS DE SANTARÉM.


SIMONE OLIVEIRA, MADALENA IGLÉISIAS, MARIA MARISE, GINA MARIA, CIDÁLIA MEIRELES, MARA ABRANTES, ANTÓMIO CALVÁRIO, ARTUR GARCIA, HENRIQUE MENDES, FIALHO DE GOUVEIA, PEDRO MOUTINHO (e muitos outros)


AS ORQUESTRAS TÍPICAS ALBICASTRENSE E ESCALABITANA.


O XIX CONGRESSO DA UNIÃO INTERNACIONAL DOS ADVOGADOS (Prof Palma Carlos e Vasco da Gama Fernandes, entre outros juristas).

ALGUNS ARTISTAS E DIRECTORES DA OTC.



(II)





A grande pujança, os chamados anos de ouro da O.T.C. decorreu, no início da década de sessenta do século XX. José António Crespo e Maria Luísa recordam mais algumas apresentações, como um Serão para Trabalhadores ,no Pavilhão dos Desportos-Lisboa, a 16 de Março de 1961, organizado pela EN, que o transmitiu em directo, em colaboração com a FNAT e dedicado ao Grupo Desportivo da Companhia dos Telefones. Colaboraram na primeira parte, o conjunto (muito em voga) de Jorge Machado, a cantadeira Natércia da Conceição, os artistas Fernando e José Queijas bem como os cançonetistas Elsa Vilar, Alberto Ramos e Maria Amélia Canossa. De acordo com o enquadramento da organização, haveria músicas tristes ou alegres, os fados de Lisboa todas as noites nascem sem pedirem licença a ninguém. Basta que uma guitarra se encontre ao lado de uma viola e que a presença de uma castiça cantadeira se interponha entre ambas, para que os fados surjam e Malhoa esteja presente com a sua mágica paleta….



A segunda parte foi preenchida com a O.T.C., com um breve intervalo, para alguns momentos humorísticos do actor José Viana. Era intenção propalada tanto pela E.N., como pela FNAT, o propósito de apresentarem nestes Serões, as Orquestras e Conjuntos da nossa terra que possuam verdadeira categoria, como é o caso da de Alcobaça. Não esquecem também o Recital Artístico, de 3 de Abril de 1962 em Alcobaça, com a colaboração da Orquestra Ligeira e Artistas da EN (Alice Amaro, António Calvário, Artur Garcia, conhecido como o Rouxinol, por se ter estreado profissionalmente com o tema Rouxinol dos Meus Amores. Rei da Rádio em 1967, em 1969 Artur Garcia foi considerado Príncipe do Espectáculo), Gina Maria, Guilherme Kjölner, Madalena Iglésias, Mara Abrantes, Maria Candal, Maria Marise, Simone de Oliveira, Teresa Paula e Trio Harmonia). Num sábado, 4 de Novembro desse ano, a O T.C. como referimos supra e recordam Crespo e Maria Luísa fez um Recital no Cine-Teatro da vila, convidando artistas da Rádio e RTP. Este espectáculo foi tão bem sucedido, como aliás se referia mais tarde em casa do Dr. Magalhães, que, no dia 16 de Dezembro seguinte se repetiu, com a presença dos mesmos artistas (Madalena Iglésias, Maria Cândida, Artur Garcia, Maria do Espírito Santo) e ainda de Graça Maria Rosado, Mariette Pessanha. Gina Maria estaria presente, se o avião que a trouxer dos Açores chegar a Lisboa, a tempo de depois se deslocar para Alcobaça. Gina Maria esteve presente, pois o avião chegou a tempo de se fazer transportar de taxi a Alcobaça.



No dia 11 de Fevereiro de 1962, a O.T.C. com os solistas Maria Luísa Dionísio, Maria do Rosário, Maria de Lourdes, José Teopisto, Olegário José e Valdemar do Nascimento, realizou uma apresentação nos Montes, na sede da respectiva Associação, que funcionava numa Adega, propriedade do Dr. Amílcar Pereira de Magalhães. Também várias sessões de fados castiços ali tiveram lugar. O edifício da adega, que foi sede da Associação Recreativa Montense até 1968, com excepção da zona dos depósitos aéreos e subterrâneos, era em chão térreo. Montava-se para cada espectáculo um palco com pano de cena, um pequeno bar onde se serviam rissóis, copos de branco ou tinto, colocavam-se bancos e cadeiras, bem como uma instalação, sonora normalmente alugada em Alcobaça, numa casa à Pissarra. O Dr. Amílcar Magalhães foi entre 1961 e 1963, Presidente da Direcção do C.A.A.C.. Além dele e de José Crespo (secretário-geral), fizeram parte da Direcção nesse mandato, Manuel Lemos Pereira da Silva (secretário adjunto), José Dionísio dos Santos (tesoureiro) e Leopoldino dos Santos (vogal). Crespo gosta de sublinhar, no que é assessorado por Maria Luísa Dionísio, que o ambiente no grupo era excelente, pois os componentes da O.T.C. sentiam uma grande solidariedade entre si e davam poucas faltas aos ensaios. Por sua vez, os directores não enjeitavam colaborar na organização dos espectáculos, concretamente arrumando, levantando cadeiras e mesas, preparando o palco, a cena ou a instalação eléctrica ou mesmo suportar algumas despesas. Mais tarde esses serviços passaram a ser efectuados por pessoas contratadas e pagas, o que implicou custos elevados, em breve considerados insuportáveis.




Na segunda parte do espectáculo dos Montes, para maiores de 6 anos, apresentado por A. Canário, cujo ingresso não era barato, pois as cadeiras custavam 12$00 e o peão 7$50, participaram ainda Artur Garcia e Graça Maria Rosado. Estes e outros artistas como António Calvário, Simone de Oliveira, Madalena Iglésias ou Gina Maria, realizaram também outros espectáculos em Montes, no mesmo local. No referido espectáculo, a casa estava superlotada, houve pessoas que ficaram à porta, e José Crespo recorda-se bem, para além do sucesso da apresentação de uma excelente ceia oferecida pelo Dr. Amílcar Magalhães, Presidente da Direcção.



De acordo com a revista Plateia (de Lisboa), no seu número de 10 de Maio de 1962, a homenagem a Silva Tavares e à O.T.C, realizada no dia 3 desse mês, em Alcobaça, constituiu uma parada dos melhores artistas da Rádio e TV nacionais, e uma orquestra da categoria que é a de Tavares Belo. Uma casa cheia e um público ansioso que, não regateou aplausos quando Fernando Correia, alegre e comunicativo locutor da EN, anunciou o início do espectáculo.




Na primeira parte, actuou a O.T.C. e Silva Tavares, como era usual sempre que presente, foi alvo duma significativa ovação, quando se acabou de ouvir a Canção de Alcobaça. Os locutores Fernando Correia e Artur Peres apresentaram na segunda parte, Gina Maria, Domingos Marques, Trio Harmonia, Cristina Maria e Alice Amaro, acompanhados pela Orquestra de Tavares Belo. Na terceira parte, foram chamados ao palco, o homenageado Silva Tavares, o Maestro Eduardo Loureiro, chefe da Secção de Música Ligeira da E.N., os Maestros Melo Pereira, chefe da Secção de Música Ligeira da RTP, Belo Marques e um representante da casa discográfica Valentim de Carvalho. Subiram ainda ao palco, o presidente da CMA, Jaime Horácio Junqueiro e os Vereadores, bem como, a direcção do CAAC .
Junqueiro disse, a determinada altura do seu discurso, dirigindo-se a Silva Tavares, que temos V. Ex.ª como filho de Alcobaça, pois esta vila é como uma pátria para a qual corre sempre que pode e a quem entregou o diploma que o torna filho adoptivo e cidadão de Alcobaça.




O Dr. Amílcar Magalhães, teceu elogio às pessoas e à acção de Belo Marques e a Silva Tavares. Silva Tavares agradeceu e, disse que (…) eu gosto de Alcobaça, como gosto daquilo que gosto. Gosto da minha mulher, porque gosto (…). Em seguida, fez a pequena história do nascimento da Canção Alcobaça, e a sua original criação, na voz de Cidália Meireles. Como se sabe, quem cantou pela primeira vez a Canção de Alcobaça, foi Cidália Meireles, que tendo ido trabalhar para o Brasil, cedeu o lugar a Maria de Lurdes Resende, que fazia parte do coro feminino da EN.




Maria Luísa Dionísio está convencida que foi Belo Marques quem perante a impossibilidade de Cidália Meireles continuar a colaborar com a O.T.C., tomou a iniciativa de convidar Maria de Lourdes Resende, para o seu lugar, acabando assim por ficarem indissoluvelmente ligadas. A Canção de Alcobaça passou a fazer parte obrigatória, do repertório de Maria de Lourdes Resende (a menina feia), actuasse ou não com a O.T.C., bem como de artistas como Francisco José, no auge da fama e no Brasil.


Num gesto, que sensibilizou os presentes, Silva Tavares, abraçou na pessoa do Presidente da Câmara toda a vila de Alcobaça, após o que a seguir ainda actuaram Maria Marise, Simone de Oliveira, Madalena Iglésias, a brasileira Mara Abrantes e conjunto de guitarras de Rui Nery, todos acompanhados pela Orquestra de Tavares Belo. Como era tradicional, a O.T.C., ofereceu a todos os participantes do espectáculo, que o foram a título gracioso, uma lembrança a testemunhar e a agradecer o contributo de cada um e todos, para o êxito do evento. No final, foi servida uma ceia, tendo ficado bem vincada e registada, a simpatia dos responsáveis do evento, para aqueles que actuaram.

A 23 a 27 de Julho de 1962, decorreu em Lisboa, com sessões de trabalho na Faculdade de Direito, o XIX Congresso da União Internacional dos Advogados (Union Internationale des Avocats), cujo Presidente era o Professor Doutor Adelino Palma Carlos. Da Comissão Executiva faziam parte, entre outros distintos Advogados, António Madeira Pinto (Secretário Geral), José de Magalhães Godinho, Vasco da Gama Fernandes ou José Maria Gaspar. Para além do Congresso, havia uma parte social com espectáculos e passeios, sem prejuízo de um programa próprio para as senhoras, esposas dos congressistas. O Advogado e presidente do CAAC, Dr. Amílcar Magalhães, convidou a OTC a fazer uma apresentação para os congressistas, antes do almoço que se realizou no Mosteiro de Alcobaça, no dia 25 de Julho. Chegou até nós a ementa do almoço, da responsabilidade da Pensão Restaurante Corações Unidos: Acepipes, Linguados à Beneditina, Frangos na Púcara à Fradesca, Lampreia de Ovos à Mosteiro, Frutas de Alcobaça e Café. Os vinhos branco e tinto, bem como a aguardente velhíssima eram JEM (José Emílio de Magalhães). Também foi servida Ginja de Alcobaça. Durante a visita aos Mosteiros de Alcobaça e Batalha, bem como ao Castelo de Leiria, fizeram breves palestras, respectivamente, o Professor Joaquim Vieira Natividade, Dr. Pais d’Almeida e Arquitecto Camilo Korrodi. Ainda nesse dia, os congressistas deslocaram-se à Nazaré (onde assistiram a um programa de folclore), Batalha e Leiria (em cujo jardim Municipal lhes foi servido um chá e actuou o Orfeão de Leiria).

Ainda nesse ano, a 27 de Outubro, a O.T.C. deslocou-se à sede da Academia Recreativa de Santo Amaro, para uma sarau de responsabilidade em que participaram Graça Maria, Artur Garcia e José Nobre, apresentado por Pedro Moutinho (então casado com Maria Leonor), e que utilizava sempre uma orquídia branca na lapela do casaco, como recorda Maria Luísa Dionísio.

Em Janeiro de 1963, realizou-se no Cine-teatro de Alcobaça, um espectáculo de homenagem à O.T.C. (que, por isso, não actuou), no estilo do programa da TV, Melodias de Sempre, pelo muito que têm feito em favor da música popular portuguesa. Colaboraram, graciosamente, artistas como Artur Garcia, Madalena Iglésias, Mara Abrantes, Maria Marise, Gina Maria, Elsa Vilar, Maria Fernanda Soares, Domingos Abrantes, o Coro das Melodias de Sempre, com o maestro António de Melo ao piano. A locução esteve a cargo de Fialho de Gouveia, Fernando Correia e Henrique Mendes!!! Os artistas utilizaram o guarda roupa cedido por Anahory, conhecido figurinista das revistas do Parque Mayer e das peças de teatro da TV.

Nesse ano de 1963, a O.T.C. realizou variados espectáculos, como na Maiorga (com Maria da Glória e Eugénia Maria) ou em Valado de Frades (com Maria Fernanda Soares e Artur Garcia).


Na alameda da Quinta da Cova da Onça, vistosamente engalenada, promovido por C.A.A.C., realizaram-se, no ano de 1963, os festejos dos Santos Populares. A O.T.C. marcou presença na última noite. Ali funcionou uma quermesse com barracas de tômbola (panelas e tachos), de ginjinha, de rifas, de comes-e-bebes, com amêijoa, frango no espeto, sardinha assada, etc., bem como barracas dos mais variados artigos, onde predominavam os de fabricação alcobacense. Nesse ano, a RTP havia vindo a Alcobaça filmar o espaço da Cova da Onça, onde estavam a decorrer as festas, para utilizar as imagens num programa que a O.T.C. veio a apresentar em directo nos estúdios de Lisboa. No ano seguinte (1964), os festejos dos Santos Populares realizaram-se na cerca do Asilo de Velhinhos Maria e Oliveira. Desta vez, vieram a Alcobaça, artistas como Maria Fernanda Soares e Artur Garcia (propagandeado como conhecido e apreciado dueto de Melodias de Sempre) Fernanda Pacheco, Luís Piçarra (o mais internacional dos artistas portugueses) e Gina Maria (1º Prémio de interpretação em Espanha), Margarida Amaral, Fernanda Pádua (uma promessa de futuro), Lina Maria, Max (madeirense autor e intérprete do sucesso popular A Mula da Cooperativa e Pomba Branca), Carlos do Nascimento, (Rei da Rádio de Angola e apreciado artista da Rádio e da TV), e ainda Simone de Oliveira, (vedeta da voz de oiro e rainha da popularidade).Desde o Santo António, que ali se vinham realizando festejos, nos quais se exibiram, além dos consagrados artistas, o Orfeão da Sociedade Central de Cervejas, sob a regência do maestro Alves Coelho (Filho). Mas foi precisamente a noite de S. Pedro, que se revelou especialmente notável. O sarau, numa noite chuvosa e ventosa, pouco agradável, começou pelas 22h, com a exibição do Rancho Folclórico da Nazaré, num recinto completamente cheio. Porém, o grande momento da noite consistiu como é óbvio na apresentação da O.T.C. Nestas actuações, a OTC interpretava a peça, que aliás veio a gravar em dico (vinil) Há Mercado em Alcobaça. No ano 2000, a Rádio Renascença, conjuntamente com a Movieplay, numa colectânea de Clássicos Portugueses, fez uma reedição e uma passagem para CD:




Alcobaça tem

Um mercado original

Pois que toda gente que aqui vem

Vai a dizer bem,

Nunca diz mal.




Vende-se de tudo

Que é antigo e que é moderno,

Tecidos de chita e de veludo

E frutas do verão, em pleno Inverno.




Se depois chegar,

Em passando o nono mês

Um bebé bonito p’ra alegrar,

Terá que comprar

Mas para três…

E depois virá o tal dia que é preciso

Ensinar aquilo que ouviu já

Para que o rapaz tenha juízo…




Só nos prende

Um pormenor

Não se vende

Aqui amor…




Estribilho




Quem quiser

Escolher

A mulher

P’ra viver,

E pensar

Vida sã

Para o lar

De amanhã,

Só precisa comprar

Valiosos bragais,

E depois …

É casar,

Nada mais!





A O.T.C. recebeu no dia 14 de Dezembro de 1963, a Orquestra Típica Albicastrense que veio a convite do C.A.A.C. dar um espectáculo ao Cine-Teatro. Segundo o jornal Reconquista, de Castelo Branco, de 22 de Dezembro de 1963, a caravana albicastrense, esperada em Aljubarrota por mais de uma dezena de carros, apesar da chuva que persistentemente caía, foi a mesma escoltada até ao largo fronteiro ao edifício dos Paços do Concelho, onde foi recebida pelo Senhor Presidente da Câmara Municipal, pela digníssima vereação, direcções do Centro Alcobacense de Arte e Cultura, da Orquestra Típica de Alcobaça, etc., e por muito povo que ali acorreu ao ouvir a salva de morteiros e as girândolas de foguetes que foram deitados. Uma banda de música, que se encontrava em frente aos Paços do Concelho executou o hino no momento em que a embaixada de Castelo Branco entrou no edifício. À noite, o sarau do Cine-Teatro, com casa esgotada, começou com a O.T.C., seguida na segunda parte pela Orquestra Típica Albicastrense e, finalmente, um acto de variedades, em que actuaram Artur Garcia e Simone de Oliveira, bem como, os apresentadores Henrique Mendes e Leite Pereira. No final do espectáculo, de acordo com o cronista de Castelo Branco que acompanhou e registou a saída do seu agrupamento, foi servido o opíparo copo de água (desta vez no Restaurante Bau) a todos os elementos que tomaram parte no sarau, tão abundante e variado que, no fim apesar de se encontrarem presentes mais de 150 pessoas (…) dir-se-ia que estava intacto!!!.




Maria Luísa estava tão cansada, que na ceia do Restaurante Bau, o que mais lhe apeteceu foi sentar-se, ficar quieta, esticar as pernas, fechar os olhos e… descansar. De facto as meninas da O.T.C. desdobraram-se a solicitar às senhoras de Alcobaça, para que oferecessem um prato, quente ou frio, para a ceia. No tempo de D. Celeste, proprietária da Pensão Restaurante Corações Unidos, pessoa extremamente entusiasta, por todas as coisas de Alcobaça, havia sempre disponibilidade para que quando algum artista tivesse que jantar antes do espectáculo, ou ficar para o dia seguinte, o fizesse em sua casa, em condições muito especiais. É importante realçar a colaboração da população de Alcobaça, quando se realizavam espectáculos no Cine-Teatro, com a presença de artistas de fora e de nomeada, os quais se deslocavam em geral graciosamente, e a convite do maestro Alves Coelho (Filho), que tinha uma boa relação com quase todos eles. A finalidade, normal, era angariar fundos, para uma determinada obra social e estes simpaticamente colaboravam. Os tempos eram outros…. A propósito da deslocação da Orquestra Típica Albicastrense a Alcobaça, o Jornal do Fundão, de 5 de Janeiro de 1964, destaca o calor da assistência na sala repleta de assistentes, a recepção e boas vindas calorosas daquelas gentes onde a arte não morreu…, por contraponto ao que se passa em Castelo Branco, cuja população dá pouco apoio à sua Orquestra Típica. Sobre este assunto, João da Gardunha, no mesmo comprimento de onda e de apelo ao bairrismo, lastima como foi chocante, doloroso mesmo, verificar a indiferença com que a cidade (Castelo Branco) acolheu o espectáculo anual da O.T.A. (Orquestra Típica Albicastrense) que lhe foi dedicado. E foi tanto mais notória essa impressão dolorosa, porque, apenas dois dias antes a mesma O.T.A., após uma recepção grandiosa e inenarrável na vila de Alcobaça, culminou essa visita com uma actuação que perdurará através o espaço e o tempo na memória daqueles que a ela tiveram a dita de assistir, tal o nível a que se alcandorou, devido ao brio dos seus dedicados componentes.




Segundo o jornal República, de 30 de Julho de 1963, a O. T. C. não precisa de apresentações, é mais do que conhecida no país e apreciada pelas suas exibições no programa da RTP -Melodias de Sempre.



Antes de findar o ano de 1964, a O.T.C. ainda se deslocou à Figueira da Foz a 7 de Novembro, para cumprir um contrato como Casino Peninsular, aonde bisou várias canções, alcançou êxito e dedicou à cidade anfitriã a seguinte peça, cuja letra nos foi facultada (obviamente) por José António Crespo, esse dedicado e apaixonado coleccionador de coisas relacionadas com Alcobaça.




Rainha do mar português

Figueira

Que tem mais azul todo o mar

Figueira

A serra onde tu te revês

Figueira

Parece um milagre a passar

Figueira.




O mar

De bravura

E altura

Sem par,

Sorri na Figueira da Foz.

O mar

Que não pode

Nem pede

Lugar,

Sorri na Figueira da Foz.

O mar

Que por vezes

Revezes nos traz

Sorri na Figueira da Foz.

Se o mundo quiser

Conhecer

Sonho e paz

Que venha à Figueira.




A 13 de Fevereiro de 1965, O Alcoa deu nota da festa de confraternização do C.A.A.C., que organizou um almoço oferecido pela direcção a todos os componentes da O.T.C., e onde estiveram presentes o Chefe dos Serviços Musicais da E.N., Alves Coelho (Filho) e esposa. Após o almoço usaram da palavra, entre outros, Fernando Afonso Ramos, Fernando Raposo de Magalhães e Raul dos Reis Gameiro. O Chefe dos Serviços Musicais da E.N. agradeceu o convite, que lhe foi dirigido e à esposa, enalteceu o papel e o contributo que a O.T.C. tem desenvolvido, junto da sua entidade patronal, como intérprete privilegiado da música portuguesa.



De novo, em colaboração com a EN e a FNAT, em Maio de 1965, a O.T.C. realizou um Serão para Trabalhadores, no Liceu Camões-Lisboa, dedicado ao pessoal da Soponata. Neste Serão, actuaram também a Orquestra Ligeira da EN, sob a regência de Tavares Belo, o Conjunto Quatro de Espadas, Isabel Fontes e Ivone de Andrade (apresentados como novos artistas), Artur Garcia, Coro Misto e Orquestra e ainda Simone de Oliveira. A primeira parte do nosso tradicional Serão (na apreciação encomiástica feita pela organização) caracteriza-se por um belo desfile de melodias, impondo mais uma vez, o bom gosto dos nossos compositores. O lugar aos novos será preenchido pela rubrica de revelações, Novos Artistas, testemunho claro do incentivo que a EN proporciona aos esperançosos cançonetistas que procuram, ansiosamente, o rumo da consagração. Saliente-se, ainda, a intervenção do Coro Misto que sublinhará, acompanhado da Orquetra Ligeira da EN, dirigida por Tavares Belo, a inesquecível melodiia de Raul Ferrão Abril em Portugal. Momento de beleza musical estará também a cargo do Coro Feminino, revivendo a já famosa página de Tavares Belo Dois Tempos de Jazz.Na segunda parte, actuou a O.T.C., no intuito de variar os elencos destes tão populares passatempos recreativos, organizados pela EN em colaboração com a FNAT, mais uma vez depois de tantos êxitos colhidos, volta à ribalta artística do nosso Serão para Trabalhadores, o Coral de Alcobaça, que tanto tem contribuído para a divulgação do rico folclore português. Além do conjunto vocal associa-se o relevo musical da sua conhecida Orquestra Típica. Este conjunto, bem como o Coral são dirigidos por Alves Coelho (Filho) e todas as suas interpretações obedecem a um selectivo reportório de melodias, onde está presente a alma do povo nos seus cantares e desgarradas.



Na noite de 22 de Maio de 1965, a O.T.C. foi participar num Sarau organizado pelo Grupo de Instrução Popular da Amoreira-Costa do Sol. Cerca das 22h teve início um baile, com a colaboração de um bom conjunto musical. Segundo o Jornal da Costa do Sol, de 29 de Maio de 1965, foi como que uma façanhaa presença da O.T.C., que se deslocou (gentilmente) à Amoreira, conjuntamente com a artista de Cascais, Natalina José. Quando pela 1h da manhã actuou a O.T.C., constituída como sublinhou Alves Coelho, por gente simples e rude que ganha o seu pão cavando os campos, e interpretou a Canção de Alcobaça, ouviram-se calorosos e prolongados aplausos, que premiaram o agrupamento, como era habitual aonde e sempre que a orquestra se apresentasse. Segundo o mesmo JORNAL DA COSTA DO SOL, o único senão na actuação da O.T.C. de Alcobaça foi não ter prolongado um pouco mais, a sua exibição, para dar ainda novas provas do seu valor.



A O.T.C. recorde-se mais uma vez era composta, exclusivamente, por amadores. Maria Luísa Dionísio recorda um espectáculo realizado no Reformatório de Caxias, aonde Alves Coelho (Filho) era professor de música. No Reformatório, havia oficinas das mais variadas actividades, como carpintaria, serralharia, tipografia ou cartonagem. Então, houve a enorme gentileza por parte da organização, de oferecer a cada membro da O.T.C., um bloco encadernado com uma dedicatória Recordação do Reformatório de Caxias. Tão apreciada foram estes blocos que, doravante passaram a ser utilizados, para registo das letras ou guardadas as pautas das músicas.


Um grande espectáculo da O.T.C., ocorreu no Cine-Teatro de Alcobaça, no dia 13 de Janeiro de 1968, dia de aniversário de Rosa Maria Coelho, que nos camarins teve direito a que lhe cantassem os parabéns. Na primeira parte exibiram-se ranchos folclóricos dirigidos por Celestino Graça, Grupo Infantil de Dança Regional de Santarém, Grupo Académico de Danças Ribatejanas, Rancho Folclórico do Bairro de Santarém. A O.T.C. apresentou-se, desta vez, sob a regência do maestro fundador, António Gavino que se encontava de férias, vindo de Moçambique. Além do mais, tinha havido um pequeno diferendo entre Alves Coelho (Filho) e a direcção do C.A.A.C., o que acarretou que aquele se tivesse ausentado durante algum tempo.

No Cine-Teatro de Alcobaça, a 17 de Maio de 1969, novamente com Alves Coelho (Filho) o C.A.A.C. para comemoração do seu 12º aniversário, realizou um Sarau, onde colaboraram, a nossa querida Maria de Lurdes Resende, intérprete inolvidável da Canção de Alcobaça e Libânia Feiteira, a grande revelação da arte de declamar. No dia seguinte, o C.A.A.C. organizou pelas 14h um torneio de tiro aos pratos, pondo em disputa libras de ouro. Ao mesmo tempo, houve um torneio para amadores, ou seja para aqueles que nunca atiraram aos pratos.

Pouco depois, a O.T.C. foi convidada a deslocar-se à RTP a fim de participar no programa Zip-Zip, transmitido em directo a partir do Teatro Variedades, no Parque Mayer, bem como um outro realizado no Pavilhão dos Desportos, onde actuaram as mais relevantes Orquestras Típicas do País, isto é, Alcobaça, Santarém, Castelo Branco e Estremoz. Este espectáculo, que foi transmitido pela RTP, teve o interessante acrescido de ter finalizado com uma aqctuação conjunta das 4 Orquestras, dirigidas pelo Maestro Melo Pereira.


Silva Tavares, pessoa de fino trato, foi um bom amigo de Alcobaça, com quem mantinha uma forte ligação afectiva, e frequentava com bastante assiduidade. Em Alcobaça sentia-se bem, pois era muito estimado, e que considerava como a sua segunda terra. Aqui recuperou nas Termas de Piedade, após uma grave doença que determinou a sua hospitalização.


Por testamento de 1969, veio a legar alguns bens à CMA, como os seus retratos de autoria de Luciano Santos (óleo), de Eduardo Malta (lápis), de José Contente (pastel), livros de que foi autor, numerados, assinados ou por si rubricados, as pastas que utilizava profissionalmente, um cofre em mármore contendo terra do quintal da casa natal em Estremós, uma mácara em bronze do seu amigo, poeta brasileiro Olegário Mariano e ainda uma luxuosa encadernação da obra O Cardeal Cerejeira, da autoria do Pe. Moreira das Neves, na qual existia dedicatória do purpurado.


Foi Maria de Lurdes Resende, quem se veio a revelar a grande intérprete da Canção de Alcobaça. Irrequieta e traquina desde a mais tenra idade, nasceu no Barreiro em 1927. Canta desde que se lembra, como em 1957 contou numa entrevista à revista Flama e donde se respigaram estas notas. Assim que nasceu, começou a berrar, tarefa a que se dedicou durante o primeiro ano de vida, para grande desespero e insónia dos pais. Ao crescer, ganhou a convicção de que um dia seria cantora profissional, talvez até de ópera. Os pais opuseram-se com veemência e só aos 18 anos se estreou em palco, embora com o nome de Maria de Lurdes, porque Resende era o nome da família que a tinha contrariado na sua ambição. Maria de Lurdes Resende, chegou a ganhar grande popularidade, com uma voz ao serviço das cantigas. Alcunhada gentilmente de a Feia Bonita,Maria de Lurdes Resende deu a resposta adequada, popularizando a cantiga A Feia. Mas a Canção de Alcobaça foi, efectivamente, o seu grande êxito, em Portugal e além fronteiras.



Quem passa por Alcobaça

Não passa sem por cá voltar (…).



À boa moda portuguesa, passaram a correr na vila uns versos, parodiando a Canção de Alcobaça. Tais versos, vinham a propósito do estado do Rio Baça que tinha, como hoje, um pequeno caudal, e que exalava um cheiro nauseabundo. Junto à ponte da Rua David da Fonseca foi colocada pela Câmara Municipal uma placa, proibindo os vazadouros, aliás sem grande sucesso durante muito tempo, por obra e graça de muito alcobacense, incapaz de mudar de hábitos ancestrais… Os versos eram, se bem se recorda aqui:




Quem passa por Alcobaça

E vai visitar o Baça

Apanha tal pitaça

Que nunca mais por lá passa.



Há cerca de 70 anos, o rio Baça constituía um enorme depósito de detritos em putrefacção e encontrava-se ainda a descoberto.




Em 1970, realizou-se em Lisboa, no Teatro Monumental, uma grandiosa festa de homenagem a Maria de Lurdes Resende, comemorativa dos seus 25 anos de vida artística. Presidiu o Presidente Américo Tomás, que condecorou a artista, tendo Alcobaça comparecido em massa, através da Câmara Municipal, Santa Casa da Misericórdia, a Orquestra Típica, Bombeiros, Ginásio e Grémio do Comércio. Enfim, todos para dizer a Maria de Lurdes Resende quanto a apreciavam e lhe estavam agradecidos como grande divulgadora desta terra de Cister.




Maria de Lurdes Resende, veio ainda em 29 de Abril de 1995, a ser homenageada em Alcobaça, ao que o jornal Notícias de Loures, sob a pena de Jorge Valente, deu o devido destaque na primeira página. Os apresentadores do espectáculo no Cine-Teatro, foram Artur Agostinho, Etelvina Lopes de Almeida, Igrejas Caeiro e Isabel Wolmar que, em conjunto, se dirigiram ao público com um Boa noite, poeta Silva Tavares! Boa noite maestro Belo Marques! Boa noite Maria de Lurdes Resende! Boa noite Alcobaça! Com esta saudação, não se limitavam a fazer um cumprimento, resumiam também o sentido da festa: na homenagem à intérprete, tinham de por força estar o autor da letra, o compositor da música e a vila inspiradora da canção que correu mundo e não se esquece facilmente. Entre o muito expediente de congratulações que foi lido pelos apresentadores, o Noticias de Loures destacou duas ingénuas, simples, mas agradáveis quadras, que se transcrevem:



Senhora grande a cantar

cantigas que o Povo entende

É Portugal a vibrar

A nossa Lurdes Resende.



Que Deus de saber profundo

A proteja e a todos nós!

P’ra mesmo no outro mundo

Ouvirmos a sua voz.



Depois de agradecer as palavras do Presidente da Câmara Miguel Guerra, horas antes no Salão Nobre dos Paços do Concelho, de acordo com o Voz de Alcobaça, a homenageada referiu que, entre as mais de duas mil canções que cantei, há muitas que são solicitadas, mas Alcobaça é exigida. A aceitação do público comove-me e faz-me pensar que nasci aqui.




Por via da canção, a Câmara Municipal decidiu que autores e intérprete passaram a ser vizinhos na geografia da vila, mercê da atribuição dos seus nomes a três artérias da parte alta da Gafa. A Banda de Alcobaça esteve presente na homenagem e na prenda que ofereceu, consignou a seguinte dedicatória: Vão passando as águas dos rios. Na ponte para o futuro, fica a voz a cantar Alcobaça…



Silva Tavares foi ainda objecto de uma expressiva homenagem no Cine-Teatro de Alcobaça, em Junho de 1972, aonde estiveram presentes, entre outros, o Presidente da Câmara, que usou da palavra e vereadores, o Deputado Dr. Amílcar Magalhães, representantes da EN e RTP, David Mourão Ferreira, em representação da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais, o escritor e amigo pessoal Adolfo Simões Müller, que usou da palavra, o Presidente da Câmara de Estremóz, terra natal do homenageado.Finda a cerimónia, foi descerrada uma lápide com o nome do homenageado na rua a que foi dado o seu nome, no então chamado bairro das Casas da Caixa de Previdência.



Cerca de um mês antes do imprevisto falecimento, Belo Marques também fora objecto de uma homenagem no Cine-Teatro de Alcobaça, que se encontrava a abarrotar.

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