Este ano de 2005 começou, de certo modo, sob a égide das Comemorações Inesianas, distribuídas por terras de Coimbra, Montemor-o-Velho e Alcobaça, ou seja, os 650 anos decorridos sobre a morte de Inês de Castro. Esta continua a inspirar uma lenda trágica e bela, que percorreu toda a Europa, dando origem a edições, traduções e reedições tão poéticas quão dramáticas, perdura emblematicamente até aos nossos dias, e que revive como que a cumprir-se o desejo de D. Pedro, registado no túmulo de D. Inês, ATÉ AO FIM DO MUNDO.
Invocando Cristina Pimenta, in D. Pedro I, (ed. Circ. de Leitores-2005), esta lenda, trágico-poética tem um significado muito especial para aqueles que ainda acreditam que na vida, mesmo por um instante, vale a pena ser Pedro e Inês.
Como escreveu J. Gonçalves Sapinho, a propósito da participação de Alcobaça nesta efeméride, Alcobaça tem o privilégio de ter recebido e mantido os corpos e as almas desassossegadas dos protagonistas da mais bela, autêntica e complexa história de Amor, que o povo chamou a si, tomou sua e imortalizou. Mais que os autores, a trama entrou na alma do povo.
Sem dúvida, a lenda da tragédia deve muito a Camões, no Canto III, dos Lusíadas, talvez mais do que a ninguém, seja à literatura de cordel, aos mais distintos autores como um Garcia de Resende, nas suas Trovas àmorte de dona Inês de Castro , um António Ferreira, na sua Castro, mais tarde Bocage, na sua Morte de Inês deCastro que termina assim,
Toldam-se os ares
Murcham-se as flores, morrei amores,
Que Inês morreu.
ou mais recentemente, na poética de um Afonso Lopes Vieira, na sua Coimbra Morta, onde se pode ler,
E Coimbra, morta de mágoa, dorme no rio, entre flores
Oh lágrimas sois a água! Nome que passaste - Amores…
É conhecido da história que D. Afonso IV, após algumas hesitações e a instâncias de conselheiros, deu autorização para a morte de Inês, que ocorreu em Coimbra, corria o dia 7 de Janeiro de 1355, consumando-se um caso triste e dino de memória , Camões, in Lusíadas. Há quem refira que a morte se deu por apunhalamento e foi assim que, durante muito tempo, ela foi descrita. Todavia, estudando com cuidado e pormenor o túmulo de D. Pedro, Manuel Vieira Natividade, considerado e bem como o primeiro historiador moderno de Alcobaça, in Pedro e Inês perante a Iconografia dos seus Túmulos , defendeu a tese que se tratou antes de degolação. Não é todavia minha intenção fazer aqui uma abordagem histórica deste episódio dramático ou dos seus contornos lendários, matéria de que se ocuparam com muito mais interesse, poetas, dramaturgos, pintores, cineastas e até músicos, mas referir alguns factos com ele relacionados e com Alcobaça, menos conhecidos, mas nem por isso desprovidos de algum interesse. A História, como a vida das pessoas, não é feita apenas de grandes acontecimentos e o pitoresco encontra-se frequentemente em situações, bem corriqueiras.
Inês de Castro, tanto quanto se sabe, nunca veio a Alcobaça. Em vida, como é óbvio. Mas D. Pedro vinha muitas vezes ao Mosteiro, não só no tempo em que se lavrava a sepultura, como depois da transladação de D. Inês. Afonso Lopes Vieira, grande amigo de Alcobaça e profundo conhecedor do seu passado, além de poeta foi um excelente prosador, como se recordará. À pena de Lopes Vieira deve-se uma bela obra da nossa literatura, A PAIXÃO DE PEDRO, O CRU. Natural de Leiria, esteve muito afectivamente ligado à sua província bem amada e toda povoada de mosteiros, castelos e memórias. Lopes Vieira confessava-se, um bom português e sem razão mau poeta, pois de acordo com os melhores críticos era tão bom numa, como na outra coisa. Monárquico por formação e convicção, veio a sentir-se como digno aluno de Camões, quando foi preso por defender a oposição ao Estado Novo do seu venerado herói Paiva Couceiro, numa Europa chata de caixeiros e lojistas de Estado. Sem que se possa considerar ainda de europeísta, A. Lopes Vieira traçou para si a tarefa de contribuir para reaportuguesar Portugal, tornando-o europeu. Sabe-se que possuía num relicário, pousado sobre a sua mesa de trabalho, uma madeixa do cabelo de Inês. Naquela sua obra, refere-se a Alcobaça nos termos seguintes: Poderosa como uma fortaleza, vasta como uma nobre Vila, farta como um celeiro assentando no vale de terras férteis que os monges brancos tinham desbravado por suas mãos nos tempos heróicos da colonização, logo depois de Dom Bernardo de Claraval os ter mandado de França, brilhava no reino como cabeça sapiente e governava, através de largos coutos e povoados, boa parte da terra portuguesa. Afeiçoara-se Dom Pedro a estes monges e renovara-lhes ricas doações; talvez a amizade começasse no tempo em que Afonso, o Bravo, os processara, cerceando- lhes rudemente o senhorio. Foi, pois, no Mosteiro de Alcobaça, que Dom Pedro logo pensou; havia de ser na sua Igreja - a mais vasta da Ordem de Cister - que Dona Inês ficaria sepultada como Rainha de Portugal, aos pés do altar da Capela de São Pedro, no cruzeiro. Desde logo também determinou fazer, quando morresse, ao lado dela, a fim de testemunhar pela presença dos seus ossos, a verdade do santo enlace que os unira.
Não há provas seguras do casamento de D. Pedro e Inês de Castro, embora ele tenha declarado, solenemente e sob juramento, tê-lo feito em segredo. Parece indesmentível que D. Pedro nunca a esqueceu, ele que viveu ainda mais 12 anos. Todavia, dois anos após a morte de Inês de Castro, nasceu um filho de D. Pedro e Teresa Lourenço, dama galega, que veio a ser o D. João I, herói de Aljubarrota. No seu testamento D. Pedro determinou que fosse sepultado em Alcobaça e, no túmulo, no lugar onde temos a nossa sepultura, mandou escrever o seu adeus, Até ao Fim do Mundo.
A relação de D. Pedro com os frades de Alcobaça era bastante estreita. Tendo-lhes seu pai, D. Afonso IV, tirado alguns territórios que considerava sonegados à coroa, eles foram-lhes mais tarde restituídos por D. Pedro.
O funeral de D. Inês foi descrito por Fernão Lopes, in Crónica de D. Pedro I, e por Frei Manuel dos Santos, de forma algo semelhante. O corpo veio do Mosteiro de Santa Clara, em Coimbra, e ao longo das dezassete léguas do caminho passou por fileiras de pessoas em silêncio e de círio aceso nas mãos. O cadáver foi transportado em liteira ou andas, à frente do clero e da nobreza mais importante do reino.
E apeando-se os da comitiva à porta do Mosteiro foram por o corpo da Rainha na Igreja sem fazer por então outra coisa. No outro dia oficiou os funerais em Pontifical o Bispo de Viseu; e no fim fez El-Rei descobrir o cadáver acomodando-o como puderam em uma cadeira e trazendo o Abade uma coroa prevenida outra vez deram princípio a nova e celebradíssima cerimónia de beijarem a fina mão de D. Inês como sua Rainha todos os que eram presentes; por remate da acção depositaram o real cadáver na elegante e soberbíssima sepultura, que o esperava; e nela descança até ao último dia da ressureição universal, Frei Manuel dos Santos in Alcobaça Ilustrada.
Este ano, inserido nas Comemorações Inesianas , esteve previsto para o Verão uma reconstituição histórica desse evento funerário, entre Montemor, passando por Coimbra até chegar a Alcobaça. A ideia tinha suporte na obra de D. Francisco Manuel de Melo e o cortejo, numa encenação de Carlos Avilez, música dos alcobacenses The Gift, basear-se-ia em Doze Sonetos por Várias Acções, na Morte da Senhora Dona Inês de Castro, Mulher do Monarca Dom Pedro, Rei de Portugal, e incluiria evocações do muito bom que se escreveu na nossa literatura sobre o assunto. Mas o cortejo etnográfico realizado com recurso à prata da casa, em princípios de Julho, embora com a participação da top-model Diana Pereira, no papel da Castro, pouco ou nada teve a ver com isso, pois até carros antigos meteu…. Pobre Inês que morreu há tantos anos, mas parece regressar de vez em quando ao mundo dos mortos, para servir se necessário um projecto de políticos vivos, em tempos de campanha eleitoral.
Depois de morta foi Rainha…
Seria bem assim, ou Fernão Lopes e seguintes fizeram eco da lenda já consolidada? Note-se que a transladação do corpo de Inês de Castro para Alcobaça, ocorreu a 2 de Abril de 1361, o que é eventualmente menos compatível com o beija-mão daquela que depois de morta foi Rainha.
Sobre os túmulos de Pedro e Inês muito se tem dito e escrito, pois são reputados como das obras mais importantes, por mais belas, da escultura funerária do Ocidente. Apesar da extensão da bibliografia nacional e estrangeira que o drama inspirou, os túmulos não tinham sido objecto de nenhum estudo sério e detalhado até 1910, com Manuel Vieira Natividade, inInês de Castro e Pedro, o Cru, Perante a Iconografia dos seus Túmulos. Segundo Dom Maur Cocheril, in Alcobaça-Abadia Cisterciense de Portugal inicialmente os túmulos estavam colocados lado a lado no braço sul do transepto da Igreja, com os pés virados para nascente, sendo o de D. Inês à direita do de D. Pedro. Possivelmente em 1827, foram transferidos para a Sala dos Túmulos e aí colocados um em frente do outro, criando-se assim a lenda que esta era a forma de os amantes se reencontrarem sem demora no Dia do Juízo Final. A actual localização, o de D. Inês no lado norte e o de D. Pedro no lado sul do transepto, remonta apenas a 1956, após as obras no Mosteiro, por alturas da visita de Isabel II, de Inglaterra. No Panteão Real, em Alcobaça onde se encontram sepultados D. Afonso II e D. Afonso III, sua mulher e filhos, há ainda três pequenos sarcófagos, não identificados, eventualmente destinados a crianças. Nenhum historiador conceituado os atribui aos filhos de Inês de Castro, mas Beckford em 1794, a fantasiosa Princesa Rattazi que visitou o Mosteiro em 1879 e Ramalho Ortigão em 1886, aceitaram como boa mais esta lenda romântica. Beckford, na sua descrição da recepção e do banquete que lhe foram oferecidos pelos Monges Bernardos em 7 e 8 de Junho de 1794, escreveu com alguma ligeireza e graça acerca das laranjeiras do Claustro D. Dinis, da maior coelheira do mundo, duma bela cantora, outrora algo leviana, chamada Francisca que trocara Queluz por este obscuro retiro e de uma representação teatral sobre a vida e morte de Inês de Castro. Para nossa surpresa, quiçá espanto, diz ter assistido, escrita por um italiano, pois claro! a uma cruciante tragédia de Dona Inês de Castro e do cruel assassinato daquela adorada ama e dos seus inocentes filhos. Será representada no palco. O papel de Dona Inês é feito pelo Sr. Agostinho José.
Vejamos, todavia, que o controverso registo nos deixou a Princesa Rattazi sobre Inês de Castro aquando da sua visita ao Mosteiro de Alcobaça em 1879. Os túmulos de Inês de Castro e do seu real esposo são maravilhosos! É de pedra, marfim, renda? Os dois sarcófagos estão de pés de um para os do outro, a fim de no dizer da lenda, quando no dia do Juízo Final a trombeta do arcanjo acordar os dois amantes, o seu primeiro olhar seja um olhar de amor. A estátua de Inês de Castro é jacente, sustentada por anjos que a olham chorosos, segurando uma coroa sobre a sua cabeça. Na mão direita tem um colar de pérolas. A seus pés vêm-se vestígios de cães, que foram partidos ou arrancados e que deviam simbolizar a fidelidade. Os quatro lados do túmulo, estão cobertos de baixo-relevos admiráveis. O túmulo propriamente dito, está apoiado em seis esfinges, cujas faces destruídas e sem relevo, testemunham a curiosidade dos visitantes. O sarcófago de D. Pedro, o Justiceiro, está seguro por seis leões. A sua figura nobre respira suavidade, a mão direita empunha uma espada. A seus pés estira-se um cão de caça. Nos cantos da capela, encontram-se três arcas em pedra, restos mortais dos três filhos de Inês de Castro.
Estes túmulos foram abertos, mais que uma vez. Logo em 1524, por ordem de D. João III na sua presença e, pouco depois, por D. Sebastião, em 1 de Agosto de 1569. Vieira Natividade, in Mosteiro de Alcobaça, escreveu que D. Sebastião por uma doida fantasia de criança andou pelo reino vendo os restos mortais dos seus antepassados . Sobre este acontecimento chegaram-nos várias versões. O de Inês foi logo danificado no tampo pelos pedreiros. Como dissessem a D. Sebastião que o sepulcro de D. Pedro não se podia abrir sem quebra dos ricos lavores que o ornavam, D. Sebastião disse: Deixem-no, não lhe toquem porque nem nele, nem no outro há que ver ou tirar proveito; pois além de nenhum (referia-se ao túmulo de D. Afonso II) acrescentar por armas um palmo de terra ao reino, um com amar mulheres e outro com as perseguir, deram assas trabalho e deixaram pouco que imitar a seus sucessores. Fonseca Benevides, in Rainhas de Portugal. Conta-se ainda que um frade presente terá ousado censurar D. Sebastião, pelo que foi castigado pelo Abade, embora todos reconhecessem que estava a declarar alto o que todos diziam nas costas do monarca . A delapidação dos túmulos mais conhecida, e também a mais grave, ocorreu aquando da 3 ª. Invasão Francesa, em 1810. A soldadesca do Conde de Erlon, sediada em Peniche, assaltou o Mosteiro e entre outros actos de enorme vandalismo, arrombou os túmulos e destruiu de forma irreparável algumas das suas edículas. Os corpos foram retirados e profanados. Diz-se que o do rei estava mumificado e revestido de um manto de púrpura. A cabeça de D. Inês ainda conservava alguns cabelos alourados. O conjunto dos túmulos é, afinal, tão grandioso que não se repara, para além das grandes mutilações, que lhes faltam cerca de 100 cabeças das suas figuras.
Voltando a Afonso Lopes Vieira, parece interessante lembrar ainda um Serão Literário e Musical organizado em 17 de Agosto de 1913 por Vieira Natividade, no qual aquele proferiu a interessante conferência Inês de Castro, naPoesia e na Lenda. No Claustro de D. Dinis, que reúne boas condições para espectáculos deste género, Augusto Rosa ao tempo uma das glórias do teatro lisboeta, recitou sonetos de Camões, bem como o Acto V de A Castro , de António Ferreira. Foi de luxo, o elenco dos demais artistas presentes, com destaque para o pianista Alexandre Rey Colaço e suas filhas Alice e Amélia que tocaram e cantaram peças de Bach e Schubert. Augusto Rosa, anos mais tarde na sua obra Memórias e Estudos, deixou algumas notas sobre este Serão. Às nove horas da noite, na Igreja e no Claustro, tudo estava concluído e os que iam assistir ao Serão ficaram deslumbrados com a magnificência do Mosteiro, realçada pela beleza e sumptuosidade da iluminacão (...). O Serão começou pela admirável conferência feita por Afonso Lopes Vieira Inês de Castro na Poesia e na Lenda. Um dos pontos interessantes e novos dessa conferência é a evocação e a aproximação dos amores de Tristão e Isolda, os namorados imortais, dos amores de D. Pedro e Inês. Afonso Lopes Vieira trabalha num pequeno poema em prosa em que o conto medieval é singelamente narrado, no género do célebre livro de Bedier, Le Roman de Tristan et Iseult. Há em toda a conferência um encanto, uma poesia, uma saudade, uma tal profusão de sentimentos finos, subtis, delicados, que o público que assistiu à leitura, comovido e delicado, aplaudiu entusiasticamente o grande poeta quando ele terminou (...). Estava terminado o Serão. A maior parte das pessoas que assistiram à festa retirou-se, ficando apenas umas quarenta, mais íntimas, que foram convidadas para assistir a uma piedosa romaria. Distribuíram brandões acesos a todas essas pessoas que, atravessando o templo, se dirigiram à Sala dos Túmulos, onde repousam Pedro e Inês. Aí, eu, no alto piso da ogiva que domina os dois sarcófagos, recitei à luz das tochas, dominado por uma íntima comoção, o magnífico e impressionante soneto de Afonso Lopes Vieira, escrito para esta solenidade, trabalhado sobre o tema do adeus esculpido na rosácea do túmulo de D. Pedro e que vou transcrever:
Até ao fim do mundo! A grande amada
Escuta o adeus da grande voz sentida
Santa e Rainha, aguarda aquela vida
Que só depois do fim é começada.
Pedra de sonho e cor, foste lavrada
Pela saudade imensa aqui vivida;
Guarda a saudade, pois, da despedida
É a esperança da hora desejada.
Guarda a saudade que jamais acaba
Que o dia há-de vir, de amor contente
Os que dormem aqui vão esperando.
E no fragor dum mundo que desaba
Hão-de acordar, sorrindo eternamente
Os olhos um no outro enfim pousando.
Sobre a Castro e os seus amores com o Infante D. Pedro muito se escreveu. É episódio da nossa História mais profícuo em gerar romances, versos e libretos. Diz-se que existem cerca de 30 óperas suportadas por mais de 20 libretos diferentes, muitas das quais nunca subiram ao palco e algumas se perderam. A razão será fácil de perceber, a crueldade do desfecho trágico, a história da Rainha morta casavam-se na perfeição com a imaginação gótica, que foi um dos esteios do romantismo. Destaca-se entre elas, a Inês de Castro , de Giuseppe Persiani, contemporâneo de Donizetti e Belini, que se estreou com sucesso no teatro San Carlo, de Nápoles, a 28 de Janeiro de 1835, com a presença dos monarcas. Persiani, compôs esta peça para Maria Malibran e Gilbert_Louis Duprez, o inventor do dó de peito, então no auge da fama. Esta ópera romântica, em três actos, a mais interessante das óperas inesianas de bel canto, segundo alguns entendidos, entretanto um pouco esquecida não deixa entrever o favor de que gozou entre o público, até meados do século XIX, depois de ter sido estreada em Madrid, 1837, Lisboa, S. Carlos- 10 de Dez. de 1838 e sucessivamente reposta, Paris, Teatro Italiano-1839, Barcelona, Teatro Principal-12 de Maio de 1839, Londres, Her Majesty’s Theatre-1840, Xerez de La Frontera, 1840, Cadiz, Teatro Principal-29 de Maio de 1846, Gibraltar,18 de Maio de 1847 e Málaga, Janeiro de 1851- a última representação documentada, do século XIX, foi re apresentada entre nós, depois de uma recreação moderna em 1999 no Teatro Pergolesi, de Jesi, no Pátio da Universidade de Coimbra, a 6 e 7 de Junho e a seguir nas escadarias do Mosteiro de Alcobaça a 10 de Junho de 2003, no meio de expectativa popular. Esta foi portanto a primeira edição moderna da ópera, após 165 anos e a estreia no local onde se desenvolveu parte do argumento. Como ópera romântica, escreve a História por linhas tortas, não se limita a pormenores de fidelidade histórica. De facto história é imaginação, como escreveu Natália Correia. A Inês de Castro, de Persiani, apresenta-nos uma versão diferente da que estamos habituados, a nossa versão oficial.
Inês de Castro continuou a interessar compositores contemporâneos, sendo também de mencionar a peça de James MacMillan, a primeira ópera deste compositor escocês e católico, nascido em 1959, apresentada no Coliseu do Porto, no âmbito do Porto 2001. Os exageros do nosso Pedro, o Cru, inflamaram também a imaginação britânica, na linha daquelas tragédias de sangue e vingança, com tramas bestiais, nas quais mãos e dedos são decepados, crianças tenrinhas são cozinhadas e servidas à mesa, para vómito das mães.
Narrado por Fernão Lopes, trovado por Garcia de Resende, dramatizado por António Ferreira, mitificado por Manuel Faria de Sousa, o episódio de Inês de Castro entrou profundamente no imaginário nacional português, bem como até no colectivo europeu. Em 1974, Ruy Belo encenou-a em A Margem da Alegria e explica que Alcobaça é a maior igreja portuguesa e alicerça essa grandeza/nas três naves que no silêncio talha com a precisão duma navalha/ e na desproporção entre a pouca largura e a altura.
Com o seu colo de garça, no dizer de A. Lopes Vieira e de alabastro no de Camões, Inês de Castro repousa em Alcobaça
Até à Eternidade!
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