terça-feira, 1 de junho de 2010

Paris - Agosto de 2003 - CAP VI Fontainebleau. A Rainha Cristina e Napoleon Bonaparte

Fontainebleau,
A Rainha Cristina e Napoleon Bonaparte
(2003)

Foi, aproveitando a nossa estadia em Paris na casa do Rebelo e o seu carro, um CITROEN XM, que fomos com ele visitar Le Château de Fontainebleau.

Este palácio que não rivaliza (artisticamente falando) com Versalhes, situa-se no meio de um enorme maciço florestal, segundo se diz de cerca de 17.000 hectares e nasceu fruto da paixão dos reis de França pela caça.
Para a Clara, Versalhes é beleza e ostentação, enquanto que Fontainebleau é só beleza.
Remonta este palácio a meados do século XII, altura em que era pouco mais que um albergue de caça e de cujo original nada resta mais que algumas fundações.

O grande impulsionador de Fontainebleau foi, porém, François I, que gostava tanto do local que lhe chamava a sua casa e decidiu transformar o velho edifício, ainda com telhado em colmo, numa palácio à boa maneira italiana. François I reuniu em Fontainebleau as mais variadas colecções de pinturas, entre as quais as de Leonardo da Vinci e a Gioconda, ali fazendo um centro artístico, aonde acudiam artistas de toda a Europa. Ao longo dos séculos o palácio foi crescendo, mesmo no tempo de Luís XIV, que previlegiou, notoriamente, Versalhes como bem se sabe.
Se raramente Luís XIV foi a Fontainebleau, salvo no outono ou na época da caça, nem por isso deixou de receber hóspedes famosos, como Cristina da Suécia, rainha que abdicou aos 28 anos, depois de abjurar o luteranismo para o catolicismo.
Cristina viajou pela Europa, seguida por uma comitiva faustosa e inquietante, composta por muitos aventureiros, tal como o seu amante Monaldeschi. Os factos que a seguir vou referir, anotei-os de um livro de História e parece-me interessante destacá-los aqui.

Quando Cristina chegou a França, o Cardeal Mazarino, alojou-a em Fontainebleau.
Apercebendo-se que o seu arrogante e oportunista favorito a traía, furiosa decidiu condená-lo à morte, se não confessasse a sua traição.
Cristina recebeu o amante na presença do padre Le Bel, superior do Convento dos Trinitários de Fontainebleau e fez-lhe violentas acusações.
Ele defendeu-se mal, engasgou-se e não conseguiu justificar-se, pelo que a rainha o deixou sem lhe conceder, um mero olhar ou oportunidade.
O favorito recebeu os últimos as sacramentos do padre Le Bel e em seguida o capitão dos guardas da rainha e dois soldados entraram de espadas empunhadas.
Monaldeschi, a tremer, descomposto, lançou-se aos seus pés, implorando clemência.
Em vão.
Os executores atiraram-se a ele e como a sua cota de malha impedia um golpe decisivo e mortal, cortaram-lhe a garganta.
A agonia, durou mais de um quarto de hora.
Para a oração fúnebre, a impetuosa Cristina, dirigiu ainda uma breve mensagem ao Cardeal Mazarino, salientando que não tinha nenhuma razão para se arrepender do que fez ao Monaldeschi, mas mais de cem mil para estar furiosa. Alguns dias após estes acontecimentos, a sueca deixava Fontainebleau e a França.



O palácio sofreu grandes depredações, durante a Revolução Francesa. O mobiliário foi vendido ao desbarato e saqueado por populares. O palácio foi negligenciado, sem sofrer todavia danos excessivos do furor popular, já que não simbolizava da mesma forma os contestados faustos e glórias reaisde Versalhes.

Em 1803, o então Primeiro Cônsul, Bonaparte decidiu instalar ali a Escola Militar Superior (A Academia Militar), mais tarde transferida para Saint-Cyr.
O Imperador gostava de Fontainebleau, ali foi muitas vezes e ordenou importantes restauros, no edifício, no mobiliário e nos jardins. Segundo a Clara, os apartamentos do Imperador eram tão pequenos como ele.
Em 1804, o Papa Pio VII que veio de propósito para a Coroação de Napoleão e Josefina, ficou instalado no Palácio.
Foi porém entre 30 de Março e 20 de Abril de 1814 que o palácio terá vivido algumas das suas horas mais sombrias, relacionadas com a queda de Napoleão. Em 6 de Abril, este abdicou sem condições e a 20 tomou, a partir daí, o caminho do exílio, para a Ilha de Elba, fazendo então o seu memorável e emocionante adeus à Guarda.

O palácio não recuperou mais os fastos de outrora. Luís-Filipe, interessou-se por ele, salvou-o da ruína, mas fez-lhe restauros muito discutíveis. Citando um autor francês, Fontainebleau, assumiu no ancien regime o lugar de residência real logo a seguir a Versalhes, onde em ambos os casos se respirava o ar cortesão. A rota de Fontainebleau tal como Versalhes, encontrava-se no caminho privado do rei.

Ao percorrer Fontainebleau, o turista de hoje pode ficar surpreendido com a sucessão de estilos que apresenta o palácio. Em Santa Helena, Napoleão recordava-o com nostalgia é ali a verdadeira morada real, que perdura pelos séculos e embora não seja rigorosamente um castelo de arquitecto, é um lugar para se viver bem. Era sem dúvida e lugar mais cómodo e bem situado da Europa.
Para o Manel, Versalhes e Fontainebleau são como o Louvre sumptuosos, mas também não são muito o meu género, aprecio mais o subtil que o grandioso.
Às vezes, o Manel que é um burguês e conservador tripeiro, parece querer ceder a uma certa postura, mais inclinada para o proletariado! Foi, porém, em Fontainebleau que no respectivo lago dos desejos (aquele onde se lança uma moeda de costas e faz um pedido) e Manel ainda tentou fazer um pedido sem gastar uma moeda!!!



Um dia destes comentei com a Clara, para ver se a atrapalhava, que aquela gente, parece que não tinha, nestes palácios, locais para fazer as necessidades fisiológicas.
Pelo menos nunca os mostram.
Mas segundo a Aninhas, a minha dúvida não é extraordinária, pois ainda hoje há quem as faça fora do bacio!
Sabem o que a Clara me respondeu, prontamente? Devia haver 5 criados com um pote.

Foi no regresso de Fontainebleau a Paris que íamos quase perdendo a Aninhas. Será verdade?
Ou conversa da treta?
Parámos numa terra qualquer, cujo nome de momento não recordo com segurança, mas suponho ser Montreau, para irmos visitar a sua igreja românica com mais de 1000 anos e curiosa pelas suas duas torres desiguais. Eram quase 19h e esta era uma igreja, não muito frequentada por turistas, de tal modo que as respectivas chaves se encontravam na posse de uma guardiã, velhota, que ao ver-nos sair, a Clara Manel e eu, resolveu fechar de seguida a porta à chave. A certa altura, percebemos que a Aninhas e o Rebelo tinham ficado lá dentro, mas apesar de barafustarem não se ouviam cá fora.
A velhota, felizmente, estava ainda perto e o assunto resolveu-se de imediato, saindo ambos um pouco ofegantes, embora pelo seu pé. A Aninhas não precisou de água..

Mas, como já disse e se sabe, é muito perspicaz, incapaz de se precipitar num juízo errado, tal como acontecia com o Cavaco que nunca se enganava, quando fala é sempre pela forma mais certeira e irrepreensível, o que incomoda, entendeu que a velhota por pura malandrice os tinha deixado lá dentro, o que todavia não chegamos a esclarecer. Mas se a Aninhas o diz... é de certeza pura verdade. O certo é que, tal como o Santa Maria, no dizer do Salazar, a Aninhas está connosco.

Sem comentários: