terça-feira, 1 de junho de 2010

O Processo (Político) de Reunificação da Alemanha; Reminiscências e Sequelas da II Guerra; Andando pela Alemanha, em 2004, com Olhos do Porto e Alcoba

Andar pela Alemanha de 2004, é encontrar um país ainda muito marcado por duas guerras. A Primeira, com o então jovem e, alegadamente, inexperiente boche Kaiser Guilherme II, que começou a enfrentar, se não a procurar, tormentas na política exterior. A Segunda, com Hitler, desejando recuperar a Alemanha da humilhação de 1918, com a convicção que tão só a traição, a estupidez ou fraqueza, haviam causado a derrota na anterior Guerra. Na Primeira Guerra, a Alemanha visou recuperar o terreno perdido na corrida imperialista com a França e a Inglaterra, caindo no nítido isolamento.


Em termos de politica interna, a social-democracia, com grande número de eleitores e simpatizantes, encontrava-se marginalizada e excluída de participar no governo e nas grandes decisões. A sua oportunidade só surgiu, como bem recordamos, após a derrocada da velha ordem europeia, dos Impérios Centrais. A República de Weimar, assim denominada pelo facto da Assembleia Nacional Constituinte se ter reunido naquela cidade, foi concebida por uma maioria formada pelo SPD, o Partido Democrata Alemão e o Partido do Centro. O SPD afastava-se das suas ideias revolucionárias iniciais e as tentativas de mudança, eleitoralmente anunciadas, foram congeladas. A crise económica, a inflação galopante, onde o Banco do Estado fazia notas 24 horas por dia, que tinham que ser transportadas por pessoas munidas de um carro de mão, mesmo que apenas para pagar um pão ou um litro de cerveja, como magistralmente descreve E.M.Remarck, deu lugar a distúrbios generalizados, aonde os democratas estavam em minoria e a própria República ficou em risco.


A crise económica de 1929, após uma certa recuperação da Alemanha derrotada, que encontrara um estatuto de paridade e direitos com o Tratado de Locarno e o ingresso na Sociedade das Nações, delineou o crepúsculo da República de Weimar, dando azo a políticos arrivistas como Hitler.



No final dos anos vinte, eram terríveis o nível de desemprego e sub-desenvolvimento económico, o que criou óptimo terreno para os radicalismos de direita e esquerda. No Parlamento, era impossível formar maiorias, pelo que os governos decorriam da competência própria do Presidente da República, para adoptar medidas de emergência. Ora isto, é governar à margem do Parlamento. No início de 1933, vingou a tese que entregando-se a Chancelaria a Hitler, se poderia debelar a crise e recuperar o orgulho perdido orgulho. O sucesso do nazismo decorre, desde logo, da situação de crise económica e o partido transforma-se numa força poderosa, embora sem dispor de maioria na população e no Parlamento. Com dúvidas e reservas, mesmo assim o Presidente Hindeburgo, investiu Hitler na Chefia do Governo. Era o início da tragédia do III Reich milenar, que infelizmente ainda iria durar mais de uma década.



Hitler começou por intimidar brutalmente os seus adversários logo nas cervejarias, em comícios e na campanha eleitoral, por meio de violência e perseguições. Mais tarde socorreu-se de detenções arbitrárias e Campos de Concentração, aonde se apodrecia e morria, da proibição de sindicatos, de partidos políticos e da censura. Em breve, as estruturas democráticas do País, ao abrigo da Lei Plenipotenciária, foram substituídas por outras pseudo legais, para defender o Estado. Muita gente desapareceu sem deixar rastos. Ao lado da perseguição política, fez-se mais ou menos abertamente a perseguição racial, baseada no mito da raça branca, dos arianos de olhos azuis e cabelos claros, os que eram gente que tinha direito a uma vida para ser vivida, a eutanásia selectiva dos doentes, velhos e deficientes. Era o clímax do racismo, subordinando métodos industriais e técnicas sofisticadas, à teoria da pureza racial, abrangendo principalmente os cidadãos judeus. Em 1938, as sinagogas e outras instituições judaicas, foram destruídas num brutal progrom.



A opinião pública alemã reagia discretamente a estes eventos, caracterizados por uma violência sem limites, a que se contrapunham na verdade alguns sucessos internos, como a revitalização da economia, recuperando desempregados através da criação de empregos públicos e a prática de uma política de rearmamento. A nível exterior, alguns sucessos houve para consumo interno devidamente manipulados, como a reintegração do Sarre no Reich, a invasão da Renânia desmilitarizada desde 1919, o Ansclhuss da Áustria e a incorporação dos Sudetas.

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