NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO E OUTROS
V
A RAINHA ISABEL II EM PORTUGAL E ALCOBAÇA (1957)
AS CORES DAS LOIÇAS DAS INSTALAÇÕES DA TOILETTE DA RAINHA E O PROTOCOLO BRITÂNICO
UM ROLLS ROYCE EM SEGUNDA MÃO
OS PRIMÓRDIOS DA RTP
O REI D. CARLOS E ESPOSA D. AMÉLIA, GRACE KELLY (MÓNACO) E HAILÉ SALASSIÉ (ETIÓPIA) EM ALCOBAÇA
Por onde andou, Belém, Alcobaça, Nazaré, aonde assistiu à exibição de dois ranchos folclóricos, e Batalha, a soberana britânica foi aclamada por milhares de pessoas, embora muitas das situações tivessem sido encenadas, como se veio a saber com os pescadores da Nazaré.
Percebe-se pela correspondência trocada entre diplomatas dos dois países, que o embaixador britânico em Lisboa, Sir Charles Stirling, quis conhecer, com mais de um mês de antecedência, o conteúdo do discurso do Presidente da República. Fez-se saber, de Londres, que a Rainha não desejava uma visita do Presidente do Conselho, alegando que tal podia implicar uma conversa sobre grandes problemas políticos.
Faltava mais de uma semana para a concretização da visita oficial da Rainha Isabel, e já a correspondência engrossava o dossier no Ministério dos Negócios Estrangeiros sobre todos os pormenores, incluindo financeiros.
Enquanto as ofertas inglesas parece não ascenderem a mais de 20 ou 25 mil escudos, as nossas somaram 222.590$90, alertava uma nota do M.N.E. em Janeiro de 1957, dando conta dos valores: uma banda para a Rainha-95.000$00; um serviço de jantar para a Rainha e de chá para o Duque- 90.000$00); um lugre Gazela para o príncipe Carlos-25.000$00; uma boneca, vestidos e toucador de prata para a princesa Ana-11.000$00.
E até houve um presente extra para Isabel II, o Bussaco, um belo garanhão castanho, com oito anos, de pura raça lusitana e detentor certificado de árvore genealógica de três gerações, com arreios encomendados pelo próprio Presidente da República. Sabe-se que o animal deixou descendência nas cavalariças inglesas. Para lá do protocolo, a Rainha conversou com Craveiro Lopes, que sendo oficial de cavalaria, era um entendido em assuntos de raças e performances, como a Rainha.
Todos os passos da visita real foram previstos ao detalhe. As dormidas, a hora do chá, a criadagem, os seguranças, que não deviam dormir em Queluz no mesmo piso da Rainha, a presença da PIDE, os cortejos, os banquetes inclusive de Alcobaça, as visitas, os petiscos. E algumas dicas: A Rainha aprecia muito sardinhas portuguesas de lata, lia-se nas indicações do Embaixador Inglês, em Lisboa.
António Pinto de Mesquita, embaixador reformado, contou ao Diário de Notícias, a propósito dos cinquenta anos da visita, que ainda conserva o uniforme que o Ministério dos Negócios Estrangeiros ofereceu aos funcionários para a visita, mas ofereci-o ao meu filho, porque já vamos na quarta geração de diplomatas.
Na altura, Pinto de Mesquita tinha 29 anos, e estava no Serviço de Protocolo do M.N.E., pelo que assisti à cena em que o duque renunciou, no Porto, ao Rolls-Royce e entrou num carro de bombeiros aberto..
Lembra que Salazar pôs um cuidado especial na visita, não pensava noutra coisa. A visita foi a coroação de todo o esforço diplomático de Armindo Monteiro, que permitiu a Salazar uma grande reaproximação à Inglaterra, que se tem mantido.
A visita de 4 dias de Isabel de Inglaterra, constituiu uma prova de fogo para a RTP, que começava a dar os primeiros passos.
Foi acontecimento que teve significado especial para o País e o Regime.
Um tema como este, rodeado de um enorme interesse popular, levou a RTP a ter a oportunidade, bem como a necessidade, de oferecer a um relativamente significativo número de espectadores em expansão, a cobertura integral da visita, fazendo uma reportagem, até à altura, sem paralelo na história da informação no país.
Os passos da soberana e marido, foram minuciosa e rigorosamente documentados pelas equipas de repórteres de câmara e chegaram, escassas horas depois, a uma audiência que, estimativas ao tempo, calcularam ser cerca de um milhão de portugueses, atendendo à invulgar frequência registada nos locais públicos, como cafés e estabelecimentos, onde normalmente ainda só se encontravam os receptores.
A visita, mereceu na RTP as honras de um jornal diário, e que, incluindo as reportagens do dia, não deixava de documentar o programa do dia seguinte, mostrando os locais a visitar, a descrição dos acontecimentos próximos, os preparativos que estavam a decorrer. Alcobaça sentiu essa presença e afã, que mobilizou, pelo inusitado, o interesse das pessoas, ao reconhecer algumas caras do pequeno ecrã e proporcionou motivos de conversa nas famílias e tertúlias.
A par do serviço que houve que assegurar para a RTP, teve esta de responder ao interesse do estrangeiro, pelo fornecimento de imagens. Largas dezenas de metros de filme, na altura utilizava-se uma película que tinha de ser impressionada ao jeito do cinema, foram fornecidos ao Brasil e à United Press Television.
Por outro lado, tanto a BBC, como a ITV, fizeram deslocar a Portugal equipas de reportagem. A BBC, chegou a Portugal com alguma antecedência para documentar todos os locais a visitar por Isabel II.
A cerimónia do desembarque de Isabel II no Terreiro do Paço, foi objecto de um interesse especial. Uma bobina com muitos metros de filme, compreendendo planos colhidos de posição estratégica, era necessária ao conjunto da reportagem e foi rodada por um operador da RTP, o único que teve permisdsão para aceder ao local. Um jacto da RAF, aguardou na Portela o tempo necessário para que um estafeta-moto fizesse entrega do filme, e de outros realizados por operadores britânicos. Cerca de 3 horas depois, o Reino Unido via as imagens da Rainha a desembarcar em Lisboa.
Na memória colectiva de Alcobaça, está indissoluvelmente ligado a esta visita real, a pessoa do Presidente da Câmara, Joaquim Augusto de Carvalho. É de justiça fazer-lhe aqui uma pequena homenagem, para o que nos socorremos da notícia publicada em O Alcoa, de 17 de Julho de 2008, da autoria de Luís Peres Pereira:
Natural de Ílhavo, veio para Alcobaça na década de 30. Foi co-fundador da Crisal e Presidente do Clube Desportivo Comércio e Indústria de Alcobaça. No mandato de Júlio Biel, foi vereador e Presidente da Comissão Municipal de Turismo. Tomou posse como Presidente da Câmara a 9 de Outubro de 1953. O seu mandato, fortemente, ligado à aplicação do II Plano de Fomento, permite-lhe investir em várias frentes, nomeadamente, na electrificação, que neste período foi alvo de colossal avanço. Assim, em várias sedes de freguesia e respectivos lugares, é inaugurada a rede eléctrica: Alpedriz, Bárrio, Benedita, e cinco dos seus lugares, Cós e dois lugares, Évora de Alcobaça, Turquel, Montes, Vestearia, Vimeiro, Maiorga e quatro lugares, Pataias e um lugar, Pataias- Gare, e Alfeizerão e dois lugares. A componente educativa também foi contemplada, destacando-se o apoio prestado para o arranque da Escola Técnica de Alcobaça, a criação do Posto Escolar de Monte de Bois, no Bárrio; edificação das cantinas escolares, em Pataias, Aljubarrota e Ataíja; construção de escolas nas freguesias de Cela (Junqueira) Turquel (Casal de Vale de Ventos, Louções, Carvalhal e Fonte Santa) e Pataias e início das obras da futura escola de Cós. As ligações viárias também conheceram avanço. Na freguesia de Alfeizerão inaugurou a estrada do Casal Pardo e o acesso ao Valado de Santa Quitéria; ligação entre Turquel e Carvalhal; e a abertura da estrada de ligação da Castanheira ao Juncal. Outros investimentos, como a requalificação da Avenida Marginal em S. Martinho do Porto, a construção do Estádio Municipal de Alcobaça, uma fonte no Casal dos Lopes, freguesia da Maiorga, ou um lavadouro público no Casal de Aguiar, freguesia de Alfeizerão, espelham bem a diversidade da sua actividade autárquica.
Várias Igrejas são abertas ao culto neste período: Benedita, Bárrio, Vimeiro e Carris, freguesia de Évora. Assiste-se à reabertura de Igrejas Paroquiais de Turquel e da Vestearia, e da Igreja da Misericórdia de Alcobaça. As visitas internacionais também marcaram o seu mandato: a visita de Hailé Selasié, Imperador da Etiópia; da Princesa Margarida, de Inglaterra, e a visita da Rainha Isabel II, de Inglaterra, acompanhada do Presidente da República General Craveiro Lopes. Esta última visita impulsionou uma impressionante transformação urbana da Praça Oliveira Salazar, de onde foi retirado o Edifício do Jardim-Escola João de Deus Ramos, libertando mais ainda visualmente a Praça, ao mesmo tempo que promoveu obras de reintegração do Castelo de Alcobaça. Ao longo do mandato homenageou Frei Estêvão Martins, o Bispo D. António de Campos, Manuel Vieira Natividade e a Ala dos Namorados, o grupo dos bravos jovens cavaleiros mortos na Batalha de Aljubarrota, que se encontram sepultados no Claustro do Silêncio do Mosteiro de Alcobaça, contando nestes dois momentos com a presença do Sub-Secretário da Educação Nacional, Baltasar Rebelo de Sousa. Na ocasião da sua retirada da Autarquia, em 1963, foi alvo de apoteótica homenagem (…). Completaria 96 anos de idade a 4 de Setembro.
CONTINUA
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