terça-feira, 1 de junho de 2010

O Processo (Político) de Reunificação da Alemanha; Reminiscências e Sequelas da II Guerra; Andando pela Alemanha, em 2004, com Olhos do Porto e Alcoba

A ocupação alemã no leste da Europa em tempo de guerra deixou uma história de selvajaria única tanto junto de civis, como de trabalhadores escravizados. Isto, tanto por parte do Exército, comandado por uma pretensa casta elitista de oficiais, quase todos filhos de velhas famílias da alta nobreza prussiana que pretendia fazer-se passar por um grupo de cavalheiros, bem como das tropas de choque, as S.S. de Himmler, gente de baixa extracção, arrivistas sem escrúpulos, plebeus grosseiros. As S.S. podem assumir o título, nada honroso, dos piores criminosos de guerra, mas a Luftwaffe, Força Aérea, realizou ataques em massa e indiscriminados a Roterdão, Holanda, Coventry, Inglaterra, ou Varsóvia, Polónia, bem como a colunas de refugiados civis. Por sua vez, a Marinha de Guerra torpedeou sistemática e ordenadamente navios mercantes, sem recolher sobreviventes, como decorre das regras internacionais.


Recordo as palavras, que não continham a ideia de vingança contra os alemães, de W. Churchill, cujo gabinete de guerra perto do Parlamento, hoje museu, visitei com a Aninhas quando estivemos em Londres, a retribuição deve ser incluída entre os principais objectivos desta guerra.



Dentro de sessenta anos alguém se lembrará de realizar um filme sobre a primeira ou segunda guerras do Iraque? Creio que não. Mas como explicar esta obsessão pelo nazismo, sessenta anos passados sobre o termo do III Reich? Afinal, não eram apenas as pessoas da corte de Hitler dominados e fascinados pelo seu magnetismo, pelo carisma que aparece numa pessoa uma vez apenas entre centenas de anos, capaz de arrastar um povo inteiro ao delírio e no fim à tragédia colectiva. Desde a guerra, muito se tem escrito sobre Hitler. Tenho uma variada e boa bibliografia sobre este assunto, que continua longe de se considerar esgotado, pois continuam a revelar-se aspectos inesperados e horríveis.



Quando preparava estas notas, li um comentário que considero notável, atribuído a um embaixador alemão em Roma, no tempo do nazismo (1932-1937), queos generais alemães, (alguns mesmo marechais)não fizeram um golpe de estado contra Hitler, porque nunca receberam ordens nesse sentido.



Adolf Eichmann, no seu julgamento em Israel, argumentou que aculpa reside na minha obediência, no meu respeito pela disciplina e nas minhas obrigações militares em tempo de guerra, no meu juramento de fidelidade.



E, no entanto, sabe-se que muitos sentiam um enorme desprezo político-profissional-social pelo Fuhrer, a quem à socapa chamavam o cabo da Boémia, em alusão ao posto atingido por Hitler na I Guerra.



Falar da Alemanha não é falar apenas da sua História mais ou menos recente. O nazismo foi um interlúdio trágico que tem de ser devidamente considerado e lembrado (a memória dos guetos e dos campos de concentração), para que não esqueça, mas não define uma nação.



Já referi aqui, o caso Adolf Eichmann, que acho bem sintomático, pelo que com a devida vénia aos meus amigos leitores, invocarei de novo. Durante o seu julgamento, o Procurador Público israelita sustentou a tese, que aliás também como outras não vingou, que aquele não passava de sádico perverso. Um dos psiquiatras que o examinou disse que ele era mais normal que eu próprio.Outro clínico, sustentou mesmo que a sua estrutura psicológica, bem como a sua atitude em relação à família, eram não só normais mas absolutamente recomendáveis.O problema, como escreveu, recentemente, um conhecido historiador é que havia muitos como Eichmann e que estes muitos não eram nem perversos nem sádicos, pois eram e ainda são terrivelmente normais, assustadoramente normais. Do ponto de vista das nossas instituições e dos nossos valores morais, esta normalidade é muito mais aterradora do que todas as atrocidades juntas.

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