terça-feira, 1 de junho de 2010

RAINHA ISABEL II - III AS CORES DAS LOIÇAS DO TOUCADOR E O PROTOCOLO BRITÂNICO. UM ROLLS ROYCE EM SEGUNDA MÃO. OS PRIMÓRDIOS DA RTP

(III)
NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO E OUTROS
A RAINHA ISABEL II EM PORTUGAL E ALCOBAÇA (1957)
AS CORES DAS LOIÇAS DO TOUCADOR DA RAINHA E O PROTOCOLO BRITÂNICO
UM ROLLS ROYCE EM SEGUNDA MÃO
OS PRIMÓRDIOS DA RTP
O REI D. CARLOS E ESPOSA D. AMÉLIA, GRACE KELLY (MÓNACO) E HAILÉ SALASSIÉ (ETIÓPIA) EM ALCOBAÇA





A organização da recepção em Alcobaça, foi da responsabilidade dos serviços da Presidência da República e de algumas senhoras da nossa melhor sociedade, como a Duquesa de Palmela, D. Lúcia Monteiro (viúva do Dr. Armindo Monteiro, antigo Embaixador de Portugal em Londres no tempo da II Guerra) e D. Maria de Mello Breyner (Mafra).
Salazar não veio à recepção em Alcobaça, mas na quinta-feira anterior aqui se deslocou para ver os preparativos, no que foi secundado, no dia seguinte, por Marcelo Caetano.

O Presidente da República, Gen. Craveiro Lopes, que não podia ser acusado de pendor monárquico, recebeu fidalgamente a Rainha Isabel. O almoço foi servido no Refeitório dos Monges, decorado com tapeçarias de parede e chão, telas dos nossos primitivos, porcelanas e esculturas.
Craveiro Lopes tinha à sua roda, alguns monárquicos assumidos, que se aproveitaram da situação, colocando na parede do Refeitório dos Monges, em frente ao lugar que lhe estava reservado, um escudo monárquico, comentando à boca calada que o Chiquinho não gosta, mas vai aguentar.

A visita da Rainha trouxe no próprio dia muitos turistas a Alcobaça, bem outros posteriormente para ver os melhoramentos no Mosteiro, a decoração e zona envolvente.
Uns dois ou três dias depois foram suspensas as visitas à Sala dos Reis e Refeitório, bem com retirada a decoração, embora tivesse sido prometido que esta iria ficar por mais uns oito dias.




Havia um fotógrafo em S. Martinho do Porto, conhecido por Pedro, o Coxo, tido por um pouco atrevido. A sua propalada ideia, era furar o cordão policial no Rossio, a fim de fotografar a Rainha, antes de entrar no Mosteiro e se possível, fazer uns cobres.
A verdade, é que conseguiu mesmo tirar algumas fotografias, não obstante andar a fugir da polícia.
Mas como era coxo, e com a precipitação, nas fotos que conseguiu tirar, a Rainha aparecia sempre com a cabeça cortada !!! Nenhuma se aproveitou.

Regressada a Inglaterra, a Rainha Isabel II agraciou com o grau de cavaleiro da Royal Victorian Order, o Presidente da Câmara de Alcobaça, Joaquim Augusto de Carvalho, depois de ter sido publicado no Diário do Governo a necessária autorização por parte do Ministério do Interior.

À data do abandono do Mosteiro pelos monges, Alcobaça era um pequeno aglomerado de casas e com um reduzido número de habitantes, muito propriamente no local fronteiro ao Mosteiro e dele separado por um terreno. Esse terreno, o adro da Igreja, passaria em breve a ser usado para realização de feiras e festas locais bem como a constituir o Rossio da vila.
Rossio, Praça Serpa Pinto, Praça do Conselheiro João Franco, Praça do Município, Praça Dr. Oliveira Salazar, Praça 25 de Abril, eis os nomes que, graças aos ventos da História, foi assumindo o nome de uma praça, espaço que reflecte na sua morfologia a história a diálogo entre o povo e o Mosteiro. Até 1833, foi uma região de fronteira. Essa contenção materializava-se no terreno, na sua cerca e decorria da lei cisterciense (ascetismo e exclusão do mundo).
Após o triunfo do liberalismo, deu-se a apropriação particular e estatal dos espaços, nomeadamente de propriedades do Mosteiro, que passaram para a posse de famílias influentes ou do Município.
O Rossio foi apropriado à medida que o Mosteiro foi reintegrado na vida urbana, ao ser usado como Teatro, Câmara Municipal, Tribunal, Repartição de Finanças, Cadeia, etc. ...

É no Rossio que se condensa grande parte da história de Alcobaça, mas que deixou de ser, após a última intervenção, um lugar importante na vida urbana do dia a dia.

Ainda há quem diga que a visita de Isabel II foi a visita do século.
Tirou-se o bergantim real do Museu da Marinha (para ser manobrado por oitenta remadores), para fazer a ligação de 300 metros do Iate Britania ao Terreiro do Paço. Ofereceram-se presentes caros à família real, requisitou-se a Baixela Germain, fez-se um desfile de barcos no Tejo, um cortejo pela cidade de Lisboa com um coche do século XVIII, construído em Londres para o casamento de D. João VI com D. Carlota Joaquina (foi esta a última vez que saiu à rua), arranjos no Palácio de Queluz e Mosteiro da Alcobaça.
E até se comprou um Rolls-Royce, embora em segunda mão, para transporte da soberana.
Enfim, Salazar fez tudo para que a encenação fosse perfeita. E conseguiu.





A Rainha Isabel, trazia consigo os olhos do mundo, a imprensa cor-de-rosa e não só, que designou a sua estada, no Portugal de Salazar como uma segunda lua-de-mel, o que não era desinteressante em termos de imagem para o exterior.
Isabel era uma jovem com um guarda-roupa elegante, que marcou a moda. O casal real esteve, a título privado, em casa dos Duques de Palmela, por os ligar uma velha amizade.
Filipe de Edimburgo, veio juntar-se a Isabel em Portugal, depois de uma viagem de vários meses pela Commonwealth.
Os ingredientes estavam reunidos para os focos internacionais se centrarem em Lisboa, facto que Salazar, não desdenhou aproveitar.
A Capital e pontos-chave da cidade foram embelezados por Leitão de Barros, onde não faltaram os entalhados a ouro, cetins brancos, veludos vermelhos e panejamentos da época de D. João V.
Relativamente aos custos é verdade que o Presidente do Conselho achou um exagero de orçamento, (por isso se decidiu comprar um Rolls Royce usado, mas que mesmo servia mais que bem…)e que acabou por não discutir, pois considerou como não se veio a comprovar esta viagem como importante contrapartida, no enquadramento da sua concepção de defesa do regime e especialmente do Ultramar já em perigo.
Até então a Grã-Bretanha seguia a orientação de Churchill que era a de manter o império onde o sol nunca se punha. A situação política mudara, agora governava McMillan que defendia, ao contrário de Éden, ambos conservadores, o abandono progressivo das colónias, como acontecera com a Índia, a aliança com os EUA e a aposta na Europa.
CONTINUA

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