terça-feira, 1 de junho de 2010

No Tempo de Salazar, Caetano e Outros por António Ventura

Nota Crítica:



“NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO E OUTROS”



Por António Ventura







O prestigiado advogado, senhor Dr. Fleming de Oliveira, publicou, há pouco, a obra literária que eu tomei para título desta reflexão. Não é meu costume fazer crítica literária mas depois de ler este livro não posso deixar de fazer algumas considerações. A sua leitura encerra uma riqueza imensa; é como uma janela aberta para um período conturbado ao mesmo tempo que fecundo da nossa história recente. É uma oportunidade para todos os encontros e desencontros. Ler este livro é como escutar às portas ou espreitar as vidas alheias sem ser indiscreto. É uma oportunidade de recordar, de estar aqui e ali e acolá. Não é uma obra para sonhar ou fazer sonhar, mas para reviver acontecimentos que marcaram uma época. Desfilam tanto as figuras mais representativas da nossa literatura como as mais simples, típicas e ternurentas da nossa cidade. Há a censura a espreitar a cada esquina num jogo do gato e do rato em que sentimos vergonha pelo gato e admiração pelo rato. Não há grandes histórias com enredos mas sim aquelas historietas simples que caracterizam as nossas vidas. É uma leitura ao mesmo tempo informativa e formativa. Há episódios gloriosos e também vergonhosos como seja a expulsão dos monges do nosso mosteiro. Há projectos que nascem, se concretizam e crescem entre entusiasmos, amores e rivalidades. Histórias de amizades, sacrifícios. Há catolicismos e maçonarias. Há padres e sacristães. Assistimos ao aparecimento do primeiro automóvel, à vinda da luz eléctrica, a usos e costumes como seja a matança do porco, os brinquedos e as brincadeiras, o namoro em que se desfolha o malmequer para saber quem quer bem. Há o típico barbeiro, o contrabando, a orquestra típica e a banda filarmónica, os racionamentos, as senhas e as filas de espera para receber uma miséria. Há os bufos, a Pide, as fugas para Espanha e as prisões e muitas outras coisas mais, como os amola tesouras e as peixeiras que percorriam as aldeias com as canastas de peixe à cabeça. Era um tempo em que as crianças andavam descalças e sabiam de donde vinham os pintos e sabiam também distinguiam os pássaros, os reptéis e as árvores de fruto. Jogavam ao pião e ao eixo, e na escola tinham medo da palmatória. São pequenas histórias que nunca mais acabam. É sem dúvida uma obra muito interessante para quem ama Alcobaça. Tudo isto leva-nos a considerar este livro do Dr. Fleming mais como Sociologia do que como História propriamente dita, como o próprio autor reconhece. Não cabe fazer aqui juízos de valor acerca desses tempos de Salazar e de Caetano em que Deus, Pátria e Família era um ideal, pois o meu único propósito é tecer algumas considerações sobre o trabalho do senhor Dr. Fleming, mas não resisto a um pequeno raciocínio: Buscamos uma vida melhor e, relembrando esses tempos, é evidente que o conseguimos pois temos hoje uma sociedade de consumo, mas não me parece que tenhamos conseguido um bem mais precioso que é a alegria de viver. Estou certo que este livro nasceu da exigência social do seu autor, de reavivar memórias obedecendo assim ao seu impulso generoso de não deixar morrer o que é de interesse, não só para os seus concidadãos, mas também para as gerações futuras. É que sem memória não somos ninguém.

“NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO E OUTROS” é um livro que os alcobacenses irão gostar de ler.







Curriculo do autor desta nota:

Feito o exame da 4.ª classe, em 1949, ingressei no Seminário de Leiria, onde estive 9 anos, tendo aí concluído o curso de Filosofia.

Fui estudar então para Salamanca, onde fiz a Licenciatura em Filosofia pela Faculdade de Filosofia e Letras – Secção de Filosofia - da Universidade Pontifícia de Salamanca no ano 1963/64.

Fui depois para a Alemanha onde, no ano de 1967, obtive o Diploma em Língua Alemã pelo GOETHE INSTITUT de Munique.

Nos anos lectivos de 1967 a 1971 fui professor de História e Filosofia no Colégio de S. Miguel em Fátima.

No ano lectivo 1970/71- professor de Filosofia na Escola Técnica e Liceal salesiana do Estoril, enquanto cumpria o Serviço Militar em Caxias no Centro de Estudos Psicotécnicos do Exército, como psicólogo militar .

De 1973 a 2004 Professor de Filosofia na Escola Secundária D. Inês de Castro em Alcobaça, onde leccionei durante 36 anos tendo sido professor de História, de Alemão, de Latim, de Grego mas sobretudo Filosofia e Psicologia.

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