quinta-feira, 16 de março de 2017

A I GUERRA E ALCOBAÇA II



AS JOIAS DA REPÚBLICA-
A colonização de facto da África Portuguesa começou tenuamente no último século da Monarquia e prosseguiu de modo a se poder afirmar que a I República iniciou efetivamente a exploração.
Tal como a Monarquia e o Estado Novo, o governo republicano considerava os territórios das colónias como parte integrante de Portugal, apesar de os nativos africanos continuarem a não possuírem direitos políticos.
Os investimentos nas colónias sofreram um rápido incremento. Entre eles destacam-se a Diamang, os Caminhos de Ferro de Benguela e os Caminhos de Ferro de Moçambique, respetivamente em 1917,1924 e 1912/1925. Em 1925, operavam nas colónias 65 sociedades capitalizadas, ao mesmo tempo que era feita um conjunto de concessões para a exploração das matérias-primas e produtos agrícolas.
O comércio entre Portugal e as colónias aumentou, com destaque para as exportações. 70% das exportações para as colónias eram de vinho e tecidos de algodão, enquanto as importações eram constituídas por matérias-primas e produtos agrícolas.
Com o deflagrar a Guerra, o governo português teve sérias preocupações com as colónias africanas, que eram objeto da cobiça das grandes potências europeias, como a Alemanha e a própria Inglaterra, que por duas vezes tinham negociado entre si (em segredo obviamente), a sua partilha.
Receando ataques alemães aos territórios de Angola e de Moçambique, que tinham fronteiras com colónias alemãs, o Governo Português organizou expedições militares, que partiram de Lisboa em 11 de setembro de 1914. A que foi comandada pelo Ten. Cor. Alves Roçadas com destino a Angola, rumou à fronteira sul com a atual Namíbia, onde os nativos se haviam revoltado. Esta campanha revelou-se desastrosa e os portugueses, que se envolveram com os alemães em disputas de fronteiras, sofreram derrotas em Cuangar e Naulila. Perante estes resultados, com pesados efeitos na opinião pública e no moral militar que o Governo teve o cuidado de tentar sanar, foi enviada nova expedição sob o comando do Gen. Pereira d’Eça, para pacificar a zona e libertar negociadamente os prisioneiros portugueses. Não obstante a inclemência do clima, as difíceis condições de aquartelamento e abastecimento, após violentos combates ao longo de cerca de um mês, a expedição dominou a revolta e reocupou o território. Em 1916, as tropas portuguesas reconquistaram a ilha de Quionga (foz do Rovuma), que em 1894 fora ocupada pelos alemães. Depois desta operação, o Gen. Ferreira Gil atravessou o Rovuma, continuando o combate no sentido de reconquistar terreno aos alemães. As primeiras tentativas foram positivas, porque os alemães haviam abandonado os postos fronteiriços. Todavia, estes reagiram, contra-atacaram, em dezembro reocuparam o terreno e infligiram pesada derrota aos portugueses, que foram obrigados a retirar, por eles perseguidos, que chegaram a ocupar outros postos de fronteira em Moçambique. Com vista a evitar novos ataques e desaires, o governo português teve de solicitar auxílio a britânicos e sul africanos.
Desta expedição fez parte o primeiro Presidente da Delegação de Alcobaça da Liga dos Combatentes, o Maj. Joaquim José Conceição, bem como o soldado Antunes de Turquel.
O Semana Alcobacense sempre que podia, desenvolvia tiradas anticlericais, algumas delas de mau gosto e primárias.

Talvez por isso, ia sucessivamente perdendo leitores e receitas com assinaturas e publicidade. Mas esse era o preço da sua militância.
Depois de várias sfumatas escuras saídas pela chaminé da Capela Sixtina, ficou eleito em Roma o sucessor de Pio X, ou seja, o Cardeal Jacome Dela Chiesa, Bispo de Bolonha, que ao solio pontíficio vai subir com o título Benedito XV. Dizem os jornais de Lisboa, invocando notícias das agências noticiosas estrangeiras que, milhares de pessoas aguardavam, na Praça de S. Pedro, o resultado da eleição papal, depois da qual invadiram a Basílica, na ânsia de receber a benção do novo Papa. Segundo os mesmos jornais, uma das primeiras medidas do novo Chefe da Igreja, será uma Encíclica pregando a paz entre a cristandade. Tudo isto parece verdadeiramente fantástico nos tempos que correm, pois que a espada, o canhão e quantos mais instrumentos de morte o homem se tem lembrado de inventar são os símbolos da única religião que hoje está dando leis a todo o mundo.

O MILAGRE DE TANCOS-
A Guerra foi mais dramática e demorada do que, alguma vez, se poderia ter imaginado.
Afinal, não terminou no Natal de 1914 e demorou 54 meses.
À guerra de movimentos, sucedeu a de posições, com o aparecimento das trincheiras, as tropas a enterrarem-se para se protegerem do inimigo, procurando conservar posições, através de uma extensa rede de valas e abrigos na terra, que lhes conferia proteção e a fez prolongar.
Norton de Matos, regressado de Angola, Ministro da Guerra entre 1915/1917, com a colaboração do Gen. Fernando Tamagnini de Abreu e Silva e de um grupo de jovens oficiais próximos do PRP, foi o grande responsável pela organização em nove meses do CEP/Corpo Expedicionário Português, no Centro de Instrução de Tancos, no que viria a ser chamado, pela propaganda republicana, o Milagre de Tancos, que depressa e bem (de acordo com a propaganda do governo), mas mal preparado (como se constatou, embora o governo nunca o tenha admitido), quis transformar em 3 meses, homens muitos deles analfabetos, que pouco tempo antes, tinham uma vida civil, pacífica e tranquila, nada motivada para um conflito de dimensões e caraterísticas jamais imaginadas, em soldados destinados a um conflito duro.
A mobilização foi rápida, a resistência não muito grande (salvo na Infantaria, demonstrada na lentidão da marcha, senão mesmo na recusa de em certos casos em marchar. Jovens da classe média atravessaram a fronteira para fugirem à incorporação ou desertaram após o período de instrução. Homens válidos livraram-se do serviço militar por força de incompetência dos serviços ou corrução das juntas médicas), o armamento desadequado, nem ajustado e eficaz a instrução tradicionalmente melhorada.

Para resolver problemas decorrentes da resistência dos mancebos e famílias, o governo enveredou pela repressão militar e mesmo pela incorporação de doentes e portadores de deficiências.
A maioria dos militares que foram combater na Flandres nunca tinha ouvido falar da região, muito menos que Portugal chegou há vários séculos a ter em Antuérpia uma feitoria relativamente importante, anterior aos descobrimentos, para negociar com a Europa do norte. Só depois vieram as de África, Ásia ou Brasil. Mas agora o negócio era outro….
O Exército Português, em fase de reorganização desde 1911, não estava em condições de ser enviado para os campos de batalha da Flandres e de aí sofrer o confronto com os modernos exércitos europeus. A República não teve tempo de solucionar os principais problemas com que internamente se deparou, muito menos preparar o País para a Guerra. As mudanças políticas e institucionais, bem como a consolidação internacional, absorveram os esforços que exigiam imediata solução e total empenhamento dos seus dirigentes.
O governo da União Sagrada teve a difícil missão de organizar uma força expedicionária que fosse combater em França, além das várias expedições a Angola e a Moçambique que, aliás, datavam já dos anos anteriores. A intervenção militar na Europa, ao lado da Inglaterra, pareceu ao Governo o meio de confirmar a Aliança Luso-Inglesa. Afonso Costa num Conselho de Ministros, defendeu que, assim, era forçar a Inglaterra a dar testemunhos públicos de consideração para com Portugal. Era também um bom pretexto para induzir os outros partidos a uma União que consagrasse a supremacia do PRP. A implantação popular do PRP era tão forte, pelo menos nos meios urbanos, que o projeto de entrar numa guerra no estrangeiro não provocou grandes resistências.
As dificuldades a vencer foram inicialmente mais externas do que internas, apesar da propaganda antiguerrista de republicanos unionistas, monárquicos, anarco-sindicalistas, da imprensa, de boatos espalhados na rua, cafés, tabernas ou mesmo nos quarteis. Até os monárquicos teriam de apoiar um aliado da Inglaterra, onde se acolhera D. Manuel II. Afonso Costa projetou em 1914, que a Guerra poderia ser a base mais firme do desenvolvimento rápido e progressivo do regime. Em fins de 1917, as forças que se opunham à participação portuguesa na guerra, genérica e impropriamente referenciadas por vezes como setores da direita, desencadearam a revolução de Sidónio Pais, mas essa primeira experiência presidencialista durou pouco, pois em dezembro de 1918, Sidónio Pais foi assassinado em Lisboa.
Enquanto se defendia a costa continental de submarinos alemães que atacaram o Funchal a 3 de dezembro de 1916, Ponta Delgada a 4 de julho de 1917 e São Vicente-Cabo Verde a 4 de novembro de 1917, Norton de Matos e Tamagnini de Abreu, armaram o Corpo Expedicionário Português que foi enviado para a Flandres.

O objetivo era guarnecer cerca 16 km de trincheiras, com 55.000 homens, enviando mais 4.000 homens por mês, para rotações e substituir as previsíveis baixas.
Em África, o confronto com as forças coloniais alemãs levou a uma segunda campanha de ocupação militar do Sul de Angola/1914-1915 e no Norte de Moçambique/1914-1918.
Com cerca de 80.000 homens na Flandres e África, o esforço de guerra português foi importante, se não o maior de sempre, pelo menos o maior desde as guerras napoleónicas. Em 30 de janeiro de 1917, largaram do Tejo três navios britânicos, levando a bordo a 1ª. Brigada do CEP, comandada pelo Gen. Gomes da Costa. Estes navios chegaram ao porto francês de Brest três dias depois, desembarcando as primeiras tropas portuguesas que a 8 de fevereiro estavam na Flandres. Em 22 de fevereiro, partiu para França um outro contingente.
Em 4 de abril de 1917, as primeiras tropas portuguesas estavam entrincheiradas, em breve ocorreu o primeiro motim e o sold. António Gonçalves Curado foi o primeiro português a morrer em combate.


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