quinta-feira, 16 de março de 2017

A REPÚBLICA EM ALCOBAÇA (Tempos finais) II

 -GAGO COUTINHO E SACADURA CABRAL.
 OS PRIMÓRDIOS DA AVIAÇÃO PORTUGUESA-





-GAGO COUTINHO E SACADURA CABRAL.
OS PRIMÓRDIOS DA AVIAÇÃO PORTUGUESA-
Em julho de 1920, foi aberta na secretaria da Câmara Municipal de Alcobaça, uma lista de inscrição/subscrição para que os alcobacenses pudessem concorrer para a aquisição de um aparelho destinado a fazer o percurso aéreo Lisboa/Guiné/Rio de Janeiro/Lisboa.
Ao fim de dois meses, constatou-se que o produto apurado, tal como a nível nacional foi pouco significativo e a ideia foi abandonada. O projeto passou a ser outro.
A grande viagem teve início no Rio Tejo, às 7h de 30 de março de 1922, empregando um hidroavião monomotor, equipado com motor Rolls-Royce e batizado de Lusitânia. Sacadura Cabral era o piloto e Gago Coutinho o navegador. Este último havia criado, e utilizaria na viagem, um horizonte artificial adaptado a um sextante, a fim de medir a altura dos astros. A primeira etapa da viagem foi concluída sem incidentes, no mesmo dia, em Las Palmas.
No dia 5 de abril, partiram rumo à Ilha de São Vicente/Cabo Verde. Lá se demoraram até ao dia 17, para efetuar reparações no hidroavião, tendo saído do porto da Praia/Ilha de Santiago, rumo ao minúsculo Arquipélago de São Pedro e São Paulo/Brasil, onde amararam. O mar, agitado, causou danos ao Lusitânia. Gago Coutinho e Sacadura Cabral foram recolhidos pelo cruzador República da Marinha de Guerra Portuguesa, que os salvou, tal como aos livros, sextante, cromómetro e outros instrumentos e os conduziu a Ilha de Fernando de Noronha. Para perpetuar o ocorrido, os aviadores portugueses deixaram nos penedos um padrão de chapa de ferro, cravado a letras de latão: Hidroavião Lusitânia – Cruzador República. Apesar de exaustos pelo voo e pouso acidentado, os portugueses comemoraram o achamento dos penedos em pleno Atlântico Sul, com total precisão apenas com recurso a navegação astronómica e ao sextante.
Com a opinião pública portuguesa em delírio e a brasileira também muito envolvida na aventura, o Governo Português viu-se compelido a enviar outro hidroavião, o Pátria, para prosseguir a viagem a partir da Ilha de Fernando de Noronha. Desembarcado, montado e preparado, o aparelho a 11 de maio, Gago Coutinho e Sacadura Cabral descolaram de Fernando de Noronha. Novo acidente os acometeu, quando tendo retornado e sobrevoando os penedos de São Pedro e São Paulo para reiniciar o trecho interrompido, uma avaria no motor os obrigou a amarar de emergência, tendo permanecido nove horas como náufragos, até serem resgatados por um cargueiro inglês.
Reconduzidos a Fernando de Noronha, aguardaram até 5 de junho, que lhes fosse enviado um novo hidroavião para que a viagem prosseguisse até ao Rio de Janeiro.

Tendo levantado voo, a 17 de junho amararam em frente à Ilha das Enxadas/Baía da Guanabara.
Aclamados como heróis nas cidades brasileiras onde passaram, os aeronautas portugueses concluíram com êxito não apenas a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, mas pela primeira vez na História da Aviação, tinha-se viajado sobre o Atlântico, apenas com o auxílio da navegação astronómica, a partir do avião.
Embora a viagem tenha consumido um total de setenta e nove dias, o tempo de voo foi de apenas sessenta e duas horas e vinte e seis minutos, e percorrido 8.383 quilómetros. A travessia realizou-se em várias fases, no intervalo das quais os hidroaviões foram assistidos.
Contudo, consideraram-se quatro etapas, visto que, graças a problemas mecânicos e condições naturais adversas, foram utilizados três hidroaviões.
Longe estavam os tempos da Passarola (construída por Bartolomeu de Gusmão, um português nascido no Brasil colonial que, em 8 de agosto de 1709, alçou voo em Lisboa perante a corte de D. João V. A experiência teria falhado apesar do invento ter se elevado acima do solo durante alguns momentos) e das primeiras experiências aeronáuticas portuguesas.
Recorde-se que a 17 de outubro de 1909, foi realizado o primeiro voo de um avião tripulado (aliás por um francês) e propulsionado a motor no espaço aéreo português, que se veio a despenhar sobre o telhado de uma moradia.
Pouco depois (11 de dezembro), seria fundado o Aeroclube de Portugal, com o objetivo de divulgar a aeronáutica.
O primeiro voo digno desse nome, realizado em Portugal, ocorreu no dia 27 de abril de 1911, no qual um piloto francês pilotou o avião a cerca de 50 metros do solo, na zona de Belém.
O primeiro voo, realizado por um piloto português, só veio a acontecer a 1 de setembro de 1912, no Mouchão da Póvoa de Stª. Iria, efetuado por Alberto Sanches de Castro.
Em 14 de maio de 1914, foi publicada a lei que instituía a primeira escola de aviação militar a instalar em Vila Nova da Rainha, inaugurada a 1 de agosto de 1916. Do primeiro curso efetuado nesta escola saíram pilotos como Sarmento de Beires ou Pinheiro Correia, que irão protagonizar alguns dos feitos memoráveis da História da Aviação em Portugal.
Por alturas da I Guerra, Portugal enviou alguns pilotos aviadores para a França e para África.
Já se referiu supra o papel e a figura do Cap. Óscar Monteiro Torres, da esquadrilha das cegonhas e o seu trágico destino.

Por sua vez, o Alferes Jorge de Sousa Gorgulho foi enviado para Moçambique, onde veio a falecer num acidente (primeiro piloto português a voar em África).
Durante 1919, instalou-se na Amadora, o Grupo de Esquadrilhas de Aviação da República/GEAR, que veio a constituir a primeira unidade operacional de aviação militar em Portugal.
A escola de Vila Nova da Rainha transferiu-se em 1920 para a Granja do Marquês, constituindo o núcleo inicial da B.A.1.

Em 1920, os pilotos da Aeronáutica Militar Sarmento de Beires e Brito Pais, tentaram, aliás sem êxito, alguns Raides Aéreos, como a travessia Lisboa /Funchal.

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