-GAGO
COUTINHO E SACADURA CABRAL.
OS PRIMÓRDIOS DA AVIAÇÃO PORTUGUESA-
-GAGO
COUTINHO E SACADURA CABRAL.
OS
PRIMÓRDIOS DA AVIAÇÃO PORTUGUESA-
Em
julho de 1920, foi aberta na secretaria da Câmara Municipal de Alcobaça, uma
lista de inscrição/subscrição para que os alcobacenses pudessem concorrer para
a aquisição de um aparelho destinado a fazer o percurso aéreo Lisboa/Guiné/Rio
de Janeiro/Lisboa.
Ao
fim de dois meses, constatou-se que o produto apurado, tal como a nível
nacional foi pouco significativo e a ideia foi abandonada. O projeto passou a
ser outro.
A
grande viagem teve início no Rio Tejo, às 7h de 30 de março de 1922, empregando
um hidroavião monomotor, equipado com motor Rolls-Royce e batizado de
Lusitânia. Sacadura Cabral era o piloto e Gago Coutinho o navegador. Este
último havia criado, e utilizaria na viagem, um horizonte artificial adaptado a
um sextante, a fim de medir a altura dos astros. A primeira etapa da viagem foi
concluída sem incidentes, no mesmo dia, em Las Palmas.
No
dia 5 de abril, partiram rumo à Ilha de São Vicente/Cabo Verde. Lá se demoraram
até ao dia 17, para efetuar reparações no hidroavião, tendo saído do porto da
Praia/Ilha de Santiago, rumo ao minúsculo Arquipélago de São Pedro e São
Paulo/Brasil, onde amararam. O mar, agitado, causou danos ao Lusitânia. Gago
Coutinho e Sacadura Cabral foram recolhidos pelo cruzador República da Marinha
de Guerra Portuguesa, que os salvou, tal como aos livros, sextante, cromómetro
e outros instrumentos e os conduziu a Ilha de Fernando de Noronha. Para
perpetuar o ocorrido, os aviadores portugueses deixaram nos penedos um padrão
de chapa de ferro, cravado a letras de latão: Hidroavião Lusitânia – Cruzador
República. Apesar de exaustos pelo voo e pouso acidentado, os portugueses
comemoraram o achamento dos penedos em pleno Atlântico Sul, com total precisão
apenas com recurso a navegação astronómica e ao sextante.
Com
a opinião pública portuguesa em delírio e a brasileira também muito envolvida
na aventura, o Governo Português viu-se compelido a enviar outro hidroavião, o
Pátria, para prosseguir a viagem a partir da Ilha de Fernando de Noronha.
Desembarcado, montado e preparado, o aparelho a 11 de maio, Gago Coutinho e
Sacadura Cabral descolaram de Fernando de Noronha. Novo acidente os acometeu,
quando tendo retornado e sobrevoando os penedos de São Pedro e São Paulo para
reiniciar o trecho interrompido, uma avaria no motor os obrigou a amarar de
emergência, tendo permanecido nove horas como náufragos, até serem resgatados
por um cargueiro inglês.
Reconduzidos
a Fernando de Noronha, aguardaram até 5 de junho, que lhes fosse enviado um
novo hidroavião para que a viagem prosseguisse até ao Rio de Janeiro.
Tendo levantado voo, a 17 de junho
amararam em frente à Ilha das Enxadas/Baía da Guanabara.
Aclamados como heróis nas cidades brasileiras onde passaram,
os aeronautas portugueses concluíram com êxito não apenas a primeira travessia
aérea do Atlântico Sul, mas pela primeira vez na História da Aviação, tinha-se
viajado sobre o Atlântico, apenas com o auxílio da navegação astronómica, a
partir do avião.
Embora a viagem tenha consumido um total de setenta e nove
dias, o tempo de voo foi de apenas sessenta e duas horas e vinte e seis
minutos, e percorrido 8.383 quilómetros. A travessia realizou-se em várias
fases, no intervalo das quais os hidroaviões foram assistidos.
Contudo, consideraram-se quatro etapas, visto que, graças a
problemas mecânicos e condições naturais adversas, foram utilizados três
hidroaviões.
Longe estavam os tempos da Passarola (construída por
Bartolomeu de Gusmão, um português nascido no Brasil colonial que, em 8 de
agosto de 1709, alçou voo em Lisboa perante a corte de D. João V. A experiência
teria falhado apesar do invento ter se elevado acima do solo durante alguns
momentos) e das primeiras experiências aeronáuticas portuguesas.
Recorde-se que a 17 de outubro de 1909, foi realizado o
primeiro voo de um avião tripulado (aliás por um francês) e propulsionado a
motor no espaço aéreo português, que se veio a despenhar sobre o telhado de uma
moradia.
Pouco depois (11 de dezembro), seria fundado o Aeroclube de
Portugal, com o objetivo de divulgar a aeronáutica.
O primeiro voo digno desse nome, realizado em Portugal,
ocorreu no dia 27 de abril de 1911, no qual um piloto francês pilotou o avião a
cerca de 50 metros do solo, na zona de Belém.
O primeiro voo, realizado por um piloto português, só veio a
acontecer a 1 de setembro de 1912, no Mouchão da Póvoa de Stª. Iria, efetuado
por Alberto Sanches de Castro.
Em 14 de maio de 1914, foi publicada a lei que instituía a
primeira escola de aviação militar a instalar em Vila Nova da Rainha,
inaugurada a 1 de agosto de 1916. Do primeiro curso efetuado nesta escola
saíram pilotos como Sarmento de Beires ou Pinheiro Correia, que irão
protagonizar alguns dos feitos memoráveis da História da Aviação em Portugal.
Por alturas da I Guerra, Portugal enviou alguns pilotos
aviadores para a França e para África.
Já se referiu supra o papel e a figura do Cap. Óscar Monteiro
Torres, da esquadrilha das cegonhas e o seu trágico destino.
Por sua vez, o Alferes Jorge de Sousa
Gorgulho foi enviado para Moçambique, onde veio a falecer num acidente
(primeiro piloto português a voar em África).
Durante 1919, instalou-se na Amadora, o Grupo de Esquadrilhas
de Aviação da República/GEAR, que veio a constituir a primeira unidade
operacional de aviação militar em Portugal.
A escola de Vila Nova da Rainha transferiu-se em 1920 para a
Granja do Marquês, constituindo o núcleo inicial da B.A.1.
Em 1920, os pilotos da
Aeronáutica Militar Sarmento de Beires e Brito Pais, tentaram, aliás sem êxito,
alguns Raides Aéreos, como a travessia Lisboa /Funchal.
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