Pelos facultativos municipais encarregados
de proceder ao exame dos vários terrenos previstos para a construção do novo
cemitério de Alcobaça, foi apresentado na sessão da Câmara Municipal (16 de
julho de 1890), um relatório do seu trabalho, no qual se concluía existir
apenas um local apropriado, o cemitério da Vestiaria, desde que devidamente
ampliado.
Assim, Câmara deliberou, embora contra a
opinião da Junta da Paróquia da Vestiaria, escolher esse local e mandar
proceder, com a máxima urgência, aos trabalhos preparatórios e indispensáveis.
O vereador Vitorino de Avelar Froes, a propósito da oposição da Junta da
Vestiaria disse, que tendo-se levantado
em algumas freguesias do Concelho uma corrente de opinião contra a Câmara imputando-lhe
a responsabilidade da construção do cemitério da Vestiaria, lamentava que tendo
estado em reclamação esse projeto há vários meses, nunca se levantou qualquer
voz a protestar contra o facto. Por outro lado, esclareceu que tendo sido
exposto o assunto ao Governo, este mandou apresenta-lo no Tribunal
Administrativo, pelo que era de opinião que a Câmara deveria aguardar o
resultado da decisão, garantindo neutralidade entre as diversas opiniões que se
têm vindo a manifestar.
O certo é que, na sessão de 21 de agosto de
1899, veio a ser escolhido para localização do novo cemitério, o terreno
situado entre a estrada de Leiria a Santarém e o caminho municipal do Casal da
Ortiga, pertencente a Francisco Pereira
Zagallo, tendo sido nomeados louvados para procederem à avaliação do
terreno.
O Dr. Francisco Zagallo, oficiou a Câmara,
declarando que não tendo sido ouvido acerca da expropriação amigável do seu
terreno, nem tendo sido decretada a expropriação por utilidade pública,
afigurava-se-lhe inoportuno tratar-se
agora da sua avaliação e por isso se abstinha de participar no processo de
nomeação dos louvados.
Na Sessão de 9 de outubro de 1899, foi
presente um requerimento do Dr. Francisco Zagallo, no sentido de ser revogada a
deliberação que mandou instalar o cemitério municipal na charneca da sua Quinta
do Colégio, pelo que deveria a Câmara vistoriar o terreno, a fim de apurar se
estava nas condições exigidas para o fim.
O cemitério municipal acabou por se
construir no Bairro da Roda, pelo que em julho de 1903, achando-se pronto e em
condições de se poderem fazer enterramentos, a Câmara deliberou que se
oficiasse ao Prior de Alcobaça (Pe. Ribeiro d’Abranches), rogando-lhe que
solicitasse ao Cardeal Patriarca autorização para se proceder à sua bênção.
Desde então, com arranjos e ampliações, tem
permanecido aí.
O antigo cemitério de Alcobaça, nas
dependências do Mosteiro, encontrava-se em desleixado estado de conservação,
muito especialmente os resguardos das sepulturas, coroas, retratos, jarras que
jaziam pelo chão ou se encontravam em cima de um suporte qualquer, fora do
lugar. Cães vadios movimentavam-se à vontade entre as sepulturas, que
revolviam. Há quem diga que por lá também andaram porcos.
Se esta situação era lastimável, não menos a
queixa de que nas dependências do Quartel se sentia por vezes um incomodativo
odor, atribuído a algum cadáver depositado em jazigo e cujo caixão se
dessoldou.
O cemitério dos monges esteve localizado no
lado sul do transepto da igreja do Mosteiro, motivo pelo qual a porta de acesso
ao exterior, foi apelidada de Porta da Morte. Após a extinção das Ordens
Religiosas e o encerramento do Mosteiro, habitantes de Alcobaça foram aqui
enterrados, até ser construído o novo.
Com a República, os cemitérios foram
declarados seculares.
Mas não era apenas a forma como se
enterravam os não católicos, mas também os suicidas ou os náufragos, que
indignava Ramalho Ortigão, numa carta aberta ao Patriarcado de Lisboa (1872). Chegamos ao cemitério. Das grades que
circundam os jazigos pendem coroas de perpétuas cor de milho estreladas de
saudades roxas. Dentro dos carneiros ardem velas de cera, vicejam ramos de
flores tristes em vasos de porcelana, e longos bambolins de crepes adornam as
lápides tumulares de dísticos de ouro em fundo negro. Algumas senhoras de
vestidos pretos passam silenciosas e graves. À porta algumas carruagens
esperam. Eis tudo o que vimos no cemitério. Digne-se agora Vossa Eminência
ponderar por um momento o que não vimos. Não vimos a gente pobre, porque os
pobres não têm nos cemitérios onde ir chorar aqueles que lhes morrem. A vala
Eminentíssimo Senhor, é um túmulo coletivo, sem epitáfios, indiferente e mudo,
insondável como o oceano. Nos terrenos reservados às sepulturas individuais não
se entra sem uma certa toilette, como no superior do S. Carlos (…).
-CEMITÉRIO
DE ALPEDRIZ-
Nos Montes, até perto do fim do século XX,
não havia cemitério, o qual foi construído apenas na década de 1990, depois de
criada a respetiva freguesia a partir de
Alpedriz (28 de agosto de 1989).
No princípio de século XX, as pessoas eram
sepultadas em Alpedriz, depois de veladas 24 horas ininterruptas em casa,
depois de o cadáver ser lavado pelas mulheres da família e vestido com o fato
do casamento ou o escolhido ainda em vida, entre o melhor que havia. A virgem
ia de branco e não raramente com uma grinalda de flores na cabeça.
As portas e janelas da casa eram fechadas,
acendiam-se luzes de azeite e encomendava-se o caixão à medida. O cadáver era
conduzido num caixão, levado à mão, numa tarefa ingrata e desagradável para o
padre, acompanhantes e cangalheiro, enquanto os sinos dobravam, anunciando à
comunidade o desaparecimento de um dos seus.
Com a República, foi adquirida uma carreta,
mas dado o muito mau estado da estrada Montes/Alpedriz, os mortos chegavam, por
vezes, virados ao contrário, o que ocasionou veementes protestos da população.
Perante isto, a carreta veio a ser
abandonada, quando foi possível adquirir um carro funerário.
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