sexta-feira, 31 de março de 2017

-CEMITÉRIOS EM ALCOBAÇA-

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Pelos facultativos municipais encarregados de proceder ao exame dos vários terrenos previstos para a construção do novo cemitério de Alcobaça, foi apresentado na sessão da Câmara Municipal (16 de julho de 1890), um relatório do seu trabalho, no qual se concluía existir apenas um local apropriado, o cemitério da Vestiaria, desde que devidamente ampliado.
Assim, Câmara deliberou, embora contra a opinião da Junta da Paróquia da Vestiaria, escolher esse local e mandar proceder, com a máxima urgência, aos trabalhos preparatórios e indispensáveis. O vereador Vitorino de Avelar Froes, a propósito da oposição da Junta da Vestiaria disse, que tendo-se levantado em algumas freguesias do Concelho uma corrente de opinião contra a Câmara imputando-lhe a responsabilidade da construção do cemitério da Vestiaria, lamentava que tendo estado em reclamação esse projeto há vários meses, nunca se levantou qualquer voz a protestar contra o facto. Por outro lado, esclareceu que tendo sido exposto o assunto ao Governo, este mandou apresenta-lo no Tribunal Administrativo, pelo que era de opinião que a Câmara deveria aguardar o resultado da decisão, garantindo neutralidade entre as diversas opiniões que se têm vindo a manifestar.
O certo é que, na sessão de 21 de agosto de 1899, veio a ser escolhido para localização do novo cemitério, o terreno situado entre a estrada de Leiria a Santarém e o caminho municipal do Casal da Ortiga, pertencente a Francisco  Pereira Zagallo, tendo sido nomeados louvados para procederem à avaliação do terreno. 
O Dr. Francisco Zagallo, oficiou a Câmara, declarando que não tendo sido ouvido acerca da expropriação amigável do seu terreno, nem tendo sido decretada a expropriação por utilidade pública, afigurava-se-lhe inoportuno tratar-se agora da sua avaliação e por isso se abstinha de participar no processo de nomeação dos louvados.
Na Sessão de 9 de outubro de 1899, foi presente um requerimento do Dr. Francisco Zagallo, no sentido de ser revogada a deliberação que mandou instalar o cemitério municipal na charneca da sua Quinta do Colégio, pelo que deveria a Câmara vistoriar o terreno, a fim de apurar se estava nas condições exigidas para o fim.
O cemitério municipal acabou por se construir no Bairro da Roda, pelo que em julho de 1903, achando-se pronto e em condições de se poderem fazer enterramentos, a Câmara deliberou que se oficiasse ao Prior de Alcobaça (Pe. Ribeiro d’Abranches), rogando-lhe que solicitasse ao Cardeal Patriarca autorização para se proceder à sua bênção.
Desde então, com arranjos e ampliações, tem permanecido aí.
O antigo cemitério de Alcobaça, nas dependências do Mosteiro, encontrava-se em desleixado estado de conservação, muito especialmente os resguardos das sepulturas, coroas, retratos, jarras que jaziam pelo chão ou se encontravam em cima de um suporte qualquer, fora do lugar. Cães vadios movimentavam-se à vontade entre as sepulturas, que revolviam. Há quem diga que por lá também andaram porcos.
Se esta situação era lastimável, não menos a queixa de que nas dependências do Quartel se sentia por vezes um incomodativo odor, atribuído a algum cadáver depositado em jazigo e cujo caixão se dessoldou.
O cemitério dos monges esteve localizado no lado sul do transepto da igreja do Mosteiro, motivo pelo qual a porta de acesso ao exterior, foi apelidada de Porta da Morte. Após a extinção das Ordens Religiosas e o encerramento do Mosteiro, habitantes de Alcobaça foram aqui enterrados, até ser construído o novo.
Com a República, os cemitérios foram declarados seculares.
Mas não era apenas a forma como se enterravam os não católicos, mas também os suicidas ou os náufragos, que indignava Ramalho Ortigão, numa carta aberta ao Patriarcado de Lisboa (1872). Chegamos ao cemitério. Das grades que circundam os jazigos pendem coroas de perpétuas cor de milho estreladas de saudades roxas. Dentro dos carneiros ardem velas de cera, vicejam ramos de flores tristes em vasos de porcelana, e longos bambolins de crepes adornam as lápides tumulares de dísticos de ouro em fundo negro. Algumas senhoras de vestidos pretos passam silenciosas e graves. À porta algumas carruagens esperam. Eis tudo o que vimos no cemitério. Digne-se agora Vossa Eminência ponderar por um momento o que não vimos. Não vimos a gente pobre, porque os pobres não têm nos cemitérios onde ir chorar aqueles que lhes morrem. A vala Eminentíssimo Senhor, é um túmulo coletivo, sem epitáfios, indiferente e mudo, insondável como o oceano. Nos terrenos reservados às sepulturas individuais não se entra sem uma certa toilette, como no superior do S. Carlos (…).
-CEMITÉRIO DE ALPEDRIZ-
Nos Montes, até perto do fim do século XX, não havia cemitério, o qual foi construído apenas na década de 1990, depois de criada a respetiva freguesia a partir de Alpedriz (28 de agosto de 1989).
No princípio de século XX, as pessoas eram sepultadas em Alpedriz, depois de veladas 24 horas ininterruptas em casa, depois de o cadáver ser lavado pelas mulheres da família e vestido com o fato do casamento ou o escolhido ainda em vida, entre o melhor que havia. A virgem ia de branco e não raramente com uma grinalda de flores na cabeça.
As portas e janelas da casa eram fechadas, acendiam-se luzes de azeite e encomendava-se o caixão à medida. O cadáver era conduzido num caixão, levado à mão, numa tarefa ingrata e desagradável para o padre, acompanhantes e cangalheiro, enquanto os sinos dobravam, anunciando à comunidade o desaparecimento de um dos seus.
Com a República, foi adquirida uma carreta, mas dado o muito mau estado da estrada Montes/Alpedriz, os mortos chegavam, por vezes, virados ao contrário, o que ocasionou veementes protestos da população.
Perante isto, a carreta veio a ser abandonada, quando foi possível adquirir um carro funerário.


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