quinta-feira, 16 de março de 2017

A I GUERRA E ALCOBAÇA



-OFERTA DE ESTANDARTE E LÁPIDE NO QUARTEL DE CAV.4 DE ALCOBAÇA-
-A LUZ ELÉTRICA-
-A LIGA DOS COMBATENTES E A DELEGAÇÃO DE ALCOBAÇA-
-O ALCOBACENSE TEN. COR. J. BRUSCO JÚNIOR-





-OFERTA DE ESTANDARTE E LÁPIDE NO QUARTEL DE CAV.4.
A LUZ ELÉTRICA-
Tendo em conta que o Reg. Cav.4, não possuía o respetivo estandarte a que tinha direito e sobre o qual os oficiais e praças haveriam de jurar defender a Pátria e a República, constituiu-se em meados de junho de 1919, uma comissão composta por António Augusto Carvalho da Costa, António de Sousa Neves, Aníbal Monteiro, Aquiles Taveira Pinto, Francisco Pereira, José Ferreira da Silva /sobrinho e José Emílio Raposo de Magalhães, com o fim de convidar os alcobacenses a adquiri-lo, contribuindo com os donativos de que pudessem dispor.
Em novembro de 1920, já com estandarte adquirido com fundos do quartel na Cordoaria em Lisboa, com a presença do general Comandante da 7ª. Divisão

Militar, do Comandante do Regimento, oficiais, praças, representantes de várias entidades civis do Concelho de Alcobaça, da Nazaré, de Porto de Mós, de Leiria e de Caldas da Rainha e público, entre o qual familiares de militares ex-combatentes, realizou-se no Quartel do Regimento de Alcobaça, o descerramento de uma lápide com o nome dos militares mortos em combate (cujos nomes não foi possível apurar), pertencentes a esta unidade militar.
O Alf. J. Herculano Moura, cujo irmão mais velho tombou na Flandres e cujo corpo não chegou a ser repatriado (não foi encontrado), usou da palavra e dirigindo-se com emoção aos camaradas e familiares dos que tombaram, destacou aqueles cuja morte ali se honrava, tendo no fim ido beijar as mães e/ou noivas presentes.
Encerrou a cerimónia o alcobacense Ten. Cor. Umbelino Correia Guedes (comandante da unidade), que agradeceu a presença de todos e salientou a importância da cerimónia que ajudou a reforçar o espírito de corpo e a sua relação com a população.
Dias depois, foi inaugurada a luz elétrica no Quartel, obra deveras importante, há muito reclamada.
A partir daí, a Porta de Armas passou a encontrar-se permanentemente iluminada, desde o escurecer ao raiar do dia, o que agradou à população, que se sentia deste modo mais protegida.
Por esse tempo, ainda não havia luz elétrica em geral no concelho de Alcobaça.
A iluminação pública era feita com candeeiros a petróleo, colocados nas esquinas. O País estava muito atrasado e o Concelho não era uma exceção, não obstante na sua sede a luz elétrica ter sido inaugurada em 1905, aliás, no mesmo ano que Barcelos.
No último quartel do século XIX, dera-se o início à produção e distribuição industrial de eletricidade, com o aparecimento de instituições públicas e privadas, agências estatais, municipais, empresas, grupos profissionais, associações de classe (desde as associações industriais e comerciais aos sindicatos) e também de consumidores que, em conjunto, deram forma a uma indústria, estabeleceram fronteiras, construíram os seus standards organizacionais, tecnológicos, culturais.
Logo nessa altura, uma das mais importantes aplicações industrializadas, foi a iluminação elétrica. As primeiras redes de distribuição e antes destas, os primeiros sistemas de produção isolada da época, destinavam-se a gerar eletricidade para iluminação.
As redes estiveram mais associadas à iluminação de ruas e vias públicas e as produções isoladas, à iluminação de fábricas, hotéis, teatros.
Mas isso era noutros locais do País (grandes urbes), que não Alcobaça.
O fornecimento generalizado de luz elétrica no concelho de Alcobaça começou tardiamente, mais propriamente na segunda metade séc. XX.
Até aí, os alcobacenses usavam para sua iluminação, candeias de azeite, candeeiros de petróleo, lanternas e petromaxes. As candeias de azeite eram muito simples, feitas de lata e possuíam um bico, que suportava uma torcida, feita dum pouco de pano.
Produziam uma luz fraca, eram leves e penduravam-se num prego ou num local à mão.
Nos lagares e adegas dos Montes, usava-se preferencialmente uma candeia de azeite de maior volume, com quatro bicos e torcidas.
Os alunos estudavam em casa à luz de candeeiros a petróleo, tal como as senhoras faziam malha, costura ou a lide da casa.
Quando se fala de petróleo relativamente a candeeiros, para se ser mais preciso, deveria dizer-se querosene, petróleo de iluminação, um líquido avermelhado, de cheiro característico, que se vendia nas mercearias.
As candeias e os candeeiros funcionavam com uma torcida embebida em parte no combustível, que subia ao longo desta. Quando se acendia a ponta da torcida, a chama produzida ia consumindo o combustível e a torcida e emitia algum fumo.
Os candeeiros a petróleo eram de vidro. Alguns tinham um pé alto, como os utilizados com finalidade meramente decorativa. As torcidas vendiam-se nas mercearias, drogarias e estabelecimentos semelhantes. Podiam fazer-se subir ou descer por meio duma roda exterior ligada a outra que tinha dentes e estava em contacto com as torcidas.
Para acender um candeeiro a petróleo, retirava-se a chaminé e chegava-se à torcida um fósforo. Para o apagar, levantava-se a chaminé e apagava-se a chama com um sopro.
Nas casas havia, em geral, suportes para os candeeiros a petróleo, aliás, colocados estrategicamente onde era mais cómodo e útil, como a mesa de cabeceira do quarto de dormir, a mesa de refeição ou ao pé do lume.
Havia candeeiros a petróleo apropriados para usar na rua ou em palheiros munidos de uma pega para transporte. Podia-se levantar e baixar a chaminé por meio duma mola. Com a mesma finalidade se podiam usar as lanternas, em que quatro vidros laterais protegiam a chama.
As charretes tinham lanternas redondas. Para obter uma luz forte usava-se um petromax que tinha que ser manejado com cuidado, porque a camisa se desfazia com facilidade.
A eletricidade não esteve de todo ausente do Concelho de Alcobaça até à II Guerra e alguns anos seguintes.

Havia lanternas elétricas, chamadas comumente foxes que eram usadas para iluminar o caminho. Em noites sem lua, os caminhos especialmente os rurais eram percorridos, antes da chegada da luz elétrica, em completa escuridão.
No entanto, as pessoas como que tinham uma espécie de instinto inato que lhes permitiam pôr sempre o pé, no sítio certo e seguir os percursos corretos.
-A LIGA DOS COMBATENTES E A DELEGAÇÃO DE ALCOBAÇA-
A Liga dos Combatentes da Grande Guerra foi criada em 1923, com o objetivo de reunir os militares, ex-militares e famílias, que tinham combatido na I Guerra.
A Liga em ofício de 30 de abril, de 1924, solicitou que se organizasse uma Delegação em Alcobaça, para dar apoio aos alcobacenses naturais ou ali domiciliados, que combateram em França ou África, muitos deles a viver em situação económica difícil, debilitados na saúde. Deste modo a 5 de maio, sob proposta da Delegação de Leiria foi nomeado/eleito Presidente da Delegação o Maj. Joaquim José Conceição, que cumpriu missão em Moçambique, entre 1914/1918.
Na sede da Delegação de Alcobaça, que contava 34 ex-combatentes, a funcionar no Quartel de Cavalaria, em 16 de junho procedeu-se à eleição dos demais elementos da Direção para 1924, sendo o Ten. José Carapinha/Tesoureiro e o Alf. Manuel da Assunção Figueiredo/Secretário. A Mesa da Assembleia Geral, apenas foi eleita a 8 de janeiro de 1925, sendo o primeiro Presidente o Ten. Cor. José Rodrigues Brusco Júnior e Secretários o 1º. Sarg. António Maria Simões e o Ten. César Augusto Martins de Carvalho.
Aos militares de Montes, onde não houve baixas, a população da terra, fez-lhes uma calorosa receção oferecendo um lanche, aonde se assou um porco e descerrou uma lápide numa parede exterior da igreja com os seus nomes. Estiveram quase todos presentes, devidamente fardados.
Acontece que nesta relação, não constava (por lapso ou malandrice, não se apurou), o nome do Ten. Cor. Brusco Júnior, que por isso, se sentiu ofendido, tendo jurado que nos Montes nunca mais poria os pés.
Com a construção da nova Igreja, em 1948, foi feita a reparação (o seu nome aparece em primeiro lugar na nova lápide), que o Ten. Cor. Brusco, não chegou a observar, pois faleceu em 1949.
-TEN. COR. J. BRUSCO JÚNIOR-
José Brusco Júnior, nasceu a 9 de dezembro de 1876 em Montes, filho de um militar de carreira, que se iniciou como praça e por isso não acedeu a mais que Major.
De acordo com a antiga tradição familiar e profissional, seguiu as pisadas do pai, mas frequentando o Colégio Militar, pelo que um dia se verá devidamente fardado.

Embora na família não se saiba ao certo a que arma pertenceu, é altamente provável que tenha sido a Cavalaria.
De Cavalaria ou não, o certo é que foi educado para militar e grande amante da cavalaria, constrói os seus desenhos na maioria aguarelados, servindo-se do cavalo como personagem para as suas caricaturas. (…) Mas não só de cavalos trata a sua obra. Uma série de caricaturas de grande formato sobre a cobrança de impostos, foram certamente dias e dias de gozo. Há sempre uma forte alusão entre a humildade do pobre e miserável pagador e o recebedor prepotente e sem piedade, que se ri da miséria.
Artista com poder criativo, apaixonou-se pela caricatura, difícil forma de desenho, mas que no seu tempo era forma corrente de expressão artística, à qual os maiores artistas da época se dedicaram. Havia ao tempo mais publicações de humor que hoje de futebol. Citamos entre eles a Paródia, a Sátira, o Papagaio Real, entre os de maior tiragem, chegando até quase aos nossos dias o Sempre Fixe, de grande saudade. Eram jocosos, galhofeiros, atingindo sempre os seus objetivos sem magoar.
Entre 21 de março/4 de abril de 1998, foi organizada em Alcobaça, na Casa Senhora da Conceição, por João da Bernarda, uma exposição retrospetiva de trabalhos de José Rodrigues Brusco Júnior. No folheto de apresentação destacava-se que a caricatura foi sempre, através da história da arte, precisamente uma forma de liberdade do artista criador e expressão de revolta contra situações de opressão contra o espírito criador.
A sua obra mais antiga conhecida (remonta a 1911), é um painel de azulejos que decorou a Fonte dos Talassas (destruída em 1972 e cujos azulejos desapareceram), no qual se representavam os Monges de Cister a trabalhar, tendo como pano de fundo o Mosteiro. Na sessão de 18 de outubro de 1911, a Câmara Municipal agradeceu-lhe o trabalho, efetuado graciosamente.
Mas em março de 1913, o Diretor da Escola Industrial Brotero/Coimbra, remeteu à Câmara Municipal a fatura correspondente ao preço dos azulejos empregados na referida Fonte, que esta pagou em duas prestações, embora tivesse suposto inicialmente que eles lhe eram oferecidos.
Foi na capela de Stº. António/Alcobaça que se celebrou o casamento de Virgínia Bello Marques da Silveira, com o Ten. José Rodrigues Brusco Júnior, a que se seguiu um copo de água, em casa dos nubentes. Foram testemunhas/padrinhos, Judith Brusco de Oliveira e Palmira da Conceição Brusco, irmãs do noivo e José Rodrigues Brusco, pai do noivo, e Joaquim Marques Alves Silveira, pai da noiva. Virgínia cegou ao dar à luz a primeira e única filha, que um dia veio a casar com um filho de João Ferreira da Silva, pelo que Brusco Júnior reformou-se, passou à reserva ainda jovem, para a acompanhar no infortúnio, radicando-se em Alcobaça até à morte do casal.

A família, não sabe concretizar com detalhe, como decorreu a sua carreira militar, como se referiu se pertenceu à arma de Cavalaria. Sabe que em 1902, encontrando-se, em Moçambique, passou pela Zambézia, e que entre 21 de abril de 1917/23 de abril de 1918, integrou o CEP como Major, atingindo na Flandres o posto de Tenente-Coronel e recebido várias condecorações.
O seu dia-a-dia passava-se na sua casa de Alcobaça a fazer companhia a esposa, dedicando-se à pintura e conversando nas Farmácia Belo Marques e Campeão. Era tido por pessoa bem-disposta, lisonjeira e capaz de enfrentar a vida com um sorriso na face. Maria Teresa Arinto Godinho, que com ele não chegou a conviver, pois tinha dois anos quando faleceu, refere que em família, Brusco Júnior dizia em tom jocoso e provocador, que a sua grande frustração foi não ter podido passear em África num carro funerário cheio de dourados, numa alusão ao suposto gosto dos africanos por dourados e brilhantes.
Osvaldo Macedo de Sousa escreveu que a farmácia na província era o centro da vida social. O barbeiro fazia concorrência. Mas a um nível social menos elitista. A farmácia era o centro de conversas, de cultura. Assim pela disposição de espaços (com mesas de jogo) a Farmácia Campeão conseguia maior presença de indivíduos. Aqui José Rodrigues Brusco jogava o seu gamão.
Relativamente à Liga dos Combatentes é de registar uma carta de um responsável da Comissão Central, na qual depois de lhe agradecer a oferta de um friso de lanceiros, em 03.11.1936 encomendou-lhe uma série de quadros para decorar as novas instalações, junto à Rua de O Século, Lisboa, onde se iria criar uma hospedaria para militares de passagem.

Estes quadros perderam-se aquando do incêndio que destruiu parte destas instalações.

Sem comentários: