OS NOSSAS BRAVOS
-MILITARES
DE MONTES-
-MILITARES DE COZ-
-MILITARES DA MAIORGA-
Sem esquecer outros
-MILITARES
DE MONTES-
Montes
deu rapazes para o CEP, quase todos analfabetos, que foram para a guerra, sem
saber como ou porquê.
Poucos
tinham ido a Lisboa e nenhum ao estrangeiro. A Leiria algumas vezes de
bicicleta ou comboio. Era longe, dispendioso e para fazer o quê?
Nunca
tinham ouvido falar na Flandres ou no Kaiser. Estes jovens, desconhecedores de
qualquer outra realidade, para além da sua aldeia natal, iriam ser obrigados a
combater no conflito tecnologicamente mais avançado da História, em condições
de inferioridade. Nem as fardas para serem usadas por homens mais encorpados
como os anglo saxónicos, assentavam bem nos pequenos soldados portugueses dos
Montes, concretamente aos irmãos Brusco, tidos como os mais fortes. Os capotes
arrastavam pela lama e pela neve quando usados pelos portugueses de estatura
mediana, além de dificultarem o movimento dos membros,
afetavam a imagem do pessoal. As
golas dos dólmanes complicavam o uso das máscaras de gás. O capacete de aço do
CEP era de má qualidade e o dispositivo amortecedor do choque era inferior ao
britânico. Apear de se conhecer bem a situação e das propostas de alteração que
colheram pouco sucesso, a maior parte dos vícios mantiveram-se, graças à
resistência da indústria e do Exército.
De Afonso Costa, colhiam fraca opinião, tanto mais que tinham
ouvido contar ao padre dos Montes (que não pactuava com republicanos e como
sendo uma certeza), que aquele os tinha vendido aos ingleses a um tanto por
cabeça, como se se tratasse de carneiros. Daí a sigla CEP. Não tinham problemas
em andar descalços, pois as solas dos pés eram duras, as botas incomodavam.
Eram dedicados a uma agricultura de subsistência, onde
predominava a cultura da vinha, mais vezes como servos, com técnicas e
instrumentos que se mantinham inalterados de geração para geração.
Alguns pais tinham gado ou pinhais que davam resina, e esses
eram os mais afortunados.
Iam à missa de Domingo, mas, sempre que possível, quedavam-se
à porta a fumar um cigarrito, ver passar as apressadas moças, vigiadas de perto
pelas mães, que não abdicavam de lhes impor uma mantilha de renda escura.
Mas o que mais apreciavam eram os bailaricos ou as festas
populares, como o S. Vicente, em janeiro ou a Stª. Marta no verão. Nestas
festas não enjeitavam carregar o andor na procissão e depois ir acabar a tarde
na tasca a beber uns copos de tinto, com e como os homens.
Os seus nomes encontram-se registados contra o esquecimento,
numa lápide em mármore preto colocada numa parede exterior da capela. Muitos
deles, têm ainda familiares nos Montes e encontram-se sepultados no Talhão dos
Combatentes, no cemitério de Alpedriz.
Registe-se o nome desses heróis:
Ten.Cor. Brusco Júnior, 1º. Sarg. Manuel Bernardo, 1º. Cabo
José de Sousa/João Machado/Francisco Fortes e Soldados Feliciano Brusco e irmão
Joaquim Brusco/Francisco Loureiro/Joaquim Gaio/José Matos/ António Pereira/ e
irmão José Pereira/António Ezequiel/e José Verdasca.
Heróis na verdade, pois confrontaram-se com a saudade, a dor,
o medo, a alegria, a coragem, a revolta, o alívio, a ferida, o pânico, a
camaradagem, o ódio, a aventura e até mesmo a loucura.
Os que regressaram a casa, raramente incólumes, eram homens
orgulhosos e simultaneamente desgostosos por alguma indiferença que notaram,
mas saudosos dos empolgantes momentos vividos em França, que todavia não
pretendiam repetir. Era vulgar não falarem do tempo que passaram no front.
Foram sem fatos, sem munições, sem calçado, sem armas adequadas, sem saberem
porquê, mas
provaram ao mundo que não havia
cobardes no Exército Português, muito menos entre o pessoal dos Montes.
A sedução, a necessidade sexual ou o amor experimentados com
a população feminina criaram momentos, mais ou menos longos, mais ou menos
sentidos, de evasão ao repressivo quotidiano de guerra.
Durante os momentos de descanso alguns rapazes dos Montes,
ajudaram os franceses que se conservaram nas quintas (sobretudo viúvas, velhos
e, claro, muito gostosamente as belas moçoilas) nas tarefas agrícolas, amanho
das terras, limpeza de estábulos, guarda de gado, nas domésticas como compras,
transporte de água ou reconstrução de casas afetadas pelos bombardeamentos.
João Machado, depois de desmobilizado, voltou à rotina agrícola,
apesar de saber ler e escrever e, ao fim de algum tempo, casou-se. Quando teve
a primeira neta, pediu à filha para lhe por o nome de Izata, supostamente o
nome da namoradinha que deixou na estranja, ao que o genro se opôs
terminantemente, com o argumento: Se você quisesse, deveria ter dado esse nome
à sua filha.
Francisco Loureiro (Rodrigues), gaseado, ficou muito doente
dos pulmões e nunca mais pode trabalhar. Não teve tempo de, juntamente com um
camarada de Viseu, ir a Fátima, pois este tinha ouvido falar do aparecimento de
uma Nossa Senhora e queria pagar uma promessa.
José Pereira, também conhecido por José Pereira Júnior para
se distinguir do pai, foi gaseado na Flandres, pelo que quando regressou aos
Montes, muito afetado dos pulmões, não tinha condições para trabalhar como
servo. Passou a receber uma pensão de invalidez, tão insignificante que nem
chegava para o tabaco de que não conseguia prescindir ou um copo de tinto na
taberna. Não frequentou a escola, nem aprendeu a ler e escrever no Regimento de
Artilharia de Leiria, com o qual foi mobilizado para França.
Apesar de a sua especialidade militar ser a artilharia, com o
CEP foi encarregado de tratar das mulas que faziam o transporte de munições,
combustíveis e víveres, em missões sujeitas a emboscadas, nas quais com
frequência se perdia o material, confiscado pelo inimigo. Esta experiência
permitiu-lhe que, quando regressado, passasse a ser ferrador e veterinário.
Esteve ao mesmo tempo e consigo em França, o António irmão
mais velho, que não foi gaseado e tal como este, encontra-se sepultado no
talhão dos combatentes do cemitério de Alpedriz, com uma fotografia na lápide
de pedra, que a viúva, para evitar confusões, mandou colocar.
Feliciano Brusco, também teve e deixou em França uma
namoradinha. Regressado à terra natal, casou-se com a Palmira L., que não sabia
ler nem escrever e ficara à espera. Quando esta faleceu, uma das filhas foi
procurar uma fotografia do pai
para a colocar na respetiva campa ao
lado da mãe e escolheu a de garboso militar do CEP, com uma dedicatória, e que
esta tinha há anos na mesa de cabeceira. Para grande surpresa, apurou que a
dedicatória que nela existia era para a namoradinha francesa, o que a mãe nunca
percebera.
Estes homens, tal como um capelão militar do CEP, podiam
dizer que estavam cansados de terem ido a mais funerais que batizados ou
casamentos.
Quando a Liga dos Combatentes passou a incluir outros
ex-combatentes, que não da I Guerra, foi eleito Presidente da Direção do Núcleo
de Alcobaça o ex-Cabo Mariano Ferreira dos Santos que tendo cumprido missão na
Guiné em 1966/1968, foi condecorado com uma Cruz de Guerra, 4ª. classe,
sucedendo-lhe o ex-Furriel Mil. António Carvalho Rainho que cumpriu missão em
Angola em 1961/1964.
O Núcleo de Alcobaça, a partir de finais de 2000, sob a
presidência de Joaquim Romão (cargo que desde então ocupa com proficiência e
dedicação), alargou a ação ao Concelho da Nazaré e a parte de Porto de Mós, tem
a cargo 10 talhões em cemitérios, promoveu a construção de 7 monumentos e memoriais,
fornece apoio médico a ex-combatentes com problemas de saúde (mental),
distribui produtos alimentares aos mais carenciados e, por vezes, alguns
subsídios se o momento de caixa o permitir e a situação exigir.
Durante uma série de anos, o Talhão dos Combatentes, no
cemitério de Alpedriz esteve bastante mal cuidado. Quando em determinada altura
faleceu um ex-combatente e a família pretendeu sepultá-lo, vieram a faze-lo,
por inadvertência, na cova de Feliciano Brusco e ao seu lado. Os covatos ocupados
à medida dos falecimentos, estavam identificados apenas por um número, sem
nome. A filha de Feliciano Brusco reclamou dessa intromissão, requerendo que o
corpo estranho fosse removido.
Daí em diante, cada covato passou a conter uma lápide com o
nome e por vezes a fotografia do ex-combatente.
-MILITARES DE COZ-
Os militares da Freguesia de Coz que estiveram na Flandres
constam de uma lápide mandada colocar na frontaria da entrada principal do
Mosteiro.
Registem-se os seus nomes: A.B. Ribeiro, Manuel R. Barros/que
referiremos adiante, avô de Lurdes Fialho Matos, João F. Patrício, S.M. Santo,
M.R. Santiago, J.G. Henriques, A. Pires, J.F. Barros., F.F. Ribeiro, A.
Domingues, J. Freitas, J. Costa, A.M. Santo, J. Satiro, J.F. Patrício, M.
Silva, A. Malhó, A.R. Santiago, A. Sousa, M. Caetano/o Pároco Capelão Militar,
que já referimos e a quem se deve a colocação da lápide, M.P. Almeida, A.C.
Serpor, B.R. Oliveira, S.S. Branca, J. Neto,
J. Ribeiro, A.R. Marques, F. Pedro,
J.S. Silva, E. Verdasca, A.H. Susano, A. Oliveira, C. Tavares, J. Pimenta e J.
Duarte.
Faleceram em combate na Flandres, M. Malhó/2 de julho de 1917
e J. Xavier/6 de agosto de 1918, que não chegaram a ser transladados para
Portugal.
M.R. Barros, de seu nome completo Manuel Ribeiro de Barros,
natural de Coz, conhecido entre os vizinhos por Ti Manel Barros e proveniente
de uma família de humildes agricultores, desde cedo se revelou pessoa
interessada pelo mundo, pois lia o jornal na casa do Senhor Afonso.
Chamado a cumprir serviço militar, foi mobilizado como
soldado do CEP e pelos bons serviços e valentia no teatro de operações, foi
promovido a 2º. Sargento. Regressado são e salvo a Coz, casou e continuou a
desenvolver atividade na agricultura, ao mesmo tempo que se interessava pela
vida pública, e mantinha especiais relações com o Pe. Manuel Caetano, que
sedimentou na Flandres.
Com dedicação e zelo, foi durante dezoito anos Presidente da
Junta de Freguesia de Coz (sem retirar proventos materiais), e embora tenha
colaborado com o Estado Novo, não pertenceu à União Nacional ou à Legião
Portuguesa. Ao mesmo tempo promoveu eventos sociais, como representações
teatrais e récitas musicais de sucesso na terra e redondezas algumas em
colaboração com o prof. Teodoro.
Obras como o relógio da torre da igreja, a pavimentação da
rua principal, a luz elétrica ou a escola primária (ainda que por vezes sem
professor), foram efetuadas com o dinheiro resultante dos teatros e récitas que
organizava.
Em casa, recebia os Bispos que se deslocavam à freguesia para
ministrar o Crisma, servindo-lhes refeições e alojamento, tal como as
professoras que vinham lecionar, algumas das quais enquanto permaneceram em
Coz, nunca viveram noutro local.
O povo de Coz, não o esqueceu, dando o seu nome à rua que
desemboca na antiga residência, ao lado da sede da Junta de Freguesia .
O sold. M. Silva, terminada a Guerra ficou a deambular alguns
anos em França, trabalhando na construção civil e constituindo muito
provavelmente família, até que antes da II Guerra, veio a Portugal visitar a
família portuguesa e se radicar. Nessa altura, a polícia política deslocou-se a
Coz, deteve-o em Leiria para ser interrogado, por suspeitas quanto ao seu
passado em França, supostamente junto de meios anarquistas!
Realizados inquéritos, confirmou-se uma vida sem rumo, um
simplório analfabeto que em França nunca se preocupou com a política, muito
menos se envolveu em atividades contra o regime português.
-MILITARES DA MAIORGA-
A lápide com os nomes dos militares da Maiorga que combateram
na Guerra, foi mandada fazer e colocar no Largo dos Combatentes, em 11 de
dezembro de 2005, por iniciativa de Joaquim Romão do Núcleo de Alcobaça.
Vieram a esta cerimónia, o Gen. Altino de Magalhães, o Ten.
Gen. Joaquim Chito Rodrigues e esteve presente a Banda de Música da Maiorga.
Combateram na Guerra, os maiorguenses, cujos nomes constam da referida lápide:
Soldados António Pereira Guerra/António da Costa/ António Carlos Araújo/António
Dias/António Ganilho/António Matias de Sousa/Artur Lopes/Armindo Ribeiro/Bruno
Valentim/Calisto Calado/César B. Coelho/Cândido Elias/Firmo Calado/Francisco
Dias/ Francisco Elias/Francisco Oliveira/Henrique Calado/Júlio Henriques Reis
Godinho/Joaquim Cruz/Joaquim Félix/Joaquim Ramos Guerra Júnior/João dos
Santos/João de Sousa Nazário/José Caetano/José de Sousa Matias/José de
Sousa/José dos Santos/José da Silva Gomes e Vitorino Coelho Serrano, 1º. Cabo
Alfredo Aniceto e Segundos Sargentos António Fadigas da Silva/António Carvalho
e Joaquim Carvalho.
Desde 1968, no dia 10 de
Junho, no Largo dos Combatentes, tem sido feita uma homenagem aos antigos
combatentes, seguida de uma romagem ao cemitério.
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