quinta-feira, 16 de março de 2017

A I GUERRA E ALCOBAÇA



 OS NOSSAS BRAVOS
-MILITARES DE MONTES-
-MILITARES DE COZ-
-MILITARES DA MAIORGA-
 Sem esquecer outros





-MILITARES DE MONTES-
Montes deu rapazes para o CEP, quase todos analfabetos, que foram para a guerra, sem saber como ou porquê.
Poucos tinham ido a Lisboa e nenhum ao estrangeiro. A Leiria algumas vezes de bicicleta ou comboio. Era longe, dispendioso e para fazer o quê?
Nunca tinham ouvido falar na Flandres ou no Kaiser. Estes jovens, desconhecedores de qualquer outra realidade, para além da sua aldeia natal, iriam ser obrigados a combater no conflito tecnologicamente mais avançado da História, em condições de inferioridade. Nem as fardas para serem usadas por homens mais encorpados como os anglo saxónicos, assentavam bem nos pequenos soldados portugueses dos Montes, concretamente aos irmãos Brusco, tidos como os mais fortes. Os capotes arrastavam pela lama e pela neve quando usados pelos portugueses de estatura mediana, além de dificultarem o movimento dos membros,

afetavam a imagem do pessoal. As golas dos dólmanes complicavam o uso das máscaras de gás. O capacete de aço do CEP era de má qualidade e o dispositivo amortecedor do choque era inferior ao britânico. Apear de se conhecer bem a situação e das propostas de alteração que colheram pouco sucesso, a maior parte dos vícios mantiveram-se, graças à resistência da indústria e do Exército.
De Afonso Costa, colhiam fraca opinião, tanto mais que tinham ouvido contar ao padre dos Montes (que não pactuava com republicanos e como sendo uma certeza), que aquele os tinha vendido aos ingleses a um tanto por cabeça, como se se tratasse de carneiros. Daí a sigla CEP. Não tinham problemas em andar descalços, pois as solas dos pés eram duras, as botas incomodavam.
Eram dedicados a uma agricultura de subsistência, onde predominava a cultura da vinha, mais vezes como servos, com técnicas e instrumentos que se mantinham inalterados de geração para geração.
Alguns pais tinham gado ou pinhais que davam resina, e esses eram os mais afortunados.
Iam à missa de Domingo, mas, sempre que possível, quedavam-se à porta a fumar um cigarrito, ver passar as apressadas moças, vigiadas de perto pelas mães, que não abdicavam de lhes impor uma mantilha de renda escura.
Mas o que mais apreciavam eram os bailaricos ou as festas populares, como o S. Vicente, em janeiro ou a Stª. Marta no verão. Nestas festas não enjeitavam carregar o andor na procissão e depois ir acabar a tarde na tasca a beber uns copos de tinto, com e como os homens.
Os seus nomes encontram-se registados contra o esquecimento, numa lápide em mármore preto colocada numa parede exterior da capela. Muitos deles, têm ainda familiares nos Montes e encontram-se sepultados no Talhão dos Combatentes, no cemitério de Alpedriz.
Registe-se o nome desses heróis:
Ten.Cor. Brusco Júnior, 1º. Sarg. Manuel Bernardo, 1º. Cabo José de Sousa/João Machado/Francisco Fortes e Soldados Feliciano Brusco e irmão Joaquim Brusco/Francisco Loureiro/Joaquim Gaio/José Matos/ António Pereira/ e irmão José Pereira/António Ezequiel/e José Verdasca.
Heróis na verdade, pois confrontaram-se com a saudade, a dor, o medo, a alegria, a coragem, a revolta, o alívio, a ferida, o pânico, a camaradagem, o ódio, a aventura e até mesmo a loucura.
Os que regressaram a casa, raramente incólumes, eram homens orgulhosos e simultaneamente desgostosos por alguma indiferença que notaram, mas saudosos dos empolgantes momentos vividos em França, que todavia não pretendiam repetir. Era vulgar não falarem do tempo que passaram no front. Foram sem fatos, sem munições, sem calçado, sem armas adequadas, sem saberem porquê, mas
provaram ao mundo que não havia cobardes no Exército Português, muito menos entre o pessoal dos Montes.
A sedução, a necessidade sexual ou o amor experimentados com a população feminina criaram momentos, mais ou menos longos, mais ou menos sentidos, de evasão ao repressivo quotidiano de guerra.
Durante os momentos de descanso alguns rapazes dos Montes, ajudaram os franceses que se conservaram nas quintas (sobretudo viúvas, velhos e, claro, muito gostosamente as belas moçoilas) nas tarefas agrícolas, amanho das terras, limpeza de estábulos, guarda de gado, nas domésticas como compras, transporte de água ou reconstrução de casas afetadas pelos bombardeamentos.
João Machado, depois de desmobilizado, voltou à rotina agrícola, apesar de saber ler e escrever e, ao fim de algum tempo, casou-se. Quando teve a primeira neta, pediu à filha para lhe por o nome de Izata, supostamente o nome da namoradinha que deixou na estranja, ao que o genro se opôs terminantemente, com o argumento: Se você quisesse, deveria ter dado esse nome à sua filha.
Francisco Loureiro (Rodrigues), gaseado, ficou muito doente dos pulmões e nunca mais pode trabalhar. Não teve tempo de, juntamente com um camarada de Viseu, ir a Fátima, pois este tinha ouvido falar do aparecimento de uma Nossa Senhora e queria pagar uma promessa.
José Pereira, também conhecido por José Pereira Júnior para se distinguir do pai, foi gaseado na Flandres, pelo que quando regressou aos Montes, muito afetado dos pulmões, não tinha condições para trabalhar como servo. Passou a receber uma pensão de invalidez, tão insignificante que nem chegava para o tabaco de que não conseguia prescindir ou um copo de tinto na taberna. Não frequentou a escola, nem aprendeu a ler e escrever no Regimento de Artilharia de Leiria, com o qual foi mobilizado para França.
Apesar de a sua especialidade militar ser a artilharia, com o CEP foi encarregado de tratar das mulas que faziam o transporte de munições, combustíveis e víveres, em missões sujeitas a emboscadas, nas quais com frequência se perdia o material, confiscado pelo inimigo. Esta experiência permitiu-lhe que, quando regressado, passasse a ser ferrador e veterinário.
Esteve ao mesmo tempo e consigo em França, o António irmão mais velho, que não foi gaseado e tal como este, encontra-se sepultado no talhão dos combatentes do cemitério de Alpedriz, com uma fotografia na lápide de pedra, que a viúva, para evitar confusões, mandou colocar.
Feliciano Brusco, também teve e deixou em França uma namoradinha. Regressado à terra natal, casou-se com a Palmira L., que não sabia ler nem escrever e ficara à espera. Quando esta faleceu, uma das filhas foi procurar uma fotografia do pai

para a colocar na respetiva campa ao lado da mãe e escolheu a de garboso militar do CEP, com uma dedicatória, e que esta tinha há anos na mesa de cabeceira. Para grande surpresa, apurou que a dedicatória que nela existia era para a namoradinha francesa, o que a mãe nunca percebera.
Estes homens, tal como um capelão militar do CEP, podiam dizer que estavam cansados de terem ido a mais funerais que batizados ou casamentos.
Quando a Liga dos Combatentes passou a incluir outros ex-combatentes, que não da I Guerra, foi eleito Presidente da Direção do Núcleo de Alcobaça o ex-Cabo Mariano Ferreira dos Santos que tendo cumprido missão na Guiné em 1966/1968, foi condecorado com uma Cruz de Guerra, 4ª. classe, sucedendo-lhe o ex-Furriel Mil. António Carvalho Rainho que cumpriu missão em Angola em 1961/1964.
O Núcleo de Alcobaça, a partir de finais de 2000, sob a presidência de Joaquim Romão (cargo que desde então ocupa com proficiência e dedicação), alargou a ação ao Concelho da Nazaré e a parte de Porto de Mós, tem a cargo 10 talhões em cemitérios, promoveu a construção de 7 monumentos e memoriais, fornece apoio médico a ex-combatentes com problemas de saúde (mental), distribui produtos alimentares aos mais carenciados e, por vezes, alguns subsídios se o momento de caixa o permitir e a situação exigir.
Durante uma série de anos, o Talhão dos Combatentes, no cemitério de Alpedriz esteve bastante mal cuidado. Quando em determinada altura faleceu um ex-combatente e a família pretendeu sepultá-lo, vieram a faze-lo, por inadvertência, na cova de Feliciano Brusco e ao seu lado. Os covatos ocupados à medida dos falecimentos, estavam identificados apenas por um número, sem nome. A filha de Feliciano Brusco reclamou dessa intromissão, requerendo que o corpo estranho fosse removido.
Daí em diante, cada covato passou a conter uma lápide com o nome e por vezes a fotografia do ex-combatente.
-MILITARES DE COZ-
Os militares da Freguesia de Coz que estiveram na Flandres constam de uma lápide mandada colocar na frontaria da entrada principal do Mosteiro.
Registem-se os seus nomes: A.B. Ribeiro, Manuel R. Barros/que referiremos adiante, avô de Lurdes Fialho Matos, João F. Patrício, S.M. Santo, M.R. Santiago, J.G. Henriques, A. Pires, J.F. Barros., F.F. Ribeiro, A. Domingues, J. Freitas, J. Costa, A.M. Santo, J. Satiro, J.F. Patrício, M. Silva, A. Malhó, A.R. Santiago, A. Sousa, M. Caetano/o Pároco Capelão Militar, que já referimos e a quem se deve a colocação da lápide, M.P. Almeida, A.C. Serpor, B.R. Oliveira, S.S. Branca, J. Neto,

J. Ribeiro, A.R. Marques, F. Pedro, J.S. Silva, E. Verdasca, A.H. Susano, A. Oliveira, C. Tavares, J. Pimenta e J. Duarte.
Faleceram em combate na Flandres, M. Malhó/2 de julho de 1917 e J. Xavier/6 de agosto de 1918, que não chegaram a ser transladados para Portugal.
M.R. Barros, de seu nome completo Manuel Ribeiro de Barros, natural de Coz, conhecido entre os vizinhos por Ti Manel Barros e proveniente de uma família de humildes agricultores, desde cedo se revelou pessoa interessada pelo mundo, pois lia o jornal na casa do Senhor Afonso.
Chamado a cumprir serviço militar, foi mobilizado como soldado do CEP e pelos bons serviços e valentia no teatro de operações, foi promovido a 2º. Sargento. Regressado são e salvo a Coz, casou e continuou a desenvolver atividade na agricultura, ao mesmo tempo que se interessava pela vida pública, e mantinha especiais relações com o Pe. Manuel Caetano, que sedimentou na Flandres.
Com dedicação e zelo, foi durante dezoito anos Presidente da Junta de Freguesia de Coz (sem retirar proventos materiais), e embora tenha colaborado com o Estado Novo, não pertenceu à União Nacional ou à Legião Portuguesa. Ao mesmo tempo promoveu eventos sociais, como representações teatrais e récitas musicais de sucesso na terra e redondezas algumas em colaboração com o prof. Teodoro.
Obras como o relógio da torre da igreja, a pavimentação da rua principal, a luz elétrica ou a escola primária (ainda que por vezes sem professor), foram efetuadas com o dinheiro resultante dos teatros e récitas que organizava.
Em casa, recebia os Bispos que se deslocavam à freguesia para ministrar o Crisma, servindo-lhes refeições e alojamento, tal como as professoras que vinham lecionar, algumas das quais enquanto permaneceram em Coz, nunca viveram noutro local.
O povo de Coz, não o esqueceu, dando o seu nome à rua que desemboca na antiga residência, ao lado da sede da Junta de Freguesia .
O sold. M. Silva, terminada a Guerra ficou a deambular alguns anos em França, trabalhando na construção civil e constituindo muito provavelmente família, até que antes da II Guerra, veio a Portugal visitar a família portuguesa e se radicar. Nessa altura, a polícia política deslocou-se a Coz, deteve-o em Leiria para ser interrogado, por suspeitas quanto ao seu passado em França, supostamente junto de meios anarquistas!
Realizados inquéritos, confirmou-se uma vida sem rumo, um simplório analfabeto que em França nunca se preocupou com a política, muito menos se envolveu em atividades contra o regime português.


-MILITARES DA MAIORGA-
A lápide com os nomes dos militares da Maiorga que combateram na Guerra, foi mandada fazer e colocar no Largo dos Combatentes, em 11 de dezembro de 2005, por iniciativa de Joaquim Romão do Núcleo de Alcobaça.
Vieram a esta cerimónia, o Gen. Altino de Magalhães, o Ten. Gen. Joaquim Chito Rodrigues e esteve presente a Banda de Música da Maiorga. Combateram na Guerra, os maiorguenses, cujos nomes constam da referida lápide: Soldados António Pereira Guerra/António da Costa/ António Carlos Araújo/António Dias/António Ganilho/António Matias de Sousa/Artur Lopes/Armindo Ribeiro/Bruno Valentim/Calisto Calado/César B. Coelho/Cândido Elias/Firmo Calado/Francisco Dias/ Francisco Elias/Francisco Oliveira/Henrique Calado/Júlio Henriques Reis Godinho/Joaquim Cruz/Joaquim Félix/Joaquim Ramos Guerra Júnior/João dos Santos/João de Sousa Nazário/José Caetano/José de Sousa Matias/José de Sousa/José dos Santos/José da Silva Gomes e Vitorino Coelho Serrano, 1º. Cabo Alfredo Aniceto e Segundos Sargentos António Fadigas da Silva/António Carvalho e Joaquim Carvalho.

Desde 1968, no dia 10 de Junho, no Largo dos Combatentes, tem sido feita uma homenagem aos antigos combatentes, seguida de uma romagem ao cemitério.

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