quinta-feira, 16 de março de 2017

A I GUERRA E ALCOBAÇA O APOIO RELIGIOSO CAPELÃES MILITARES ALCOBACENSES CORRESPONDENTES DE GUERRA ARTUR BARROS BASTO





-O APOIO RELIGIOSO-
Logo que Portugal entrou na I Guerra, a imprensa católica iniciou uma campanha no sentido de incorporar no CEP, um Corpo de Capelães Voluntários, que acompanhasse os soldados e lhes prestasse apoio religioso.
Os governos da República entendiam (programática e ideologicamente) que a religião dizia respeito ao foro íntimo de cada um, devendo estar afastada de instituições (a prática religiosa era, aliás, contrária à cultura, educação e interesses militares pois enfraquecia o espírito e o comportamento), tal como a Escola e o Exército.
Porém, numa conjuntura como esta, era difícil ao Governo incorrer no desagrado da população em matéria tão sensível, pelo que os católicos conseguiram ter na frente de batalha (como voluntários), os seus Capelães, embora inicialmente com enorme desconfiança do governo. No enorme caldeirão da guerra, debateram-se livres-pensadores, que viviam a descrença com um fervor nada inferior a militantes crentes, capelães católicos e protestantes, o que permitiu que militares portugueses e ingleses rezassem em conjunto ou que capelães portugueses oficiassem campalmente ou no interior de templos junto de civis franceses, ao lado do clero Fleming de Oliveira
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local. Numa realidade tão confrangedora e complexa, o contingente militar seria manifestamente parco a solucionar e estabilidade psicológica do combatente, pelo que o transcendente (inato) conferia apoio e proteção no quotidiano do expedicionário português.
Só após a partida do primeiro contingente do CEP, o Corpo de Capelães foi organizado, sendo estes graduados em Alferes, sem direito a soldo, situação que se manteve até que Sidónio Pais determinou que fossem abonados com o soldo correspondente ao posto. Para suprir a situação, foi constituída uma Comissão de Assistência Religiosa/CCAR, presidida pelo Cardeal Patriarca, D. António Mendes Belo, a fim de angariar fundos para subsidiar os capelães e custear as despesas de culto e assistência.
A CCAR pediu a intervenção do Papa Bento XV para os Capelães Militares, que a concedeu em conjunto com outras faculdades, para exercerem o seu múnus, enquanto durasse a guerra, nomeadamente no respeitante às confissões, à celebração da missa, às bênçãos, à récita do ofício e apoio psicológico. A missa celebrava-se se necessário em pequenas capelas arruinadas e dispersas na linha da frente. As orações podiam ter lugar na cama de um hospital ou na trincheira. Também se usava o rito votivo de acender velas (nada fáceis de encontrar) em honra de Nossa Senhora das Trincheiras.
A CCAR ainda solicitou ao Papa, no seguimento dos combates de abril de 1918 (muitos portugueses foram feitos prisioneiros e levados para a Alemanha), que interviesse a favor da sua sorte. Se é certo existiram campos de prisioneiros para oficiais e outros para praças, campos disciplinares para oficiais e outros para praças, muito da vida dos prisioneiros de guerra portugueses, não decorria nesses campos, outrossim em trabalhos pesados como mão de obra barata, operários fabris, mineiros, ou em trabalhos agrícolas, se bem que os oficiais não eram obrigados a prestar trabalho. Os soldados na I Guerra estavam (em teoria), protegidos pela Convenção de Haia de 1907, que continha as primeiras regras internacionais de tratamento de prisioneiros de guerra. A 12 de abril de 1918, encontravam-se em Lille, cerca de 3.000 prisioneiros portugueses, dos quais 230 eram oficiais, a aguardar o envio para campos na Alemanha e, aquando do armistício, cerca de 6.500. Os prisioneiros de guerra portugueses admitiram, quando libertados, que, no momento da captura pensaram que iriam morrer.
Este receio decorria, em parte, das informações sobre a prática de atrocidades cometidas pelos alemães sobre soldados e civis, criando-se a consciência que a sobrevivência dependia da boa vontade daqueles. A sobrevivência dos prisioneiros internados em campos, deveu-se em muito à ação da Cruz Vermelha Internacional, que lhes fazia chegar encomendas, com comida, tabaco e agasalhos. Em Portugal, o envio dessas encomendas, dependeu de iniciativas desenvolvidas pela Associação Cruzada das Mulheres Portuguesas, Cruz Vermelha Portuguesa, Triângulo Vermelho

Português ou O Século. O Governo Português criou o Comité de Socorro aos Militares e Civis Portugueses Prisioneiros de Guerra, como forma de organizar as iniciativas, e coordenar ações humanitárias com as estruturas dos Aliados.
Em Alcobaça, a Subcomissão da Cruzada das Mulheres Portuguesas, sob a orientação genérica de senhoras conotadas com o Centro Republicano, vinha distribuindo pequenos fundos pelas famílias mais necessitadas de mobilizados do concelho, com pensões que variavam de 1$000 a 5$000 mensais, bem como fornecia materiais doados para confeção de roupa quente.
De um modo geral, o público que não tinha familiares na Guerra, graças à forte censura, ignorava a penosa vivência por que passavam os prisioneiros portugueses, sujeitos a maus tratos físicos e psicológicos. Se a grande maioria, passou por um período médio de nove meses de cativeiro, muitos estiveram mais de um ano detidos até voltarem a Portugal. Os prisioneiros eram forçados a depender da comida fornecida pelos guardas, o que acarretava um estado permanente de carência alimentar. A fome causava nos prisioneiros depressão física e psicológica, que por vezes levava a que se confrontassem entre si, além de acarretarem doenças intestinais e de estômago. Em 1918, a Alemanha alimentava com dificuldade a sua tropa e população civil, o que deixava muito pouco para os prisioneiros. A capacidade de resistência da população civil, começava a sofrer grande desgaste, com efeitos na coesão interna, apesar dos apelos nacionalistas do Kaiser e de militaristas oficiais superiores. Houve Capelães Militares portugueses feitos prisioneiros, o que viabilizou alguma assistência religiosa aos militares.
Para o ofício da missa faltava, porém, o vinho branco, terá comentado o Pe. Manuel Caetano quando regressado a Portugal, embora não tivesse passado por essa situação de prisioneiro.
Se é possível afirmar que os Capelães Militares não estiveram de facto tanto tempo nas trincheiras como os demais soldados portugueses, viveram, todavia, as mesmas condições, não só nos longos períodos de espera, como situações de combate.
Aquando da Batalha de La Lys pelo menos 6, encontravam-se na primeira linha de trincheiras, o que justificou que viessem a ser louvados e condecorados, pelo espírito de desinteresse, abnegação e sacrifício com que se tem dedicado ao desempenho da sua missão.
-OS VALOROSOS CAPELÃES MILITARES (ALCOBACENSES)-
Manuel Rodrigues Silvestre, filho de José Rodrigues Silvestre e de Marcelina da Piedade, nasceu a 17 de janeiro de 1869, tendo no dia 6 do mês seguinte sido batizado na igreja de S. Simão da Brogueira/Torres Novas (embora em certos registos militares apareça, identificado como Manuel Roiz da Silveira).

A partir de outubro de 1882, iniciou estudos preparatórios e prosseguiu depois com o curso teológico, no Seminário de Santarém. Neste contexto, recebeu a tonsura e as ordens menores a 21 de dezembro de 1889, o subdiaconado a 21 de fevereiro de 1891 e o diaconado a 14 de março do mesmo ano. A sua ordenação para presbítero ocorreu a 19 de setembro de 1891.
É recordado na Cela por, ainda novo, ter começado a sentir o peso da vida, reconhecendo que necessitava de lutar sem o auxílio estranho, sem cruzar os braços, sem se entregar ao desânimo. Foi corajoso, trabalhou e… venceu. O Pe. Manuel Rodrigues Silvestre desempenhou o cargo de pároco, nomeadamente em Serra do Bouro e Tornada, Eira, Bucelas e Cela, aqui falecendo a 15 de junho de 1936.
Adepto da República ofereceu-se em 2 de fevereiro de 1917 para acompanhar o CEP, conjuntamente com outros capelães militares, e criticou (severamente) o comando português, pelo facto de os cadáveres de militares nacionais estarem a ser cobertos com a bandeira inglesa, o que contribuiu para ser alterado esse procedimento que causava mal-estar, bem como o que reputava de alguma indiferença ou incompreensão pelo seu trabalho e sacrifício no front. Também interveio de forma meritória num processo disciplinar instaurado contra três soldados acusados de desrespeito a um major.
Valente, esforçado e abnegado, sofreu ao lado dos militares, e como eles, o esforço da guerra, tendo sido ferido no abdómen e braço na explosão de um engenho. Embora não gaseado, foi abatido em 14 de janeiro de 1918, ao Corpo de Capelães Militares, o que muito o entristeceu. Regressado a Portugal, continuou a sua missão sacerdotal na Cela, sem que o governo da República, haja feito por ele mais que prestar alguma assistência hospitalar, em Lisboa.
Faleceu a 15 de junho de 1936, encontrando-se sepultado em campa rasa, no cemitério da Cela, ao lado dos pais de Francisco Leonardo Eusébio que, por sua vez, informou que foi por ele batizado em 1935.
Ao que consta, o Pe. Manuel Silvestre, nunca se deu bem com o conservador (e regressado a Alcobaça) Pároco de Alcobaça/Ribeiro d’Abranches, os Párocos da Benedita/Manuel dos Santos Canastreiro, de Aljubarrota/José António de Campos Júnior e de Caldas da Rainha/José Augusto Rosário Dias, que recriminava por não se terem oferecido como capelães militares.
Manuel dos Santos Canastreiro, nasceu a 14 de abril de 1882. Com treze anos, ingressou no pequeno Seminário do Patriarcado de Lisboa e, mais tarde, cursou teologia no Pontifício Seminário Romano e Colégio Português em Roma. Na Pontifícia Universidade Romana obteve a licenciatura em filosofia, teologia e direito canónico. Foi ordenado em Lisboa, no dia 17 de dezembro de 1910 pelo Bispo D. António Mendes Belo, ficando incardinado nesta diocese. O Pe. Canastreiro, que não gozava de muita saúde, foi pároco encomendado na Benedita a partir de 1916

até 1930. Paroquiou em Benedita e Maiorga. Esteve ainda à frente da paróquia da Pederneira, tornou-se vigário da Vara de Alcobaça e ocupou o cargo de Reitor do Santuário de Nª. Sª. da Nazaré. Era um intelectual e gostava de se assumir como tal. Faleceu subitamente no dia 5 de agosto de 1944 em Lisboa, sendo pároco do Campo Grande.
José António de Campos Júnior, natural da freguesia de Alcobaça, era filho do ferreiro José António de Campos, e da doméstica Gertrudes. Frequentou o seminário de Santarém e após a sua ordenação paroquiou em S. Vicente de Aljubarrota, entre 1908/1920. José António de Campos Júnior acumulou Pároco de Nª. Sª. dos Prazeres, em Aljubarrota entre 1919/1920.
Gostava de ir à caça, mas afirmava-se contra a guerra, inclusivamente com a participação portuguesa e Afonso Costa, que classificava como vendedor de carneiros, mesmo a partir do púlpito.
Por sua vez, José Augusto Rosário Dias, nasceu a 11 de novembro de 1882. Com 14 anos, ingressou no seminário de Coimbra para efetuar os cursos preparatórios e de teologia. Com vinte e dois anos, foi ordenado presbítero e no mês seguinte admitido no Patriarcado de Lisboa. Nesta diocese, foi capelão no Hospital de Caldas da Rainha, coadjutor e pároco encomendado na paróquia das Caldas da Rainha, chegando a ser vigário da Vara. Dizia que a sua grande vocação era o ensino e que gostaria de ser professor se não fosse sacerdote. Também se assumia como contrário à intervenção de Portugal na Guerra, o que lhe acarretou alguns problemas com as autoridades civis. Faleceu a 29 de novembro de 1939.
O Pe. Manuel Silvestre foi Presidente da Junta de Freguesia da Cela, tendo nessa qualidade mandado restaurar a igreja e altear a torre sineira, aonde existe uma placa alusiva.
Pela afabilidade, deixou muitas e interessantes lembranças, nomeadamente quanto à forma de se deslocar. Numa altura em que já era relativamente vulgar as pessoas, com certo estatuto, deslocarem-se de carro ou mesmo de bicicleta, o Pe. Silvestre persistia em faze-lo de mula. Era proprietário da Quinta da Laranjeira (com uma casa de bons estuques de gesso no teto), que explorava com a colaboração da governanta Joaquina Santa, vulgarmente conhecida por Joaquina Cebola, de quem teve dois filhos, que nasceram fora da terra por uma questão de pudor. Esta, por vezes, não tinha dinheiro para pagar ao pessoal assalariado da quinta ou para fazer compras na mercearia pois o Padre, segundo lhe dizia, tinha gasto o dinheiro com pessoas carenciadas, pelo que lhe sugeria que pedisse fiado na venda, o que nunca foi recusado.
A sua bolsa, que não seria provavelmente muito grande, apesar de se reclamar de ter o espaço do razoável, era um campo aberto a cobiças e não havia na Cela ou Bárrio, caloteiro de boa fama ou parodista na penúria, que não fosse à sua procura

em busca de o enganar ou comover. Ele olhava a pessoa que se lhe dirigia e só sabia perguntar, puxando de um rolinho de bolso onde trazia dinheiro: Quanto é ?
De Alcobaça, ofereceu-se em 25 de fevereiro de 1917 como Capelão Militar o destemido e republicano Pe. Manuel Caetano, Pároco de Coz, a quem o Ministro da Guerra deferiu pessoalmente requerimento para ir prestar, como padre católico, os socorros espirituais aos nossos soldados que em França vão combater contra os nossos inimigos.
Foi este sacerdote, quem tomou a iniciativa de tornar público via jornais, os nomes dos eclesiásticos do Concelho de Alcobaça, que se ofereceram para acompanhar os soldados portugueses que à admirável França vão defender a liberdade e a civilização contra o despotismo boche.
À data da Batalha de La Lys, assegurava assistência religiosa à 6ª Brig. Inf.6 onde tinha o posto de Capitão Militar na 2ª. Divisão, que era constituída pelo Batalhão Inf.1 (Lisboa), Batalhão Inf.2 (Lisboa), Batalhão Inf.5 (Lisboa) e Batalhão Inf.11 (Évora), sem prejuízo de fazer serviço de socorrista debaixo de fogo.
Na sequência da Batalha de La Lys e no cumprimento de uma arriscada missão de que fora encarregado, encontrou um oficial português gravemente ferido no rosto, inanimado, sem dar acordo. Conseguindo estancar-lhe o sangue, foi cumprir a missão cometida, pelo que depois, voltando ao local onde deixara o ferido, que continuava inanimado, carregou-o às costas até ao Posto de Socorros, aliás bastante distante, enquanto ia dentro do possível ajudando outros camaradas em dificuldades. O dito oficial veio a recuperar, embora tivesse ficado para o resto da vida com uma profunda e feia cicatriz que lhe marcava o rosto todo. Quando procurou saber a quem devia a vida, apenas apurou que se tratava de um capelão militar, e só muito mais tarde o respetivo nome. O oficial em questão, era o Alf. Jaime Trancoso Leote do Rego, filho do Comandante da Marinha de Guerra, Daniel Leote do Rego. Quando a guerra acabou o Pe. Caetano foi colocado em Alcanena, onde a perseguição e o ódio à igreja chegaram ao ponto de queimar a igreja paroquial e o prender. Quando notícia chegou à Escola Prática de Torres Novas, onde o agora Ten. Leote do Rego fora colocado, este deslocou-se imediatamente a Alcanena, com um esquadrão de cavalaria, abraçou-o e soltou-o, perante o espanto popular.
A partir deste incidente, o Pe. Caetano passou a ser visto de maneira bem diferente, nomeadamente por parte dos que o haviam perseguido rudemente e encarcerado.
O Pe. Caetano foi louvado em Ordem de Serviço do CEP, de 5 de junho de 1918, condecorado com a Cruz de Guerra de 2ª. Classe e feito Cavaleiro do Ordem de Cristo com Palma. Foi este sacerdote quem promoveu a colocação de uma lápide na fachada do Mosteiro de Coz, contendo o nome dos militares da freguesia que

combateram na Guerra, distinguindo entre eles os que sobreviveram e os que faleceram.
O Pe. Manuel Caetano, filho de João Caetano e de Maria de Jesus Noiva, nasceu a 2 de outubro de 1885, tendo sido batizado no dia 15 desse mês. Recebeu a primeira tonsura e as ordens menores a 16 de março de 1907, a 6 de novembro de 1909 efetuou a habilitação de genere e no dia imediato tomou a ordem de sub diácono. A 12 de março de 1910, ascendeu ao diaconado e a 25 de junho de 1911, pelas mãos do Bispo (futuro Cardeal Patriarca) D. António Mendes Belo, foi ordenado presbítero, ficando ao serviço da diocese de Lisboa. Exerceu o cargo de pároco em diversas freguesias, como Santa Eufémia de Coz, Lapas, Alcanena, Cem Soldos/Tomar, Santa Madalena de Tomar, Atalaia, Barquinha, Tancos, Praia do Ribatejo e Azeitão. Veio a falecer a 8 de março de 1958, em Mira de Aire, terra de onde era natural.
O Pe. Caetano esteve em França ao mesmo tempo que o seu conterrâneo sold. Francisco Amadeu Soares, que foi ferido em combate. De volta à vida civil, Soares veio a fixar-se em Lisboa, e numa vida errática acabou a viver numa barraca nos arredores da cidade. Durante a década de 1950, sofreu um AVC e tendo sido hospitalizado, foi aproveitada a ausência para a mesma ser ocupada e mais tarde demolida. Sem pouso para viver, acabou por ser recolhido no Asilo de Mendicidade de Lisboa/Lar Residencial de Alcobaça, tendo aí sido visitado pelo Pe. Caetano.
Em dezembro de 1911, diziam os republicanos através do Semana Alcobacense que em Coz o povo da freguesia estava a sofrer um castigo aplicado pelos Patriarca de Lisboa e Vigário da Vara, porque tendo sido mandado retirar o pároco, que recolhia muita simpatia popular, a população não quis aceitar o outro que para ali foi mandado. Também diziam, que depois desta reação, não virá tão cedo outro padre para Coz, pelo que continuava a não haver missa no Mosteiro, para castigo do povo. Todavia, comentavam, embora sem graça e com acinte, que o Patriarca e o Vigário da Vara são excelentes cristãos ao darem ao povo castigos tão bons, pois que ao não haver missa, as pessoas almoçam melhor e com mais descanso, pelo que faziam votos porque sejam estes afinal os maiores males que venham à freguesia e aos seus habitantes.
Também se ofereceu em 11 de fevereiro de 1917, para acompanhar o CEP com a 4ª. Brigada de Infantaria coim quem seguiu em 27 de abril de 1917, o Pe. Martim/Martinho Pinto da Rocha, Pároco de Alpedriz (nascido a 2 de maio de 1877 em Proença a Velha), repatriado em agosto seguinte, por motivos de saúde, dado ter sido gaseado (foi julgado incapaz em 17 de setembro de 1917), o que o não impediu de viver alguns anos, embora com sérias dificuldades pulmonares e sem apoio do Estado.

O Capelão Martim/Martinho Pinto da Rocha, ao ser repatriado em 1 de agosto de 1917 foi substituído pelo Capelão António Tavares de Pina, o qual, como voluntário em 29 de Jan. de 1917, seguiu em junho para França. Em telegrama do Comandante do CEP, endereçado ao chefe da assistência religiosa Pe. José do Patrocínio Dias, Cónego da Sé da Guarda, que à data da Batalha de La Lys, assegurava assistência religiosa no Hospital de Sangue n.º 2, datado de 22 de novembro de 1918, indicava que os Pes. Ângelo Pereira Ramalheira (à data da Batalha de La Lys assegurava a assistência religiosa à 5ª. Brigada de Infantaria), e António Tavares de Pina ficavam adidos à tripulação de navios que evacuavam doentes.
Se a participação dos Capelães Militares foi notável em geral, honrando o Igreja e o Exército, casos houve (embora em número reduzido), que não mereceram este qualificativo.
Em outubro de 1917, o Capelão Militar Pe. Alexandre Pereira de Carvalho, foi expulso do CEP, na sequência de troca de correspondência (alegadamente), menos respeitosa pela hierarquia militar.
Realmente, mesmo então, incomodava ver penalizado, um ministro da religião católica, homem a quem competiria seguir uma vida de virtudes, de mansidão e de paz, de obediência e tolerância. Só nessa condição pode o sacerdote atrair e conservar o respeito devido à sua elevada missão e obstar a escândalos, por mais breves que sejam, desvirtuar a sua classe.
Os capelães militares foram importantes para atenuar, dentro de certos limites, o frágil equilíbrio entre a vivência da vida e da morte em teatro de guerra, esse palco privilegiado de luta pela sobrevivência, onde a morte do inimigo assegura a vida do combatente, embora a vida deste possa mesmo assim acabar a todo o tempo. Em termos de hierarquia, oficiais e soldados distinguiam-se ao viver o combate, a doença ou o ferimento. O oficial (em princípio) estava menos exposto ao perigo, tinha possibilidade de usufruir de melhores tratamentos médicos, enfim, sentir menos a ameaça ou a falta de saúde. Mas todos sentiam a ameaça da morte, a exaltação ou o desânimo. Neste caso, a assistência religiosa era bem-vinda, recebida com alívio, como um lenitivo ou refúgio acolhedor, e os capelães como protetores. Tendo como grande objetivo o conforto e o apoio, lutaram contra autoridades militares mais interessadas em colocar homens na frente e menos na sua capacidade combativa ou moral, o que criou por vezes conflitos de interesses ou deveres.
Sempre presente no front, a morte não significava um simples instrumento do sucesso militar e o ato de matar, tal como o de morrer, obedeciam a interesses diversos difíceis de gerir, que iam muito além dos previstos pelas autoridades civis e militares.

-ARTUR BARROS BASTO-
Artur Carlos de Barros Basto, nasceu em Amarante a 18 de dezembro de 1887. Devido à separação dos pais, foi educado no catolicismo pela mãe.
O contato com o avô paterno cedo o terá influenciado, já que lhe deu a conhecer a ascendência judaica, e o iniciou na respetiva doutrina.
Em 1906, cumpriu o serviço militar em Lisboa e começou a frequentar a sinagoga. Participou em movimentos políticos de cariz republicano e, muito especialmente, no 5 de Outubro. Com a implantação da República, foi Barros Basto quem hasteou no Porto a bandeira republicana.
Em fevereiro de 1917, sendo tenente, partiu para Flandres onde comandou um Batalhão, subindo rapidamente na carreira ao mesmo tempo que recebeu condecorações por bravura e honra, uma Medalha da Vitória, uma Cruz de Guerra e uma Torre e Espada. Foi oficial da Ordem Militar de Avis e da Ordem de Cristo. Promovido a capitão em teatro de operações, Barros Basto, conheceu na Flandres o Capelão Militar Alf. Martim Pinto da Rocha com quem privou e, apesar das diferenças de natureza religiosa, nem por isso deixou de estabelecer com ele muito boas relações, que se mantiveram depois da guerra, através de troca de correspondência e com encontros, em Alpedriz ou no Porto.
Com o Estado Novo, Barros Basto passou a ser conotado com a oposição, e não tardou a ser perseguido pelas estruturas militares do Exército, sendo colocado em locais cada vez mais longe do Porto, numa tentativa de o afastar da Sinagoga e das relações profissionais.
Em 1937, Barros Basto foi julgado pelo Conselho Superior de Disciplina do Exército e afastado por alegadamente participar nas cerimónias de circuncisão dos alunos do Instituto Teológico Israelita do Porto, o que o foi considerado imoral.
Em 1938, Barros Basto assistiu à inauguração no Porto do seu grande projeto de vida, a Sinagoga Kadoorie (construção iniciada em 1929, mal conseguidos fundos para aquisição do terreno e edifício), que ainda hoje mantém as funções religiosas, embora para uma comunidade bastante pequena.
Afastado do Exército, ajudou judeus a escapar ao Holocausto, permitindo-lhes recomeçar a vida noutros países, como a América.
Faleceu em 1961, encontrando-se enterrado no cemitério de Amarante, envergando a farda com a qual sempre serviu a Pátria. No seu leito de morte, terá exclamado que um dia me será feita justiça.
Esta só haveria de chegar em 29/02/2012, quando foi reabilitado no seguimento de uma petição apresentada à Assembleia da República, pela neta Isabel Ferreira Lopes. A petição, aprovada por unanimidade, veio concluir que Barros Basto foi separado do Exército devido a um clima genérico de animosidade contra si motivado pelo facto de ser judeu.

A Resolução da Assembleia da República, recomendou ao governo que procedesse a uma reintegração de Barros Basto no Exército, a título póstumo, em categoria nunca inferior àquela a que o militar em causa teria direito se sobre o mesmo não tivesse sido instaurado o processo que levou ao seu afastamento.
-O Pe. JOSÉ FERREIRA DE LACERDA.
CORRESPONDENTES DE GUERRA-
O Pe. José Ferreira de Lacerda, nasceu em Monte Real/Leiria, a 23 de abril de 1881 e faleceu em Leiria, no 20 dia de setembro de 1971.
Capelão Militar, entre 2 de maio de 1917 e 21 de setembro seguinte, com o posto de Alf. Capelão, aproveitou para deixar um conjunto de crónicas em estilo de correspondente de guerra e um diário, onde descreveu a sua vivência de padre, dando apoio moral aos homens e fazendo o culto aos mortos. Contou a vida dos portugueses nas trincheiras, sob lama e um inverno rigoroso, o horror dos bombardeamentos, a fome e o armamento nem sempre apropriado, o desastre de La Lys, onde se encontrava com o RI7, de Leiria, dando apoio à 4ª Brigada de Infantaria.
Em 1914, o Pe. Lacerda empenhado na restauração da Diocese de Leiria (extinta em 1881), entendia que uma das armas mais eficazes para isso, seria dispor de um jornal, pelo que fundou O Mensageiro, que no primeiro número de 7 de outubro de 1914, ostentava a toda a largura da 1ª. página: Católicos da antiga diocese de Leiria: O Mensageiro ao iniciar a sua publicação, ao mesmo tempo que vos saúda, solta o brado que lhe sai do fundo da alma: Viva a Diocese de Leiria!
Lutador e polémico, era um excelente comunicador. Os apontamentos deixados no seu diário e as crónicas de guerra que, apesar da censura, enviava semanalmente para O Mensageiro, são um interessante retrato de uma Guerra, que muito afetou Portugal.
A restauração da Diocese de Leiria aconteceu em 1918 e O Mensageiro, no contexto de perseguição à Igreja nos primeiros anos da República, assumiu de maneira muito combativa, a defesa dos interesses dos católicos.
A Guerra deu a conhecer alguns jornalistas portugueses.
Os preparativos da guerra e a vida em algumas capitais europeias, foram acompanhados por correspondentes portugueses que nelas trabalhavam e aproveitaram para ir enviando para os jornais de maior circulação (Capital, Diário de Notícias, O Primeiro de Janeiro, O Século) apontamentos que chamavam cartas.
A esses correspondentes que não eram jornalistas, muito menos profissionais, faltava preparação para descrever os momentosos factos a que assistiam, mas

revelaram a sua utilidade ao informar o País, apesar de saberem que não podiam ultrapassar as (apertadas) malhas da censura de guerra.


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