quinta-feira, 16 de março de 2017

A I GUERRA E ALCOBAÇA




OS TRABALHADORES TÊM PÁTRIA-

O socialismo é, e será, internacional.
O seu nome, como movimento organizado, Associação dos Trabalhadores da II Internacional, irá demonstrá-lo, tal como o hino, A Internacional.
O Congresso que, em 1899, criou a II Internacional, teve simultaneamente como presidentes, um francês e um alemão. Esta organização que representava partidos socialistas de 33 países, alguns dos quais ainda na fase de formação como o português, teve como matriz a solidariedade da classe operária que transcendia fronteiras por via de uma divisão horizontal da sociedade, o feriado no dia 1 de maio que impunha manifestações de fraternidade operária, o slogan Trabalhadores de Todo o Mundo Uni-vos, uma bandeira de vermelho carregado, simbolizando o sangue do Homem, o dia de trabalho de 12 horas e a semana de 7 dias

O descanso semanal e o horário de 9 ou 10 horas de trabalho diário foi privilégio de trabalhadores especializados, obtido pela luta das suas uniões de classe e ofícios.
Os operários fabris, os camponeses ou outros elementos do operariado, onde quer que existisse interesse do socialismo, poderiam sentir-se ou não como pertencentes a um organismo internacional de classe, mas os seus líderes entendiam que sim e contavam com isso. O socialismo defendia a luta de classes com o seu natural desfecho, a destruição do capitalismo. Era igualmente seu inimigo a burguesia, a classe dominante. A palavra Socialismo, inspirava tremendos receios, como outrora Jacobinismo.
No Congresso Socialista de 1904 (Amesterdão), em plena guerra russo-japonesa, os congressistas russos e japoneses, sentaram-se lado a lado, apertaram as mãos, no meio de um estrondoso aplauso dos demais. Ambos, nas respetivas intervenções, rodeadas de pesado e comovido silêncio, seguido de fortes aplausos, defenderam que a guerra fora imposta pelo capitalismo, não correspondia aos anseios das populações, muito menos dos trabalhadores.
Com o troar os canhões pela Europa constatou-se, afinal, que capitalismo e socialismo, não eram passíveis de uma escolha linear e que a sociedade haveria de continuar com ambos.
O nacionalismo, a beligerância e o revanchismo iam crescendo. A classe não era o primeiro atributo da lealdade do trabalhador, e o seu interesse, como em qualquer cidadão com responsabilidade política, coincidia em primeiro lugar com o do país.
Afinal, o trabalhador tem pátria, ao invés do princípio do Manifesto Comunista. O dilema a resolver, passou a consistir em defender ou criar uma política que evitasse a guerra.
Jean Jaurès pensou (na sua utopia), na criação de um Exército de Cidadãos, com reservistas de toda a nação colocados na fronteira, contra a ameaça da invasão alemã, sem ser incompatível com a defesa do país e do socialismo. Morreu sem o ter visto, muito menos alguma vez teve oportunidade de criação.
A 28 de junho, o Arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro e a esposa Sofia, foram assassinados pelo extremista sérvio Gavrilo Princip, durante uma visita a Sarajevo. Cerca de 3 semanas depois (23 de julho), o Império Austro-Húngaro enviou um ultimato à Sérvia, a 26 rompeu as relações diplomáticas com esta e a 28 declarou-lhe guerra. Na tarde de 1 de agosto de 1914, a Alemanha e a França mobilizaram as suas tropas. Antes de cair a noite, grupos de reservistas, carregando ramos de flores, rumavam aos aquartelamentos e caminho-de-ferro, aplaudidos pela população, onde não faltavam mães, esposas ou namoradas, que empunhava lenços, flores e dava beijos. Os sentimentos de fúria e entusiasmo eram idênticos em ambos os lados da fronteira.
Nenhuma alternativa, que não a vitória, era possível ou pensável, perante tamanha disposição para vencer. Havia orgulho de viver estes tempos e pertencer à Nação.

Para franceses ou os alemães, enviar os rapazes, os seus entes mais queridos para esta gloriosa guerra onde poderiam morrer, parecia o supremo privilégio. Sabia-se que muitos não voltariam, mas esse era o preço justo, a pagar por uma vitória militar. Era um momento único na vida de nação, tão maravilhoso e emocionante, que ofereceria compensação para os muitos sofrimentos e sacrifícios que se adivinhavam, embora tivessem ultrapassado em muito o que era admitido à partida.
Na Alemanha, o Kaiser declarou que a partir de então não conhecia partidos, tão só alemães. Em França, o Presidente da Câmara de Deputados, ao fazer o elogio fúnebre de Jean Jaurès (assassinado em Paris a 31 de julho pelo nacionalista fanático Raoul Villain), declarou que não existiam mais adversários, apenas franceses.
Nenhum socialista europeu, suscitou dúvidas ou reservas de princípio quanto ao conteúdo e sentido de tais afirmações de lealdade e solidariedade. Mas o Secretário-Geral da CGT Leon Jouhaux, assegurou em nome das organizações sindicalistas, dos trabalhadores que se integraram nos seus regimentos e dos que, como ele próprio, iriam para o campo de batalha, que estavam dispostos a repelir o agressor, ainda que com risco de vida.
Não há registo de greve, protesto ou hesitação em empunhar uma arma, contra trabalhadores socialistas de outros países. Na hora de responder ao apelo, o trabalhador que Marx dizia não ter pátria, afinal estava total e inequivocamente com o seu país, não com a sua classe, voltava a ser membro orgulhoso da respetiva família nacional.
A classe dos trabalhadores foi para a Guerra combater com ansiedade, vontade, tal como todas as demais da sociedade.
A BELLE EPOQUE-
Acabava a Belle Epoque período marcado por transformações culturais, que se tinha traduzido em novos modos de pensar e viver o quotidiano, especialmente lá fora.

Foi considerada por alguns, uma era de ouro da beleza, charme, inovação e paz na Europa, com invenções ou desenvolvimentos que tornaram a vida mais fácil para as massas. Foram o telefone, o telégrafo sem fios, o bom e barulhento Ford T, o avião ou a eletricidade, uma efervescente cena cultural e social, com destaque para uma cultura urbana de acessível divertimento incentivada pelo êxodo rural que se iniciava, a diminuição do tempo de trabalho e aumento do lazer, os cabarés, o cinema ou a alta costura. E sem esquecer uma arte que chamava a si as novas formas do impressionismo e a arte nova, na libertação do antigo e a procura do novo, uma arte essencialmente decorativa nas cores vivas e curvas sinuosas baseadas nas formas elegantes das plantas, dos animais e das mulheres. 
APREENSÂO DE NAVIOS ALEMÃES E AUSTRO-HÚNGAROS
O envio de tropas portuguesas para a guerra, era motivo de desacordo entre vários departamentos do Governo Britânico e o Governo Francês.
O assunto resolveu-se em março de 1916, apesar do desejo inicial da Inglaterra para que Portugal não se envolvesse no conflito, pois se quisesse fazer a guerra seria por moto proprio, nunca por causa ou invocando a Aliança Anglo-Portuguesa, quando aquela decidiu pedir o apresamento dos navios mercantes germânicos e austro-húngaros que se tinham vindo refugiar no Tejo, onde contavam escapar ao apresamento ou afundamento pela esquadra britânica. A apreensão foi feita a pedido da Inglaterra, onde se estava a agravar a questão dos transportes, pelo que 42 desses navios com uma tonelagem de cerca de 154.000 ton., foram-lhe alugados enquanto durasse a Guerra, embora em condições que em Portugal deram motivo a aceradas críticas e chicana política. Desses 42 navios, só voltaram a Portugal 20, pois que os demais afundaram-se durante o conflito.
Antes da declaração formal de guerra entre a Alemanha e a Inglaterra, o governo português havia recebido por parte do inglês uma diretiva para se abster de publicar qualquer declaração de neutralidade. Aquela atitude beligerante (apresamento dos navios), acarretou que a Alemanha viesse a 9 de março de 1916, efetuar uma declaração formal de guerra a Portugal, apesar dos combates, sem declaração de guerra, que já ocorriam em Angola e Moçambique desde 1914.
Duas divisões foram enviadas para a França no início de 1917 e ali se mantiveram até ao Armistício (11 de novembro de 1918).
Isso deu direito a Portugal participar, na conferência de paz, alinhar entre os vencedores, obter o reconhecimento das posições africanas e uma comparticipação nas reparações de guerra que os Alemães tiveram de fazer aos Aliados.


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