quinta-feira, 16 de março de 2017

A I GUERRA E ALCOBAÇA



-A I GUERRA EM JEITO DE BALANÇO PORTUGUÊS-
-A GRIPE ESPANHOLA E ALCOBAÇA-






A I GUERRA EM JEITO DE BALANÇO PORTUGUÊS
A moeda depreciava e faltava, o abastecimento de géneros era racionado, florescia o mercado negro e o desemprego aumentava.
Em setembro de 1919, para atenuar os transtornos que a falta de trocos estava a fazer, resolveu o comércio de Alcobaça tomar a iniciativa de proceder a uma emissão de senhas/cédulas para dar aos fregueses em substituição de moedas.
Escasseavam as moedas, particularmente as de trocos, que se substituíam por cédulas de papel e cartão, dos mais variados tipos, feitios e qualidade, emitidas depois pelas Câmaras Municipais, Misericórdias e por entidades particulares para seu uso privativo. A falta de metais levou a emissões de moedas com ligas pobres, incluindo ferro. Em 1916, já havia cessado a cunhagem de prata, e o papel-moeda iniciou um reinado, quase absoluto por muitos anos.
O ano de 1917 foi difícil para todos os beligerantes. Na Rússia, foi derrubado o czar. Noutros Estados Europeus, caíram os governos..
Os camachistas alimentaram uma conspiração contra Afonso Costa, de que se tornou líder o antigo Ministro das Finanças e Embaixador de Portugal na Alemanha, Sidónio Pais, Major do Exército e Professor da Universidade de Coimbra.
Após a Batalha de La Lys, o governo de Sidónio Pais anunciou pretender enviar mais 10 a 15 mil homens para o front, mas isso nunca se concretizou e as forças portuguesas perderam, ainda mais importância relativa perante os maciços reforços americanos, que se revelariam decisivos para o desfecho da Guerra.
Feitas as contas, estima-se que mais de 70 milhões de militares, incluindo 60 milhões de europeus, foram mobilizados para uma das maiores guerras, se não a maior, da História, 9 milhões de combatentes morreram, em grande medida por causa do enorme crescimento da letalidade de armas.
Foi o sexto conflito mais mortal da História e que abriu caminho para profundas e irreversíveis mudanças políticas e sociais.
Os alemães começaram a usar gás tóxico em 1915, e pouco depois, ambos os lados usaram a mesma arma. Nenhum dos lados ganhou a Guerra por isso, mas o gás tornou a vida nas trincheiras ainda mais difícil, assumindo-se (entre os portugueses) como um dos mais temidos e lembrados horrores desta guerra.
A partir de 1917, a situação militar na Europa começou a alterar-se, com a entrada em cena de novos meios, como o carro de combate e a aviação, a chegada ao teatro de operações dos norte-americanos ou a substituição de alguns comandantes por outros com visão diversa da condução da guerra e suas táticas. Desencadearam-se ofensivas, que causaram profundas alterações na frente, levando as tropas alemãs à defensiva e, por fim, à derrota.

Se é admissível pensar que a Alemanha readquiriu algum fôlego com a Revolução de outubro de 1917 e o governo bolchevista, chefiado por Lenine, a assinar a paz sem condições o Tratado de Brest-Litovski, anulando a frente leste, isso não foi suficiente para evitar a derrota.
No final da Guerra, Impérios Alemão, Russo, Austro-Húngaro e Otomano deixaram de existir.
Os estados sucessores dos dois primeiros, perderam uma parte importante do seu território e o mapa da Europa central foi redesenhado, com o aparecimento de vários países. A Liga das Nações, foi criada na esperança de evitar outro conflito do género do que findara. O nacionalismo europeu, a desagregação dos Impérios, os efeitos da derrota da Alemanha e do Tratado de Versalhes, foram fatores que contribuíram para a II Guerra.
Alguns ex-combatentes portugueses (que não perderam a vida, nem a sensibilidade) eram de opinião que a I Guerra foi inútil, enquanto outros se limitaram a dizer que foi terrível, sanguinária e brutal.
Tendo conhecido intimamente o terreno (peões da guerra, metidos em covas como campas, terras de ninguém cheias de lodo e restos de obuses, armas químicas e mortos insepultos), bem diferente das fantasias dos políticos de gabinete, repudiaram frases tão empoladas, como é honroso morrer pela Pátria, especialmente ao verem-se abandonados pelo Poder que deles se servira, quando tentaram regressar à vida pacífica na sua terra.
O pós-guerra em Portugal acabou por revelar um país exangue, mas os governos não hesitaram em sobrecarregá-lo em prol das suas clientelas.
Indústrias como as conservas de peixe cresceram com a Guerra, mas depois o seu ritmo abrandou. Surgiram bancos e empresas de cinema, com realizadores franceses a filmar clássicos portugueses. Foi então que se consolidaram algumas grandes empresas portuguesas do século XX, como a CUF (que chegou a dispor de 2.000 operários).
Mas houve grandes dificuldades devido à rutura dos equilíbrios financeiros. A inflação, que atingiu a mais alta taxa do século XX e foi das mais elevadas da Europa, embora sem se igualar a alemã e austríaca, abalou a sociedade.
A estrutura social do país rural, não mudou significativamente. Mas a balança regional alterou-se. A população aumentou na década de 1920. Lisboa passou de 486.372 para 594.390 habitantes e a sua área metropolitana de 770,698km2 para 947,446km2, enquanto o Porto de 203.091 para 232.280 habitantes e a sua área metropolitana de 478,096km2 para 558,471km2.

Nos meses de novembro/dezembro de 1918, um surto de gripe atingiu o auge e assolou Portugal, tendo morrido, talvez, mais de 40.000 pessoas. Esta gripe, chamada pneumónica ou espanhola, que se propagou a partir do início do ano, agravou os problemas com que o país se debatia, aterrorizou as famílias, tal como médicos e o próprio governo, pois não se conheciam medicamentos eficazes, nem contra ela, nem contra o tifo que entretanto se espalhara, sobretudo no Norte.
Há registo de mortes devido à pneumónica em Évora de Alcobaça, concretamente 3 pessoas da mesma família, onde se incluiu uma menina de 9 anos, bem como em Turquel e Alfeizerão. No ano de 1918, a gripe espanhola acarretou no Concelho de Alcobaça um excedente de 196 óbitos sobre o dos nascimentos. A expressão gripe espanhola não se afigura especialmente apropriada, mas foi assim que ficou referenciada para a História. Durante o ano de 1918, a Espanha encontrava-se neutra no conflito, pelo que a sua imprensa não tinha motivos e tampouco foi censurada pelo respetivo governo sobre noticiar a sua presença no território. As notícias da epidemia afinal só provinham da Espanha, pelo que ficou subentendido popularmente que a gripe tinha tido ali a origem. Durante a I Guerra, inúmeros combatentes também morreram infetados pela gripe no front.
Os bairros pobres das cidades, onde as famílias se encontravam mal alojadas, mal alimentadas, sem condições de higiene, foram os mais atingidos. Nos meses de junho/julho morreram em Lisboa cerca de 400 pessoas por dia, número tão elevado que tornou difícil a realização dos enterros, por falta de carretas funerárias e sacerdotes. Os hospitais não conseguiram dar resposta às necessidades dos doentes, tendo por isso havido necessidade de se improvisarem hospitais, como aconteceu com o Convento das Bernardas, onde foram instaladas 300 camas de campanha. Sidónio Pais, decidiu visitar os doentes ali instalados e deixar-se fotografar debruçado sobre as camas, o que contribuiu para a sua propaganda e exercício do culto da personalidade.
No território português, o saldo final foi tão elevado que, durante anos, a expressão gripe pneumónica ou espanhola causava arrepios, terror, não apenas aos sobreviventes, mas aos que a sofreram na família ou conheciam relatos impressionantes sobre ela.
Para alguns políticos, analistas e historiadores, mesmo para além de Portugal, a I Guerra ocorreu para castigar e teria a virtualidade de acabar com todas as guerras. O seu nome Grande Guerra indicava uma escala sem qualquer precedente.

Mas foi ao fim de pouco tempo seguida de uma outra e depois de muitas outras ditas menores, por todo o mundo. 

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