sexta-feira, 31 de março de 2017

-UM SACRISTÃO APRESSADO E MARIA SERRANA EM MONTES-ALCOBAÇA-


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Afonso Antunes, pedreiro e agricultor remediado dos Montes, que tinha andado três anos na escola e feito o exame de 1º. grau, ajudava como sacristão no ofício dominical.
Era tio da Maria Serrana, atarefada cozinheira para casamentos ou batizados, competente enfermeira e parteira, mãe de 7 filhos de pais diferentes, o que não lhe retirava respeitabilidade ou confiança popular.
O Batismo, foi instituído por Jesus, como se pode ler no Evangelho segundo S. Mateus, toda autoridade sobre o Céu e sobre a Terra me foi entregue. Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. Eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos.
Ao nascimento sucedia quase de imediato o batismo, pois o medo maior não era tanto da morte do bébé (facto tão vulgar como inelutável neste Portugal de antigamente) encarada com conformismo, mas da outra morte, o que era inaceitável, a da perdição da alma. O Batismo traduzia-se, pois, numa manifestação do amor para com o novo ser e não o ministrar seria escandaloso, imperdoável.
A necessidade de obedecer à pressão social (onde se inseria o zelar pelo destino da alma) era todavia mais poderosa que a solicitude para com a criança. Funcionava o batismo como rito de socialização, para além de ser ainda considerado um protetor físico para si e família.
O Batismo sendo a receção na Igreja ao novo ser e impensável não o receber condignamente, impunha-se que a parteira soubesse batizar, se necessário ainda que com o bebé no ventre materno.
Normalmente, o Batizado é realizado na Igreja. E quem o ministra são os Sacerdotes, Diáconos e outros cristãos credenciados.
Dada a elevada taxa de mortalidade infantil em Portugal no início do século XX, muito especialmente entre os recém nascidos, a Maria Serrana ia procurar Ti Afonso e solicitar-lhe na falta de um padre, que os batizasse, pois tratava-se de uma emergência. O procedimento de Ti Afonso Antunes era sempre o mesmo. Começava por perguntar o nome que iria ser dado. Os pais escolhiam o nome e da mesma maneira, escolhiam os padrinhos se houvesse tempo ou em alternativa neste caso, um santo da sua devoção.
Com um copo de água e uma pequena mecha de algodão ou algo que a pudesse substituir, Ti Afonso realizava a cerimónia, molhando o algodão na água e colocando-o ao de leve na cabeça da criança por três vezes, dizendo a formula sacramental: José ou Maria (o nome do batizando), eu te batizo em nome do Pai, colocava o algodão molhado na cabeça da criança, do Filho,  colocava o algodão molhado outra vez, e do Espírito Santo, colocava-o pela terceira vez. A criança estava Batizada.
Mas podia acontecer que sobrevivesse. Nesse caso os pais iam contar a ocorrência ao Padre, que autorizava a criança ser submetida à parte complementar do batismo (a liturgia da palavra, a unção com óleo dos catecúmenos), para que o seu nome fosse devida e regularmente inscrito no Livro de Registo de batizados da Paróquia.
A cerimónia do batizado, em geral, era realizada com a presença dos avós e padrinhos.
A madrinha, muitas vezes uma das avós, dava o fato e o padrinho, se podia, um fio de ouro, um anel ou medalhinha em prata. A mãe normalmente não assistia ao batizado ou por se encontrar convalescente ou para não dar azar, pelo que quem transportava a criança à Igreja era a parteira. Havia na Alta Estremadura quem chamasse de comadre à parteira (noutros sítios do País de parceira), pois que era esta a madrinha de pia, a que levava a criança até ao sacramento batismal. Nos Montes, era frequente serem os padrinhos quem escolhia o nome da criança, salvo por uma questão de cortesia, essa tarefa ser deixada aos pais.
A transmissão dos apelidos não era muito consensual, nem tinha regras comumente utilizadas.
Tinha-se um só sobrenome, sendo por vezes o pai a transmitir o seu aos rapazes e a mãe às raparigas, perpetuando-se os das duas parentelas, até que passou a generalizar-se transmitir o da mãe e pai por esta ordem, predominando o último.





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