-O
PINTOR ADRIANO DE SOUSA LOPES NO FRONT-
-FESTAS DE HOMENAGEM AOS NOSSOS
SOLDADOS EM ALCOBAÇA E CELA-
-ADRIANO
DE SOUSA LOPES-
Adriano
de Sousa Lopes, nasceu em 1879 no lugar de Vidigal/Leiria, tendo iniciado a
vida profissional como ajudante de farmácia.
Em
1898, apoiado por Afonso Lopes Vieira, matriculou-se na Academia de Belas-Artes
de Lisboa, onde foi discípulo de Luciano Freire e Veloso Salgado.
O
pintor vivia em Paris desde 1903, para onde fora estudar e em agosto de 1914,
assistiu com emoção à mobilização e à excitação geral dos franceses nas gares
do caminho-de-ferro.
Favorável
à intervenção portuguesa, ofereceu-se como enfermeiro para trabalhar nos
hospitais militares de Paris, aproveitando para realizar apontamentos que
gravou a água-forte, o que lhe criou condições para em agosto de 1917, ser
nomeado oficial/artista do CEP, na frente ocidental.
Antes
de partir, anunciou as suas intenções a O Século: Em primeiro lugar, é uma obra de propaganda do nosso esforço militar.
Eu passaria a colaborar em várias revistas estrangeiras, que ilustraria com
assuntos da vida do nosso Exército em campanha. (..) É justo que de todo o sacrifício que o país faz, comparticipando na
guerra, algum benefício colha.
Era
a grande oportunidade para Adriano de Sousa Lopes, pintor de certo modo
desconhecido do público português até esse ano de 1917. Mestre Columbano, a
quem sucedeu como Diretor do Museu de Arte Contemporânea, definiu-o como um
moderno respeitador do passado.
Aproveitando
a visibilidade, decorrente de várias exposições em que participou (o Presidente
da República Bernardino Machado visitou uma na Sociedade de Belas Artes onde
adquiriu vários trabalhos), Sousa Lopes procurou o front, para documentar a
participação portuguesa. A proposta foi formalizada numa carta de 1917 que
escreveu ao Ministro Norton de Matos, na qual deu como exemplo a França, que
contratou os seus artistas de guerra e citou os respetivos nomes, alguns seus
conhecidos do tempo em que esteve a estudar em Paris e frequentava o Bairro
Latino, os seus estúdios e galerias.
A
realidade da frente portuguesa no front, era muito diferente do que imaginara.
O QG
português, em Saint-Venant embora informado da sua chegada, não lhe criou
condições para desenvolver como desejava, o seu objetivo. O Maj. André Brun,
encontrou A. Lopes nesses dias, numa aldeia da retaguarda e registou impressão
que lhe causou.
Vivia
meio esquecido e semiabandonado. Quando tanto inútil tinha um automóvel para
passear a felpa dos sobretudos ingleses, Sousa Lopes tinha que esperar que um
dia uma viatura menos carregada o pudesse transportar, escreveu no seu A Malta
das Trincheiras. Quando o vi em dezembro do ano passado, não excedera ainda a
linha das escolas e o seu álbum de apontamentos apenas continha esboços sem
maior interesse para ele nem para a sua obra.
Desiludido, o pintor chegou a pensar
em desistir da missão pois todos os planos que, aqui de longe, eu tinha imaginado
pôr em prática, quando lá cheguei vi que os não podia realizar, e apoderou-se
de mim um grande desânimo, a ponto de chegar a pensar em desistir, e voltar
para Portugal sem nada ter feito.
Quando em janeiro de 1918, Sousa Lopes decidiu arriscar-se no
front, solicitou alojamento aos comandantes portugueses que se encontravam nas
trincheiras da primeira linha. Em Ferme du Bois, no flanco direito do setor
português, conviveu duas semanas com o Batalhão do Maj. André Brun, onde
compôs, uma das suas mais interessantes águas-fortes (Infantaria 23 na Ferme du
Bois). Nela, veem-se os soldados portugueses em fila para receberem a refeição
diária, num pátio em ruínas, de uma herdade abandonada, utilizada como precário
posto de abrigo. Posteriormente, passou uma temporada na área esquerda do
setor, em Fauquissart, defendido pelo Cap. Américo Olavo com quem manteve
excelente relacionamento e ofereceu vários trabalhos que este veio e expor mais
tarde em Lisboa. Durante 16 dias, acompanhou o comandante nas visitas de
inspeção às trincheiras, e fez numerosos apontamentos frente ao motivo, prática
de pintor no melhor estilo dos impressionistas.
Após o armistício, Sousa Lopes foi agraciado com o grau de
Cavaleiro de Santiago de Espada, juntamente com o fotógrafo oficial do CEP,
Arnaldo Garcez. Em dezembro de 1920 casou em Paris com Guite Gros filha do
prestigiado e abastado Comdte. Emile Gros, Cavaleiro da Legião de Honra.
Adriano de Sousa Lopes, foi o autor do medalhão em bronze com
a efígie de Manuel Vieira Natividade trabalhado sob sua direção, numa das
melhores casas no género que existiam em Montparnasse e que faz parte do
monumento em sua memória. Os trabalhos respeitantes à parte em cantaria do
monumento foram, porém, executados na oficina de Fernando Cordeiro, de
Alcobaça.
Sousa Lopes viveu muito tempo em Alcobaça, antes de ter ido
estudar para Lisboa, pelo que há quem o suponha natural de Alcobaça ou do
Concelho.
Seu irmão, Tito de Sousa Lopes, nascido em Turquel,
licenciado pelo Instituto Superior Técnico, de Lisboa, prestou a Turquel bons
serviços, entre o mais ao elaborar graciosamente projetos de abastecimento de
água e construção do lavadouro, cuja obra superintendeu, com prejuízo de seus
interesses pessoais e comodidade, pois vivia em Lisboa.
A vitória dos Aliados foi festejada em Alcobaça na primeira
segunda-feira de julho de 1919, com um dia de feriado, beijos, choro e abraços,
salva de 21 morteiros lançada do morro do castelo (paga pelo Município).
Os sinos repicaram em várias igrejas
com destaque para a do Mosteiro (embora um deles estivesse avariado e a esperar
conserto), pão e sopa a pobres devidamente selecionados pelo regedor, concerto
pela Banda da Maiorga no coreto municipal (a qual também desfilou pela rua a
interpretar hinos acompanhada por populares que ostentavam bandeiras
nacionais), iluminação noturna reforçada nos Paços do Concelho e Quartel,
sessão no Centro Republicano onde foi servido um porto com a presença de
convidados de Leiria e Caldas da Rainha que usaram da palavra, Santiago Ponce y
Sanchez que se deslocou de Lisboa e foi recebido com muito carinho, pois já não
vinha há alguns anos a Alcobaça.
Terminada a sessão no Centro republicano, um grupo de
republicanos dirigiu-se à Câmara Municipal para apresentar cumprimentos.
O Jardim-Escola João de Deus abriu da parte da tarde as
portas ao público, a quem foi servido um lanche oferecido por mães de alunos, o
qual pode assistir a um espetáculo de canções populares, de dança.
A Companhia Fiação e Tecidos encerrou a laboração da parte de
tarde, para o pessoal se poder associar ao evento com as respetivas famílias, o
que foi aproveitado para se efetuarem piqueniques já que o tempo a isso convidava.
A 8 de dezembro de 1919, teve lugar na Cela uma festa de
homenagem aos rapazes da freguesia, que integraram o CEP, os quais se
apresentaram no ato devidamente fardados e muito comovidos ao lado da família,
acompanhados pelo Pe. Manuel Rodrigues Silvestre que como eles, envergava a
farda militar de gala.
Longe estavam os dramáticos
momentos de guerra e a insatisfação parecia esquecida (mesmo revolta) como
muitos soldados foram tratados em teatro de operações. À tarde, uma comissão
composta pelo Pe. Silvestre, Norberto Correia Soares, António Pereira e Joaquim
dos Reis Madruga organizou um lanche na Junta de Freguesia com ofertas
populares, enquanto na rua depois de algum foguetório ia atuando a Filarmónica
da Cela.
Sem comentários:
Enviar um comentário