quinta-feira, 16 de março de 2017

A I GUERRA E ALCOBAÇA


-O PINTOR ADRIANO DE SOUSA LOPES NO FRONT-
-FESTAS DE HOMENAGEM AOS NOSSOS SOLDADOS EM ALCOBAÇA E CELA-




-ADRIANO DE SOUSA LOPES-
Adriano de Sousa Lopes, nasceu em 1879 no lugar de Vidigal/Leiria, tendo iniciado a vida profissional como ajudante de farmácia.
Em 1898, apoiado por Afonso Lopes Vieira, matriculou-se na Academia de Belas-Artes de Lisboa, onde foi discípulo de Luciano Freire e Veloso Salgado.
O pintor vivia em Paris desde 1903, para onde fora estudar e em agosto de 1914, assistiu com emoção à mobilização e à excitação geral dos franceses nas gares do caminho-de-ferro.
Favorável à intervenção portuguesa, ofereceu-se como enfermeiro para trabalhar nos hospitais militares de Paris, aproveitando para realizar apontamentos que gravou a água-forte, o que lhe criou condições para em agosto de 1917, ser nomeado oficial/artista do CEP, na frente ocidental.
Antes de partir, anunciou as suas intenções a O Século: Em primeiro lugar, é uma obra de propaganda do nosso esforço militar. Eu passaria a colaborar em várias revistas estrangeiras, que ilustraria com assuntos da vida do nosso Exército em campanha. (..) É justo que de todo o sacrifício que o país faz, comparticipando na guerra, algum benefício colha.
Era a grande oportunidade para Adriano de Sousa Lopes, pintor de certo modo desconhecido do público português até esse ano de 1917. Mestre Columbano, a quem sucedeu como Diretor do Museu de Arte Contemporânea, definiu-o como um moderno respeitador do passado.
Aproveitando a visibilidade, decorrente de várias exposições em que participou (o Presidente da República Bernardino Machado visitou uma na Sociedade de Belas Artes onde adquiriu vários trabalhos), Sousa Lopes procurou o front, para documentar a participação portuguesa. A proposta foi formalizada numa carta de 1917 que escreveu ao Ministro Norton de Matos, na qual deu como exemplo a França, que contratou os seus artistas de guerra e citou os respetivos nomes, alguns seus conhecidos do tempo em que esteve a estudar em Paris e frequentava o Bairro Latino, os seus estúdios e galerias.
A realidade da frente portuguesa no front, era muito diferente do que imaginara.
O QG português, em Saint-Venant embora informado da sua chegada, não lhe criou condições para desenvolver como desejava, o seu objetivo. O Maj. André Brun, encontrou A. Lopes nesses dias, numa aldeia da retaguarda e registou impressão que lhe causou.
Vivia meio esquecido e semiabandonado. Quando tanto inútil tinha um automóvel para passear a felpa dos sobretudos ingleses, Sousa Lopes tinha que esperar que um dia uma viatura menos carregada o pudesse transportar, escreveu no seu A Malta das Trincheiras. Quando o vi em dezembro do ano passado, não excedera ainda a linha das escolas e o seu álbum de apontamentos apenas continha esboços sem maior interesse para ele nem para a sua obra.

Desiludido, o pintor chegou a pensar em desistir da missão pois todos os planos que, aqui de longe, eu tinha imaginado pôr em prática, quando lá cheguei vi que os não podia realizar, e apoderou-se de mim um grande desânimo, a ponto de chegar a pensar em desistir, e voltar para Portugal sem nada ter feito.
Quando em janeiro de 1918, Sousa Lopes decidiu arriscar-se no front, solicitou alojamento aos comandantes portugueses que se encontravam nas trincheiras da primeira linha. Em Ferme du Bois, no flanco direito do setor português, conviveu duas semanas com o Batalhão do Maj. André Brun, onde compôs, uma das suas mais interessantes águas-fortes (Infantaria 23 na Ferme du Bois). Nela, veem-se os soldados portugueses em fila para receberem a refeição diária, num pátio em ruínas, de uma herdade abandonada, utilizada como precário posto de abrigo. Posteriormente, passou uma temporada na área esquerda do setor, em Fauquissart, defendido pelo Cap. Américo Olavo com quem manteve excelente relacionamento e ofereceu vários trabalhos que este veio e expor mais tarde em Lisboa. Durante 16 dias, acompanhou o comandante nas visitas de inspeção às trincheiras, e fez numerosos apontamentos frente ao motivo, prática de pintor no melhor estilo dos impressionistas.
Após o armistício, Sousa Lopes foi agraciado com o grau de Cavaleiro de Santiago de Espada, juntamente com o fotógrafo oficial do CEP, Arnaldo Garcez. Em dezembro de 1920 casou em Paris com Guite Gros filha do prestigiado e abastado Comdte. Emile Gros, Cavaleiro da Legião de Honra.
Adriano de Sousa Lopes, foi o autor do medalhão em bronze com a efígie de Manuel Vieira Natividade trabalhado sob sua direção, numa das melhores casas no género que existiam em Montparnasse e que faz parte do monumento em sua memória. Os trabalhos respeitantes à parte em cantaria do monumento foram, porém, executados na oficina de Fernando Cordeiro, de Alcobaça.
Sousa Lopes viveu muito tempo em Alcobaça, antes de ter ido estudar para Lisboa, pelo que há quem o suponha natural de Alcobaça ou do Concelho.
Seu irmão, Tito de Sousa Lopes, nascido em Turquel, licenciado pelo Instituto Superior Técnico, de Lisboa, prestou a Turquel bons serviços, entre o mais ao elaborar graciosamente projetos de abastecimento de água e construção do lavadouro, cuja obra superintendeu, com prejuízo de seus interesses pessoais e comodidade, pois vivia em Lisboa.
A vitória dos Aliados foi festejada em Alcobaça na primeira segunda-feira de julho de 1919, com um dia de feriado, beijos, choro e abraços, salva de 21 morteiros lançada do morro do castelo (paga pelo Município).

Os sinos repicaram em várias igrejas com destaque para a do Mosteiro (embora um deles estivesse avariado e a esperar conserto), pão e sopa a pobres devidamente selecionados pelo regedor, concerto pela Banda da Maiorga no coreto municipal (a qual também desfilou pela rua a interpretar hinos acompanhada por populares que ostentavam bandeiras nacionais), iluminação noturna reforçada nos Paços do Concelho e Quartel, sessão no Centro Republicano onde foi servido um porto com a presença de convidados de Leiria e Caldas da Rainha que usaram da palavra, Santiago Ponce y Sanchez que se deslocou de Lisboa e foi recebido com muito carinho, pois já não vinha há alguns anos a Alcobaça.
Terminada a sessão no Centro republicano, um grupo de republicanos dirigiu-se à Câmara Municipal para apresentar cumprimentos.
O Jardim-Escola João de Deus abriu da parte da tarde as portas ao público, a quem foi servido um lanche oferecido por mães de alunos, o qual pode assistir a um espetáculo de canções populares, de dança.
A Companhia Fiação e Tecidos encerrou a laboração da parte de tarde, para o pessoal se poder associar ao evento com as respetivas famílias, o que foi aproveitado para se efetuarem piqueniques já que o tempo a isso convidava.
A 8 de dezembro de 1919, teve lugar na Cela uma festa de homenagem aos rapazes da freguesia, que integraram o CEP, os quais se apresentaram no ato devidamente fardados e muito comovidos ao lado da família, acompanhados pelo Pe. Manuel Rodrigues Silvestre que como eles, envergava a farda militar de gala.
Longe estavam os dramáticos momentos de guerra e a insatisfação parecia esquecida (mesmo revolta) como muitos soldados foram tratados em teatro de operações. À tarde, uma comissão composta pelo Pe. Silvestre, Norberto Correia Soares, António Pereira e Joaquim dos Reis Madruga organizou um lanche na Junta de Freguesia com ofertas populares, enquanto na rua depois de algum foguetório ia atuando a Filarmónica da Cela.

Mas foi ao fim de pouco tempo seguida de uma outra e depois de muitas outras ditas menores, por todo o mundo. 

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