-ADEUS
REPÚBLICA, RUMO A 28 DE MAIO-
-SIDÓNIO
PAIS-
-REGRESSO ÀS CÉDULAS MUNICIPAIS E DO COMÉRCIO NO NO PAÍS E EM
ALCOBAÇA-
ADEUS
REPÚBLICA, RUMO A 28 DE MAIO-
Após a morte de Sidónio (Morro mas morro bem. Salvem a Pátria), o País entrou de novo num
período muito turbulento, marcado por forte agitação social e política.
Passaram-se
vários meses e governos. Depois de Tamagnini Barbosa, empossado logo após a
morte de Sidónio (e que não chegaria ao mês de Fevereiro), veio José Relvas que
por sua vez não chegaria a Abril de 1919 e, na linha da prática republicana,
sucedeu-lhe o governo de Domingues Pereira que se despediu no dia de S. Pedro
para possibilitar a Sá Cardoso um juramento de lealdade à Constituição e um
governo que conseguiu chegar até ao Natal, o que foi considerado como um feito
militar notável (este era coronel) pois manter-se durante seis meses (num país
em enorme turbulência social e política) era trabalho hercúleo
O
carisma de Sidónio Pais era tão intenso, que se prolongou para além da vida.
Palavras e expressões, como o Grande Morto e o Mártir, inundaram textos e
panfletos, contribuindo de forma para o transformar numa espécie de santo
protetor dos desfavorecidos.
A
vida fê-lo herói, e a morte o sagrou Rei!, escreveu Fernando Pessoa
O
sidonismo, continha poder pessoal, repressão e perseguição políticas, confusão
na administração/medidas altamente demagógicas e sobrevivia à custa de gestos
espetaculares e cuidadosamente encenados, mas que não resolviam os problemas
económico-sociais que afligiam o País.
A
Maçonaria (a que aderira em 1911 e se manteve até 1912) queria ver Sidónio
distituido, a Carbonária talvez o quisesse desfeito, os Católicos solicitavam
mais que missas/esptáculo em que o Presidente participava, os Integralistas
requeriam uma
política de rutura e, os democratas
da República Velha odiavam-no. O partido (Partido Nacional Republicano, vulgo
Partido Nacionalista) a que Sidónio pertencera, já tinha rompido com ele.
A pompa do seu funeral (nem o Parlamento nem o Senado
permitiram logo a autópsia de Sidónio Pais, tal como não foram autorizadas as
de D. Carlos ou do Príncipe Luís Filipe. Foi decidido que o cadáver de Sidónio
Pais fosse levado para os Jerónimos e aí se realizassem as cerimónias fúnebres
depois de embalsamado), que não teve a presença de alcobacenses deliberadamente
ausentes (especificamente o Centro Republicano ignorou-o), foi prova do
fascínio que a sua figura tinha causado.
1918 foi ano de enorme sofrimento. Há muito não escorriam
tantas lágrimas pelos rostos de Portugal. Choravam mulheres e filhos pelos
ausentes e os mortos da Flandres de onde ainda soprava o vento gelado de uma
guerra medonha, feita no lodaçal das trincheiras, onde a sífilis, o tifo, a
tuberculose ou a espanhola matavam quase tanto as balas dos boches.
O Xico Maria, que tinha sobrevivido à Flandres, foi levado
pela espanhola com trinta e tal anos, deixando dois filhos no regaço materno. A
Marta, embora não muito dada a letras e apenas com o 2º. grau, deixou um
apontamento escrito que passou de geração para geração como uma referência
familiar.
Fomos nós, construímos caminhos, íamos por eles
entregando-nos um ao outro nas coisas mais banais, ficando felizes pelas
vitórias do outro, solidários na mágoa, sempre inteiros na dádiva. Respondíamos
com um abraço ao abraço, com um afago à lágrima, com um beijo à alegria. E
continuaria assim sem parar, até ao fim dos tempos. Era esta a construção do
nosso amor. Crescer quando o outro cresce, partilhar o sofrimento quando a
caminhada dói mais, não deixar que nenhum caia, apoiando-o quando verga para
voltar a endireitar a coluna, amar mais até à entrega final e definitiva,
quando de tanto viver e de tanto amar só restar cinza. Somos agora cinzas da
mais extraordinária fogueira feita de chamas que dão sentido à vida.
Decorridos apenas oito anos do fim da Monarquia, a discussão
entre partidários da República Nova e da República Velha era a prova que as
paixões partidárias do regime mantinham as decrépitas mazelas do rotativismo
que, os então republicanos na oposição, criticavam impiedosamente. Era como uma
maldição que perseguia a política portuguesa, transformando utópicos em
ostracizados, respeitáveis doutrinadores de ontem em oportunistas de hoje, numa
miscelânea estranha e porventura sórdida de se querer ser grande e
voluntariamente submeter-se à pequenez do egoísmo desenfreado.
Morto Sidónio, estava aberto o
caminho para o regresso dos democráticos ao poder, o que não era do agrado dos
sidonistas. A 16 de dezembro, o Alm. Canto e Castro foi eleito Presidente da
República, o que foi tido como o retorno ao parlamentarismo republicano, senão
uma abertura aos monárquicos. E no dia 23 de dezembro, Tamagnini Barbosa formou
um governo de cariz conservador, com personalidades conotadas com o sidonismo,
o que tendo agradado a poucos, veio a dar lugar a vários levantamentos em
diversos pontos do País. Alguns monárquicos entenderam que era altura de agir,
pelo que no Porto a 19 de janeiro de 1919, Paiva Couceiro saiu à rua com tropas
e algumas forças da Guarda Nacional Republicana, proclamou a Monarquia do Norte
e entregou o poder a uma Junta Governativa (de quem era o presidente), à qual
aderiram o Minho, parte de Trás os Montes com exceção de Chaves, Mirandela e
Vila Real e uma parte do Distrito de Aveiro. O Prior de Turquel José Pereira
dos Santos, ainda aplaudiu este movimento, mas desta vez timidamente. Em
Lisboa, também se revoltaram algumas unidades militares que, conjuntamente com
alguns civis, se foram aquartelar em Monsanto. O grosso da tropa, fiel à
República, dirigiu-se para o Porto, onde depois de combates, tomou a cidade em
13 de fevereiro de 1919. Com a derrota dos monárquicos, formou-se governo
presidido por Domingos Pereira, sem participação de sidonistas. Era o regresso
à República Velha, com os democráticos no governo numa situação complicada, já
que a crise económica com inflação galopante, depreciação da moeda e crise
social agravavam a vida das classes mais desfavorecidas. Para trás ficara a
República Nova, assente na mística do chefe, uma República de republicanos
descontentes com a incapacidade do regime, de monárquicos desejosos de se
servirem dela para restaurar a monarquia, de opositores à participação do CEP
na guerra, da Igreja que pretendia que lhe fossem restituídos ou mesmo
concedidos privilégios, de médios proprietários, funcionários públicos,
oficiais do exército ou simplesmente burgueses.
Comemorando a jornada de Monsanto, em fins de janeiro de
1920, em Alcobaça, foi servido um bodo a 8 pobres, composto de broa, caldo e um
prato de carne com batatas, tendo as despesas sido custeadas com o produto de
uma subscrição aberta na Junta de Paróquia, Câmara Municipal, Centro
Republicano, ofertas de um talhante e dois padeiros.
As repartições não abriram durante o dia, foram embandeirados
os edifícios públicos e o Quartel, e a Comissão Executiva Municipal enviou um
telegrama à Câmara de Lisboa, assinado por Fernando Alípio Sá, saudando nela o
povo republicano da capital e a manifestar a solidariedade política dos
alcobacenses.
Fernando Alípio Sá, ofereceu 10$00 ao Asilo de Infância
Desvalida que passava por dificuldades, importância correspondente aos
emolumentos que recebeu como
substituto do Juiz de Direito da
Comarca, já que a comarca esteve sem titular do lugar durante cerca de 8 meses.
À mesma instituição, também foi finalmente desbloqueado pelo
governo, o subsídio de 1.000$00, tendo-se interessado muito pela sua efetivação
Joaquim Jacobetty, Secretário pessoal do Ministro da Instrução.
Para Fernando Pessoa, um dos erros capitais da I República,
foi o facto de os sucessivos governos não
cumprirem as promessas da sua propaganda (o que em Portugal é uma prática pouco
original) ou, como escreveu Fernando Rosas equiparar (…) o lock out ao direito à greve, retomou a
proibição ou o não reconhecimento
legal da confederação sindical, e, logo a partir das greves conserveiras de
1911, lançou regularmente a tropa contra reivindicações operárias, denunciadas
sempre, a partir daí, como instrumentos de subversão monárquica e clerical
(…). O motivo principal destas greves assentava na reivindicação de melhores
condições de vida/trabalho, a redução do número de horas de trabalho, o
descanso, a segurança e higiene no trabalho das fábricas e oficinas, e o
aumento dos salários.
Os orçamentos eram tão baixos, que as famílias de Lisboa e
outros meios urbanos, não conseguiam fazer face à carestia da vida, tendo sido
detetados casos de fome. Neste período, o regime continuou a sofrer ataques dos
monárquicos, e sem conseguir debelar os grandes problemas, viu-se afrontado
simultaneamente por forças radicais da esquerda e movimentos conservadores de
direita.
Com o final da Guerra, verificou-se algum (embora muito
momentâneo), desenvolvimento económico no Mundo especialmente nos Estados
Unidos, na Europa e aparentemente em Portugal, que entre 1919/1920 viu aumentar
as exportações de vinho, cortiça e conservas ao mesmo tempo que ocorria um
aumento de importações, abrir 11 bancos que iriam falir ao fim de pouco tempo.
Entre 1920/1924 faliram 14 bancos.
Mas logo ocorreu a crise 1923/1925 com fortes repercussões em
Portugal, com inflação galopante em que a libra inglesa que em 1919 valia 7$54,
em 1924 subira para 127$40, e aumento do custo do pão, azeite, bacalhau e
arroz.
Os chefes político da primeira linha durante vários anos,
cansados, desgostados, envelhecidos ou falecidos iam saindo de cena, dando
lugar a políticos sem carisma e impreparados para lidar com os problemas.
Em Alcobaça acontecera o mesmo, por exemplo com Manuel Vieira
Natividade que faleceu, Santiago Ponce Y Sanchez que foi trabalhar para Lisboa
e só voltou esporadicamente para reviver os correligionários, Afonso Ferreira
que faleceu na Roça Guégué em S. Tomé, de que era administrador, desgostoso que
estava com a política nacional, cuja fraqueza e falta de rumo lastimava. Esta
roça ainda existe,
nacionalizada, integrada na rede das
Pousadas de S. Tomé, alojamento que oferece uma experiência ecoturística em
contraposição aos grandes hotéis.
Durante o ano de 1920, sucederam-se sete governos, para no
ano seguinte começarem a formar-se governos de cariz mais conservador, cada vez
mais dependentes do poder económico. Nestas condições, constatou-se o
progressivo fracionamento entre os defensores do regime democrático/parlamentar
e o reforço dos extremos do leque político, com destaque para a fundação da
CGT/Confederação Geral de Trabalho e do PCP/06.03.1921 (de inexpressiva atuação
até ao golpe de 28 de maio), para os católicos conservadores do CADC/Coimbra e
para os monárquicos tradicionais do Integralismo Lusitano.
O governo quando se apresentava de novo a eleições assumia
uma estratégia em que prometia o que quando no poder não conseguira levar a
cabo. A oposição, para não ficar atrás, respondia com o regresso a um mundo de
felicidade, prometendo o que sabia não ter a certeza de conseguir, por mais que
jurasse o contrário.
As campanhas eleitorais nada tinham de mobilizadoras dos
portugueses, para quem o problema passava, desde logo, por uma questão de
confiança, abalada por sucessivos governos sempre a pensar em eleições, fazendo
sem pudor o contrário do que prometeram, tolerantes com os privilégios de uns
tantos, cúmplices dos poderes instalados à sombra do Estado, alimentando as
insaciáveis clientelas ou transigindo com conflitos de interesses que
degeneravam em negociatas ou na pura e simples corrução.
-SENHORIOS E RENDEIROS-
Em tempos da Monarquia Constitucional, o Poder nunca se
preocupou muito com o problema habitacional, no objetivo de o atacar de frente,
apesar de terem sido apresentados na Câmara de Deputados, nove projetos e
propostas de lei a partir de janeiro de 1883.
Nenhum deles chegou a ser aprovado ou mesmo publicado em
Diário das Cortes. O governo apenas deu, alegadamente, alguns incentivos
fiscais com intenção de motivar os proprietários, o que não foi considerado
relevante.
A I República, por força da pressão social e do seu ideário
político, tentou chamar a si medidas para atenuar o grave e sempre arrastado
problema habitacional, pelo que promulgou uma Lei do Inquilinato (12 de
novembro de 1910) que, entre o mais, visava dar resposta aos contratos
precários, às rendas semanais, à circunstância como podiam ser efetuados os
despejos, ao mesmo tempo que congelou as rendas. Legislação publicada depois da
Guerra, reteve importantes
limitações em termos de liberdade
contratual, impedindo aumentos de renda e afrontando a vida dos senhorios,
especialmente os delas dependentes.
Sendo muita a dificuldade em arranjar casa (não apenas em
Lisboa), nos anos que se seguiram à Guerra, exigiam-se do Governo medidas
prontas e capazes. Esta dificuldade, que não afetava apenas os estratos
populacionais mais carenciados, levou o deputado Alves dos Santos, na Câmara
dos Deputados (21 de agosto de 1922), a valorizar o conceito de Bairro Social,
pois um Bairro Social não é só para operários; é para médicos, professores,
advogados, muitos representantes da classe média que todos lutam com as mesmas
dificuldades com o que lutam os operários e não têm a bolsa recheada para
pagarem o que pagam de renda de casa as classes privilegiadas. Um bairro social
é uma coisa completamente diferente: é uma instituição social cuja estrutura há
de servir de base à cidade do futuro, às novas organizações operárias que se
fundam no princípio da cooperação e da solidariedade social.
O problema persistiu e cerca de 100 anos depois (entretanto
passou o Estado Novo e regressou a Democracia), está muito longe de estar
sanado, tanto mais que nunca foi possível encontrar um desiderato consensual.
-REGREESSO ÀS CÉDULAS-
No início de outubro de 1919, o diretor da Casa da Moeda,
tendo constatado que em algumas povoações da fronteira estavam a ser emitidas
senhas representativas de dinheiro/cédulas para acudir à falta de trocos (pois
a moeda metálica praticamente desaparecera de circulação, objeto de
açambarcamento), solicitou uma reunião urgente ao Ministro das Finanças, a fim
de providenciar sobre este formidável abuso.
Mas como o problema estivesse longe de se encontrar
resolvido, em Alcobaça caiu bem no público local, a ideia de senhas que a
Câmara (no que foi secundado por algumas casas comerciais da Vila, Benedita e
S. Martinho do Porto, bem como da Nazaré), decidiu emitir por alturas do fim
desse ano de 1919.
Subiu a milhares, o número de senhas em circulação no Concelho
de Alcobaça, contribuindo para o sucesso da iniciativa a Recebedoria do
Concelho e a Estação de Correios e Telégrafos, apesar de segundo a Comissão
Executiva da Câmara Municipal e comerciantes, ter havido quem não tenha
compreendido as vantagens.
A Casa da Moeda, viu-se obrigada a intervir, passando a
emitir cédulas.
Em fins de outubro de 1920, a Casa da Moeda comunicou ao País
que iria suspender a estampagem de cédulas de 10 centavos, substituídas por
moedas de cuproníquel desse valor, em tudo semelhantes às de 20 centavos,
embora mais leves e menos espessas. Também foi decidido recolher as moedas de 4
centavos, que estavam a ser utilizadas por falsificadores em moedas de 10 e 20
centavos,
que usavam a mesma liga. Em Alcobaça,
os populares não sabiam onde deveriam entregar e em que condições estas moedas,
o que acarretou alguns problemas e fraudes por parte de alguns amigos do
alheio. O estabelecimento comercial do Zé Militar fazia a troca de cédulas por
moedas, bem como das próprias moedas, a quem lá fizesse aquisições de géneros.
A crise acarretou uma inusitada falsificação de assinaturas em vales de
correios, a ponto de a Administração Geral dos Correios e Telégrafos, ter
prevenido o comércio de que apenas deveria abonar as assinaturas de pessoas conhecidas,
para se eximir à responsabilidade de eventual indemnização.
Os estabelecimentos de Zé Militar e de João Ferreira da Silva
passaram tão só a abonar assinaturas de clientes antigos e conhecidos, ainda
que em troca de aquisição de géneros, como arroz, azeite ou bacalhau (neste
caso quando havia no mercado), pois que no pós guerra a marinha de pesca ainda
se encontrava com muitas carências e desorganizada.
O período de 1920/1926 constituiu (seguramente), a fase mais
agitada da história da I República Portuguesa. Em 1920, passaram pelo governo
oito ministérios. Foi no governo de António Granjo que, a 19 de outubro de
1921, ocorreu em Lisboa um pronunciamento e na sua sequência, apesar de
frustrado, Machado dos Santos e Carlos da Maia (heróis da República), foram
brutalmente assassinados, acontecimento que passou à História como a Noite
Sangrenta. Os partidos imputaram-se mutuamente na responsabilidade ou a
cumplicidade no crime, que teve imensa e indignada repercussão.
Em Alcobaça, a Bandeira Nacional foi colocada a meia haste
nos edifícios públicos e houve pessoas que se puseram de luto. Os democráticos
voltaram ao poder em 1922, mantendo-se até junho de 1924.
Não era possível encontrar solução para a crise.
Tal como o hoje, havia quem julgasse que o exercício político
podia ser realizado apenas com base nas aparências. Proliferavam partidos e
responsáveis políticos que, mais do que cuidar da substância, se dedicavam ao
circo mediático com tanto ardor que o conteúdo era completamente secundarizado pela
forma. A verdade é que a História tem ensinado (embora sem resultado), que os
que se preocupam mais com a forma do que com o conteúdo, fazem-no, normalmente,
para disfarçar as insuficiências. Dito de outro modo, a ausência de princípios
e valores estruturais, torna mais fácil enveredar por um discurso crítico que
não apresente alternativas credíveis, sérias e exequíveis. Se estas
caraterísticas são passíveis de assegurar uma certa presença mediática, por
outro lado, nas circunstâncias difíceis com que os portugueses eram
confrontados, apenas aceleravam o desgaste e evidenciam o vazio das ideias.
Quando um partido da oposição pensava, que o exercício de estar
na oposição se limitava a enveredar
por um discurso negativo e crítico, esquecia que a dialética política, exigida
pelo Povo Português, implicava apresentar alternativas e propostas que
resistissem ao mero confronto do debate.
Que fazer perante isto?
O Governo e a Oposição pareciam viver num mundo a preto ou a
branco.
A postura e o discurso da oposição eram lineares, tudo o que
o Governo fazia estava errado, não dava resultado, cada decisão adiava a
recuperação. O Governo culpava o passado com propriedade, elencava os falhanços
e as fugas em diante, a dívida e o défice galopantes e o País hipotecado.
O tempo que se vivia exigia de todos (partidos políticos e
parceiros sociais) um elevado sentido de responsabilidade. Nenhum problema se
resolvia, pelo aumento de uma conflitualidade política estéril. Pelo contrário,
impunha-se um denodado esforço de consenso, uma grande abertura ao diálogo e
uma grande capacidade para, em nome dos Portugueses, colocar o interesse
público acima das tricas partidárias. Basta reler os discursos dos líderes
desta República que rumava para o fim, para perceber que, apesar de falarem em
diálogo, não hesitavam em letalmente atacar-se e ao Governo.
Em muitos casos eram políticos que aspiravam uma carreira
conducente a altos cargos do Estado (deputado já era bom…), sem esforço de
estudo ou trabalho, usando um suposto talento inato de comunicação. Tinham
necessidade de criar amizades, se possível para a vida, especialmente com o
líder do momento, de quem se tornavam indispensáveis. Se o líder não era bom ou
reconhecedor dos serviços a pagar com juros (o ideal era uma sinecura), arranjavam
outro líder. No Parlamento, não era especialmente importante botar faladura,
podiam legislar nos Passos Perdidos ou integrar uma comissão onde ficavam lado
a lado com os poderosos, que um dia poderão pedir-lhe opinião.
Se o partido estava na oposição tinham de refrear a
impaciência (o que não era fácil) e ser prestimoso com os adversários.
Só entre 1919/1925 ocorreram 146 greves, 3 tentativas de
greve geral embora só a primeira (1919), tenha sido capaz de afetar o regime.
As questões económicas, financeiras e sociais a partir da
Guerra, tinham-se agravado de forma substancial e a permanente instabilidade
política impedia uma solução, que afinal todos reclamavam. A inflação devorou
as pequenas poupanças em grande parte capitalizadas em títulos do Tesouro, os
chamados Papéis do Estado, que depreciaram a ponto de pouco ou nada valerem. O
crédito do Estado e a sua possibilidade de recorrer ao empréstimo interno,
ficaram bastante limitadas. Em 1924, o Governo teve de recorrer à venda de
prata, utilizada na moeda em circulação. As receitas do Estado não foram
atualizadas na medida da
desvalorização da moeda, o que
acarretou enormes dificuldades de tesouraria, a redução das remunerações dos
funcionários públicos e restrições na vida do dia a dia. Os operários, ainda
que não sindicalizados, enquadrados por ativas organizações sindicais de
orientação anarquista, usaram a greve como instrumento de luta, bem como
provocaram violentas confrontações com as forças governamentais, onde a bomba
era arma de uso frequente.
Tudo isso estava a desgostar, alarmar a consciência
pequeno-burguesa, que se assumia como pilar do regime.
O Centro Republicano de Alcobaça, perante a falta de algumas
referências carismáticas, encontrava-se dividido e sem orientação.
O Partido Democrático entrou em crise e cindiu-se em grupos
rivais. Afonso Costa, abandonou a atividade política direta e foi viver para o
estrangeiro. A ação dos partidos era encarada por um importante setor da
opinião pública e da população, já não apenas a urbana, como o grande obstáculo
à política de desenvolvimento e progresso. Era uma opinião aliás expressa num
artigo de A Seara Nova (1924), que só a ditadura nos pode salvar.
O Governo do Partido Democrático, chefiado por António Maria
da Silva, estava no poder havia vinte e dois meses !!!, o que era um escândalo
impensável para os outros partidos que estavam ansiosos por participarem da
Mesa do Poder, ainda que não muito farta.
As dissidências mais progressistas do Partido Democrático
decidiram recorrer a um golpe militar. Em 28 de maio de 1926, o Gen. Gomes da
Costa, que combateu na Flandres (e que por isso tinha prestígio no Exército),
revoltou-se em Braga e conseguiu facilmente a adesão das tropas do Norte do
País. O plano previa que a revolução estalaria ao mesmo tempo em Lisboa,
comandada por Mendes Cabeçadas. O movimento em Lisboa fracassou por falta de
adesões, mas tendo em conta a situação do Norte, Bernardo Machado chamou o
Comandante Mendes Cabeçadas, nomeou-o Presidente do Ministério, e no dia seguinte
renunciou ao mandato presidencial.
Não era porém só a oposição republicana que apoiava um golpe.
A direita também estava com a revolução, pelo que atuou sobre
as chefias militares para que estas pusessem ponto final à hegemonia do Partido
Democrático, bem como ao governo dos partidos. As tropas continuaram a avançar
para Lisboa, já depois da renúncia de Bernardino Machado.
O pretexto (alegado) era uma parada nas ruas da capital e, em
17 de junho, voltaram a entrar nela para impor a demissão do Chefe do Governo,
que viam como último representante do antigo regime.
Começou a Ditadura Militar.
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