Até ao início do século XX, tanto em Portugal
como no Brasil, seguia-se um princípio ortográfico que, por regra, se baseava nos étimos latino ou grego.
Ao longo dos tempos,
alguns estudiosos da língua portuguesa apresentaram, sem êxito, propostas de
simplificação da escrita. O governo republicano, empenhado no alargamento da
escolaridade e no combate ao analfabetismo, nomeou uma
comissão, para estabelecer uma ortografia simplificada a usar nas publicações oficiais e no ensino.
Apesar de existir no
Brasil uma forte corrente foneticista, que defendia a
simplificação ortográfica, o seu não envolvimento nesta reforma, teve o efeito
de reforçar a corrente tradicionalista, ficando os dois países com ortografias
diferentes, Portugal com uma ortografia
reformada, o Brasil com a velha ortografia
de base etimológica.
Em 1924, a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras começaram a procurar
uma ortografia comum, acordando-se preliminarmente em 1931, seguir
a ortografia portuguesa de 1911, pelo que se iniciou um processo de
convergência das ortografias dos dois países, que não teve grandes resultados a
final.
Teixeira de Pascoaes, sobre este acordo,
escreveu que na palavra lagryma (...) a
forma da y é lacrymal;
estabelece (...) a
harmonia entre a sua expressão graphica ou plastica e a sua expressão
psychologica; substituindo-lhe o y pelo i é offender as regras da Esthetica. Na
palavra abysmo, é a forma doy que lhe dá profundidade, escuridão,
mysterio... Escreve-la com i latino
é fechar a boca do abysmo, é transforma- lo numa superficie banal.
Fernando Pessoa intervindo na
polémica opinou que não tenho sentimento
nenhum politico ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento
patriotico. Minha patria é a lingua portugueza. Nada me pesaria que invadissem
ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente, Mas odeio,
com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal
portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada,
mas a pagina mal escripta, como pessoa propria, a syntaxe errada, como gente em
que se bata, a orthographia sem ipsilon, como escarro direto que me enoja
independentemente de quem o cuspisse.
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