terça-feira, 27 de setembro de 2011

AS NOSSAS MEMÓRIAS FLEMING DE OLIVEIRA


(VI)




-ALÔ F.C.PORTO,
-DAQUI ALCOBAÇA !!!

Embora vivendo há cerca de 30 anos em Alcobaça, ao contrário do que acontece com Coimbra, onde vivi e estudei uns anos de Faculdade, nunca deixei de me considerar um a pessoa do Porto, o lugar onde para mim começam as maravilhas e todas as angústias, como escreveu Sofia de Mello Breyner. Não esqueço onde se come bem e ao mesmo tempo são servidas doses abundantes, como na Adega Vila Meã ou no Ribeiro, restaurantes à moda antiga, que confeccionam o que de melhor há na comida portuguesa, como as pataniscas de bacalhau, o serrabulho (em Semana Santa, mais tarde com o Paulo), o cabrito assado, os filetes de polvo e, claro, as Tripas à Moda do Porto, que já têem uma Confraria para as defender. Mas não se esqueça ainda, que uma das especialidades do Porto, um dos seus ícones, são as francesinhas, cuja receita também evoluiu e agora já se serve com ovo a cavalo e batata frita ao lado a acompanhar.
Como não esqueço, por exemplo, a sofisticada Avenida Marechal Gomes da Costa, a rotunda que serve de antecâmara à Foz, aonde se situava o de saudosa memória Colégio Brotero, a Casa de Serralves, cor de rosa, onde viveu o Conde de Vizela, que mandava buscar um neto ao colégio, num carro deslumbrante, com motorista fardado a preceito (luvas incluídas).
Nesse tempo, eu e os meus amigos andávamos muito democrática e principalmente de Carro Eléctrico, que tomava junto ao colégio feminino da Nª Srª do Rosário, na Boavista, para ver a saída e fazer a boca, ir almoçar a Matosinhos, passeava pela Rua de Santa Catarina, passando ao lado do Majestic, que ainda conserva neste ano de 2004, a atmosfera aristocrática da Belle Epoque com os seus espelhos, dourados e sofás de veludo vermelho, que nem os célebres cafés da Áustria, dava uma saltada à Batalha, ia ao Palácio de Cristal ver os campeonatos do mundo em hóquei em patins com a Zica, ouvindo os épicos relatos do Artur Agostinho, tendo por perto a Torre dos Clérigos, o máximo em matéria de grandeza à beira da qual tudo empalidecia mesmo em Espanha, como se dizia, ao Jardim da Cordoaria (aonde existiu em tempos a infame árvore de forca) e a Cadeia (da Relação), então com presos atrás das grades, que estendiam a mão à caridade pública, e onde na cela 12 Camilo escreveu o Amor de Perdição, se encontrou com o Zé do Telhado, ultimamente tão falado na nossa RTP. Por fim, dirigia-me a pé ou de eléctrico à Estação de S. Bento, com o seu magnífico conjunto de azulejos azuis alusivos aos transportes e à nossa história pátria, para comprar bilhete e apanhar o comboio para Miramar, passando sempre algo receosamente sobre a Ponte D. Maria Pia, essa sim a projectada por Eiffel, entretanto desactivada, como se sabe.
Com os meus 12 a 14 anos, nunca fui precoce como sabem, já gostava de ver as meninas finas de pelos rapados debaixo do braço ou sem buço e boca pintada à mariline, como passava no catálogo das beldades que folheávamos gulosamente ou nos filmes do Trindade ou Coliseu e, desde que não quiséssemos armar ao pingarelho, se ficássemos pelas soquetes do primeiro ciclo, ainda conseguíamos alguns resultados, para na segunda feira por com a malta a escrita em dia, embora com algumas regadelas pelo meio. Histórias de passarinhos, dirão hoje. Cresceram? Envelheceram? Morreram? Rostos que se perderam na cidade e no País, como algumas que na altura nos pareceriam para sempre inesquecíveis e não entrariam no rol das desilusões da vida.
Como disse sou adepto do FCP, mas não obcecado. Não canto, mas gostaria de cantar, o hino que embalou a equipa para as mais recentes e retumbantes vitórias, de 2003 e 2004: Allez Porto, allez. Queremos esta vitória. Conquista-a para nós. Com o FCP, não propriamente com o Sr. Pinto da Costa, constatei, aprendi, que é possível vencer, desde que se trabalhe muito e bem não nos fiemos na sorte, só a arte triunfa!
Eça de Queiroz escreveu a propósito do Porto, Jesus! Que terra! Verdadeiramente inabitável.
Embora seja um dos meus autores preferidos, não o acompanho nesta máxima arrasadora.

Fleming de Oliveira

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