-MIRAMAR (no antigamente),
-MATADUÇOS (hoje-AVEIRO-Tia Biquica)
(I)
As comemorações de Natal neste ano de 2004, foram um pouco diferentes. Tudo tem de evoluir, de se adaptar ao tempo que passa e às realidades da vida.
A Tia Inês e Paulo resolveram promover em Miramar um jantar de família, antes do Natal, melhor dizendo uma semana antes. Na Noite de Consoada, hoje em dia nunca pode estar toda a Gente, mas as coisas são como são. E sem pretender de modo algum competir com a Biquica e Domingos que nos receberam Aveiro, a Inês e Paulo levaram-nos para o Sol dos Pequeninos, onde nos reunimos. Quem melhor que o Paulo S., o nosso anfitrião, para bem descrever o espírito desse encontro?
Decorreram tranquilamente e otimistas os anos 60, do século XX, em Miramar. O sempre atento Chefe da Casa e Pai, transmitia segurança e respeito, verdadeiramente modelares. Nasceram, assim, grandes famílias como os FO, envolvidos pela praia, o golfe e o ténis. As roseiras abraçavam as árvores da rua (como já recordei, Miramar, era conhecido como a Praia das Rosas), apostando na paz para sempre enquanto o Senhor da Pedra enfrentava sem temor, a força e a bravura do mar. Os serviços de apoio, eram suficientes e quase personalizados: farmácia, mercearia, correios, bombas de gasolina, hotel, Areal, Junta de Turismo, apeadeiro da C.P., mulheres da linha coscuvilheiras (cancelas), água do Senhor da Pedra em garrafões da Carminda, capela, serralheiro, costureiras, Pedro Olaio pintor, etc.
De vez em quando, uma festa ou um baile (com porrada, olho à belenenses, GNR e copos, doutro modo não prestava) afloravam o caos urbano, mas por serem curtos e esporádicos eram devidamente tolerados. Neste ambiente, cresceu a primeira geração FO. Os anos 70, do século XX atraíram coisas boas -Tia Ana, Tio Manel, Tio Rui e eu- e alteraram outras, como o êxodo desta geração para Alcobaça, Porto e Lisboa. Ficou a Tia Xica.
Nos anos 80 e 90, juntaram-se o Tio Domingos Peixoto e a Tia Paloma. Celebrámos também o início da terceira geração FO, caracterizando o ambiente em que se desenvolveu a segunda geração FO (dispersão geográfica, alterações de luta pela vida que em nada desmereceram a quem antecedeu).
De pior, só posso mencionar o fim (venda) da casa paternal FO, em Miramar.
Depois das obras, não tem mais portadas da madeira verdes.
Mas, a convite da FO mais nova da primeira geração, deu-se lá pela tardinha do dia 19 de Dezembro o regresso a Miramar de todos os FO (nem calculam, Inês e Paulo, como foi boa esta reunião). Foi um jantar no Jardim de Infância (o local até parecia simbólico), local de privilégio para a educação e pequeninos.
Cabelos brancos? Havia lá disto? Que responda a Náná, resplandecente de alegria que a todos contagiou ou a Paula, dinâmica, dedicada, ambas inesquecíveis.
Ausente, só esteve o saudosismo, a lamechice e a naftalina, já que o Alecrim foi cantado como novidade. Presente, esteve sempre a Tia Inês (o Tio Paulo e as meninas da casa) que idealizou, trabalhou, preparou e concretizou esta iniciativa.
(II)
A Biquica e o Domingos por sua vez fizeram gosto e questão que a Noite de Natal se passasse este ano de 2004, em Aveiro. A decisão acolhida pelos FO, com entusiasmo e expectativa. Acho que o encontro, já não propriamente no Norte do País, excedeu as melhores expectativas, pelo calor, pela espiritualidade e afectividade contagiantes que o rodeou. Não é possível deixar de destacar o contributo das meninas da casa. Mas para registar o acontecimento, vamos ouvir o que o Domingos P., como uma notável sensibilidade, teve para nos dizer.
O sol já se escondera. Era a lua quem evocava o mistério da noite, que desta vez não era escura. Ouviu-se ao longe o sino do campanário bater as 8 da noite e os carros, depois de perdidos e achados nos labirínticos acessos, aproximavam-se do nº 56 da Rua das Arrocheiras. Faltava só carregar o botão da campainha da casa da Biquica e do Domingos. Os Fleming’s, em três gerações, também eles guiados por uma luzinha, vieram do norte e do sul para aqui se encontrarem ao redor da lareira, no dia grande da família. Vieram de Alcobaça, do Porto e de Miramar (e ainda da Figueira da Foz e de Lisboa) e Mataduços foi Belém. O presépio lá estava como símbolo e representação dos personagens fundadores desta noite luminosa. Tudo foi cuidado ao pormenor para que a Noite de Natal fosse mágica no coração de cada um. Luzes, enfeites do pinheiro, o presépio, a Mesa de Consoada e a música ambiente, nada foi deixado ao acaso.
Trocados os cumprimentos e saudações, não foram precisos muitos aperitivos, pois o cheirinho vindo da cozinha era suficiente para aguçar o apetite ao mais enfastiado. O repasto estava pronto. Mas antes do ataque, a Leonorzinha fez a leitura bíblica do fundamento da noite natalícia: a narrativa do anúncio do nascimento de Jesus. Como musica de fundo, o canto do Stilla Nacht, à luz de uma vela, na sonoridade discreta e doce da viola de arco da Teresinha, acompanhada ao piano pelo pai Domingos.
Feito este gesto antigo e simples, desdobraram-se os guardanapos e saltaram umas rolhas de Quinta de Valdoeiro para aconchegar as rechonchudas postas de bacalhau, confeccionadas pela mãe Biquica, uma das mais refinadas continuadoras da escola da nossa Carmindinha. O animal ali estava pujante, mas esquartejado e indefeso, pronto a servir em baixela de tradição familiar. Ao primeiro assalto sumiu… o pobre coitado. Nem o cozido à portuguesa, do almoço comemorativo do aniversário natalício da Raquelinha (este ano pela primeira vez no Bom Sucesso), impediu o trágico fim do foragido da Terra Nova. Idêntica sorte tiveram as batatas, a hortaliça, as cenouras e os ovos. Desapareceram num ápice. Foi um arzinho que lhes deu. E, em alegre conversação, lá foram aparecendo os frutos da época, as trouxas de ovos da Tia Ana, as rabanadas da Paulinha, o bolo- rei da Tia Clara, mais a aletria e o arroz doce da Tia Xica e sonhos da anfitriã. Embora o espaço já não fosse muito, uns passitos à direita e uns passitos à esquerda lá foram criando lugar para mais qualquer coisita.
Tínhamos uma aniversariante e umas velinhas para apagar. Voltamos à música e parabéns à Raquel num coro de vozes reforçado pelas violas de arco das meninas anfitriãs, acompanhadas pelo pianista de serviço. E… já que se estava com a mão na massa, trauteia aqui, trauteia dacolá, ainda houve garganta para os Filhos do Dragão numa singela homenagem ao FCP. Entretanto, os mais miúdos, netinhos do Tio Fernando, mediam forças no tapete. Os dois pequenos Hércules-o Luisinho e o Diogo-deviam ter catrapiscado os olhitos na TV, ao combate dos sumocas. E vamos a isto. Toca a treinar. Diga-se de passagem, que caíam menos vezes que os da televisão.
Aproximava-se o momento da entrada em cena do personagem há muito esperado. Mas, aqui, os anfitriões reservaram uma surpresa aos familiares presentes. Pegaram numa canção de Natal e meteram-lhe uma letra de boas vindas a todos e a cada um. Eram versinhos confeccionados à (boa) moda popular, traduzindo o gosto e a satisfação dos anfitriões em terem a família reunida em torno do seu lume. Aqui ficam eles em jeito de recordação:
Sejam todos muito bem vindos
À nossa Ceia de Natal,
Pr’a comer um bacalhauzinho
Que hoje até não ’stá mal.
Olhei pr’ó presépio
E vi uma luzinha,
Era o Deus Menino
Com as nossas prendinhas.
‘Stava o Pai José,
Estava a Mãe Maria
E o Pai Natal
Que o seu saco enchia.
Venha cá, Senhor Pai Natal
Com essa grande bigodaça,
Tire daí uma prendinha
Para os Fleming de Alcobaça.
Refrão:
Ti Fernando e Ana
Ti Rui, Clara e Manel;
Tia Xica e Guigo,
Paula, Sónia e Miguel;
Gonçalo e Titinha,
Luís Nuno e Raquel;
Diogo e Teresiha
P’ra fechar o plantel.
‘Inda vai muito carregado
Com a sacola muito cheia
Descarregue mais um presente
Para os Fleming de Almeida.
Refrão:
Ti Fernando e Ana
Ti Rui, Clara e Manel;
Tia Xica e Guigo
Paula Sónia e Miguel;
Gonçalo e Titinha
Luís, Nuno e Raquel,
Diogo e Teresinha
P’ra fechar o plantel.
Ajude-nos, o Pai Natal
A fazer mais alguma rima;
Mas mande cá o presentinho
P’rós Fleming Araújo Lima.
Refrão:
Ti Fernando e Ana
Ti Rui, Clara e Manel;
Tia Xica e Guigo,
Paula, Sónia e Miguel;
Gonçalo e Titinha
Luís, Nuno e Raquel,
Diogo e Teresinha
P’ra fechar o plantel.
Tenha paciência Pai Natal
E não se faça de esquecido
Ainda tem uma lembrança
P’rá Zica e Entes Queridos.
Refrão:
Ti Fernando e Ana
Ti Rui, Clara e Manel;
Tia Xica e Guigo
Paula, Sónia e Miguel;
Gonçalo e Titinha
Luís, Nuno e Raquel
Diogo e Teresinha
P’ra fechar o plantel.
E se a consoada foi boa
Neste Veneza de marnotos
P’ró ano aqui nos encontramos
na Casa Fleming Peixoto.
Refrão:
Ti Fernando e Ana
Ti Rui, Clara e Manel;
Tia Xica e Guigo,
Paula, Sónia e Miguel;
Gonçalo e Titinha
Luís, Nuno e Raquel,
Diogo e Teresinha,
P’ra fechar o plantel.
Posto isto, o Pai Natal desencadeou uma avalanche de prendinhas a que ninguém resistiu, desde os quase sexagenários (Tios Fernando e Domingos) até aos pimpolhos de palmo e meio. Umas, eram encaminhadas por via terrestre, outras, voavam directamente para o destinatário. Mais uns bons momentos de conversa, animadas com umas gotas de um digestivo, para cortar a retirada ao animal, fecharam com chave de ouro o encontro natalício deste ano.
Lá fora estava frio, mas um luar, aquecia a alma de quem se despedia até para o ano.
Como vimos pelo Domingos, este Natal de 2004 teve algumas características diferentes do que era habitual e que a Paula também fez questão de notar.
Pois não é assim, Paula?
Sim, este Natal foi diferente. Com a sucessão de casamentos na Família, entrámos num cenário que há alguns anos ninguém imaginava. Este foi o chamado ANO DOS SOGROS. Encontravam-se ausentes o Gonçalo e a Susana, o João, a Marta e a Beatriz, a Mafalda e o Miguel e imagine-se… o Tio Nuno, que pela segunda vez consecutiva passa a Consoada na Boega. De certo a nossa Carminda, quando lhe dizia amigue-se, esquecera-se que também deixaríamos de contar com a presença tão agradável do nosso Tio Nuno. Faltou também a Tia Núnú que ficou com a Ziquinha (a Tia Náná é impossível contar com ela nesta altura do ano, para nossa pena) e tivemos que apanhar o nosso Guigo um pouco distraído para lhe marcarmos a viagem de regresso do Brasil, uns dias antes do Natal, quando ele já se preparava para passar a Consoada afiambrado a uma meia dúzia de brasileiras e a comer picanha naquele calor tropical. Foi por uma unha negra que o tivemos por cá. Para comemorar esta chegada a nossa Tia Xica tratou logo de comprar uma garrafa de groselha para que o nosso menino se sentisse verdadeiramente em casa. Coisas de Mãe.
Não há mesmo dúvida que o Rodrigo é exemplo de uma nova geração à portuguesa, pois ultrapassou a fase coca-cola, para entrar na fase groselha, que segundo se diz é muito mais in e nutritiva.
Ao contrário do habitual, continuemos a dar à Paula a oportunidade de abordar o assunto, a Consoada teve uma característica diferente (como já vimos atrás). Conferiu-se-lhe um carácter mais religioso do que nos temos vindo a habituar. Na abertura do jantar, tivemos leituras e música de fundo, para não nos esquecermos que há 2004 anos nascia O MENINO e o Natal não é só pascoal de postas altas, bolo-rei, rabanadas e uma sucessão de embrulhos que alimentam a nossa gula e o espírito consumista. Para vivermos esta noite uma Festa de Família, tivemos música e cantorias animadas. Oxalá o próximo ano que não é o Natal dos Sogros, e já com a presença de novos elementos da Família (que já vêm a caminho segundo se sabe), seja tão feliz e agradável como o deste ano.
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