quinta-feira, 22 de setembro de 2011
LUXÚRIA
Luxúria é o pecado de ser livre,
o mais humano dos pecados.
Apreciar o momento com força da alma,
desfrutar a vida em magnitude,
saber que cada segundo é irrepetível,
te-la na mão e na aberta palma,
na penumbra e quietude,
não ter vergonha de ser feliz,
nem de ser verdade ou aprendiz,
A luxúria é o pecado de viver agora,
sem desperdiçar tempo duro,
pois não gosta de perder,
é prazer em estado puro,
que, de si, só sabe dizer.
Mãos que deslizam,
pele suada, nua e voluptuosa,
abraços apertados, beijo eterno,
promessas e petiscos,
saliva, língua, pernas entrelaçadas,
numa volúpia dolorosa,
pés que se procuram no verão ou inverno,
costas nuas, pescoço marcado, mordido de leve,
toques fortes ou ariscos.
Adora enredar-se no cabelo ao vento solto,
desgrenhado na cama,
molhado à chuva,
escorre de manhã, acaricia a pele,
acarinha os cabelos com espuma,
tacteia caminhos indecentes com o sabonete,
onde hoje procurou a chama,
com mágoa de um dia ser viúva.
De costas, de lado, de cima, de baixo,
animal, sensual, virtual,
no lençol de seda,
no colchão profundo,
onde lânguida, se enreda,
com olhar iracundo.
Abraço tranquilo, exaustão, carinho,
desejo, êxtase e glória,
mais que tudo imaginação,
aqui eis seu caminho.
A luxúria toma o pequeno almoço ao meio dia,
e janta comida cheirosa e bastante,
regada a vinho tinto, pois claro,
deleita-se com sobremesa de chocolate,
morangos com chantilly arquejante,
cremes e doces roubados ao Olimpo
onde vai buscar o resgate.
A luxúria dança o tango, flamenco ou valsa,
serve-lhe estilo sinuoso, sem percalço,
pertinho de coxas, olho no olho,
mesmo pobre ou pé descalço.
A luxúria espreguiça-se no silêncio,
na benção de um instante de paz,
na quietude após a festa,
brinca despreocupada,
rindo a não mais poder,
sentada no chão como uma criança,
de mãos sujas que a terra faz,
alimentando a alma com destemperança.
A luxúria estende os olhos por paisagens belas,
de oceanos calmos e serras verdes,
ouve o sussurrar das folhas nelas,
dorme embalada pelo marulhar das ondas.
Fleming de Oliveira
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