terça-feira, 13 de setembro de 2011
D. Sara
-VAMOS TROCAR O NOME DO HENRIQUE
-D. SARA, MUITO IMPORTANTE
-RACIONAMENTO DE GÉNEROS ALIMENTARES
Naquele tempo vivia-se mesmo mal, e havia indisfarçável pobreza em Portugal e Alcobaça. Altino Ribeiro nunca esqueceu, o chocante caso da D. Sara, senhora feia, forte e supostamente muito fina e abonada, de Alpedriz. Pois a D. Sara era casada com um tal Sr. Henrique, que para desgosto dela, tinha o mesmo nome de um rapaz que viera de Trás-os-montes trabalhar com o pai lá para a terra. Para não haver risco de confusões entre seu marido e o rapaz, pobre jornaleiro sem eira nem beira (pois ambos se chamavam Henrique), chamou-o a casa, bem como ao pai, perguntando-lhes se estavam dispostos a que, doravante, o rapaz não se chamasse mais Henrique, trocando assim de nome. Em compensação, durante dois dias, filho e pai podiam ir a casa de D. Sara comer uma fatia de pão barrado, com arrobo. E eles aceitaram… Altino jura que isto não é um facto inventado ou anedota e nós acreditamos.
E a história do papel higiénico? O papel higiénico também era objecto de racionamento, em casa da família de Altino Ribeiro, em Alpedriz, como no País em geral. Utilizava-se qualquer papel que se encontrasse à mão, fosse ele de jornal ou de embrulho. No campo, as pessoas utilizavam a erva, folhas de árvores ou ramagens. Um dia, com os seus doze anos, Altino depois de satisfazer uma necessidade, utilizou uma folha de jornal que estava a jeito. Hoje ainda se recorda, já lá vão perto de oitenta anos, que essa folha era do jornal República, aquele que se lia em casa do avô materno, Ceslau Ribeiro dos Santos, uma republicano militante e assumido. A circunstância que levou o Sr. Ceslau a ficar irritadíssimo e a descompor o inocente neto, decorreu do facto de a folha que o rapaz utilizou, conter a fotografia de Franklim D. Roosevelt (Presidente dos EUA).
Mesmo depois de terminada a Guerra na Europa, a vida em Portugal não melhorou logo. O racionamento manteve-se. A população era vítima da ganância, especulação e traficância de alguns comerciantes, que uns oportunistas apelidavam de mercado livre, mas outros bem sacrificados de mercado negro. A falta de arroz sentiu-se bastante em Alcobaça, pelo menos, no verão de 1946. Isto é, só faltava o arroz que deveria ser vendido ao preço da tabela, pois que de sacos estavam as lojas cheias. O azeite, que antes nunca faltara, também era agora objecto de negócios escuros, tanto assim que pela mesma altura foi apanhado em flagrante pela G.N.R. de Alcobaça, um homem da Murteira, que traficava indevidamente 365 litros, ao que se dizia, com destino a Caldas da Rainha.
FLEMING DE OLIVEIRA
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