sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O COMDT. RAMIRO CORREIA VAIADO EM ALCOBAÇA -AS CAMPANHAS DE DINAMIZAÇÃO CULTURAL




Em meados de Maio ou Junho de 1975, o Comdt. Ramiro Correia, devidamente fardado e na companhia de mais dois camaradas, passou a meio da tarde por Alcobaça, de ou para Lisboa, ocupando um Volkswagen preto, e cujo motorista não abandonou, e entrou no Café Trindade, para tomar um café.
Por acaso, cruzou-se com Carvalho Lino. Em breve, juntaram-se à porta alguns populares, que começaram a mimosear aquele militar, com impropérios e gestos obscenos. As pessoas reconheceram ali o rosto das Campanhas de Dinamização CulturallAcção Cívica do MFA e Ramiro Correia, esse generoso Capitão de Abril, o comandante-médico que até fazia versos (…) no dizer de Vasco Gonçalves e que em Caldas da Rainha tinha um excelente e dedicado seguidor, o Cap. Gonçalves Novo.

No sentido de orientar as massas trabalhadoras no sentido do marxismo, a 5ª Divisão do EMGFA, promoveu uma ampla acção de dinamização cultural que teve início em finais de 1974 e se prolongou pelo ano seguinte. Tal ação estendeu-se por todo o país, nomeadamente rural, dinamizada por um conjunto de oficiais e soldados conotados com a ala radical do Movimento, e pretendia incutir na população, a necessidade da revolução assumir um cunho marxista, no estilo de uma democracia popular.
Depois de expulso do Conselho da Revolução e de lhe ter sido retirada a direcção da 5ª Divisão, foi desgraduado do posto de capitão-de-mar-e-guerra por Portaria do Conselho da Revolução, em 21 de Outubro de 1975. Poucos meses depois deu-se o 25 de Novembro e a Codice - Comissão Dinamizadora Central, estrutura da 5ª Divisão, foi extinta, juntamente com as últimas e desacreditadas campanhas de dinamização.
Malquisto pelo poder saído do 25 de Novembro, e depois de uns meses durante os quais escreveu o panfletário MFA e Luta de Classes, Ramiro Correia e família seguiram para Maputo onde foram colocados, ele e mulher, médicos, no Hospital Central, pois que Moçambique aparece-me no horizonte como experiência de solidariedade internacional.
Para muitos portugueses, Ramiro Correio continua conotado com as despudoradas lavagens ao cérebro, denominadas Campanhas de Dinamização Cultural, promovidas pela 5ª Divisão do EMGFA, em colaboração com a Direcção-Geral da Cultura e Espectáculos.

Vasco Gonçalves, enquanto Primeiro-Ministro e seu protetor, entendia que um dos principais objectivos desta iniciativa era levar os militares, o MFA, às populações e apoiá-las no desenvolvimento, nas tomadas de consciência dos problemas que elas tinham. (…) Pretendíamos, sobretudo, transformar as ideias de fundo dessas populações. Não pretendíamos transformar essas populações em socialistas ou em comunistas. Queríamos transformá-las em gente democrática, gente aberta a analisar as situações e arrancá-las de toda aquela carga de fascismo que durante 48 anos tinha pesado sobre elas.
Os alcobacenses que se juntaram à porta do Café Trindade não esqueciam uma presença recente na RTP, com Ramiro Correia a explicar que a alcatifa em casa, o carro ou o frigorífico eram bens de luxo com que a burguesia untava a sua ganância de classe e que, em consequência, havia que a punir de todas as maneiras e feitios, inclusivamente a maneira fiscal.
Mas ele era como Frei Tomás...

Num dos cartazes que desenhou, João Abel Manta pareceu representar a esperança e a confiança que Vasco Gonçalves depositava na iniciativa, ao atribuir-lhe uma centralidade no célebre cartaz MFA-Vasco-Povo-Povo-Vasco-MFA (1975), onde surge ladeado por duas figuras híbridas, meio soldado, meio povo, reforçadas pela frase Força, Força Companheiro Vasco/Nós Seremos a Muralha de Aço. Vasco Gonçalves referindo-se a este cartaz disse que o cartaz é muito terno, eu era o companheiro Vasco, mas para certo sector da população, não para o país.


FLEMING DE OLIVEIRA

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