sexta-feira, 30 de setembro de 2011
(II) O 1º DE MAIO DE 1975 EM ALCOBAÇA -Várias versões. -A festa era só para os escolhidos ?
Timóteo de Matos em diferentes momentos, veio a sofrer todas as punições constantes dos Estatutos do PC, excepto a da expulsão, certamente porque não tenho feitio para defender continuamente a opinião da maioria, só porque é a da maioria.
Só em Março do ano seguinte, voltou ao Partido, perante uma acesa discussão sobre a sua expulsão da Concelhia, reentrando pela mão de dois dirigentes do Comité Central, Osvaldo Castro e Lancinha, dirigente e homem de grandes qualidades, infelizmente já falecido e de quem vim a ser muito amigo e companheiro de muitas lutas e de alguns momentos de grande alegria. Voltei pois, cheio de força, de ideias e de ideais. Que diabo! Os tempos que se seguiram ao 11 de Março, eram necessariamente, para qualquer revolucionário, por mais ofendido que se encontrasse, tempos que não podia ignorar. Estar de fora nessas lutas, teria sido para mim inimaginável, embora deva confessar que nunca fui daqueles que confiavam que o socialismo fosse instalado em Portugal, assim já ali, ao virar da esquina. Sempre via (e ainda vejo) o PCP mais como um partido com uma influência decisiva na sociedade e na política portuguesa, mas muito mais no aspecto de não deixar descambar tudo para a direita, o que necessariamente aconteceria com o PS que temos, do que na assumpção do poder, num momento em que o capitalismo está por cima, pesem embora os óbvios disparates e manigâncias em que cada vez se enterra mais, na ânsia de sobrevivência.
A partir daí, e durante cinco ou seis anos, manteve-se em bastante actividade, tendo chegado a membro da Comissão Nacional de Desporto.
O PC, no Concelho de Alcobaça, atingiu, no seu melhor momento, os cerca de duzentos e cinquenta militantes, com considerável força no norte e centro e muito pequena no sul do Concelho onde, especialmente nas freguesias da Benedita, Turquel e Vimeiro, ser comunista equivalia a ter problemas no dia a dia.
Depois do 11 de Março, as nacionalizações, a reforma agrária, manifestações gigantescas e o PREC, a luta entre a direita e a esquerda agudizaram-se. É opinião de Timóteo de Matos, agora de conteúdo muito benévolo/reciclado, enfim cauteloso e politicamente correcto, que em todos os casos em que duas facções entram em confronto, a razão deixa frequentemente de imperar e as respostas são, muitas vezes, desproporcionadas em relação às acções que pretendem combater. Em Portugal, a linha do PC em relação à PIDE e ao fascismo em geral, sempre foi, após o 25 de Abril, a da defesa do julgamento justo e não a da vingança. Substituir, nos comícios, a palavra de ordem MORTE À PIDE! por JUSTIÇA! foi coisa que a extrema-esquerda nunca pode tolerar e que a maioria dos militantes comunistas tiveram dificuldade em engolir.
Timóteo de Matos justifica-o, porque acabava-se de ver o que ocorrera no Chile de Allende, onde a extrema-direita tinha perseguido selvaticamente os elementos da esquerda e os democratas em geral, os comunistas portugueses, ou melhor, alguns deles, não deixaram, aqui e ali, de responder com violência às provocações e, por vezes, serem eles próprios a iniciarem-nas. Mas pode dizer-se que, na Revolução Portuguesa, os que estavam do lado dos vencedores levaram mais do que deram.
Logo no 1º de Maio de 1975 as coisas azedaram.
Estava marcada uma manifestação, pelas ruas de Alcobaça, integrada numa festa na Praça D. Afonso Henriques, com razoável número de presenças e em que recordo que o actor José Viana foi um dos animadores. Da Praça partia-se para a manifestação, junto ao Café Trindade e à então sede do PPD. Como é sabido, nestas manifestações, o colorido de bandeiras e faixas tem papel primordial, em conjunto com as palavras de ordem que se gritam e o número de manifestantes. E lá estavam as bandeiras de alguns sindicatos, de alguns partidos de extrema-esquerda, também do PS e grande quantidade do PC. Aconteceu então descerem da sede do PPD com o fim de se integrarem na manifestação com outros manifestantes da sede do seu partido, Gonçalves Sapinho com uma bandeira nacional e Fleming de Oliveira empunhando a do PPD. Fruto do acaso, a distribuição das bandeiras? Ou “ratice” maior de Gonçalves Sapinho? O que é certo é que a presença da bandeira do PPD foi contestada imediatamente por parte do funcionário do PCP (Manuel Beja) que se atribuía o papel de comandante da manifestação e que era portador de um megafone para melhor iniciar as palavras de ordem. Não estavam pelos ajustes os do PPD e travaram-se de razões os de um e outro lados. Razões de rua, bem gritadas, mal ouvidas, as coisas aqueceram e o megafone experimentou a dureza de duas ou três cabeças. Lembro-me que o principal agredido foi o Dr. Fleming. Não me recordo, mas estou em crer que a bandeira se manteve na manifestação, até ao fim.
Manuel campos, inscrito no MDP/CDE, mas sem renegar totalmente o Estado Novo, reconhece que neste 1º de Maio, houve turbulência em Alcobaça, que não aprovou. Não participou na manifestação, tendo-se limitado a assistir do passeio, mas destaca o momento em que viu um grupo no qual seguia à frente o dr. Fleming, com uma bandeira do PPD, se ter envolvido em desavença com outro afecto ao PC.
Quanto aos acontecimentos com Natália Evangelista, embrulhada na bandeira laranja e correndo ao longo da rua, não se apercebeu de nada, mas ouviu falar deles.
Com a finalidade de esclarecer a opinião pública sobre a verdade das comemorações do 1º de Maio em Alcobaça, que alegadamente deveriam ser de concórdia e unidade entre os trabalhadores, independentemente do credo político, a Secção de Alcobaça do PS, veio a público informar que este foi contactado no sentido de organizar com o PC e o MDP/CDE, os respectivos festejos. O PPD, obviamente, não foi convidado, o que não o impediu de comparecer na festa. O PS defendeu que as comemorações deveriam ser apenas obra dos trabalhadores, levada a cabo por intermédio dos sindicatos, embora com o apoio dos partidos, que participando, não deveriam assumir a direcção dos trabalhadores. Acontece que acabou por não ser esse o entendimento que prevaleceu pelo que só o respeito pela classe operária, impediu que, pelo menos, no seu dizer o PS não abandonasse a organização.
O PS informou os alcobacenses que discordou da instalação de stands dos partidos com fins lucrativos, aliás no seu stand apenas foram distribuídos cravos vermelhos, e alertou para o perigo que poderia resultar da inclusão de bandeiras partidárias no desfile. O PS tinha razão e o mau exemplo não lhe pode ser imputado.
As comemorações foram, enfim, programadas nas costas do PS, sendo a reunião uma mera e vazia formalidade, pois que terminou na madrugada do dia 29 e o programa deu entrada na tipografia na manhã desse mesmo dia.
Tudo isto acarretou, segundo o PS, graves incidentes, imputados à cegueira partidária de alguns como PC e MDP/CDE.
FLEMING DE OLIVEIRA
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