quinta-feira, 22 de setembro de 2011

UMA QUESTÃO DE VIOLÊNCIA


Para além da violência de tipo físico que pode existir num casamento, numa relação sentimental, familiar, doméstica, ou mesmo laboral, não é menos grave a violência (chantagem) psico-emocional que, segundo podemos ir constatando, tem aumentado e assumido formas cada vez mais refinadas que passam, em último termo, por um consentimento tácito, silencioso e dissimulado das vítimas. Estas, por vezes, nem se chegam a aperceber da situação, dado sentirem-se diminuídas na auto estima e se encontrarem manietadas na relação com quem as agride. A violência nas variadas modalidades, neste século XXI, não é apenas exercida sobre as mulheres, como era mais usual, mas sobre outras pessoas, ainda que novos ou adolescentes, com formação universitária e superior, e sobre os homens. É um problema que atinge muita gente, crianças, adolescentes, mulheres, homens. Não acomete só uma categoria de pessoas, não obedece especificamente a um nível social, económico, religioso ou cultural.
Em muitos casos, há um factor comum que sintetiza, enquadra as situações, actos de prepotência e de controlo, enfim, o receio de um dia poder vir a ficar só. A situação vai persistindo, porque um dos lados revela uma situação de sujeição, de aceitação, de incapacidade de se desligar do meio. A importância da violência, para além dos próprios termos, é extraordinariamente relevante, dado o sofrimento que incute nas vítimas.
Uma vez, ouvi um psicólogo das manhãs de domingo na rádio, dizer e cito de memória que a situação (de violência) poderá ser objecto de prevenção, contenção ou mesmo ainda de solução, se se conseguir incutir na vítima a certeza ou convicção de que é uma pessoa de corpo inteiro e, concretamente no casal, a prática democrática que a vida tem de ser a dois.
Não deixa de ter razão, para além do profundamente básico e elementar, mesmo que se acrescente que tem de haver recíproca aceitação de balizas, sem a necessidade de um se impor ao outro. A verdade é que o agressor, frequentemente, imputa à vítima a responsabilidade pela agressão que sofre, a qual acaba, assim, por padecer duplamente, como que se tivesse a grande culpa e a correspondente vergonha.

A violência é algo que me incomoda muito especialmente. Tenho assistido en termos profissionais, mas não só, a algumas violentas e definitivas rupturas de vida em comum, hoje em dia de uma forma e com uma frequência, como antes não acontecia. Como em tudo, pode-se defender que é uma evolução (positiva), dos tempos e das mentalidades. Mas a minha atenção e experiência, diz-me é que os primeiros tempos são decisivos numa vida a dois. Pequenas coisinhas podem vir, desde logo, a servir propósitos negativos. Há quem atire a toalha ao chão no primeiro round e se entregue ao resultado dos pontos ou, pelo contrário faça, como certos animais selvagens, uma marcação de território. Não me venham argumentar aqui, num slogan de esquerda demodé, com a cultura democrática ou falta dela, para concluir que, no caso de intrusão, se perdeu o respeito pelo outro. Quem cede nos primeiros tempos cede para sempre.
Conheci no passado recente, o caso de uma rapariga que na agressão que era vítima por parte do marido, embora mais por palavras que por actos, mesmo diante dos filhos, se sentia especialmente violada e traída, pois após o acto agressor, ele chorava como uma maria, dizia que estava arrependido, fora injusto e nunca mais repetiria comportamento. Falei depois com o marido que se justificou com um a maior parte das coisas que a minha mulher lhe contou, é tudo mentira.
Uma afirmação interessante, relativa, a maior parte, e peremptória, tudo mentira, demonstraram-me, até que ponto para eles, a situação era complicada e se acabava por definir, como um estado intermédio!!!

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