terça-feira, 27 de setembro de 2011
Num belo dia de Verão (1994) chegou um bébé
-Ser pai da R., P. e M.
-Ser avô da T.
-Ter uma Família Fleming de Oliveira
S
essenta e tais são neste momento os meus anos.
Reconheço na pele e ossos que o tempo passou mais depressa do que desejaria ou esperava. A Aninhas também diz, de si, o mesmo. Não que me incomode o envelhecer.
Que hei de fazer?
Todas as idades têm alegrias e compensações, todos nos dizem isso, e é verdade, como sabemos e quero acreditar.
Todavia, não escondo que tenho saudades do tempo em que era mais novo. Não dos amores, ou das paixões, pois nem a idade, nem a Aninhas me exigem já esses calores. A saudade, pensando bem, é a de alguma coisa que tinha e fugiu ao mesmo tempo que a mocidade.
Recordo as primeiras vezes que senti os bracinhos da T. ao meu pescoço e colo, bem como o seu choro de bébé, mais impressivamente talvez que os da R., P. e M.. E para sempre a forte comoção da Aninhas na Casa de Saúde da Lapa, aonde chegou primeiro que todos nós.
Onde se encontram as minhas crianças? Sim, são todos agora adultos, no Porto, Figueira ou Lisboa, cheios de problemas e stress, que têm sogros, cônjuges, empregos exigentes, cabelos brancos, apartamentos e contas para pagar. São homens e mulheres feitos, não mais aqueles que um dia viveram e estudaram no Jardim-Escola João de Deus e na Escola Secundária de Alcobaça. A verdade é que quando a nossa vida muda, as oportunidades passam a ser outras.
Melhores, piores?
Temos de as adaptar à vida, conjugá-las com a dos outros e suas exigências, melhorando as ligações e tornando-as mais sinceras, no seio familiar.
Ser avô claro é importante, mas ser pai (e mãe) por ordem natural da vida está primeiro, embora não sei bem o que é mais gratificante.
Ser pai, digo sem pretensões, muito menos para ensinar, é vocação que nasce e se assume um dia. Há pai (ou Mãe) que é um verdadeiro pai, mesmo a criar os filhos doutros ou cuidar de uma comunidade desprotegida. Quem tem vocação para ser pai, e eu não sei se alguma vez a tive, mas gostaria de me ver ser reconhecida essa qualidade pelos meus filhos e um dia pelos filhos deles, poderia ser padre, poderia não ser pai natural, mas ele será pai se adoptar filhos ou orientá-los. Quem tiver esta vocação e a deixar germinar dentro de si, vai ser pai de uma maneira ou de outra e para sempre.
Ser pai (ou Mãe) é um compromisso para educar um filho. Compromisso que nunca vai terminar, haja o que houver, dele depende a vida de uns e outro, este um ser indefeso e dependente.
Ser pai é dar todo o valor à Mãe dos filhos, no meu caso a Aninhas, tão importante é essa missão, que Deus quando trouxe ao mundo terreno o seu Filho, pediu a ajuda de uma mulher para poder gerá-lo. É lembrar as dores e esforço durante nove meses e o amor se cria pelos filhos pela vida fora, o cuidado de quem nunca dorme em serviço, descansa ou dá sossego, esteja onde estiver.
Ser pai (ou Mãe) é ser exemplo, não sei se o fui, mas a Aninhas sim, dar limites claros e definidos, mais em atitudes e gestos que em palavras. Saber que quando se diz não a um filho é para torná-lo melhor, é transmitir amor e cuidado e quando diz sim é tentar mostrar o caminho. Um sim por vezes é muito mais custoso que um não. Não é assim R., P. e M.? E o que acham T., o Dodo e L. quando estão em Alcobaça?
Ser pai (ou Mãe), no nosso entendimento familiar, é ser a favor da vida, ter coragem e esperança acima do pessimismo que nos consome, da cultura que empurra apenas para carreiras profissionais, para o egoísmo considerando os filhos um estorvo.
É deixar a vida brotar naturalmente. É ser contra o aborto, apesar de defendido por muita gente que se intitula e é humanista, mas tem vidas onde parece não haver lugar para a esperança. É deixar de lado o egoísmo e prosseguir a criação de Deus, sem querer controlá-la por meio da técnica ou ciência.
Ser pai (ou Mãe) é mesmo, ainda que velho e com filhos crescidos, já pais de filhos, estar presente, ser presente. Não interessa tanto como será em concreto, é necessário participar da vida dos filhos e dos filhos dos filhos, pois assim eles sabem que nós os amamos e que nada neste mundo nos pode separar.
Ser pai é melhor quando há um pai, Mãe (Aninhas) e família, harmonia, união e amor. Ser pai (ou Mãe) é melhor com amor antes, durante e depois.
Ser pai (ou Mãe) é, no meu entendimento, uma graça e um presente de Deus, sem igual, de que me espanto pois foi a maior aventura da minha vida com a Aninhas, que depois me deu já os netos, o maior empreendimento, a maior responsabilidade e perene alegria.
Aos Zicos e aos meus Sogros Magalhães, que me permitiram com a Aninhas, colher para além do que semeei (semeamos), o meu (nosso, ela não me dirá que não estou autorizado a falar pelos dois) agradecimento, e reconhecida lembrança, pois os seus exemplos e histórias ajudaram-me (nos) a ser o que sou (somos). E a eles, revendo-me (nos) nas suas histórias, experiências, acertos e equívocos, assumo (imos) o compromisso de ser ainda melhor que eles, por estranho que possa parecer. Mas eles comprenderiam e lá, onde se encontrarem, sorrirão benevolentemente.
R, P. e M., quais são as lembranças importantes que guardam dos vossos pais, da vossa casa de Alcobaça? A casa dos pais é sempre a casa dos filhos. Dessas lembranças, o que vos ficou mais marcado? Fomos pessoas presentes ou ausentes na vossa vida? E de tudo isso, o que é que vocês, no papel de pais, podem transferir aos vossos filhos?
A figura clássica do pai, que chegava em casa cansado, chateado e farto, e não dava nenhuma atenção aos filhos, está cada vez mais fora de moda, espero eu, não é M. e LN.? Hoje, cada vez mais, os pais deixam de ser figuras distantes, para participar ativamente na vida dos filhos. Seguramente que há as mães que pedem uma participação maior dos maridos na vida da família, concretamente na dos filhos. Ao mesmo tempo, alguns maridos ressentem-se do pouco espaço que ocupam dentro do lar em detrimento das mães. Se pai e mãe desejam o mesmo, qual o entrave? Muitos homens ainda seguem o arquétipo do machão (cuidado! mas não é o caso do LN. e M.) e fazem questão de não modificar esse papel, mesmo quando se dizem insatisfeitos.
E muitas mulheres, embora reclamem a participação do pai, também não colaboram para fazê-la mudar, restringindo sofregamente as suas participações no dia-a-dia (o que não é no caso de ninguém da Minha Gente).
Tenho notado como, ainda que aos poucos, dada a evolução de certos conceitos e condicionantes, tem começado a relevar a figura paternal, desde os primeiros dias de vida. Também por isso, não compreendo como o aborto pode ser equacionado como uma exclusiva opção feminina. Claro que a maternidade e a amamentação são funções biológicas da mulher, mas o homem tem de assumir o papel que sempre deveria ter sido sempre o seu, o de participante activo da gestação, formação e educação dos filhos.
Terá assim sido connosco? Que o digam, com sinceridade, a Aninhas e os meninos, que eu nunca levarei a mal.
O pai é tão importante quanto a Mãe. Assim quis e quero continuar a ser. A Aninhas que me perdoe se, por mais uma vez, me coloco em bicos dos pés.
Muitos homens ainda se assustam com a nova realidade, a crescente consciência de que são tão importantes quanto à mãe. No meu caso, não tanto como pai, mas agora como avô, embora não possa competir com a Aninhas. Na sua maioria, pelo menos os mais velhos como eu, foram educados sob outros padrões de valores, e quando se vêem à frente de situações até então ditas femininas, sentem-se impreparados. Mas a Aninhas tem-me dado ao longo destes anos boas lições e exemplos, não por palavras, mas por actos…
Desde o início do desenvolvimento dos filhos e depois os netos, o papel do pai (ou avô) ao oferecer uma fonte de identificação masculina, deverá ser tão importante como a da mãe (ou Avó), ao oferecer uma identificação feminina. De acordo, Filhos e Netos? Por isso, um pai (avô) ausente (espero não ter sido ou ser o meu caso), mesmo que fisicamente presente, pode provocar dificuldades no decorrer de vida de uma criança.
A paternidade efectiva nem sempre me muito foi fácil de assumir em determinada fase da vida e antes da doença, pretextando a falta de tempo por razões profissionais ou políticas, para estar com os filhos e acompanhar a sua formação e crescimento.
Não posso esquecer que há pais que não são capazes de demonstrar carinho, pois na realidade, eles também não o receberam, nem sempre é possível dar aquilo que nunca se recebeu. Procuro não guardar quaisquer reservas ou mágoas (que mágoas, afinal?) dos tempos de outrora que só trariam, tristezas, saudades e poderiam permitir que transferisse esses sentimentos para os filhos.
Consciente ou menos conscientemente, os pais e depois os avós, devem representar disciplina, autoridade, pelo que precisam de ajustar o tempo e treinar o difícil equilíbrio entre o permitir e proibir, como já referi. Tenho tantas dúvidas neste campo no que diz respeito aos três netos(em 2010 passei a ter 4 netos). Está comprovado que a falta de normas e de limites, gera uma imagem ruim dos pais (ou avós), e uma sensação de abandono e solidão na criança. Hoje, a Aninhas e eu tentamos transmiti-las aos netos.
Para muitos, o pai (homem) assume a imagem de um herói, como gostaria que tivesse sido o meu caso e hoje fosse o do M. e do LN. Em determinada fase da minha vida, embora esporádica, terá sido a de político, embora em part-time. O herói de hoje, vai muito além do homem que faz coisas promessas mágicas e impossíveis, se revê em cartazes de rua, o herói é o que faz companhia, que dá segurança, afeto e lazer, que conversa e que também escuta. E nada há mais reconfortante que o filho (ou um neto), mais tarde nos dar como presente, dizer o quanto somos importantes e porque não, dizer um sonoro: AMO-TE, PRECISO QUE ME EMBALES, QUE TENHO MEDO DO ESCURO!
Parece que, até certa alturada vida, nunca soube bem o que era o Amor, quanto certas pessoas podem vir a fazer parte da nossa (minha) vida.
Agora quando olho à volta, e vejo a T., o Dodo e o Luís(e agora mais o KICO), revejo-me em objectos e memórias, rio-me da minha ingenuidade, e oro para que sejam felizes nas suas cidades de bonbons, gelados de framboesa e chocolate, pedindo que se vão lembrando da Aninhas e de mim, nas suas memórias frescas, me(nos) consigam ver andar de triciclo ao seu lado, quando ensaiam os primeiros passos na vida e na felicidade. A T. tem o talento raro de resprirar como uma flor de jardim e crescer como um castanheiro, como se tudo fosse possível, numa sabedoria inata que lhe dá o mundo que nunca alcancei. Vivo na ânsia de querer perceber tudo, dissecar a realidade como um tresloucado, procurar e encontrar o porquê das coisas, como que se uma boa ideia matasse a tristeza.
FLEMING DE OLIVEIRA
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