terça-feira, 13 de setembro de 2011

Furtado


-AÇÕES DO REVIRALHO EM JANEIRO DE 1931
-SABOTAGEM DA LINHA DE CAMINHO DE FERRO EM PATAIAS E TELÉGRAFO
-JOSÉ SANCHES FURTADO

Os sucessivos movimentos reviralhistas que ocorreram entre 1926 e 26 de Agosto de 1931, isto é, o movimento comandado pelos Ten. Cor. Sarmento de Beires e Utra Machado, Cor. Dias Antunes e facilmente vencido no dia em que se declarou, aliás era esperado, levaram à criação de um clima que, sem dúvida, dificultou o processo de consolidação do regime onde Salazar já pontificava. Ao mesmo tempo, obrigou os novos dirigentes a tentar uma conciliação com o republicanismo conservador, fazendo-lhe concessões que atrasaram a sua institucionalização.

O atentado ocorrido contra as linhas férrea e telegráfica em Pataias, no dia 13 de Janeiro de 1931, pelas 12h20m, segundo a versão que a Profª. Zulmira Marques colheu no Processo n° 4881/PSES (e que muito amavelmente nos facultou), elaborado e pendente na PIDE e vamos seguir de perto, envolveu personalidades do meio sócio-político alcobacense, entre os quais o seu pai José Sanches Furtado, Alberto Serrano de Sousa, Lino Catarino, Bernardo da Silva (cunhado de Alberto Serrano), João Oua (taxista), Manuel Ferreira Quartel (comunista), José Carlos Afonso, Joaquim Ferreira da Silva, Alfredo Bernardo dos Foros, Serafim Amaral, Joaquim Belo Marques, José Alves Pereira e Sousa (estes dois já fugidos da polícia política), Custódio Maldonado de Freitas (farmaceûtico, de Caldas da Rainha). O caso aconteceu aquando da passagem do comboio que transportava os Regimentos de Artilharia 4 e Infantaria 7. Estes regimentos vinham de Lisboa para por termo ao clima de agitação civil (ainda não era a revolta dos vidreiros) que se fazia sentir na Marinha Grande. Estes activistas planearam o corte dos fios telefónicos e telegráficos, bem como o rebentamento da linha de caminho de ferro, inseridos no contexto de um Golpe de Estado contra a ditadura. As linhas telefónicas foram cortadas em Ganilhos (localidade perto de Aljubarrota), a 2 km, da vila de Alcobaça. As linhas telegráficas, por sua vez, foram cortadas perto de Pataias. Por fim, o atentado à linha de caminhos de ferro, foi realizado ao km 137,960 da via férrea. Os elementos operacionais foram fundamentalmente, Alberto Serrano de Sousa, Bernardo da Silva, Manuel Ferreira Quartel, Alfredo Bernardo dos Foros e Lino Catarino.
Os processos de averiguações, junto da Delegação de Alcobaça da Polícia de Segurança do Estado, por parte de alguns dos intervenientes no processo, os que mais directamente estiveram envolvidos e que não fugiram do país, decorreram entre Janeiro a Novembro de 1931.
A 14 de Janeiro de 1931, conjuntamente com o Administrador do Concelho Manuel da Silva Carolino, compareceu na qualidade de testemunha Joaquim Tereso de Figueiredo, para esclarecer se tinha estado com Bernardo da Silva (empregado de José Sanches Furtado) no dia anterior, ao que respondeu que tinha visto a pessoa em causa a conversar com José de Morais.
No mesmo dia, compareceu para depor Raúl Ferreira da Bernarda, para se averiguar se tinha visto no dia anterior Alberto Serrano de Sousa, a caminho de Pataias. A resposta foi positiva, pois declarou que quando estava à espera da camionete viu Alberto Serrano de Sousa dentro do automóvel de Joaquim Ferreira da Silva, conduzido por José Faibner, seu empregado, os dois supostamente a caminho de Pataias.
Por fim, compareceu o motorista Manuel Marques, a quem foi perguntado onde tinha estado no dia anterior, 13 de Janeiro, ao que respondeu que estava na praça de táxis quando chegou Bernardo da Silva a saber se o carro estava disponível. A sua resposta foi negativa, tendo no entanto dito que poderia fazer o serviço mas apenas no carro do seu colega José Moreira. Então, foi lhe solicitado que guiasse o automóvel até à casa de Raimundo Ferreira Daniel e daí para Pataias, para a casa e estabelecimento de José Tereso de Figueiredo. No local, Bernardo e Tereso falaram, ao que lhe foi ordenado de seguida, que regressasse a Alcobaça em direcção à oficina de Albertino Ferreira.
A 16 de Abril, compareceu José Sanches Furtado para ser interrogado a propósito do seu empregado Bernardo da Silva. Foi-lhe perguntarado se tinha ido com este no dia 13 a Pataias, ao que respondeu que não, pois encontrava-se em casa quando pelas 11,00h telefonou o seu empregado a pedir autorização para ir a Pataias falar com um empreiteiro de estrada, sobre um negócio de gasolina (o visado era agente da Companhia Petróleos e Gasolina conjuntamente com Bernardo da Silva). Foi ainda lhe perguntado se conhecia um indivíduo dos Montes, chamado Fernando, pois tinha sido enviado para este um bilhete em seu nome, a pedir para levar uma égua ao apeadeiro de Pataias, o que este negou.
Após um breve período, durante o qual o paradeiro esteve incerto, compareceu no dia 6 de Novembro, perante as autoridades, Bernardo da Silva. Relatou que no dia 13 de Janeiro cerca das 10,15h da manhã o seu patrão José Sanches Furtado lhe confidenciou que nesse dia havia chegado a Alcobaça um indivíduo chamado José Alves Pereira de Sousa (José Tezo), o qual juntamente com o farmacêutico Joaquim Bello Marques, haviam encarregado o cunhado de Bernardo da Silva, o Alberto Serrano de Sousa, de ir dinamitar a linha férrea. O interrogado contou mais que no dia 9 de Janeiro à meia-noite andava a passear com o seu cunhado Alberto Serrano de Sousa, quando chegou junto dele Acácio Morais para o informar que Maldonado de Freitas (na altura farmacêutico nas Caldas da Rainha) se encontrava na farmácia Campião-Alcobaça a conversar com Joaquim Ferreira da Silva, tendo-lhe sido pedido para ir chamar o seu patrão José Sanches Furtado. Posteriormente, este lhe teria dito que a ordem para avançar com o plano do corte dos fios telefónicos e telegráficos e da sabotagem da linha férrea, teria sido dada em carta lacrada, que Maldonado de Freitas entregara a José Sanches Furtado para a fazer chegar a José Carlos Afonso (sócio da Companhia de Moagem Leiriense).
Foram ainda interrogados Serafim Coelho do Amaral, João Pereira da Trindade, David Pinto, Afonso Justino, Amadeu dos Santos, Faustino Policarpo Timóteo, Francisco Pereira Quartel e Alfredo Bernardo, mas os respectivos autos de declarações não estavam acessíveis no processo consultado pela Profª Zulmira Marques.
Depois destes acontecimentos conseguiram fugir para Espanha, Joaquim Belo Marques, Joaquim Ferreira da Silva e José Sanches Furtado, enquanto foram presos Manuel Ferreira Quartel, Lino Catarino, Alberto Serrano de Sousa, Custódio Maldonado de Freitas e Bernardo da Silva.
Seja com for, no rescaldo do 26 de Agosto de 1931, o Conselho de Ministros decidiu eliminar os funcionários do Estado, suspeitos estarem contra a Situação. Mas em de Dezembro de 1931, por ser Natal, segundo O Ecos do Alcoa, o Governo da República, mostrando mais uma vez os desejos de pacificação e os seus sentimentos e clemência, autorizou o regresso de alguns deportados políticos, entre os quais vimos os nomes dos nossos conterrâneos Serafim Amaral, Lino Catarino e João Pereira da Trindade, por quem e por cujo regresso ainda há pouco tempo e expontaneamente se empenhou a Comissão Concelhia da União Nacional. O Governo da Ditadura e da Rèpública procedendo assim para os inimigos no momento em que nos bastidores revolucionários se preparam novas arremetidas contra a segurança do Estado, demonstra uma confiança e uma força que muito nos aprás registar. Oxalá que aos que regressam o passado sirva de exemplo.

FLEMING DE OLIVEIRA

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