terça-feira, 13 de setembro de 2011

BAILES E FESTAS POPULARES


Hoje em dia poucos são aqueles que se recordam de como eram os brinquedos, brincadeiras e bailes de tempos antigos. Em frente a casa de Ti’ Manel Joaquim, havia na estrada umas sarjetas, uma quase em frente à outra, onde os putos, geralmente dois contra dois, jogavam futebol, com uma bola de trapos. As sarjetas serviam de balizas.
Onde estão os bailes de outrora, onde se faziam despiques para dançar com a rapariga mais bonita, se arranjavam namoricos que acabavam por dar em casamento? Nas festas da aldeia, nas que a tinham, havia baile, além do domingo, também ao sábado à noite. Durante os casamentos e batizados, os bailes prolongavam-se habitualmente pelos três dias que durava a festa, tal como acontecia também no Carnaval. Nos Santos Populares o baile armava-se na noite da véspera, à volta das fogueiras. Nos dias das sortes, os rapazes, após percorrerem as ruas da sede do concelho em arruada musical, com um tocador para o efeito contratado, ainda regressavam à aldeia com energia para fazerem um baile.
Os bailes populares raramente ainda acontecem. Francisco do Couto, da Ribeira do Pereiro, gosta de recordar a emoção que representava ter músicos de carne e osso a tocar num baile e a série de imprevistos que isso acarretava, como cordas partidas, problemas com a aparelhagem, provocações, enganos e uma variedade de peripécias que tinham de ser criativamente resolvidas pelos executantes e organizadores. Graças ao álcool consumido pelo público e, às vezes, pelos músicos, muitos bailes degeneravam em pancadaria. E esses eram tidos como os bons, os melhores…
A execução dos músicos era em si mesma frequentemente hilariante, como sabe José Pereira Machado, com o seu Conjunto de Jazz. Sendo muitos deles meros amadores, como era o seu caso, dedicavam-se à atividade nas horas vagas, a troco de uns cobres para despesas ou uns copos. Os espectáculos decorriam nos fins de semana, Adiafas, Santos Populares. Carnaval e com maior intensidade nos meses de Verão. Os repertórios eram monótonos e mal ensaiados, a capacidade técnica e a qualidade dos instrumentos deixava muito a desejar, e diluía-se no sonoro matraquear da bateria.
Será intuito destas notas não deixar desvanecer na memória dos que ainda tiveram o privilégio de assistir a alguns desses arraiais e paralelamente dar a conhecer às gerações mais recentes que apenas conhecem a noite actual, com discotecas e bares, como e onde eram passadas os dias ou as noites de alguns anos atrás. Não vamos fazer, por princípio, o elogio desses tempos, nem a sua crítica. Naqueles bons velhos tempos, dizem os costumeiros idealizadores do passado, havia rigorosos padrões de moralidade pública e particular, realidade todavia bem mais complexa quando a olhamos com cuidado. Uma investigação histórica atenta admite, uma visão bem menos optimista e desmistificadora. Em síntese, adúlteros, bígamos, homessexuais de ambos os sexos, incestuosos, estupradores, toda essa gente constituía uma multidão desviante que durante três séculos desafiou o Estado e a Igreja pela transgressão de condutas oficialmente instituídas. Ontem como hoje, jamais faltaram personagens no teatro dos vícios.

FLEMING DE OLIVEIRA

Sem comentários: