Atentado contra as
linhas férrea e telegráfica,
no dia 13 de Janeiro de 1931,
em Pataias
O
atentado contra as linhas férrea e telegráfica, no dia 13 de Janeiro de 1931, pelas
12h20m – segundo o que a Prof.ª Zulmira Marques colheu no Processo n.º 4881/PSES–
envolveu várias personalidades, entre os quais seu pai José Sanches Furtado,
Alberto Serrano de Sousa, Lino Catarino, Bernardo da Silva, João Oua, Manuel
Ferreira Quartel, José Carlos Afonso, Joaquim Ferreira da Silva, Alfredo Bernardo
dos Foros, Serafim Amaral, Joaquim Belo Marques, José Alves Pereira e Sousa,
Custódio Maldonado de Freitas. O caso ocorreu aquando da passagem do comboio
que transportava os Regimentos de Artilharia 4 e de Infantaria 7 que vinham de
Lisboa para pôr termo ao clima de agitação que se fazia sentir na Marinha
Grande. Estes ativistas planearam o corte dos fios telefónicos e telegráficos, bem
como o rebentamento da linha de caminho-de-ferro em Pataias. As linhas telefónicas
foram cortadas em Ganilhos, enquanto as linhas telegráficas foram cortadas perto
de Pataias. Por fim, o atentado à linha de caminhos-de-ferro, foi realizado ao
km 137,960. Os operacionais foram Alberto Serrano de Sousa, Bernardo da Silva,
Manuel Ferreira Quartel, Alfredo Bernardo dos Foros e Lino Catarino.
Os
processos de averiguações – instaurados na Delegação de Alcobaça da Polícia de
Segurança do Estado, respeitantes aos intervenientes que não tinham fugido do
país – decorreram entre Janeiro a Novembro de 1931.
A 14
de Janeiro de 1931 compareceu perante o Administrador do Concelho Manuel da
Silva Carolino, Joaquim Tereso de Figueiredo, para esclarecer se tinha estado
no dia anterior com Bernardo da Silva, empregado de José Sanches Furtado, ao
que respondeu que tinha visto a pessoa em causa a conversar com José de
Morais.
No
mesmo dia, compareceu Raúl Ferreira da Bernarda, para se averiguar se tinha
visto no dia anterior Alberto Serrano de Sousa, a caminho de Pataias. A
resposta foi afirmativa, declarou que quando estava à espera da camionete
viu Alberto Serrano de Sousa dentro do automóvel de Joaquim Ferreira da
Silva, conduzido por José Taibner, seu empregado, possivelmente a
caminho de Pataias.
Nesse
dia ainda compareceu o motorista Manuel Marques, a quem foi perguntado onde
tinha estado no dia anterior, ao que respondeu que estava na praça de táxis
quando chegou Bernardo da Silva a saber se o carro estava disponível. A sua
resposta foi negativa, tendo, no entanto, dito que poderia fazer o serviço,
mas apenas no carro do seu colega José Moreira. Então, foi lhe
solicitado que guiasse o automóvel até à casa de Raimundo Ferreira
Daniel e daí para Pataias, para a casa e estabelecimento de José Tereso
de Figueiredo. No local, Bernardo e Tereso conversaram, e foi-lhe
ordenado, que regressasse a Alcobaça em direção à oficina de Albertino Ferreira
que vendia também máquinas
de costura e bicicletas, embora a sua principal atividade fosse alfaiate, aliás
muito bem afreguesado e com muitas costureiras ao serviço. Pode-se de certo
modo dizer que era o alfaiate com mais serviço em Alcobaça, o que decorria
desde logo pela perfeição e habilidade com que trabalhava. Sendo pessoa
assumidamente conotado com a oposição ao salazarismo, isso não o impedia de ter
clientes de todos os quadrantes políticos. No seu estabelecimento havia para
confeção própria inúmeras peças de tecido de boa qualidade de origem nacional
ou mesmo estrangeira.
A 16
de Abril, compareceu José Sanches Furtado para ser interrogado sobre o seu
empregado Bernardo da Silva. Foi-lhe perguntado se tinha ido com este no dia 13
a Pataias, ao que respondeu que não, pois encontrava-se em casa quando pelas
11h telefonou o seu empregado a pedir autorização para ir a Pataias falar
com um empreiteiro de estrada, sobre um negócio de gasolina. Foi ainda lhe
perguntado se conhecia um indivíduo dos Montes, de nome Fernando, a quem tinha
sido enviado um bilhete em seu nome, a pedir para levar uma égua ao apeadeiro de
Pataias, o que negou.
Após
um breve período, durante o qual o paradeiro esteve incerto, compareceu no dia
6 de Novembro, Bernardo da Silva que relatou que no dia 13 de Janeiro cerca
das 10,15ho seu patrão José Sanches Furtado lhe confidenciou que nesse
dia havia chegado a Alcobaça um indivíduo chamado José Alves Pereira de
Sousa, vulgo José Tezo, o qual juntamente com o farmacêutico Joaquim Bello
Marques, haviam encarregado o cunhado de Bernardo da Silva, o Alberto Serrano
de Sousa, de ir dinamitar a linha férrea. O interrogado mais contou que no dia
9 de Janeiro à meia-noite andava a passear com o seu cunhado Alberto Serrano
de Sousa, quando chegou junto dele o Acácio Morais para o informar que
Maldonado de Freitas se encontrava na farmácia Campião-Alcobaça a conversar
com Joaquim Ferreira da Silva, tendo-lhe sido pedido para ir chamar o
seu patrão José Sanches Furtado. Posteriormente, este lhe teria dito que
a ordem para avançar com o plano do corte dos fios telefónicos e telegráficos
e da sabotagem da linha férrea, teria sido dada em carta lacrada, que Maldonado
de Freitas entregara a José Sanches Furtado para a fazer chegar a José
Carlos Afonso
Foram
ainda interrogados Serafim Coelho do Amaral, João Pereira da Trindade, David
Pinto, Afonso Justino, Amadeu dos Santos, Faustino Policarpo Timóteo, Francisco
Pereira Quartel e Alfredo Bernardo, mas os respetivos autos de declarações não
estavam acessíveis no processo consultado pela Profª Zulmira Marques.
No
seguimento destes acontecimentos fugiram para Espanha, Joaquim Belo Marques,
Joaquim Ferreira da Silva e José Sanches Furtado, e foram presos Manuel Ferreira
Quartel, Lino Catarino, Alberto Serrano de Sousa, Custódio Maldonado de Freitas
e Bernardo da Silva.
No rescaldo da tentativa de 26 de Agosto de 1931, o Conselho de Ministros demitiu os funcionários públicos, ainda que meramente suspeitos de se encontrarem comprometidos com o golpe ou estarem contra a Ditadura Militar. Mas em Dezembro de 1931, por ser Natal segundo “O Ecos do Alcoa”, com insolência, o Governo da República, mostrando mais uma vez os desejos de pacificação e os seus sentimentos e clemência, autorizou o regresso de alguns deportados políticos, entre os quais vimos os nomes dos nossos conterrâneos Serafim Amaral, Lino Catarino e João Pereira da Trindade, por quem e por cujo regresso ainda há pouco tempo e espontaneamente se empenhou a Comissão Concelhia da União Nacional. O Governo da Ditadura e da República procedendo assim para os inimigos no momento em que nos bastidores revolucionáriosse preparam novas arremetidas contra a segurança do Estado, demonstra uma confiança e uma força que muito nos apraz registar. Oxalá que aos que regressam o passado sirva de exemplo.
Uma
vaga de conspirações estalou em 1931, o ano de todas as revoltas, como seria
chamado. Seria este golpe, o último dos saídos à rua e o derradeiro susto da Ditadura
Militar. Deparava esta com uma situação social crescentemente deteriorada pelos
efeitos da crise internacional de 1929, pelo reavivar da agitação anarco-sindicalista
e comunista e pela insatisfação dos setores dos serviços, particularmente atingidos
pelo desemprego. E vivia um agitado momento de lutas internas com a Liga 28 de
Maio a disputar a liderança salazarista.
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