50 anos decorridos, a importância do
Verão de 1975 não deve ser negligenciada e pode afirmar-se como um critical issue, na medida em que
envolveu decisões políticas que afetaram o uso ou a posse de um recurso
fundamental, a Liberdade, e o funcionamento da sociedade. Quem assistiu à RTP
na noite de 25 de Novembro de 1975, percebeu que o que se passava era sinal que
as forças democráticas tinham tomado a RTP e alguma coisa podia estar a mudar. De
25abr
O autor, alferes miliciano na Guiné que, enquanto
tal, não se metia em políticas[1],
conheceu o então discreto Duran Clemente, tendo-se encontrado com ele, muito
circunstancialmente é certo, na Messe de Oficiais do CTIG/Bissau, onde corria
que este fora um dos promotores da reunião de capitães realizada em Agosto de
1973, e coautor da carta-protesto que, mais tarde, seria tida como o primeiro documento de insubordinação
coletiva contra o regime salazar/caetano. É de referir o facto de estas reuniões terem lugar num
local que, embora vedado à sociedade civil ou aos milicianos, nada tinha especialmente
de secreto. Ou seja, não só o aparelho militar, tinha conhecimento destas
reuniões, como os seus participantes não manifestavam grandes preocupações com
a falta de secretismo dos encontros[2].
Ao rever imagens da época nota-se que,
acompanhando a moda, a indumentária masculina aumentou de tamanho. O nó da
gravata reproduzia o punho fechado dos manifestantes, as bandas de casaco
tinham quase um palmo de largura, os penteados partiam da nuca tapando as
orelhas, e a boca das calças cobria a biqueira dos sapatos cujos tacões
elevavam os portadores a alturas nunca antes pensadas ou experimentadas. Talvez
por isso alguns revolucionários pareçam hoje pouco convincentes. E também por
isso, radicais como os maoístas, insistiam na sobriedade da indumentária.
[1] O autor não participou no Congresso dos Combatentes do Ultramar,
realizado entre 1 e 3 de junho de 1973, embora
lhe tivessem oferecido na Guiné condições para o fazer. De 1 a 3 de Junho de 1973 realizou-se no Porto o I
Congresso dos Combatentes do Ultramar, favorável à defesa do espaço ultramarino
em nome da grandeza e unidade de Portugal. A frase
mobilizadora era simples: “não seremos a
geração da traição”.
Pezarat Correia definiu este evento, como “uma
encenação dos setores colonialistas mais radicais que garantiriam a aprovação
de conclusões no sentido da continuação da guerra e da manutenção do statu quo colonial e
que, assim, reforçariam os setores radicais, comprometeriam Marcello Caetano,
silenciariam a ala liberal, dariam uma imagem de firmeza para o exterior do
país e reuniriam forças para combater a oposição”.
[2] Carlos Fabião, afirmou: “Os
oficiais que estavam na Guiné tinham capacidade de conspirar à vontade (…)
tinham a grande capa do governador (Spínola) a tapá-los”.
- A contestação iniciada na
Guiné resultava da coesão entre militares e Matos Gomes apontou uma das razões:
“Bissau tinha a vantagem de reunir quase todos os quadros da Guiné, embora eles
não estivessem fisicamente ali, porque estavam espalhados pelo território. O
que acontece é que tinham de ir a Bissau tratar dos seus assuntos militares,
tinham de ir a Bissau para tratar dos seus assuntos particulares, tinham de ir
a Bissau nas vindas aqui à metrópole. Havia pontos de reunião
relativamente fáceis. Como em Bissau não havia vida social para além das messes
e dos poucos restaurantes que tinha, havia esse tipo de contacto fácil”.
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