terça-feira, 12 de dezembro de 2023

NOTAS FALSAS EM S.MARTINHO DO PORTO (1974)

 

  Em inícios de Setembro de 1974, houve alguma animação em S. Martinho do Porto, graças à acção de amigos do alheio. No dia 7, o agente da PSP Rui Jesus, ao entrar de serviço na parte da tarde, soube que estava pendente um pedido de captura de dois reclusos, um dos quais se havia evadido, pela segunda vez, da prisão de Caldas da Rainha e que se faziam transportar num automóvel roubado, com o qual tinha feito assaltos, a casas de eletrodomésticos. Saindo para a rua, o agente deparou com um homem que conduzia uma motorizada, aliás sem capacete, que aparentava ser um dos evadidos. Este não só não parou quando foi intimado, como ainda tentou atropelar o agente, pondo-se em fuga, em direção a Salir do Porto. O polícia, auxiliado por populares que presenciaram o caso, encetou a imediata perseguição, que não se revelou fácil. Após tiros para o ar, o fugitivo que acabou por ser atingido numa anca, caindo para o chão e detido, foi transportado para o Hospital, onde ficou internado, sob prisão. Dias depois, a 12, em S. Martinho apareceram notas falsas de 1.000$00, entregues para pagamento em estabelecimentos comerciais, como no Café Rosa, onde se deu pela fraude. Um dos passadores, pagou o jornal com uma nota de 1.000$00 e o outro com nota igual, uma despesa de 32$50, tendo ambos desaparecido. No dia seguinte, no posto da SACOR, parou um automóvel para se abastecer, preparando-se o condutor para pagar, com uma nota de 1.000$00. O gasolineiro desconfiou, por andar no ar a notícia do caso do dia anterior e um outro ocorrido em Fátima, pelo que examinando com atenção a nota, notou que não tinha selo de água e exclamou Alto! Aqui está mais uma! Já te apanhei, ganda vígaro! Vendo recusado o pagamento, o ocupante do automóvel pareceu admirado. Encontrando-se presente, por mera casualidade, o taxista António Pedreiro, sugeriu que se dirigissem ao Posto da PSP, para participar a ocorrência. O condutor do automóvel pareceu aceder à ideia, mas logo tentou fugir, pelo que com a ajuda de José Lopes da Silva, acabou por ser detido. No automóvel e nos bolsos foram encontradas mais 8 notas falsas, embora não fossem de grande qualidade. O passador, um tal Nelson, foi preso e referiu às autoridades que já havia passado duas notas em cafés de Tornada. Apreendidas, contaram-se 17 notas de 1.000$00 e apurou-se que elas vinham da Lourinhã, através de um tal Anacleto, que espalhara os seus agentes pelo país.

  Algumas notas (aliás de pouca qualidade como resultava do papel e da suposta marca de água) terão sido entretanto passadas na Nazaré, aquando das Festas do Sítio. Uma das vítimas foi um cauteleiro idoso, que se movimentava com dificuldade, muletas, além de ter problemas de visão e que vendia jogo junto à praça de touros. Apurou-se, porém, que desta vez não foram os passadores do Café Rosa. Os burlões que provinham do Algarve, foram apanhados por 2 populares e explicaram que pretendiam ir assistir a uma corrida de touros (mista), cujo cartel reputavam de qualidade, tanto mais que estaria presente o valente, novo e credenciado Grupo de Forcados Amadores da Azambuja[1]. A técnica que os burlões que utilizavam era francesa, pois um deles fora emigrante na zona de Marselha, onde deixara família e tinha oficina. Mário Pinto, industrial de panificação, que pretendia comprar bilhetes para a corrida[2] com o amigo Amílcar Magalhães, como acontecia com alguma regularidade, e que os tempos agitados não afetavam, assistiu ao acontecimento e nunca o esqueceu.

 



[1] A praça de touros da Nazaré foi construída entre 1891-1987, ainda que desde o início do séc. XVIII existam referências à realização de touradas e à construção de curros ou arenas de madeira para as festas de Nossa Senhora da Nazaré/Sítio, erguendo-se nessa altura mais próximas do terreiro do Santuário e do Palácio Real que, até 1830, tinha um passadiço de comunicação a partir da varanda.

[2] Salvo erro a 7set1974.

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