Em inícios de Setembro de 1974, houve alguma
animação em S. Martinho do Porto, graças à acção de amigos do alheio. No dia 7,
o agente da PSP Rui Jesus, ao entrar de serviço na parte da tarde, soube que
estava pendente um pedido de captura de dois reclusos, um dos quais se havia
evadido, pela segunda vez, da prisão de Caldas da Rainha e que se faziam
transportar num automóvel roubado, com o qual tinha feito assaltos, a casas de
eletrodomésticos. Saindo para a rua, o agente deparou com um homem que conduzia
uma motorizada, aliás sem capacete, que aparentava ser um dos evadidos. Este não
só não parou quando foi intimado, como ainda tentou atropelar o agente,
pondo-se em fuga, em direção a Salir do Porto. O polícia, auxiliado por
populares que presenciaram o caso, encetou a imediata perseguição, que não se
revelou fácil. Após tiros para o ar, o fugitivo que acabou por ser atingido
numa anca, caindo para o chão e detido, foi transportado para o Hospital, onde
ficou internado, sob prisão. Dias depois, a 12, em S. Martinho apareceram notas
falsas de 1.000$00, entregues para pagamento em estabelecimentos comerciais, como
no Café Rosa, onde se deu pela fraude. Um dos passadores, pagou o jornal com
uma nota de 1.000$00 e o outro com nota igual, uma despesa de 32$50, tendo
ambos desaparecido. No dia seguinte, no posto da SACOR, parou um automóvel para
se abastecer, preparando-se o condutor para pagar, com uma nota de 1.000$00. O
gasolineiro desconfiou, por andar no ar a notícia do caso do dia anterior e um
outro ocorrido em Fátima, pelo que examinando com atenção a nota, notou que não
tinha selo de água e exclamou Alto! Aqui está mais uma! Já te apanhei, ganda vígaro! Vendo recusado o pagamento, o ocupante
do automóvel pareceu admirado. Encontrando-se presente, por mera casualidade, o
taxista António Pedreiro, sugeriu que se dirigissem ao Posto da PSP, para
participar a ocorrência. O condutor do automóvel pareceu aceder à ideia, mas
logo tentou fugir, pelo que com a ajuda de José Lopes da Silva, acabou por ser
detido. No automóvel e nos bolsos foram encontradas mais 8 notas falsas, embora
não fossem de grande qualidade. O passador, um tal Nelson, foi preso e referiu às
autoridades que já havia passado duas notas em cafés de Tornada. Apreendidas,
contaram-se 17 notas de 1.000$00 e apurou-se que elas vinham da Lourinhã,
através de um tal Anacleto, que espalhara os seus agentes pelo país.
Algumas notas (aliás de pouca qualidade como
resultava do papel e da suposta marca de água) terão sido entretanto passadas
na Nazaré, aquando das Festas do Sítio. Uma das vítimas foi um cauteleiro idoso,
que se movimentava com dificuldade, muletas, além de ter problemas de visão e
que vendia jogo junto à praça de touros. Apurou-se, porém, que desta vez não
foram os passadores do Café Rosa. Os burlões que provinham do Algarve, foram apanhados
por 2 populares e explicaram que pretendiam ir assistir a uma corrida de touros
(mista), cujo cartel reputavam de qualidade, tanto mais que estaria presente o
valente, novo e credenciado Grupo de Forcados Amadores da Azambuja[1]. A técnica que os
burlões que utilizavam era francesa, pois um deles fora emigrante na zona de
Marselha, onde deixara família e tinha oficina. Mário Pinto, industrial de
panificação, que pretendia comprar bilhetes
para a corrida[2] com o amigo
Amílcar Magalhães, como acontecia com alguma regularidade, e que os tempos
agitados não afetavam, assistiu ao acontecimento e nunca o esqueceu.
[1] A praça de touros da Nazaré foi construída entre
1891-1987, ainda que desde o início do séc. XVIII existam referências à
realização de touradas e à construção de curros ou arenas de madeira para as
festas de Nossa Senhora da Nazaré/Sítio, erguendo-se nessa altura mais próximas
do terreiro do Santuário e do Palácio Real que, até 1830, tinha um passadiço de
comunicação a partir da varanda.
[2] Salvo erro a 7set1974.
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