RACIONAMENTO E CONTRABANDO
DE AZEITE
NA SERRA D’ AIRE E CANDEEEIROS
(Tempo da II Guerra)
FLeming
de OLiveira
A
crise provocada pela II Guerra foi vivida na zona da Serra de Mira d’Aire e Candeeiros
de forma intensa, com o racionamento do azeite, um dos mais preciosos rendimentos
dos seus habitantes, o que conduziu ao fomento do seu contrabando, como
recordava Graciete Soares, da Mendiga. A vida de pessoas da Serra dependia em
grande parte da produção do azeite já que, os terrenos são fracos para a
agricultura, mas bons para a oliveira. O racionamento levou ao contrabando, como
destacava também Inocência Maria, do Casal Val Ventos, actividade que desenvolveu
durante anos, sem nunca ter sido apanhada, e que a ajudou a alimentar a boca do
marido e três filhos. As famílias, escondiam as talhas no meio das terras, debaixo
do soalho ou nos currais, para depois venderem o azeite diretamente ou mesmo
aos contrabandistas. Inocência Maria, conhecia histórias como a do almocreve da
Mendiga, que transportava numa furgoneta azeite para Alcobaça e Nazaré.
Escondia os odres dentro dos bancos e assim conseguia iludir a fiscalização postada
na estrada. Outros, escondiam o azeite dentro das enxergas de palha das mulas
que, carregadas com odres, atravessavam a serra de noite. Saíam ao escurecer,
subiam a encosta da Bezerra, ou desciam até às Pedreiras. Os vendedores escondiam
as mulas, enquanto um se ia certificar se havia guardas por perto. Mas estes,
que por vezes, ouviam os passos dos animais também se escondiam, e apanhavam os
negociantes. Era um trabalho duro e com riscos, estilo gato e rato, como
reconhecia Inocência. Por vezes, especialmente de noite feria os pés, pois calçado
era mau e muito usado. Quando a guarda atuava não se podia fazer nada. Ficávamos
sem o azeite e, em alguns casos, sem a mula e tínhamos de calar o bico.
A alternativa,
quando havia, passava por subornar o guarda, o que não era raro, mas
prejudicava o negócio. O contrabando de azeite era normalmente reservado aos
homens, sendo o caso de Inocência Maria da Felismina, se não único na
zona, pelo menos raro. Entre os habitantes mais idosos como recordava
Inocência, contavam-se casos de mulheres, escondendo o azeite debaixo da
roupa, fingindo estarem grávidas, ou colocando os depósitos entre as
pernas.
Na
edição de 30 de Novembro de 1946, “O Mensageiro”, de Leiria, relatou o caso de
uma mulher que viajava de comboio, com volumosos seios que, embora bem ajustados ao
corpo da madama, tremiam, dançavam e moviam-se (...) e até
ameaçavam desandar para as costas. Quando desabotoou a blusa no posto de
fiscalização instalado no comboio, a mulher revelou duas grandes bexigas
cheias de azeite.
O
mesmo jornal conta, também, a história de uma senhora que se sentou num comboio
e que, nos braços trazia um gorducho menino, roliço, imbuído em mantilha
de seda (...) um pimpolho que amamentava aos seus úberes seios. O bebé
afinal, era um odre de azeite e os seios eram bexigas cheias do dito.
A
fiscalização nem sempre era rigorosa, abstraindo os casos de suborno, que reduzia
o proveito da atividade.
Em
Alcobaça, respigando o “Ecos do Alcoa”,
constata-se que houve comerciantes que se queixaram da pouca lealdade de
alguns armazéns fornecedores que a esta Vila vinham fornecer no tempo da
abundância e que agora contando com êles pela inspecção que lhe foi
feita, aqui não vêem com prejuízo para todos nós, vendendo tudo a mais o
que arranjam onde muito bem lhe convém ou onde mais lhe pagam
concerteza.
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