ZECA AFONSO E ALCOBAÇA
FLeming
de OLiveira
José
Afonso, lecionou Francês e História na Escola Técnica de Alcobaça/ETA– mas não
desenvolveu aí ação política, como diz Edite Condinho que com ele privou de
perto – a partir de 3 de outubro de 1959. Nos anos anteriores, lecionara na
Escola Comercial e Industrial de Lagos/1957 e de Faro/1958, como professor provisório
do 8.º grupo, categoria que manteve em Alcobaça. Embora ainda não licenciado,
foi autorizado a lecionar no ensino oficial, de onde foi expulso em 1967.
António
Carvalho Gerardo, seu aluno, sublinhou a impressão que ainda retemos é de
amizade e boa companhia. Deu-me francês. Não digo que era o melhor dos professores,
mas era, sem dúvida, aquele que melhor nos compreendia.
Adélia
Faria Borda a quem José Afonso deu aulas de português no antigo 2.º Ano do
liceu, recordou que, ele era muito nosso amigo e compreensivo. Às vezes,
achávamo-lo estranho na maneira de ser e de dizer as coisas. Só mais tarde nos
viemos a aperceber do seu verdadeiro valor.
Jorge
Barros referiu que, sei que ele apreciou a experiência aqui vivida, o contacto
com as dificuldades dos estudantes noturnos, muitos dos quais vinham, de
bicicleta, da Benedita e de Turquel, para frequentarem as aulas.
José
Manuel Almeida não foi seu aluno, mas conheceu-o, cimentando-se entre ambos uma
certa relação. Conheci-o no Café do Isidro ou arredores. Ele estava hospedado
na Pensão Faustino, éramos da mesma idade e convivemos muito. Chegou a
passar alguns serões em minha casa, ouvindo música clássica, e, quando saiu de
Alcobaça, deixou lá muitos livros, que mais tarde veio buscar. Nós e
outros amigos juntávamo-nos ao pé do Correio e por ali ficávamos, à conversa,
até altas horas. Por brincadeira, chegámos a pensar em pedir ao Artur Carolino
que lá mandasse pôr um toldo para nos resguardar. Na altura, o Zeca
atravessava uma fase de transição. Já não era o boémio de Coimbra, revelava-se
cada vez mais o artista preocupado e interventor que mais tarde conhecemos.
Edite
Condinho revela que ia por vezes tomar café com José Afonso e tinham prolongadas
conversas no Café Trindade, sendo que umas vezes pagava ela – outras não… – já
que ele frequentemente andava sem dinheiro, o que o constrangia.
José
Afonso vestia despreocupadamente, era sóbrio no comer e beber, tinha dois filhos
que viviam em Coimbra com a mãe – Maria Amália, costureira de origem humilde
com quem se casou em segredo e de quem se veio a divorciar em 1956 – e quando
recebia, ia entregar parte dele para sustento dos filhos e dos quais dizia ter
saudades. Para os sustentar, dava explicações e fazia revisão de textos no
Diário de Coimbra. Pela mesma altura, gravou o seu primeiro disco, Fados de
Coimbra.
Sempre
que podia aproveitava para ensaiar ou atuar com a Tuna Universitária e o Orfeon
Académico.
A Tuna
Universitária de Coimbra deslocou-se a Alcobaça em 9 de dezembro de 1939, tendo
atuado no Refeitório do Asilo de Mendicidade de Lisboa, em Alcobaça, por
iniciativa da Direção da Associação de Bombeiros Voluntários, e em benefício
desta coletividade. José Afonso teve programada nova visita da Tuna, que foi
cancelada, por razões não apuradas.
Em
1974, a convite de Pessanha Gonçalves, veio a Alcobaça atuar numa sala da Ala
Norte do Mosteiro, numa ação de propaganda da LUAR – com quem mantinha
contactos tal como com o PC –, onde estiveram presentes Camilo Mortágua e Palma
Inácio e cerca de 30 assistentes.
Oriundo
do fado de Coimbra, foi figura central do movimento de renovação da música
portuguesa que se desenvolveu na década de 1960 e se prolongou na década de
1970, sendo dele famosas canções de intervenção, contra o Regime.
Zeca
Afonso ficou indelevelmente associado ao derrube do Estado Novo, uma vez que
uma das suas composições, “Grândola, Vila Morena”, foi utilizada como senha pelo
MFA.
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