quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

ZECA AFONSO E ALCOBAÇA

 

ZECA AFONSO E ALCOBAÇA

 

FLeming de OLiveira

 

 

 

 

José Afonso, lecionou Francês e História na Escola Técnica de Alcobaça/ETA– mas não desenvolveu aí ação política, como diz Edite Condinho que com ele privou de perto – a partir de 3 de outubro de 1959. Nos anos anteriores, lecionara na Escola Comercial e Industrial de Lagos/1957 e de Faro/1958, como professor provisório do 8.º grupo, categoria que manteve em Alcobaça. Embora ainda não licenciado, foi autorizado a lecionar no ensino oficial, de onde foi expulso em 1967.

António Carvalho Gerardo, seu aluno, sublinhou a impressão que ainda retemos é de amizade e boa companhia. Deu-me francês. Não digo que era o melhor dos professores, mas era, sem dúvida, aquele que melhor nos compreendia.

Adélia Faria Borda a quem José Afonso deu aulas de português no antigo 2.º Ano do liceu, recordou que, ele era muito nosso amigo e compreensivo. Às vezes, achávamo-lo estranho na maneira de ser e de dizer as coisas. Só mais tarde nos viemos a aperceber do seu verdadeiro valor.

Jorge Barros referiu que, sei que ele apreciou a experiência aqui vivida, o contacto com as dificuldades dos estudantes noturnos, muitos dos quais vinham, de bicicleta, da Benedita e de Turquel, para frequentarem as aulas.

José Manuel Almeida não foi seu aluno, mas conheceu-o, cimentando-se entre ambos uma certa relação. Conheci-o no Café do Isidro ou arredores. Ele estava hospedado na Pensão Faustino, éramos da mesma idade e convivemos muito. Chegou a passar alguns serões em minha casa, ouvindo música clássica, e, quando saiu de Alcobaça, deixou lá muitos livros, que mais tarde veio buscar. Nós e outros amigos juntávamo-nos ao pé do Correio e por ali ficávamos, à conversa, até altas horas. Por brincadeira, chegámos a pensar em pedir ao Artur Carolino que lá mandasse pôr um toldo para nos resguardar. Na altura, o Zeca atravessava uma fase de transição. Já não era o boémio de Coimbra, revelava-se cada vez mais o artista preocupado e interventor que mais tarde conhecemos.

Edite Condinho revela que ia por vezes tomar café com José Afonso e tinham prolongadas conversas no Café Trindade, sendo que umas vezes pagava ela – outras não… – já que ele frequentemente andava sem dinheiro, o que o constrangia.

José Afonso vestia despreocupadamente, era sóbrio no comer e beber, tinha dois filhos que viviam em Coimbra com a mãe – Maria Amália, costureira de origem humilde com quem se casou em segredo e de quem se veio a divorciar em 1956 – e quando recebia, ia entregar parte dele para sustento dos filhos e dos quais dizia ter saudades. Para os sustentar, dava explicações e fazia revisão de textos no Diário de Coimbra. Pela mesma altura, gravou o seu primeiro disco, Fados de Coimbra.

Sempre que podia aproveitava para ensaiar ou atuar com a Tuna Universitária e o Orfeon Académico.

A Tuna Universitária de Coimbra deslocou-se a Alcobaça em 9 de dezembro de 1939, tendo atuado no Refeitório do Asilo de Mendicidade de Lisboa, em Alcobaça, por iniciativa da Direção da Associação de Bombeiros Voluntários, e em benefício desta coletividade. José Afonso teve programada nova visita da Tuna, que foi cancelada, por razões não apuradas.

Em 1974, a convite de Pessanha Gonçalves, veio a Alcobaça atuar numa sala da Ala Norte do Mosteiro, numa ação de propaganda da LUAR – com quem mantinha contactos tal como com o PC –, onde estiveram presentes Camilo Mortágua e Palma Inácio e cerca de 30 assistentes.

Oriundo do fado de Coimbra, foi figura central do movimento de renovação da música portuguesa que se desenvolveu na década de 1960 e se prolongou na década de 1970, sendo dele famosas canções de intervenção, contra o Regime.

Zeca Afonso ficou indelevelmente associado ao derrube do Estado Novo, uma vez que uma das suas composições, “Grândola, Vila Morena”, foi utilizada como senha pelo MFA.

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