OS
DOIS ARCOS DA MEMÓRIA
CANDEEEIROS
E VIDAIS
Fleming de OLiveira
Maria
de Lurdes Costa Ribeiro é senhora que se destacou, pela vitalidade, vontade de
servir e elevada noção do valor do serviço comunitário.
Foi
a primeira Presidente de Junta de Freguesia do Concelho de Alcobaça, para cujo
lugar, em Turquel foi eleita, em 1979.
Depois
de ter estado emigrada com o marido na Alemanha, regressou a Portugal em 1973,
pouco depois deste ter falecido e com um filho de 18, tendo sido sócia da “Solancis”,
até
Em
Em
Julho de 1975, um conhecido e antigo fornecedor de componentes de máquinas para
corte de pedra, estabelecido no Alentejo, na zona de Borba, foi à “Solancis”
saber das necessidades, mas apresentando-se com um braço ao peito, engessado, e
alguns hematomas faciais. Contactando com Lurdes Costa, que tinha a seu cargo
as relações com o exterior, esta perguntou-lhe que acidente é que tinha
sofrido, ao que respondeu que ao passar em Rio Maior, e o pessoal sabendo que
era alentejano, mas desconhecendo os seus princípios e propósitos, provocou-o e
agrediu-o, com tal violência, de que resultou a fratura de um braço e os
hematomas. Todavia, este alentejano nada tinha de comunista ou simpatizante e
até dizia que se dava muito bem com os fascistas,
pois eram quem lhe pagavam a tempo e horas e o ajudavam a viver com decência.
Na
empresa de Lurdes Costa Ribeiro, salvo um pequeno incidente, rapidamente sanado
com o despedimento célere de alguns contestatários que reivindicavam de forma
abusiva e exagerada aumento de salários e diminuição das horas de trabalho, não
houve mais nenhuma contestação laboral e os sindicatos não tiveram oportunidade
de intervirem.
Relativamente
à “Solancis”, cumpre trazer ao conhecimento que os seus verdadeiros pais, foram
os antepassados dos atuais sócios que iniciaram a exploração da pedra na Serra
dos Candeeiros, numa pedreira denominada Vale da Louceira, sendo o seu primeiro
exportador José Oliveira Delgado, na década de
Pias
e cantarias abasteciam as terras limítrofes de Alvorninha, Santa Catarina,
Vimeiro, Cela, Alfeizerão, Bárrio, Famalicão e Nazaré, sendo o transporte feito
por carro de bois. O serviço era moroso, necessitando de um dia para percorrer
30km. A partir de 1920, Silvino Oliveira Delgado, após herdar desenvolveu a
actividade do pai, e já munido com macaca e mais tarde com compressor,
dedicou-se ao trabalho de fazer cantarias e campas para cemitérios. A herança
passaria doravante de pais para filhos, já que desde cedo o pai, os ia
iniciando na arte e desenvolvendo o gosto pelo trabalho da pedra.
O
filho mais velho, Manuel Costa Oliveira Delgado, em 1951, e com 17 anos de
idade, assumiu a responsabilidade de fornecer à firma Marques da Cruz, de Leiria,
o trabalho de pedra, para o Estádio da Luz. O entusiasmo e ritmo adquiridos
levaram a Solancis a comprar um terreno no Casal do Carvalho-Benedita, para
montar uma oficina e assim se constituiu em
Inicialmente
as suas pedreiras tinham estrutura produtiva insatisfatória, que se suspendia
nos períodos de maior actividade agrícola. Por outro lado, eram manifestas as
carências de equipamentos. Os blocos eram arrastados com alavancas, macacas e
crapoud.
No
curriculum da empresa consta o trabalho de reconstrução de um Arco da Memória, em 1981. O projeto foi
do arquiteto Joaquim Pereira. A iniciativa do restauro, pois encontrava-se em
ruínas, ficou a dever-se ao padre Manuel Vitorino da Silva Fernandes, Pároco de
Vidais. Nos trabalhos, foram aplicadas cerca de 90 toneladas de blocos cortados
e emparelhados na Solancis.
No
cimo da Serra dos Candeeiros, existe um arco de volta perfeita que foi
construído pelos Frades de Alcobaça para assinalar a divisão administrativa dos
coutos. Segundo alguns autores, o arco data do século XVI e serviu para o
Mosteiro definir os limites das suas terras. Há quem defenda que terá sido
mandado erguer por Frei Bernardo de Brito.
Esse
arco veio a ficar conhecido por Arco da
Memória e está localizado no limite dos Concelhos de Alcobaça e Porto de Mós,
mais precisamente, numa subárea da freguesia do Arrimal, chamada Memória.
Conforme a conhecida lenda, D. Afonso Henriques, quando ia a caminho de Santarém, em
1147, jurou, do alto da Serra de Albardos-Serra dos Candeeiros, que caso a
conseguisse conquistar, doaria a Bernardo de Claraval, os terrenos avistados na
direção do mar. O lugar onde o rei teria feito esse juramento é onde se
encontra o Arco da Memória.
De
acordo com alguns autores (menos esclarecidos), no topo do Arco da Memória havia uma estátua, representando D. Afonso
Henriques, ladeada por duas pirâmides. Mas, estão a fazer confusão com outro
arco, um pouco maior nas suas dimensões, também chamado Arco da Memória e que fica situado numa povoação chamada Arco da Memória, pertencente à freguesia de
Vidais, no Concelho de Caldas da Rainha.
Os
habitantes da freguesia de Vidais chamavam ao seu arco, O Rei da Memória,
porque a meio do cano constavam os seguintes dizeres: O Santo Rei D. Afonso Henriques, fundador de Alcobaça.
Não
devemos esquecer, mais uma vez, que a lenda diz que D. Afonso Henriques terá
prometido mandar erguer um mosteiro em homenagem a Santa Maria, nas terras
concedidas a Bernardo de Claraval, caso conseguisse conquistar Santarém aos
mouros.
No
local da promessa feita pelo rei, ao cimo da Rua de Cister, da actual povoação
designada por Arco da Memória, foi
levantada uma estátua de D. Afonso Henriques e mais tarde um arco, o Arco da Memória. No cimo aplanado, foi
colocada a estátua do nosso primeiro rei. Assim, o Arco da Memória permaneceu até aos dias em que a fúria
republicana, destruiu o monumento, a 12 de janeiro de
No
dia 28 de junho de 1981, foi inaugurada a reconstrução do Arco com o contributo
da população e de várias entidades públicas e privadas, como a Solancis. Desde
essa altura, tem havido esforço para que a estátua de D. Afonso Henriques volte
a ocupar o seu lugar, no cimo do Arco da
Memória, na Freguesia de Vidais.
O
Arco da Memória, sito na Serra dos
Candeeiros, serviu como marco assinalando o limite dos coutos, a entrada de
quem vinha fazer os seus negócios ou mesmo de quem vinha à procura de refúgio
nas terras dos frades. Sobre este assunto, na nossa obra NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO E OUTROS. Alcobaça e Portugal,
escrevemos a propósito de uma visita de D. Miguel a Alcobaça, que a maior parte
dessa viagem à Região do Oeste, em agosto de 1830, decorreu nos coutos de
Alcobaça, que continuavam a ser palco de conflitos acesos entre os frades e os
aldeões, por razão do pagamento dos direitos senhoriais. O Marquês de
Fronteira, recordou nas suas memórias que, em 1824 os rendeiros dos frades
tinham-se rebelado, largando fogo às
medas de trigo que pertenciam à comunidade e que o Abade Geral do Mosteiro
se vira obrigado a chamar a tropa que estava em Leiria. No caso de Aljubarrota,
o conflito traduzia-se na questão dos limites da doação de D. Afonso Henriques
e arrastou-se desde os finais da Idade Média. Terá sido depois do jantar,
durante uma conversa havida na varanda do seu quarto, que a questão foi
apresentada ao Rei. O Esmoler-Mor, Frei António da Silva que fora Abade Geral
dos Coutos de Alcobaça, durante o vintismo, aproveitou a ocasião para dizer ao
Rei que nessa época os povos dos coutos,
principalmente os de Aljubarrota, aproveitando-se da rebelião que as Cortes
causaram, tinham arruinado o Arco Memória, onde fez voto o Sr. D. Afonso I, e
que pedia a S.M. o mandasse reedificar.
Ora
(independentemente da data de construção), o Arco da Memória assinalava o limite norte dos Coutos e era o
símbolo material dos poderes do Mosteiro, cuja contestação o Abade
circunscrevia ao período liberal. D. Miguel terá concordado com a sugestão,
propondo que no Arco a reconstruir, se fizesse uma inscrição que o ligaria física
e simbolicamente a Afonso Henriques: El
Rei D. Afonso I o mandou fazer e D. Miguel I reedificar.
A
réplica do Arco da Memória, na
freguesia de Vidais, tem o mesmo efeito no imaginário do povo local, leva-o a
ouvir falar de lendas e de sérios registos históricos do seu passado. Mas, além
de ser o lugar que assinalava os territórios do Mosteiro de Alcobaça, de ser o
sítio onde os republicanos mostraram o seu repúdio para com os símbolos da
monarquia, de ser o ponto que transporta os habitantes locais para o mundo das
lendas e para o mundo dos factos históricos, marca ainda a legítima vontade de
um povo querer ter junto a si o património que lhe pertence e com o qual ele
fortemente se identifica.
Este
Arco da Memória é um dos marcos
limites dos coutos do Mosteiro de Alcobaça, alinhando a Norte com o Arco da
Memória existente na Serra dos Candeeiros e a Poente com a foz do rio Vau, em
Salir do Porto.
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