O NOSSO NATAL
FLeming de OLiveira
Embora à época do Natal associemos,
desde logo e enfaticamente, o amor, a compaixão, a fraternidade, o perdão,
enfim as melhores qualidades e valores que reputamos de cada um, a verdade é
que, no meu entendimento, ele tem o significado que cada um lhe dá.
Se entre nós, pelo menos os mais velhos,
continua a fazer-se um esforço para se alinhar com a proposta espiritual,
tradicional e emocional deste tempo muito próprio e cumprir as tradições
ancestrais, nem sempre isso é fácil para todos.
Pois não.
Para uns, significa a tristeza e saudade
dos que um dia animaram a mesa da festa, que amamos e já cá não estão.
Para outros, é o vazio e a solidão de
estarem sozinhos ou num país distante ou de simplesmente não terem o apoio da
família.
Para outros ainda, é a constatação de
mais um ano presos a uma realidade “tóxica” adiada, sem
atualização, solução e libertação.
A ideia que quero deixar é que o Natal,
por mais maravilhoso e perfeito que o consideremos, sem bombas, censura ou
frio, é fundamentalmente a proposta de ascensão ao quotidiano rumo a uma
realidade mais bela e espiritual que Portugal felizmente nos proporciona.
Quando era menino perguntei várias vezes
à minha Mãe, porque não era Natal o ano inteiro. E não era só por causa dos
presentes (embora isso fosse importante), mas porque me fazia confusão, eu e
aos meus 7 irmãos nos mostrarmos mais doces, disponíveis, compreensivas e
menos "briguentos". Verdade seja dita, a minha Mãe, que
era arguta e muito humana, nunca me deu resposta convincente
Habituámo-nos culturalmente a associar o
Natal a um tempo próprio, a uma família feliz e unida à volta de uma mesa de
tradições e costumes. Ao bolo rei, ao bacalhau cozido, a embrulhos com coisas
lá dentro, ao lado de um presépio.
Hoje, com cinismo e o peso da idade,
constato a faceta “ritualista” em detrimento do “espiritual”,
mais exterior do que interior, mais material do que emocional, fazendo-nos
acreditar que quem não cumpre os rituais em voga, não tem Natal feliz.
Hoje muitos são os que passam pela
desestruturação da família, se encontram sem vontade de festejar por causa da
doença, da solidão, da revolta pela falta de trabalho condigno, e tantas outras
emoções capazes de deitar abaixo a mais bela ideia natalícia.
Um amigo, bem estruturado e saudável,
contrapunha-me um dia destes que Natal é um estado de ser, de estar, de sentir
e o importante e conforme realidade pessoal, o facto de não ser possível ter um
Natal “perfeito” não é razão para que o Natal não seja feliz.
Dei-lhe um abraço, mas fiquei sem
capacidade de retorquir.
Caros leitores, a mensagem do poder
pessoal, seja Natal ou não, sempre nos ensinou e convidou a colocar a atenção,
foco e energia no que somos, no que temos e no que queremos e a não
desperdiçarmos energia com o que não temos, com o que não somos ou não
queremos.
BOAS FESTAS!
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