Marcelo
Rebelo de Sousa, deslocou-se
a Alcobaça num domingo de meados de maio de 1975, para participar numa festa do
PPD, no Arraial de Capuchos/Évora de Alcobaça, onde também estiveram presentes,
seu irmão António, Presidente da JSD/nacional, Helena Roseta, em franca
ascensão política e muito apreciada pelas assertivas intervenções na Assembleia Constituinte e na implantação do Partido[1], e outros
dirigentes. Esta festa, organizada pelos jovens do PPD, ainda não estava a
nível local constituída a JSD, durante anos fez parte da memória do partido. No
evento, com centenas de presentes de quase todo o distrito, nalguns casos
famílias completas usando garbosamente bonés, cachecóis e bandeiras, foram
assados dois porcos com destaque para Sapinho que, de faca em punho e avental, parecia
um talhante profissional, oferecidos por militantes da Benedita e consumido
vinho tinto de Montes. Graças à colaboração dos militantes da Nazaré, onde
pontificava o Tonica que, regressado de África, veio a fundar o Hotel Maré,
esteve presente o Rancho Ta-Mar[2], que se deslocou graciosamente e
colocou toda a gente a dançar, inclusivamente Helena Roseta a fazer par com um
militante do Vimeiro, que durante algum tempo disso se louvou, o seu momento de
glória. A Banda de Turquel[3] fez-se representar
por alguns elementos. Deste encontro as únicas imagens que existem (ou pelo
menos conhecidas), são as de um filme em formato 8mm tomadas pelo autor. Estiveram
disponíveis fichas para inscrição no PPD, todas rapidamente preenchidas. Contra
cada inscrição o novo filiado dava 5$00 ao partido.
O sucesso deste convívio levou a que se
pensasse fazer, uma sessão essencialmente política, alegadamente para formação
de militantes e simpatizantes social-democratas, como noutros locais ia
ocorrendo, sugerida pela sede nacional. Sapinho disse que ia convidar um colega
da Assembleia Constituinte. Mas tendo em conta o momento efervescente que se
vivia no País, não encontrou nenhum disponível ou conveniente, como seria Barbosa de Melo[4], por exemplo, pelo
que foi decidido convidar Silva Marques para, vir fazer uma palestra. A ideia
era boa, pois era pessoa com bons contactos em Alcobaça, de palavra fácil e
fluente, culto, a que acrescia o mérito de ser um ex-PC, que conhecia a melhor
forma de o contestar. Silva Marques abordou a dicotomia Direita/Esquerda e
alguns princípios programáticos do PPD[5].
Feita a
publicidade boca a boca, apareceram menos interessados do que seria de esperar,
pese embora ocupados os lugares sentados, supostamente por o sábado ser dia de
trabalho no campo, os quais mais que disponíveis para discussões teóricas, esquerda-direita,
socialismo, liberdade, democracia, etc., preocupavam-se com a ação política
concreta, a defesa dos valores tradicionais da grei e da terra. É de lembrar a
intervenção de um cinquentão, salvo erro de Turquel, que disse que se sentia
bem com o PPD onde tinha amigos, que nunca sentiu falta de trabalho e de
liberdade, que a PIDE nunca interferiu com a sua vida e familiares, que apesar
da sua preocupação com a mobilização do filho para Moçambique, nunca tentou
dissuadi-lo de cumprir o dever, muito menos admitiu que fugisse para França ou
Suécia. Esta intervenção mereceu uns discretos apoiado. Houve ainda outra, em que um companheiro referiu que mais
que os bons princípios queria saber o que o PPD pensava fazer para o defender
do CR e do PC. Terminado o evento, apurou-se que receita de bar foi fraca,
nomeadamente ficaram muitas sandes por vender, encomendadas na Panificação a
preço especial através do Amadeu, sendo o seu destino um problema para o Andorinha resolver.
[1] Após o 25 de abril, aderiu ao PPD. Foi eleita deputada
à Assembleia
Constituinte, e à Assembleia
da República, em 1976, pelo círculo de
Lisboa. Neste ano foi eleita vereadora na Câmara
Municipal de Lisboa. Em 1978, quando Sá
Carneiro resolveu
retirar o apoio ao governo presidencial de Carlos Mota Pinto, “gota de
água” para que deputados do PSD abandonem o
partido (alguns dos quais viriam a fundar a ASDI), foi uma das defensoras
de Sá Carneiro. Em 1979, foi uma das proponentes da formação de listas
conjuntas entre o PSD, o CDS e o PPM, participando assim na génese da Aliança
Democrática. Será eleita de novo
deputada à Assembleia da República, nas listas da AD, em 1979, pelo círculo de
Lisboa, e 1980, pelo círculo de Setúbal. Entre 1982 e 1985, foi presidente da Câmara Municipal de Cascais, eleita pelo PSD.
Recebeu a Medalha de Mérito do Conselho
da Europa, em 1982. Em 1986, apoiou Mário Soares para Presidente da República, o que a levou a abandonar o PSD. Subsequentemente, integrou as listas do PS para as eleições legislativas de 1987, sendo eleita deputada à Assembleia da República, pelo
círculo do Porto e acabando por formalizar a sua adesão ao PS em 1991.A 9 de junho de 2005, foi agraciada com a Grã-Cruz
da Ordem da Liberdade. Em rutura com o PS, de
que se desfiliou em 2007, candidatou-se a presidente da Câmara Municipal de Lisboa, em 2007, conseguindo a eleição como vereadora, pelo Movimento Cidadãos por Lisboa. É casada, mas separada de facto,
com Pedro Roseta.
[2] Este grupo, criado em
1934 por Carlos Ferreira com o nome de “Rancho da Nazaré”, foi estruturado etnograficamente
pelo José Maria de Carvalho Júnior, médico, pessoa culta e estudiosa. Foi
Carvalho Júnior quem elaborou a parte principal do repertório do Rancho,
tomando nota das danças e cantares dos velhos tempos. Foi, a partir de
1936, aquando da sua primeira exibição no Teatro D. MARIA II, em Lisboa, na
festa de homenagem ao escritor Alfredo Cortês e estando em cena a peça da sua
autoria “TÁ-MAR”, dedicada à Nazaré e ao seu povo, que este grupo adotou o nome
de “Rancho Folclórico TÁ-MAR”. Este Rancho, que, pela sua genuidade, é
considerado por muitos o mais típico de Portugal, tem por finalidade manter vivas
e dar a conhecer as tradicionais danças e cantares da Nazaré, que tanto
interesse despertam, pela sua alegria e pelo seu sabor especial a coisas das
gentes do mar.
[3]Turquel tem como ex-líbris, a centenária “Sociedade Filarmónica”,
que formou várias gerações de músicos, fundada
em 1dez1913. Embora a ideia tenha nascido da vontade de vários turquelenses,
foi José Diogo Ribeiro quem proporcionou os meios, comprando o instrumental da
Real Fanfarra de Alcobaça, extinta por essa altura, cedendo espaço no seu
celeiro para os primeiros ensaios e incentivando o filho Cláudio e o sacristão, Joaquim Paulo a
ministrarem aulas de música, que redundaram na primeira apresentação pública em
1dez1914. Nas
décadas de 1930, 1940 e 1950 a banda foi crescendo em qualidade e prestígio.
[4] Professor
catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, António Moreira
Barbosa de Melo foi um dos primeiros militantes do PPD, no qual exerceu
diversos cargos nos órgãos nacionais. Integrou a Comissão para a elaboração da
lei eleitoral para a Assembleia Constituinte em 1974, da qual foi também
Deputado. Exerceu o mandato de Deputado na Assembleia da República nos anos de
1976-1977 e 1991-19990. Foi Presidente da Assembleia da República durante a VI
Legislatura (1991-1995) e membro do Conselho de Estado. Faleceu em7set2016.
-Foi professor do
autor no ano letivo 1964/1965.
-Manteve contactos
com o PPD de Leiria e deslocou-se a Alcobaça por duas vezes para encontros com
militantes, a convite do autor.
[5] Pacheco Pereira, aquando do falecimento de
Silva Marques, recordou “um excelente orador que impunha respeito e era temido
pela oposição. Juntava duas características, era irónico e, ao mesmo tempo,
muito duro”.
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