EXORCISMO
O
Exorcismo é um ritual litúrgico pelo qual a Igreja Católica pede a libertação ou
proteção de alguém ou algo, contra a ação do Demónio. Foi o Senhor quem deu aos
Apóstolos o poder de expulsar os espíritos imundos, afirmando que, entre os sinais
que acompanhariam os que creem, estava a expulsão dos demónios. Aquilo a que na
religião católica se confere o nome de Exorcismo, é um rito solene levado a cabo
exclusivamente por um sacerdote de acordo com regras estipuladas em cada diocese,
que começa com um Adjure te, spiritus nequissime, per Deum omnipotentem
– eu te ordeno, espírito maligno, pelo Deus Todo-Poderoso.
Tendo
em conta a variedade de doenças e distúrbios de natureza psíquica que podem ser
confundidos com uma possessão, o acompanhamento e discernimento sobre a real da
condição da pessoa é uma responsabilidade do Exorcista que deve avaliar, se
necessário com ajuda de profissionais da psiquiatria. Doenças psicossomáticas
na sua maior parte, são suscetíveis de cura através de autossugestão ou
placebo. Nada disto era levado em conta pela Inquisição que aceitava algumas manifestações
como de origem sobrenatural, entretanto explicadas cientificamente.
Os
sinais que podem apontar uma possessão demoníaca, listados no ritual do exorcismo
são, dizer muitas palavras de língua desconhecida ou entender quem assim
fala; revelar coisas distantes e ocultas; manifestar forças acima da sua
idade ou condição natural. Estes sinais podem fornecer algum indício. Como,
porém, os sinais deste género não são necessariamente atribuíveis à
intervenção do diabo, convém atender também a outros, sobretudo de ordem
moral e espiritual, que manifestam de outro modo a intervenção
diabólica, como p.ex. a aversão veemente a Deus, ao Santíssimo Nome de Jesus, à
Bem-aventurada Virgem Maria e aos Santos, à Igreja, à palavra de Deus, a
objetos e ritos, especialmente sacramentais, e às imagens sagradas.
Finalmente, por vezes é preciso ponderar bem a relação de todos os sinais
com a fé e o combate espiritual na vida cristã, porque o Maligno é
principalmente inimigo de Deus e de tudo o que relaciona os fiéis com a
ação salvífica.
Para evitar o risco de se considerarem situações aparentemente extraordinárias como uma intervenção do demónio, o exorcismo nos tempos que correm impõe que, antes do uso desse sacramental – não é sacramento – o exorcista deve usar a máxima prudência, não crendo liminar ou facilmente que alguém esteja possesso, pois não se descarta à partida, a existência de uma doença, nomeadamente, de ordem psíquica.
O
Ritual Romano de celebração de exorcismos, foi reformado por decreto do Concílio
Vaticano II e promulgado por autoridade de João Paulo II.A Conferência Episcopal
Portuguesa pronunciou-se de forma precisa e detalhada sobre esta temática muito
complexa.
O
Catecismo da Igreja Católica publicado em 1992, refere-o no n.º 1673:Quando a
Igreja pede publicamente e com autoridade, em nome de Jesus Cristo, que uma pessoa
ou objeto seja protegido contra a ação do Maligno e subtraído ao seu domínio,
fala-se de exorcismo. Jesus praticou-o – e é d’Ele que a Igreja obtém o poder e
encargo de exorcizar. Sob uma forma simples, faz-se o exorcismo na celebração
do Batismo. O exorcismo solene, chamado grande exorcismo, só pode ser feito por
um presbítero e com licença do bispo (…). O rito de exorcismo
alerta para os artifícios e fraudes usadas pelo Diabo para enganar, para
convencer o possesso a não se submeter ao exorcismo, convencendo-o tratar-se
de doença natural, pois uma das grandes vitórias do demónio é fazercrer que
não existe ou que não atua.
Francisco
Fernandes, cristão-novo, de Lisboa sujeito a um exorcismo falhado supostamente
possuído pelo Diabo, veio a ser condenado à fogueira, única maneira conhecida
de o expulsar definitivamente. O exorcista seguia um procedimento tipo. O
enfermo começava com um dia de jejum – ou mais, se tinha força – recomendado
também para a família e dava-lhe esmolas para celebrar missa. Após um dia
de jejum, iniciava o exorcismo: vestido com a estola e sobrepeliz, benzia a
água e o sal, e com a água-benta aspergia o doente que, de joelhos,
conservava uma vela acesa, enquanto o celebrante recitava as orações. Às
vezes, mandava que trouxessem a roupa de cama e de uso pessoal do
enfermo, e encontrando escondidos nelas objetos suspeitos, tudo era
queimado.
O
Bispo de Bragança e Miranda, D. José Cordeiro, Presidente da Comissão Episcopal
da Liturgia e Espiritualidade, informou-me que ainda em Roma e muito antes da nomeação e
ordenação episcopal, aceitei o desafio da Faculdade de Teologia no
Centro regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa para lecionar
o curso Dependências do mal e libertação, do âmbito do doutoramento em
Teologia Fé, cura e capacitação frente ao Mal.
O
referido curso, (…) articulou-se em três grandes secções: 1. O mal e as suas dependências
(a magia e as suas formas; demonologia; incompatibilidade entre fé e magia e
demonologia); 2. A libertação e cura (aspetos doutrinais; a oração e o carisma
da cura; grupo interdisciplinar); 3. Os exorcismos (significado teológico;breve
história; disposições canónicas; celebração litúrgica). Este item beneficiou da
preciosa Nota Pastoral a Propósito de Magia e Demonologia, da Conferenza Episcopale
Toscana, publicada a 23 de fevereiro de 1997.
Trata-se
de uma Nota Pastoral, de caráter teológico-pastoral, por meio da qual todos
conseguem compreender, especialmente os cristãos, que a magia é abominada pelo
Senhor e que por culpa dela tanto mal-estar invade a nossa sociedade atual.
(…) Como
se explica que numa época caracterizada por um desenvolvimento tão rico do
pensamento científico e racional, se verifique uma difusão tão vasta de
atividades de tipo mágico-ocultista? O crescimento do fenómeno, pelo menos em
termos gerais, pode estar ligado a exigências existenciais como a necessidade
de conceções totalizadoras da vida, de modo a dar razão ao mistério que a
rodeia, a solicitação de libertação da dor, do mal e do medo da morte, a busca
de seguranças que permitam superar situações de ânsia e de medo, as incertezas
do amanhã e a necessidade de pontos de referência, especialmente depois da
queda do mito ilustrado do progresso e o derrube das ideologias populistas e
burguesas. Exigências reais e dramáticas conduzem alguns a escolher o atalho
para se dirigirem a formas ou a pessoas que se apresentam sob a aparência do “sobrenatural”,
esperando das mesmas a solução imediata às perguntas e dificuldades do
presente. Vai nesta direção a confusa busca de “factos extraordinários e
milagrosos” detetável no mesmo ambiente cristão; uma busca que às vezes apela a
um falso misticismo ou a
fenómenos
de “revelações privadas”, outras vezes chega inclusivamente a dirigir-se a
referências demonológicas, sem nenhuma verificação razoável e fora de uma
autêntica maturidade da fé cristã.
Entre
as causas da difusão da magia, há que mencionar sobretudo uma grave carência
de evangelização que não permite que os fiéis adotem uma atitude crítica diante
de propostas que representam só um sucedâneo do genuíno sentido religioso e
uma triste mistificação dos conteúdos autênticos da fé. Deste modo, releva-se a
gravidade do fenómeno que, no género, se apresenta notavelmente
diversificado e complexo: vai-se desde formas genéricas de superstição
até práticas mágicas de diverso nível, desde a adivinhação até ao
espiritismo, até grupos e seitas satânicas que organizam reuniões ou
missas negras. A sua atual expansão constitui um sinal de alarme para o
nosso próprio tempo.
(…) Do
Código de Direito Canónico fala-se de um sacramental e esclarecesse que ninguém
pode legitimamente exorcizar os possessos, a não ser com licença especial e
expressa do Bispo da Diocese. E recomenda-se vivamente que essa licença só seja
concedida pelo Bispo a um Presbítero dotado de piedade,ciência, prudência e
integridade de vida.
A vinda do Reino de Deus é a derrota do reino de Satanás: “se pelo Espírito de Deus expulso Eu os demónios, é que já chegou a vós o Reino de Deus”. Os exorcismos de Jesus libertam os homens do domínio dos demónios. Antecipam a grande vitória de Jesus sobre “o príncipe deste mundo”. Jesus, durante a sua vida pública, expulsava os demónios e libertava os homens das possessões dos espíritos malignos para habitar o coração do homem. A Igreja no desenvolvimento do seu ministério: na luta contra Satanás, acompanha os fiéis com a oração e a invocação da presença eficaz de Cristo. Esta é a tradição pastoral ordinária da Igreja que prevê ritos de exorcismo na celebração do Batismo.
Nos
casos previstos, fá-lo de uma maneira específica com o sacramental do exorcismo,
mediante o qual pede ao Senhor a vitória sobre Satanás. Em todos os seus ritos,
a Igreja tem sempre presente, em formas e símbolos diversos, o tema da luta
entre a luz e as trevas, entre a salvação e a perdição, entre Cristo, Luz do mundo,
e Satanás, príncipe das trevas.
(…) Para
compreender o que é o exorcismo deve-se partir de Jesus Cristo e da sua ação.
Ele veio para anunciar e inaugurar o Reino de Deus no mundo. São Paulo diz-nos
que ”ao conceder-nos o Espírito Santo, Deus derramou o Seu amor nos nossos
corações”. Esta capacidade de acolher a Deus é ofuscada pelo pecado e, por
vezes, o mal ocupa o lugar em que Deus quer viver, ou seja, o coração do homem.
É aí que surge a necessidade da libertação ou, em casos mais complexos, do
Exorcismo.
O Pe.
João Barrento, salienta que a postura da Igreja em 300 anos relativamente ao
exorcismo, variou na medida em que fenómenos alegadamente sobrenaturais são
agora encarados como distúrbios psíquicos.
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