Em
meados de maio ou junho de 1975, o Cmdt. Ramiro Correia, fardado e na companhia
de mais dois camaradas, passou a meio da tarde por Alcobaça, de ou para Lisboa,
ocupando um Volkswagen preto, cujo motorista nunca abandonou, e entrou no Café
Trindade. Por acaso, cruzou-se com Alfredo Carvalho Lino que saía da sede do
PPD, então situada por cima do referido café. Em breve, juntaram-se à porta do
café alguns populares, que se dirigiram aquele militar com impropérios e gestos
obscenos. As pessoas reconheceram o rosto das Campanhas
de Dinamização Cultural e Ação Cívica do MFA[1], esse generoso Capitão de Abril, o comandante-médico que até fazia
versos, no dizer de Vasco Gonçalves e que em Caldas da Rainha tinha um fiel
seguidor, o Cap. Gonçalves Novo. Os alcobacenses que se
juntaram à porta do Café Trindade, não esqueciam uma recente presença na RTP,
com Ramiro Correia a explicar que a alcatifa, o carro ou o frigorífico são bens
de luxo, com que a burguesia unta a sua ganância de classe e que, em
consequência, havia que a punir de todas as maneiras e feitios, inclusivamente
de maneira fiscal.
Ramiro Correia estava umbilicalmente conotado com as lavagens ao cérebro
promovidas pela 5ª. Divisão do EMGFA, em colaboração com a
Direcção-Geral da Cultura e Espetáculos. Vasco Gonçalves, entendia que, um
dos principais objetivos desta iniciativa, era levar os militares, o MFA, às
populações e apoiá-las no desenvolvimento, nas tomadas de consciência dos
problemas que elas tinham. Pretendíamos, sobretudo, transformar as ideias de
fundo dessas populações. Não pretendíamos transformar essas populações em
socialistas ou em comunistas. Queríamos transformá-las em gente democrática,
gente aberta a analisar as situações e arrancá-las de toda aquela carga de
fascismo que durante 48 anos tinha pesado sobre elas.
A “Visão”, no nº. de 18out2023, registou, o que reputa
inédito, que depois da Fonte Luminosa, um coronel da 5ª. Divisão do EMGFA congeminou
espalhar o boato que o gajo (Soares) é homossexual (a expressão utilizada foi, porém outra, vernaculamente
portuguesa). Nessa altura, Ramiro Correia opôs-se à iniciativa, por razões
táticas, isso não vai colar, pá! Toda a gente sabe que o Soares
é um grande mulherengo (a
expressão utilizada terá sido também outra…).
[1] As “Campanhas de Dinamização Cultural e Acção Cívica do MFA”, visavam
colocar as Forças Armadas ao serviço do desenvolvimento do povo, preencher o
vácuo cultural e de informação política existente no País.
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