terça-feira, 12 de dezembro de 2023

RAMIRO CORREIA

 

  Em meados de maio ou junho de 1975, o Cmdt. Ramiro Correia, fardado e na companhia de mais dois camaradas, passou a meio da tarde por Alcobaça, de ou para Lisboa, ocupando um Volkswagen preto, cujo motorista nunca abandonou, e entrou no Café Trindade. Por acaso, cruzou-se com Alfredo Carvalho Lino que saía da sede do PPD, então situada por cima do referido café. Em breve, juntaram-se à porta do café alguns populares, que se dirigiram aquele militar com impropérios e gestos obscenos. As pessoas reconheceram o rosto das Campanhas de Dinamização Cultural e Ação Cívica do MFA[1], esse generoso Capitão de Abril, o comandante-médico que até fazia versos, no dizer de Vasco Gonçalves e que em Caldas da Rainha tinha um fiel seguidor, o Cap. Gonçalves Novo. Os alcobacenses que se juntaram à porta do Café Trindade, não esqueciam uma recente presença na RTP, com Ramiro Correia a explicar que a alcatifa, o carro ou o frigorífico são bens de luxo, com que a burguesia unta a sua ganância de classe e que, em consequência, havia que a punir de todas as maneiras e feitios, inclusivamente de maneira fiscal.

  Ramiro Correia estava umbilicalmente conotado com as lavagens ao cérebro promovidas pela 5ª. Divisão do EMGFA, em colaboração com a Direcção-Geral da Cultura e Espetáculos. Vasco Gonçalves, entendia que, um dos principais objetivos desta iniciativa, era levar os militares, o MFA, às populações e apoiá-las no desenvolvimento, nas tomadas de consciência dos problemas que elas tinham. Pretendíamos, sobretudo, transformar as ideias de fundo dessas populações. Não pretendíamos transformar essas populações em socialistas ou em comunistas. Queríamos transformá-las em gente democrática, gente aberta a analisar as situações e arrancá-las de toda aquela carga de fascismo que durante 48 anos tinha pesado sobre elas.

  A “Visão”, no nº. de 18out2023, registou, o que reputa inédito, que depois da Fonte Luminosa, um coronel da 5ª. Divisão do EMGFA congeminou espalhar o boato que o gajo (Soares) é homossexual (a expressão utilizada foi, porém outra, vernaculamente portuguesa). Nessa altura, Ramiro Correia opôs-se à iniciativa, por razões táticas, isso não vai colar, pá! Toda a gente sabe que o Soares é um grande mulherengo (a expressão utilizada terá sido também outra…).

 



[1] As “Campanhas de Dinamização Cultural e Acção Cívica do MFA”, visavam colocar as Forças Armadas ao serviço do desenvolvimento do povo, preencher o vácuo cultural e de informação política existente no País.

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