sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

O TEATRO DE REVISTA E O PARQUE MAYER

 A história do Parque Mayer é indissociável do panorama político, social e cultural do País, especialmente antes do 25 de abril. 

Durante anos, a Revista constitui uma janela de crítica política e social em que houve maior liberdade de espetáculo e de texto, do que no teatro declamado, talvez porque se pensasse que não provocava crise política ou atingia o Regime e funcionava como válvula de escape. 

O Parque Mayer viveu o seu apogeu entre as décadas de 1930 e de 1970, tendo então entrado em declínio lento, mas definitivo. Ali estrearam-se e ganharam fama artistas, que conseguiram fidelizar um público entusiasta e exigente. Nos anos áureos, os espetáculos tinham duas sessões durante os dias da semana, incluindo o sábado e três aos domingos e feriados, empregando centenas de pessoas como artistas, costureiras, carpinteiros, técnicos de iluminação, e outros. Mesmo com os quatro teatros a apresentarem espetáculos em simultâneo, as lotações esgotavam muitas vezes. Da província, concretamente de Alcobaça, organizavam-se excursões de autocarro, normalmente ao domingo, que recolhiam os interessados em locais como Évora de Alcobaça e Benedita. Mas também havia os casos em que dois casais se juntavam, indo de carro e aproveitavam para ir ao restaurante.

Após o 25 de abril, os autores apressaram-se a levar à cena quadros que tinham sido interditados pela censura, e o uso do palavrão e da licenciosidade passou a ser recorrente, sem subtilezas e com excessos despropositados, o que incomodava o público, que deixou de lhes achar graça. Concomitantemente a RTP deu início a produções de entretenimento que foram buscar muito da essência, a quadros humorísticos e a atores da Revista, o que banalizou o conceito e os quadros humorísticos que  passam a chegar ao público, sem que este tivesse de sair do sofá e ir ao teatro. O teatro de Revista perdeu e entrou em crise, não deixando, no entanto, de ter a magia que a TV não consegue transmitir com os atores, bailarinos e cenários ao vivo e ao lado do público. No início do século XXI, apenas o Maria Vitória apresentava esporádica atividade com espetáculos de teatro de Revista, aliás sem grande inovação.

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