segunda-feira, 10 de outubro de 2011
BRIGALHEIRA E A PORTARIA DOS SINOS
-A VIDA NA ALCOBAÇA ANTIGA (Princípios do
sec. XX).
-O PADRE “BRIGALHEIRA”, IMPENITENTE
MULHERENGO,
ANTI-REPUBLICANO
ASSUMIDO,
E PROVOCADOR “TRAULITEIRO”.
-CRENDICES E TRADIÇÕES POPULARES.
NOS MEIOS RURAIS E NÃO SÓ.
-A PORTARIA DOS SINOS
FLEMING DE OLIVEIRA
Não é fácil explicar aos nossos filhos e netos, o que eram os meios rurais, as aldeias portuguesas há setenta ou oitenta anos, nos seus usos, costumes e crendices, como por exemplo, Casal de Val Ventos, Moita do Poço, Turquel ou mesmo Benedita.
Por hipótese, se uma jovem queria saber o nome do homem que a ama verdadeiramente, deveria escrever os nomes dos eventuais pretendentes em pedaços de papel, cobri-los com uma camada fina de barro e deitá-los numa taça com água. O primeiro nome a vir ao de cima é o tal.
Nesse tempo, as pessoas ao serão, muitas vezes à lareira, contavam histórias irreais ou verídicas, pois não tinham outra diversão, O conto popular não teve origem nas camadas ditas cultas, mas no povo. Talvez venha daí o facto do conto não ser escrito, pois muitas pessoas não sabiam ler nem escrever. As pessoas mais velhas, os avós, foram os grandes agentes de transmissão do conto. Assim, o conto passou de geração em geração, muitas vezes alterado, pois Quem conta um conto acrescenta um ponto. Uma das características do conto tradicional é a presença do maravilhoso e da moral, Há um problema a resolver, o encantamento, misturado com dragões, fadas, feiticeiras e bruxas. A moralidade de um conto é expressa normalmente num provérbio.
A literatura tradicional é um património que não se deve perder. Tem características específicas e para muitos é mais interessante ouvir um conto do que ler uma história, especialmente quando os gestos, as expressões e a linguagem o tornam mais acessível.
Pela política o interesse era pouco ou nenhum, especialmente a de Lisboa. A minha política é o trabalho, assim se dizia.
Era preciso uma revolução para compor as coisas?
José Libertador Monteiro da Silva, natural de Beja, aluno da Faculdade de Direito de Lisboa, e principal redactor do efémero Voz dos Montes, não obstante a verdura dos anos, mas por natureza bastante céptico, escrevia que alguns dizem que sim. Uns afirmam-no com aquela convicção, filha do muito amor que têm ao seu santo corpinho, doutros ainda para estabelecer a confusão, deleitando-se ao depois do florido parapeito do seu Sangue Frio com as correrias loucas, as lividezes medrosas dos que vêm na algazarra, vivório ou pasmaceira quotidiana desta espiritualizada gentinha de Lisboa, um indício seguro, irrefutável, da iminência do ribombar da metralha…É radical? Monárquica? Nacionalista? Lenínica? Cá pelas minhas previsões políticas não é nem para restaurar uma bandeira da cor dos céus e da neve, nem para abolir a Selagem, a Reforma Bancária e outros tantos terríveis Adamastores dos homens que não têm as forças mortas, nem adormecidas… É sim para definitivamente consagrar o motu continuo, isto é, fazer uma revolução para gerar duas ou três logo a seguir…
Altino do Couto Ribeiro, Inácio Catarino e Joana Salgueiro, ainda se recordam do tempo, aí pelos anos vinte, em que era padre, em Alpedriz, Joaquim Brigalheira, que aliás residia nos Montes, na Silveirinha, numa casa situada na antiga estrada Montes-Alpedriz. Nome ou alcunha (corruptela de braguilheira?) não se sabe. Recordam-se, porém, que segundo se dizia, tinha muitas amigas. Quando tocava o sino da Igreja de Alpedriz, pelo número de badaladas, as pessoas e as amigas sabiam qual delas estava a ser chamada, pois cada uma tinha o seu número. Um dia o sino tocou 16 vezes, mas apareceu rapidamente e em primeiro lugar, pronta para todo o serviço, a correspondente ao número quinze, ao que o Padre Brigalheira mandou embora, para ter paciência, que ela tinha contado mal as badaladas. Este episódio faz-nos recordar um outro conhecido jocosamente pela Portaria dos Sinos.
A Portaria dos Sinos?
Em Junho de 1929, uma portaria do Ministro da Justiça, mais tarde conhecida jocosamente como a Portaria dos Sinos, veio permitir a realização de procissões. Esta decisão levou a uma reacção de uma ala (maçónica?) do 28 de Maio, com a efectiva demissão do Prof. Mário Figueiredo e o pedido de demissão, não aceite, do próprio Salazar, que se encontrava em convalescença no hospital da Ordem Terceira, no Chiado, por ter partido uma perna. O Ministro da Guerra Morais Sarmento, orientou os protestos anticlericais no próprio Conselho de Ministros. Mário de Figueiredo pediu a demissão, no que não é acompanhado por Salazar. Os dois não tiveram o apoio dos colegas do governo O Presidente Carmona visitou Salazar, no hospital, não lhe concedendo a demissão, mas aceitou a demissão colectiva do gabinete. Em 7 de Julho, Salazar deu uma entrevista a O Século onde considerou que a demissão do gabinete se filiou em razões de ordem geral, e não apenas por causa da Portaria dos Sinos, assunto menor. Segundo Bernardino Machado, o governo a que presidia o militarista Freitas caiu aos pés do seu verdadeiro chefe, o ungido do Senhor, o clerical Salazar. E a ditadura está como dantes o bronco capitão-mor governado pelo capelão, seu confessor.
O Pe. Brigalheira, zangou-se uma vez com o sacristão (cujo nome não conseguimos apurar) porque este para a missa, tinha enchido os dois jarros com água, por não haver vinho na sacristia. O Padre depois de apurar que o cálice só tinha água, suspendeu a missa, mandou-o buscar o vinho que estava na sua cozinha. Então repetiu a Eucaristia e a missa continuou. No fim da missa despediu o sacristão.
Brigalheira, foi durante anos pároco de Alpedriz, só de lá tendo saído no dia em que se reformou e os sobrinhos o internaram num lar. Pessoa encorpada, brigão temido (Brigalheira vinha do seu gosto de brigar?), anti-republicano assumido, utilizava as homilias para provocar e incendiar paixões. Não aceitava, nem compreendia a lógica dos suínos, que dão menos valor às saias de um padre, do que aos propósitos dos intelectuais jacobinos ou maçónicos que lhes querem iluminar o espírito e livrar da opressão já cá na terra. Era grande bebedor de vinho e aguardente. Vivia com uma irmã a quem sovava com frequência e que, nessas circunstâncias, se escondia aterrorizada no pinhal da Rosa Carreira, bem como com uma criada para todo o serviço, numa casa rodeada de boa propriedade rural, composta de vinha, pomar e horta, e que amanhava com zelo. Tempos antes do 28 de Maio, um grupo de homens de Alpedriz e dos Montes, depois de um sermão violento, durante o qual o Padre estaria embriagado, o que não era caso raro, e saturados de tantas provocações, sem resposta, amarrou-o com uma corda e levou-o como um animal para Alcobaça, a fim de ser entregue às autoridades. Pessoa deste jaez, tinha naturalmente muitos inimigos, que não eram apenas os maridos, pais, irmãos de algumas paroquianas, pelo que andava normalmente armado com uma pistola, que um dia deixou cair durante a celebração da missa. Brigalheira guardava na sacristia um caderninho onde apontava e identificava as amigas por um número (código), em vez do nome, e agendava os encontros. Um dia, o sacristão Gabriel Fortes, ainda rapaz, futuro sogro de Inácio Catarino, foi encontrado pelo padre a folhear o caderno, só não tendo sofrido de imediato uma violenta tareia, porque fugiu, embora fosse doravante muitas vezes ameaçado, se divulgasse o sucedido ou o conteúdo. Seja como for, a memória do acontecimento chegou até hoje…
Por alturas do Outono de 1925, houve numa tarde um grande temporal na região de Alpedriz, dir-se-ia mesmo um verdadeiro tornado. O rio encheu, transbordou, inundou rapidamente as margens e os campos. Brigalheira, que andava a colher abóboras numa propriedade da Igreja, foi apanhado pela enxurrada, salvando-se de ser arrastado pelas águas, depois de se agarrar custosamente aos ramos de uma árvore. Pessoas que andavam perto assistiram à cena e ouviram os gritos de aflição e pedido de socorro do Padre. Mas este tinha muitos inimigos, alguns dos quais viram ali uma excelente ocasião para se vingarem, muito concretamente um que tempos antes tinha corrido desesperadamente com um machado atrás do Padre, que fugia em ceroulas…, em direcção aos Montes, aonde acabou por ser acolhido por uma paroquiana de confiança.
Assim, alguns dos assistentes, com contas por ajustar, combinarem entre si atirar um foguete agarrado com uma corda, a fim de o Padre depois ser pretensamente puxado para terra. Mas a verdadeira ideia seria bem outra, largá-lo a meio da corrente, de modo a ser arrastado e se possível até perder-se. Seria interessante ver as saias do Padre a boiar na água, antes de ir ter aos quintos do inferno. Acontece que no meio daqueles paroquianos, encontrava-se um, outro cujo nome não vem ao caso, com descendentes ainda vivos e que recordam o acontecimento, que apesar de estar também de relações cortadas com o Padre, o avisou para esperar, que não se agarrasse à corda e não tentasse precipitar os acontecimentos. Foi aliás neste, que o Padre acreditou, pelo que esperando que o temporal amainasse e o nível das águas descesse, conseguiu salvar-se. Mas, segundo se conta entre os idosos descendentes, nem por isso fez as pazes com o homem que lhe deu o bom conselho e lhe salvou a vida.
Quem utilizava bastante a expressão ir (mandar) para os quintos do inferno, era o Ti’ Manuel da Costa Santos, de Salir do Porto, falecido há pouco, que viveu muitos anos no Brasil onde ganhou uma importante maquia em S. Paulo, tendo comido mesmo o pão que o diabo amassou, de onde regressou já com profundo sotaque, hábitos enraizados, muitas histórias para contar, de preferência com um copo de branco à frente e que uma vez nos explicou a origem da dita expressão. Vai para os quintos significa, segundo Ti’ Manel, mandar alguém para longe, para o inferno. A origem da expressão será antiga. Quando o Brasil pertencia aos portugueses, estes cobravam um imposto que correspondia a um quinto do ouro da mineração. O imposto era enviado para Portugal no chamado navio dos quintos, que entre os colonos passou a significar um navio que ia para muito longe, quem sabe até ao inferno. E comer o pão que o diabo amassou, que significou para si Ti’ Manel? Significa como vc. sabe passar por uma situação difícil, um grande sofrimento. Imagina Ti’ Manel que a origem da expressão venha do facto que deve ser, realmente, indigesto comer um pão amassado pelo capeta (diabo na gíria do Brasil). Além da procedência, nada segura, do produto (se vem do coisa ruim, boa coisa não pode ser), tem grandes probabilidades do pão vir queimado, já que foi assado pelo diabo no fogo do inferno.
Sobre o Pe. Brigalheira, bem se podia rimar que Durante a sua vida//Comeu com afinco//Mas nunca obrigou ninguém//A ter de apertar o cinto.
Nunca teve enfarte//Nem mesmo congestão//Por isso recomendava//Boa carne, chouriço e salpicão.
Nunca olhava a muitos gastos//Muito menos à poupança,//O que mais o interessava//Era encher bem a pança.
Comia como um alarve//Sempre uma boa pratada//Mas neste seu dia//Só queria feijoada.
Comei e bebei com muito cuidado//Porque a gula é o maior pecado.//É isto que vos aconselhamos//Mas não sei se é o que nós faremos.
O Pe. Brigalheira era supersticioso, mesmo com as trovoadas que lhe incutiam respeito e talvez algum receio. As que vêm do sul, eram tidas pelas mais temidas pois com os raios, o granizo, ventos fortes, etc., causam muitas vezes prejuízos importantes, pelo que é natural que um povo (mas não tanto um padre) invoque o nome de Deus. Assim, para que se extingam depressa, especialmente as mulheres (e o Pe. Brigalheira segundo se dizia), costumavam rezar um terço em que as Avé-Marias se trocam por estas versos:
Com pressa vamos à cruz//Com pressa Mãe de Jesus//Com pressa vamos a Vós//Mãe de Deus rogai por nós.
Santa Bárbara bendita//Que nos céus estás escrita//Com um raminho de água benta//Livrai-nos Senhora desta tormenta.
A propósito de trovoadas, Francisco Instruído, do Juncal, contou que quando era garoto tinha muito medo das trovoadas. Mas o Avô dizia-lhe: Avistas um relâmpago no céu e de seguida, burrum, ouves um trovão que faz imenso barulho. Não sabes porquê, mas, sempre que há uma trovoada, sentes-te muito mal. Toda a gente te diz que não deves ter medo das trovoadas, que não acontece nada, mas eu sei, para ti, parece que o céu está a rasgar-se. Se fosse por mim, nunca haveria trovoadas, para não te assustar. Porque não experimentas observar uma trovoada através de uma fresta da janela? E por que não tentas tapar os ouvidos?
A verdade é que ao fim de algum tempo, quando Francisco passou a conseguir olhar para elas, viu que são fantásticas.
O padre detestava gatos. Dizia às paroquianas que os gatos pretos eram bruxas transformadas em animais. Por isso afirmava que cruzar com gato preto era azar na certa, que se um gato dobrasse as patas e se deitasse sobre elas deixando-as escondidas, era sinal que uma tempestade estava próxima.
Sucedeu ao Pe. Brigalheira, o Pe. Joaquim Henriques que também deixou marcas. Natural de Alpedriz, aonde vivia com uma irmã numa casa perto da igreja, era mais instruído, mas não repudiava, como o seu antecessor, os prazeres da vida. Este sacerdote era invejado pela rapaziada, pois nos fins dos anos trinta, foi dono da primeira motorizada com motor de arranque da freguesia. Antes, andava normalmente de biciclete, onde nas trazeiras também transportava a irmã. O Pe Henriques para cativar os miúdos para a catequese, oferecia-lhes rebuçados ou outras guloseimas. O Zé Narciso, com os seus oito ou nove anos, frequentava a escola primária dos Montes, mas como afilhado do crisma, ia com frequência a casa do padre que engraçava com ele, comer uma bucha, um papo-seco com marmelada ou um naco de broa com uma sardinha a cavalo, depois de o ajudar na missa, lhe regar a horta ou o milho. Batia à porta, entrava e o padre mandava a irmã servi-lo. Um dia, o Pe Henriques até o aliciou para ir estudar para o Seminário de Leiria, ao que o rapaz se negou, pois como dizia tinha tanta vocação para ser padre como ele.
Certa vez em que o Zé Narciso passou por casa do padre com intenção de comer uma bucha (nessa altura em casa dos pais a comida nunca era demais…), a irmã disse-lhe que o padre não estava em casa, mas na Igreja. Entre voltar para os Montes, com a barriguinha a dar horas e subir a íngreme ladeira, ou ir ver o padre que sempre lhe poderia dar uma sandezita, optou por esta. Entrou na Igreja sem fazer barulho, nessa altura andava descalço como toda a rapaziada, e o chão não rangia. Como não viu o padrinho foi andando, até entrar na sacristia. Mas o que é que aí viu? O Padre/padrinho, muito bem sentadinho num banco, batina puxada para cima dos joelhos, com uma moçoila bem corada e afogueada, aninhada ao colo. Olhando-se, ficaram todos com ar muito comprometido, mas o Zé Narciso, por via de dúvidas, pernas para que te quero, pôs-se a andar dali para fora. Passadas umas duas ou três semanas, o Pe. Henriques mandou-o chamar, pois o Zé Narciso havia passado a evitá-lo, a prestar-lhe serviços caseiros ou a ajudar na missa. O padre perguntou-lhe se ele naquele dia havia visto alguma coisa. Corajosamente, o Zé Narciso respondeu, Oh padrinho, vi tudo! Então o padre, explicou-lhe que um homem, mesmo padre, tem as suas necessidades. Oh padrinho esteja descansado, que bem sei guardar um segredo! E este foi também tão bem guardado, que só muitíssimos anos depois, é que esta história veio a público e pode ser aqui contada.
Quando o Pe. Joaquim Henriques veio a ser transferido para Porto de Mós, passou a ser o responsável pela escrita de uma empresa, o que lhe permitia retirar alguns proventos, da filha do dono, com que se veio a casar e ter dois filhos, um dos quais terá falecido há poucos anos.
A partir de meados dos anos cinquenta, foi pároco de Alpedriz, o Pe. Vergílio, ao que se crê beirão, de origem humilde, que dava também assistência a Montes e Coz. Tratava-se de um homem forte, encarniçado, o que se tornava ainda mais evidente, depois de beber uns tintos, com alguma sofreguidão, normalmente acompanhados por uns petiscos, nas rondas que fazia pelas casas dos paroquianos, que apreciavam recebe-lo, dado ser expansivo, bem falante, humorado e malicioso. Tinha, em suma, algumas daquelas virtudes e defeitos, que o bom povo português gosta de encontrar no semelhante, pois, além do copo e garfo, apreciava outros prazeres tão simples, como a caça e o belo sexo. Tinha facetas curiosas e paradoxalmente supersticiosas. Considerava de mau agoiro ter treze pessoas à mesa, mas aceitava-o se um das pessoas tivesse um gato ao colo, nem que fosse por breves momentos. Segundo ele não deviam sentar-se 13 pessoas à mesa, pois Jesus Cristo foi crucificado a uma sexta-feira e na última ceia estavam 13 pessoas. Por isso, costumava dizer que dá azar ter 13 pessoas à mesma mesa. Mas nunca explicou como se resolvia o problema com a intervenção de um gato…
Sim, Ti’ Mário já foi sacristão e gosta de recordar esse tempo e contar histórias. Diziam os antigos que quem com Deus anda, Deus ajuda. Portanto, para si o trabalho que fez na igreja era por Deus. O que mais gostava era ouvir os prometimentos que se faziam nos dias de casamento. Foi para sacristão porque um patrão onde esteve, era sacristão e quando ele ia a feiras vender gado ele era que tomava conta o lugar. Ainda hoje gostaria de ser sacristão se pudesse andar melhor. Mas há dois anos esteve muito tempo de cama com uma gripe e um pé partido pelo que entregou as chaves a outro colega que o ajudava.
Lembra-se que uma altura esteve na cadeia comarcã por mentir. Uma vez houve um barulho à porta da venda lá da terra e um homem ficou com a orelha cortada. Eu, como muitos outros rapazes, era testemunha. Fomos todos chamados ao Tribunal de Alcobaça para ser contra o que bateu e a favor do que apanhou e dissemos tudo como realmente se passou. Mas depois o que apanhou e o que deu fizeram as pazes e nós fomos chamados ao Tribunal pela segunda vez para dizermos que não tínhamos visto nada. A verdade é que já estava escrito aquilo a que tínhamos assistido e assim foi uma trapalhada. Quando chegámos lá perguntaram-nos: Então vocês não viram nada? e eu respondi: Eu não, porque estava escuro e não vi dar as pancadas nem vi quem foi!. Aí o Delegado não acreditou disse que estávamos a mentir e assim fomos os sete presos durante três dias, o queixoso que tinha a orelha dependurada, o agressor e as testemunhas. Estivemos presos na cadeia de Alcobaça. Ao que lhe tinham cortado a orelha deram-lhe um conto de rei para não acusar o que lha cortou. Ao entrar na cadeia dizíamos assim: Você já vendeu uma orelha por um conto de rei, não quer vender a outra? Depois houve novo julgamento, tivemos que dizer a verdade e aquilo acabou.
FLEMING DE OLIVEIRA
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